A Indústria Conserveira na Construção da Malha Urbana no Algarve: das Estruturas Produtivas à Habitação Operária (1900-1960)

The Canning Industry in the Construction of the Algarve’s Urban Fabric: From Production structures to workers housing schemes (1900-1960)

Armando Filipe da Costa Amaro

Mestrado Integrado em Arquitectura – Dissertação – Évora 2020
João Gabriel Candeias Dias Soares
Ricardo Manuel  Costa Agarez

A dissertação foi objeto de apreciação e discussão publica pelo seguinte júri nomeado pelo Diretor da Escola de Artes:
Presidente
Pedro Matos Gameiro (Universidade de Évora)
Vogais
Filipa Serpa (Universidade de Lisboa – Faculdade de Arquitetura) (Arguente)
João Gabriel Soares (Universidade de Évora) (Orientador)

AGRADECIMENTOS

O meu obrigado às instituições e arquivos, bem como aos seus profissionais, que contribuíram para este trabalho:
Arquivo Distrital de Faro | Biblioteca e Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas sob tutela do Ministério da Economia | Biblioteca Nacional de Portugal | Câmara Municipal de Lagos – Fototeca de Lagos – Arquivo do Museu de Lagos | Câmara Municipal de Olhão – Arquivo Municipal de Olhão | Câmara Municipal de Portimão – Centro de Documentação e Arquivo Histórico do Museu de Portimão | Câmara Municipal de Vila Real de Santo António – Arquivo Histórico Municipal António Rosa Mendes | Centro Português de Fotografia | Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve | Instituto Hidrográfico – Marinha, Portugal | SIPA – Arquivo do Forte de Sacavém | Universidade do Algarve – Arquivo Central Gambelas

Ao Sr. Frederico Paula, pela conversa sobre a cidade de Lagos, bem como pela partilha de documentação.
Ao Sr. Francisco Castelo, pelo apoio na consulta do espólio fotográfico e pela sua ajuda na localização das fábricas de conserva da cidade de Lagos.
À Sra. Ana Patrícia Ramos, por todo o apoio na consulta do espólio do Arquivo do Museu de Portimão e pela partilha da sua experiência com os ex-trabalhadores da indústria de conservas.
Ao Sr. José Cabaço e ao Sr. Pedro Bandarra, pelo incansável apoio no estudo de Olhão e pela sua ajuda na localização das fábricas de conserva da cidade.
À Sr. Sandra Romba, pela interessante conversa sobre o surgimento de Olhão.
À Sra. Alexandra Cordeiro e ao Sr. Miguel Veloso, pela imprescindível ajuda na identificação e recolha da documentação.
Ainda, ao Sr. António Calvinho, pela assistência na localização das fábricas de conserva de V. R. de St. António.
Ao Sr. Fernando Pessanha, pelas conversas sobre Vila Real de Santo António e Santo António de Arenilha.

Um obrigado a todos pela simpatia e disponibilidade.

Ao arquiteto José Veloso, pela partilha das suas memórias e conhecimento sobre a cidade de Lagos, bem como do seu Algarve.
Ao orientador, Professor Doutor João Soares, pela sua disponibilidade, contributo teórico e sentido crítico, sempre presente no seu contributo, na construção deste trabalho.
Ao orientador, Professor Doutor Ricardo Agarez, pelo entusiasmo que demonstrou pelo tema desde o primeiro dia, pela disponibilidade, pelo auxílio na metodologia de investigação e pela objetividade na construção do trabalho, assim como nas suas críticas.
Ao Conselho de Notáveis, pela oportunidade de ajudar a perpetuar a tradição que tanto significa para todos os estudantes da Universidade de Évora. Um obrigado a todos, que comigo percorreram a calçada desta cidade de capa aos ombros, em especial aos de 2012.
Aos meus amigos, pela paciência para me ouvir falar repetidamente deste trabalho, por todas as conversas, por todas as palavras de apoio e incentivo. Em especial, ao Duarte e ao Vilela, pela ajuda na revisão do trabalho.
À Inês, pela ajuda na revisão deste documento, pelo incentivo constante, pela paciência para me ouvir falar deste tema, por me fazer sorrir, por todo o apoio e carinho. Obrigado, por caminhares ao meu lado.
Ao Victor e à Noémia, pelo apoio, paciência e compreensão na reta final deste trabalho.
À minha irmã Claúdia, que é para mim um exemplo a seguir, pelo incentivo e apoio, ao longo deste trabalho.
Ao Álvaro por todo o apoio, nesta longa jornada.
À minha mãe Rosa, por todo apoio, suporte, incentivo e amor, desde sempre.

