Ramirez & Cª (Filhos) - Vila Real de Santo António

NOME EMPRESA / COMPANY NAME: Ramirez & Cª

NOME FÁBRICA / FACTORY NAME: Fábrica Ramirez 

PROPRIETÁRIO/OWNER:
Jacinto José de Andrade
Sebastian Claúdio Ramirez Garcia
,
Frederico Alexandrino Garcia Ramirez,
Manuel Garcia Ramirez
e Emílio Garcia Ramirez,

FUNDAÇÃO / FOUNDED: 1884 

LABOROU EM/WORKED DURING: 1890; 1907; 1915; 1924; 1938; 1947 

ENCERRAMENTO / CLOSURE: still working in Matosinhos

Nº EMPRESA IPCP/ IPCP COMPANY Nº: 21

MORADA / ADDRESS: Avenida da República  (Rua da Rainha) 

CIDADE / CITY: Vila Real de Santo António

NO MESMO LOCAL FUNCIONOU/AT THE SAME LOCATION WORKED:  Ramirez & Filhos Cª, Lda 

OUTROS LOCAIS / OTHER PLACES:
Ramirez & Cª (Filhos) – Olhão
Ramirez & Cª (Filhos) – Peniche

Ramirez & Cª (Filhos)  – Matosinhos
Ramirez & Cª (Filhos) – Setúbal

TIPO / TYPE: Packers of canned fish in olive oil

FONTES / SOUCES:
– A Indústria Conserveira na Construção da Malha Urbana no Algarve: Das Estruturas Produtivas à Habitação Operária (1900-1960), Armando Filipe da Costa Amaro

Quanto à fábrica de conservas de peixe que Sebastian Ramirez fundou em Vila Real de Santo António, o processo da sua construção teria começado com a compra que fez, em 12 de Julho de 1870, por arrematação em hasta pública, a Joaquim José Lima e sua mulher Joaquina Cândida Barroso de Azevedo, de um” um moinho de vento cercado de fazenda, com poço de água, nos arredores desta vila, parte pelo norte com Cústodio da Palma, sul com Manuel Guerreiro, nascente com Tomas António Estevens e poente com estrada do concelho de Castro Marim, pela quantia de 200$200 reis”. 101

Em 1883, Sebastian Ramirez fez a permuta com Maximiliano Gonçalves, do moinho de vento e terrenos que tinha adquirido a 12 de Julho de 1870, ”por outro moinho de vento com aparelhos e todos os aprestos, poço de água, ramada e terra de semear, situado nos subúrbios da vila, confrontando do lado norte com baldios, do sul com António Soares Barreto e “Medeiros & Domingues”, do nascente com o rio Guadiana e do poente com a calçada do cemitério, de que é proprietário o segundo outorgante. Ambas as parcelas são foreiras à Camara Municipal de Vila Real de Santo António, a primeira de 200 reis por ano e a segunda de 600 reis” 102

Duas actas da Câmara Municipal, de Setembro de 1883, vem esclarecer a finalidade desta troca: “Requerimento de Sebastião Ramires pedindo que lhe seja concedido o terreno que em 22 de Julho de 1882 foi vendido a João Flores, vista não ter iniciado a construção e ter passado tempo … Foi adiado o despacho para a sessão seguinte, para melhor a Câmara poder estudar o assunto”. 103

