Ramires & Pego - Vila Real de Santo António

NOME EMPRESA / COMPANY NAME: Ramires & Pego

PROPRIETÁRIO / OWNER: Sebastian Ramirez e Silvestre Garcia-Pêgo

FUNDAÇÃO / FOUNDED: 1860

LABOROU EM / WORKED DURING:

ENCERRAMENTO / CLOSURE: Em 1860 passa a Ramires & Pego

MORADA / ADDRESS: Rua da Rainha, número 11 A

CIDADE / CITY: Vila Real de Santo António

NO MESMO LOCAL FUNCIONOU / AT THE SAME LOCATION WORKED:

OUTROS LOCAIS / OTHER PLACES:

TIPO / TYPE: Imobiliário, cereais, fazendas e tecidos diversos, salga de sardinha.
“O comércio em Vila Real de Santo António, nessa época, estava muito longe de ser o comércio especializado dos nossos dias. Sebastian Ramirez e seus sócios, negociaram os mais variados produtos, de diversas origens, de que tenho alguns exemplos.”

FONTES / SOUCES: Sebastian Ramírez (1828-1900) – Subsídio documental para uma biografia, de António Horta Correia

in Sebastian Ramírez (1828-1900) - Subsídio documental para uma biografia, de António Horta Correia

Como muitos outros emigrantes andaluzes, Sebastian Ramirez iniciou a sua nova vida em Vila Real de Santo António como empregado de comércio. 37 Encontrei actos notariais, em 1849, 1850 e 1852, em que intervém como testemunha ” … Sebastião Ramires, caixeiro, residente nesta vila:” 38

Em 13 de Janeiro de 1853 interveio, também, como testemunha em escritura, como “Sebastião Ramires, negociante, residente nesta vila:” 39

Nesse mesmo ano, em escritura de 1 de Junho, José Mora Gomez, Sebastian Ramirez e Silvestre Garcia-Pêgo, negociantes, arrendaram a Luís Cassar “os baixos da sua morada na Rua da Rainha, nesta vila, esquina com a Rua Beneditina, com a qual confronta a sul, e casa contigua na Rua Beneditina, por quatro anos, com efeito a partir de 1 de Maio de 1853 e a terminar a 30 de Abril de 1857, prorrogáveis por outros quatro anos, destinado a um estabelecimento de negócios, com pagamento de 50$000 reis por ano … tendo recebido dos arrendatários cinquenta mil reis em moeda sonante não ficando nada a dever do primeiro ano do arrendamento”, ficando os arrendatários obrigados a devolver a casa no mesmo estado em que a receberam.

Na escritura pública deste contrato, esta reproduzida uma procuração do senhorio para Sebastião do Rosário Vieira poder assinar ”uma escritura de arrendamento a companhia “Mora, Ramires & Pego”, para fazerem seu estabelecimento de negocio”. 40

Este estabelecimento ficaria na esquina das actuais Avenida de República e Rua Teófilo Braga, e casa contigua nesta rua. 41

Portanto, nesse ano de 1853, Sebastian Ramirez constituiu uma sociedade comercial com José Mora Gomez e Silvestre Garcia-Pêgo.

De José Mora Gomez nada mais se conhece. É uma simples hipótese ter sido o patrão de Sebastian Ramirez, que depois fez sociedade com os empregados, e por isso figurava em primeiro lugar na denominação da sociedade. Era uma situação muito usada, principalmente quando não existia filho varão que assegurasse a continuidade do negócio.

O outro sócio, era natural de Villanueva de los Castillejos, filho de outro Silvestre Garcia-Pêgo e de Joana de Mora Feria, e casado com Isabel Perez Mora, possivelmente da família de José Mora Gomez.

A sociedade “Mora, Ramires & Pêgo” pagou a sua primeira licença de comércio, de 600 reis, a 24 de Junho de 1853, à Camara Municipal de Vila Real de Santo António. A sociedade fez o pagamento desta licença nos anos seguintes, até 27 de Janeiro de 1859. 42

Entretanto, as perspectivas da sociedade deveriam ser muito boas.