Ao meu pai, que esteja orgulhoso de mim.

A Indústria Conserveira na Construção da Malha Urbana no Algarve: Das Estruturas Produtivas à Habitação Operária (1900-1960)

The Canning Industry in the Construction of the Algarve’s Urban Fabric: From Production structures to workers housing schemes (1900-1960)

Resumo

A prática conserveira foi uma das mais importantes indústrias, bem como uma das maiores fontes de riqueza, em Portugal, no séc. XX. Na região do Algarve, esta foi dinamizadora e relevante a vários níveis, sendo que a instalação da primeira fábrica, em 1879, deu início à ocupação industrial deste território. Com a presente investigação, pretendeu-se estudar as implicações urbanísticas e arquitetónicas da indústria conserveira, com foco no surgimento e evolução da mesma no Algarve, nos seus edifícios, na relação com o espaço envolvente e nas relações urbanas e territoriais. Este estudo incidiu sobre as quatro urbes mais importantes para esta indústria – Lagos, Portimão Olhão e V.R.S.A. – sobre as quais se procedeu à análise da sua evolução urbana, a par do surgimento e desenvolvimento da indústria de conservas. Procurou-se, ainda, perceber se esta indústria teve influência no surgimento de programas arquitetónicos e na estruturação urbana de zonas industriais ou residenciais.

Palavras-Chave: Algarve; Indústria Conserveira; Evolução Urbana; Habitação Operária; Arquitetura Industrial.

Abstract

The practice of conservation was one of the most significant industries, being one of the largest wealth sources of Portugal in the 20th century. In the Algarve region, this particular industry was important on several levels and with the first factory appearing in 1879, the industrialization of that territory started. We intended to study the implications of the canning industry in the urban and architectural scope, focusing on the beginning and evolution of this industry in Algarve, its buildings in relation to the surrounding space and the urban and territorial relations.

This study focused on the four most significant cities for this industry – Lagos, Portimão, Olhão e V.R.S.A. – analyzing their urban evolution from the start and development of the canning industry. We tried to look further into these, to understand if this industry influenced the implementation of architectural programs or the urban structuring of industrial or residential zones.

Key Words: Algarve: Canning Industry; Urban Development; workers housing schemes; Industrial Architecture. 

ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS
A.H.M.R.A.M. – Arquivo Histórico Municipal António Rosa Mendes
A.M.O. – Arquivo Municipal de Olhão
B.A.H.M.O.P. – Biblioteca e Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas
C.C.D.R. – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional
C.P.C.P. – Consórcio Português de Conservas de Peixe
C.P.F. – Centro Português de Fotografia
C.M.V.R.S.A. – Câmara Municipal de Vila Real de Santo António
D.G.M.M.N. – Direção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais
D.G.S.U. – Direção-Geral dos Serviços de Urbanização
I.N.E. – Instituto Nacional de Estatística
I.P.C.P. – Instituto Português de Conservas de Peixe
J.C.C.P. – Junta Central de Casas dos Pescadores
M.O.P.C. – Ministério das Obras Públicas e Comunicações
S.I.P.A. – Sistema de Informação para o Património Arquitetónico
UALG – Universidade do Algarve
V.R.S.A. – Vila Real de Santo António