” …discutido o requerimento de Sebastião Ramires que ficara adiado da sessão anterior. Diz o requerente que tendo comprado o moinho a Maximiliano Gonçalves no norte da vila, e fazenda contígua, foreira à Câmara, para neles fazer um armazém com o efeito de estabelecer uma fábrica de peixe em conserva, pede que lhe seja dado uma pequena tira de terreno cedido em tempo a João Flores, que não obrou dentro do prazo indicado pela Câmara. A Câmara, considerando que em virtude do disposto expresso no art. 28° das posturas o referido João Flores já perdeu o direito ao terreno concedido, visto não ter obrado dentro do prazo designado, considerando que em aquele local só poderá obrar o dono da fazenda, visto que o terreno a que a Câmara tem direito só mede em parte seis metros a fundo e na outra apenas dois metros, e que não fazendo a concessão pedida a rua norte-sul ficara defeituosa, e considerando finalmente que do estabelecimento de industrias fabris resultam as maiores vantagens para as povoações onde elas se estabelecem, a Câmara a deferiu por unanimidade o requerimento e que o Presidente se encarregasse de pedir a Sebastião Ramires que deixe uma rua do nascente a poente, pedido que se lhe faz em virtude do direito que a Câmara lhe reconhece ao terreno em que se deseja que fique a rua”. 104

Após esta deliberação da Câmara Municipal, Sebastian Ramirez começou certamente a construir o edifício onde ficaria instalada a sua fábrica de conservas.

Mas antes, a 15 de Março de 1883, Sebastian Ramirez, a tempo de trabalhar na época da pesca de atum desse ano, comprou a Francisco Rodriguez Tenório a sua fábrica de conservas, que tinha sido fundada em 1880, “armazém com quatro portas e três janelas para a rua do Príncipe ..”, com toda a maquinaria, utensílios e instrumentos que continha, por 2.150$000 reis. 105 E em 9 de Outubro desse mesmo ano, Sebastian Ramirez vendeu a Francisco Rodriguez Tenório o mesmo edifício que lhe tinha comprado a 15 de Março, mas sem as máquinas, utensílios e instrumentos, por 150$000 reis. 106

NOTA: brica  S. Francisco, da qual era proprietário Francisco Rodrigues Tenório, que a fundou em 1880

A minha interpretação desta compra e venda, é que Francisco Rodriguez Tenório, com problemas financeiros ou de qualquer outra ordem, não estaria em condições de fazer funcionar a sua fábrica na época que se avizinhava, e Sebastian Ramirez poderia estar muito interessado em iniciar o funcionamento da fábrica de conservas que já planeava fundar. É certo que ele poderia ter adiantado a concretização da permuta dos terrenos com Maximiliano Gonçalves e a construção do edifício, e feito a aquisição directa de toda a maquinaria da fábrica, mas não foi o que aconteceu.

Teria pretendido fazer uma experiencia, antes de avançar com instalações próprias?

Repare-se que apenas fez a permuta de terrenos e o requerimento à Câmara Municipal em Setembro, depois de findar o trabalho na fábrica S. Francisco, e só então, decididamente, iria avançar com a construção das suas próprias instalações, no prolongamento da Rua da Rainha, frente ao rio, de forma a estar preparado para a próxima época de pesca de 1884.

Deste modo, Sebastian Ramirez, iniciou-se no fabrico de conservas de peixe no verão de 1883, na fábrica S. Francisco, embora a sua fábrica definitiva tivesse sido construída no ano seguinte, em 1884.

Após o seu falecimento, ocorrido a 22 de Março de 1900, constituiu-se a sociedade “Ramirez & Cª” com o capital de 75 contos de reis, fornecido em partes iguais pelos sócios Jacinto José de Andrade 107, com Sebastian Claúdio Ramirez Garcia, Frederico Alexandrino Garcia Ramirez, Manuel Garcia Ramirez e Emílio Garcia Ramirez, com o objectivo da fabricação de conservas alimentícias e tecelagem de linho e juta. Apesar de a escritura ter sido realizada a 30 de Novembro de 1902, retrotraía-se o seu início para 14 de Abril de 1900. 108