A 1 de Maio de 1855, dois anos antes de findar o arrendamento do estabelecimento, renovaram o contrato com Luís Cassar, agora pelo prazo de dez anos, a findar a 30 de Abril de 1865, acrescentando a área anteriormente ocupada, uma parte de um armazém e quintal contíguos, pertencente à fábrica para estivar sardinhas, existente nos baixos da casa de morada do arrendatário, “as quais partes lhe serão marcadas e divididas por uma parede do nascente ao poente”, tudo pela quantia de sessenta e quatro mil reis, sendo os quatro primeiros anos pagos adiantadamente, e depois ano a ano, também adiantadamente.

Este contrato foi reduzido a escritura pública.

O sócio José Mora Gomez poderia ter falecido em 1859, pois a licença de comércio relativa aos anos seguintes, de 1860 até 1865, foi paga por outra sociedade, com a denominação de “Ramires & Pego”.

Por sua vez, a sociedade “Ramires & Pêgo” teria sido dissolvida em meados de 1865, possivelmente com o falecimento de Silvestre Garcia- Pêgo. A licença de comércio, de 1866 até 1883, foi paga em nome de Sebastião Ramires, 44 não existindo, actualmente, livro de registo para datas posteriores.

O comércio em Vila Real de Santo António, nessa época, estava muito longe de ser o comércio especializado dos nossos dias.

Sebastian Ramirez e seus sócios, negociaram os mais variados produtos, de diversas origens, de que tenho alguns exemplos.

Constituição de dívida de 600$000 reis com garantia de hipoteca, que fez José Guerreiro Abrantes, por fornecimento de fazendas desde 1853, a favor de “Mora, Ramires & Pêgo”, com casa de comércio. 45

Sebastian Ramirez e Silvestre Garcia-Pego, em conjunto com Miguel Gomez Roldan, compraram cinco moradas de casas em Vila Real de Santo António, a João Martins, e sua mulher Maria Molina Martins, de Ayamonte, 46 casas que revenderam quatro anos depois, em 1864 a João António Machado. 47

Existe com a data de 20 de Janeiro de 1865, um “Instrumento de protesto que fazem … como 1 ° outorgante Fernando Alvares Barbosa e 2°s outorgantes Sebastião Ramires e seu sócio … que tendo chegado hoje ao porto desta vila o vapor de carreira do Algarve “Vitória” 48 , de que e capitão Tomas Baptista Ribeiro, trazendo carregação de diversas fazendas para eles negociantes; aconteceu que tratando eles de mandar conduzir para os seus armazéns as referidas fazendas, se acharam avariadas doze peças de elefante pertencentes a Fernando Alvares Barbosa e bem assim mais vinte e oito, do mesmo elefante, pertencentes a Sebastião Ramires e seu sócio Silvestre Garcia-Pêgo.

Em vista de que havendo esta avaria e prejuízo que eles sofrem pela negligência do capitão do vapor por não virem bem acondicionadas dentro do referido vapor, foram avaliadas as peças avariadas por …sendo avaliado o prejuízo do 1 ° outorgante em 36$000 reis e como avaliam o prejuízo dos 2°s outorgantes em 67$000 reis”. 49

Por escritura de 14 de Junho de 1862, Sebastian Ramirez e Silvestre Garcia-Pêgo, venderam a James Mason representado pelo procurador António José Barroso, um armazém no sítio do Pomarão, por 120$000 reis. 50

Existe um contrato feito a 9 de Setembro de 1866 entre Sebastian Ramirez e Manuel Rosa Sénior ”para o fornecimento de oitenta e um milheiros de esparto de boa qualidade, sem avaria, posto no rio desta vila até 15 de Janeiro de 1867, pago por cada milheiro de 210 quilos, 5$500 reis, pesado a bordo” 51

Transcrevo uma curiosa nota escrita à mão, que encontrei no verso de uma tira de papel que cintava uma cópia de escritura de 1856:

“P. de Málaga

Pedido por Dn Sevastian Ramirez de Villa Real a los Hos Fernandez
Salgado .. de Coin, en 1 fardo con “a Dn Manuel Ramos de Cadiz
para que remita a Dn Blas Annásia de Ayamonte Cº de la X por c/o

1 … lienzo azul para colchon 4/4 chamadas dama comun y partido 24%
1 … cuta axul 4/4 37%
1 … pilugaster N60 4/4 5 3/4
1 mantel alegria 16/4 por 8/4
1 (mantel) juego dama 16/4 por 8/4
1 … servilletas alegria 24 pº
1 … (servilletas) juego dama 24 pº
precio de savanas plugaster N30 de 175 cent
(precio de savanas) reguela N20 de 175 cent”

Confirmação de dívida de 275$000 reis, com hipoteca, que fez Bartolomeu Peres Vallelhano, de Castillejos, morador em Tavira, a favor de Sebastian Ramirez 52 e quitação desta dívida em 1872  53.