ÍNDICE

0. INTRODUÇÃO 10

0.1 Objeto 10

0.2 Objetivos 10

0.3 Pertinência/Motivações 10

0.4 Cronologia 10

0.5 Estado da Arte 11

0.6 Metodologia 16

1. A INDÚSTRIA CONSERVEIRA AO LONGO DO TEMPO 18

1.1 A origem do ato de conservar 18

1.2 O início da Indústria Moderna de Conserva de Peixe 18

1.3 A indústria conserveira em Portugal e o contexto no séc. XIX e XX 20

1.3.1 As primeiras fábricas de conservas em Portugal (1880 – 1900) 20

1.3.2 A 1ª Guerra mundial e o corporativismo do Estado Novo (1900 – 1939) 20

1.3.3 A 2ª Guerra Mundial e o declínio da indústria conserveira (1939 – 1950) 24

2. HABITAÇÃO OPERÁRIA E INICIATIVAS ESTATAIS EM PORTUGAL 26

2.1 Industrialização (1850 a 1900) 26

2.2 Consolidação e expansão da indústria (1900 a 1930) 27

2.3 O Estado Novo e o corporativismo (1930 a 1950) 29

2.4 Da industrialização às políticas de habitação (Resumo) 31

3. OS PRINCIPAIS CENTROS CONSERVEIROS DO ALGARVE 34

3.1 Vila Real de Santo António 37

3.1.1 Caminho de ferro e a ponte-cais 42

3.1.2 Os pontões privados das fábricas de conserva 44

3.1.3 Fábricas de conserva em 1924 47

3.1.4 O redesenho da frente ribeirinha 48

3.1.5 Habitação 53

3.1.5 Bairro para as classes pobres 55

3.1.6 Anteplano de urbanização de Vila Real de Santo António 58

3.1.7 Cronologia industrial 62

3.1.8 Vila Real centro conserveiro de atum 66

3.2 Olhão 69

3.2.1 Caminho de ferro 72

3.2.2 Olhão durante a 1ª Guerra Mundial 1916 73

3.2.3 Fábricas de conserva no início do século XX 75

3.2.4 Sobrepopulação e o número máximo de fábricas antes da crise 76

3.2.5 Bairro operário do arquiteto Carlos Ramos 78

3.2.6 Olhão nos anos 30 79

3.2.7 Bairro de casas económicas do C.P.C.P. 82

3.2.8 Sede do Grémio dos Industriais de Conservas de Peixe do Sotavento Algarvio 84

3.2.8 Anteplano geral de urbanização da Vila de Olhão da Restauração 86

3.2.9 Habitação 90

3.2.10 Bairro da Horta da Cavalinha de casas económicas em 1945-50 92

3.2.11 Bairro de casas económicas para pescadores em 1945-49 93

3.2.12 Bairro de casas para as classes pobres 94

3.2.13 Cronologia industrial 96

3.2.14 Olhão: da industrialização à problemática urbana 102

3.3 Lagos 105

3.3.1 Cais da Solaria 109

3.3.2 Rossio de S. João 112

3.3.3 Linha de caminho de ferro 113

3.3.4 Planta “Capitão Raul Frederico Rato” 1924 114

3.3.5 Fábricas de conserva em 1924 116

3.3.6 Avenida da Guiné (1940) 120

3.3.7 Lagos antes do Anteplano 122

3.3.8 Bairro de casas para famílias pobres (1945-1958) 126

3.3.9 Primeiro plano de urbanização – Avenida dos Descobrimentos 130

3.3.10 Cronologia industrial 136

3.3.11 Lagos: do Cais da Solaria às novas avenidas 4 0 1

3.4 Portimão 143

3.4.1 O desenvolvimento urbano e industrial até 1917 148

3.4.2 A importância do caminho de ferro 150

3.4.3 Portimão elevada a cidade em 1924 152

3.4.4 Estruturas fluviais das fábricas de conserva 1 5 5

3.4.5 Aterro da zona ribeirinha 1930’s 158

3.4.6 Bairro operário CPCP (1934-1936) 161

3.4.7 Ante-plano de urbanização 163

3.4.8 Habitação 167

3.4.9 Bairro Pontal (1941-1951) habitações para as classes pobres 170

3.4.10 Bairro dos Pescadores (1948-1951) 173

3.4.11 Sede de Portimão – Grémio dos Conserveiros do Sul (não construído) 174

3.4.12 Cronologia industrial 176

3.4.13 Portimão: centro conserveiro com duas margens 8 01

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 182

5. BIBLIOGRAFIA 192

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