Quanto aos bens em Portugal, nessa ocasião apenas foi constituída a sociedade comercial em nome colectivo “Ramirez & Cª“, por escritura de 30 de Novembro de 1902, afim de se dar continuidade as industrias e demais negócios que a firma “S. Ramirez”, tinha em Vila Real de Santo António, ficando seus sócios “Jacinto José de Andrade, casado, proprietário, Sebastião Claúdio Ramírez Garcia, casado, proprietário, Frederico Alexandrina Garcia Ramirez, casado, engenheiro civil e proprietário, Manuel Garcia Ramirez, solteiro, de maior idade, proprietário, e Emílio Garcia Ramirez,  solteiro, maior pela sua emancipação, como mostrou pelo alvará de emancipação passado pelo juiz de direito desta comarca em catorze de Abril de mil e novecentos”, reportando o seu inicio a 14 de Abril de 1900, com duração até 1 de Janeiro de 1907, suscetível de prorrogação por mais quatro anos. O capital social era “a quantia de setenta e cinco contos de reis, fornecida em partes iguais e em dinheiro, por diversas entradas, desde catorze de Abril de mil e novecentos, data do comércio da sociedade, ate hoje, pelos sócios”.

Jacinto José de Andrade saiu da sociedade em 31 de Dezembro de 1908.

in Memórias & Documentos volume III de António Horta Correia

A Indústria Conserveira na Construção da Malha Urbana no Algarve: Das Estruturas Produtivas à Habitação Operária (1900-1960) de Armando Filipe da Costa Amaro – Mestrado Integrado em Arquitectura – Dissertação – Évora 2020. Este documento em anexo, resulta do processo de trabalho para a localização dos edifcios industriais de produção de conservas. Na evidência de falta de trabalhos que identificassem e localizassem, corretamente, a maioria do parque industrial conserveiro, do Algarve, tornou-se premente colmatar essa lacuna. A informação compilada neste anexo é referente às fábricas, a sua localização e às diferentes empresas/proprietários, que trabalharam no mesmo edifício, ao longo do tempo. Tendo o objetivo de determinar, o surgimento e o periodo de tempo em que num determinado local funcionou uma fábrica de conservas.

Texto retirado de: A Indústria de ConservasS de Peixe no Algarve (1865 – 1945) Joaquim Manuel Vieira Rodrigues

“A Indústria de ConservasS de Peixe no Algarve (1865 – 1945) Joaquim Manuel Vieira Rodrigues “1853 é a data atribuída à mais antiquíssima fábrica de conservas, ainda em salmoura, Ramirez & Cª, Ltd., fundada em Vila Real de Santo António pelo andaluz Sebastian Ramirez, de profissão lavrador, que trouxe para aquela vila um mestre conserveiro catalão[1]. A expansão económica da empresa prosseguirá com a implantação de unidades em Olhão, Albufeira e Setúbal, tornando a RAMIREZ na mais antiga produtora e exportadora de conservas em Portugal na Europa e numa das mais antigas do mundo.

[1] Empresa que perdurará até à actualidade – em 2003 comemorará 150 anos -, e cujo um dos descendentes daquele andaluz de nome homónimo desempenhará papel de relevo na futura organização corporativa do sector, como, na altura conveniente analisaremos. Informação amavelmente prestada pelo industrial e Presidente da Associação Nacional da Indústria de Conservas de Peixe, Senhor Manuel Ramirez, em conversa telefónica a 18 de Dezembro de 1996. Ver igualmente, Ana Cristina Pereira, “Ramirez 150 anos”, Pública, n.º 383, 28/09/03, pp. 36-43.

O pioneirismo desta empresa continuaria com a introdução, pela primeira vez em Portugal, em 1865, do princípio da esterilização, processo desenvolvido por Appert, como vimos, com a instalação de uma fábrica de conservas de atum em azeite (Anexo I. Quadro III).

Do mercado nacional partiria precocemente à conquista de importantes mercados consumidores de conserva internacionais.

Entre os seus operários não podemos deixar de referenciar o poeta popular António Aleixo, precisamente natural de Vila Real de Santo António.

Vila Real de Santo António

Mapa elaborado por Armando Filipe da Costa Amaro

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