Escritura de “confissão de divida e constituição de hipoteca que faz Manuel Sola a Sebastião Ramires, de 200$000 reis, por vários fornecimentos de farinha de trigo vendidos a fiado, em dificuldades e apuros, para se cozer pão”. 54

Confissão de dívida de 111$800 reis e hipoteca de casa em Alcoutim, que fez Júlia Maria da Costa, de Alcoutim, a Sebastian Ramirez, por mercadoria levantada da loja.  55

Existem muitas outras escrituras de constituição de divida, garantida por hipoteca a seu favor, com diversos fundamentos, geralmente com o prazo de três anos e ao juro de 10%. Apenas encontrei uma em que a causa da dívida tinha sido um empréstimo concedido. Encontrei mais outras cinco escrituras de compra e oito escrituras de venda de moradas de casas térreas, que não transcrevo.

Em nenhum documento encontrei alguma indicação de que Sebastian Ramirez tenha contraído um qualquer empréstimo.

Consta do “Livro da contribuição ao trabalho” que de 1867 até 1874, Sebastian Ramirez tinha a trabalhar consigo dois caixeiros:

Nos anos de 1867 a 1868, de 1868 a 1869 e de 1869 a 1870:

“Rua do Príncipe – Sebastião Ramires e caixeiros Valentim e Jacinto (3) 2.160 reis 56

Nos anos de 1871 a 1872, de 1872 a 1873 e de 1873 a 1874:

“Rua da Rainha – Sebastião Ramires, caixeiros Valentim e Jacinto, e criado José (4) e 1 cavalgadura 2$900 reis”. 57

Salga da Sardinha

Entretanto, a 19 de Maio de 1857, Manuel de Oliveira Estevens “dá por arrendamento a Silvestre Garcia-Pêgo e Sebastião Ramires, negociantes, … todas as lojas e fábrica de sardinhas pertencentes a uma morada de Casas Nobres que possui na rua da Rainha, número 11 A, pelo tempo de dez anos a contar do primeiro de Julho do corrente ano pelo preço de cem mil reis anuais, pagos em semestres… ficando com o direito de subarrendar as referidas lojas por sua conta não lhes sendo necessárias para eles?’ 58

As mesmas lojas e fábrica de sardinhas foram de novo arrendadas, nas mesmas condições, por Sebastian Ramirez, então já sem sócio, a 1 de Novembro de 1865, por doze anos, “com início no primeiro de Novembro de este corrente ano e terá seu fim no dia trinta e um de Outubro de 1877 …” 59

A conceção pombalina de Vila Real de Santo António previa a construção na frente do rio, de doze casas nobres de dois pisos, “agrupando-se duas a duas em cada quarteirão e partilhando duas delas os quarteirões terminais com os respectivos torreões”. O piso baixo dessas casas nobres era destinado a “um estabelecimento industrial derivado dos telheiros instalados pelos catalães em Monte Gordo para a salga da sardinha … Pelo portão da Baixa-Mar … entrava o peixe para o pátio. Debaixo dos telheiros sofria as transformações de fabrico que consistia essencialmente em ser extirpado, salgado e acamado em barricas com sal,” 60 que poderiam ser armazenadas, até à venda, nas outras dependências ou lojas existentes nesses baixos, ou, segundo algumas opiniões, em outra casa, nas traseiras, na Rua da Princesa.

Foi numa destas instalações, a da Rua da Rainha n°11-A, que Sebastian Ramirez e Silvestre Garcia-Pêgo começaram a explorar a salga da sardinha.

Não encontrei indicação alguma de Sebastian Ramirez ter alugado qualquer casa nas traseiras, na Rua da Princesa, para complemento da referida fabrica de salga.

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