1882 - Inquerito industrial de 1881

TÍTULO/TITLE: Inquerito industrial de 1881

SUB TÍTULO/SUBTITLE: Inquerito directo

Primeira parte
Depoimentos – 308 páginas
 
Segunda parte
1º Vol. nº 102208, Visita ás Fabricas do Districto Administrativo de Lisboa. – 371 páginas

2º Vol. nº 105499, Visita ás Fabricas do Districto Administrativo do Porto. – 319 páginas

3º Vol. nº 102210, Visita ás fabricas de Aveiro, Beja, Braga, Bragança, Coimbra, Castello Branco, Evora, Faro, Guarda, Leiria, Portalegre, Santarem, Vianna do Castello, Villa Real, Vizeu, Angra do Heroismo, Horta, Funchal e Ponta Delgada. – 333 páginas
 
Terceira parte
Repartição de estatística 418 páginas

AUTOR/AUTHOR:
Commissão Central Directora do Inquerito Industrial. 
António Augusto de Aguiar

DATA EDIÇÃO/ISSUE DATE::  1882

EDITORA/PUBLISHED BY: Imprensa Nacional. Lisboa. 

IMPRESSO POR/PRINTED BY:  Imprensa Nacional. Lisboa. 

DIMENSIONS / DIMENSÕES: Volumes de 35×24 cm.

OWNER OF COLLECTION: Museu Digital Conservas de Portugal
CREDIT:
IMAGES: conservasdeportugal.com

webInqueritoindustrial1881SegundaParteLIvroPrimeiroCapa

Segunda parte
1º Vol. nº 102208, Visita ás Fabricas do Districto Administrativo de Lisboa. – 371 páginas

webInqueritoindustrial1881SegundaParteLIvroSegundoCapa

2º Vol. nº 105499, Visita ás Fabricas do Districto Administrativo do Porto. – 319 páginas

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3º Vol. nº 102210, Visita ás fabricas de Aveiro, Beja, Braga, Bragança, Coimbra, Castello Branco, Evora, Faro, Guarda, Leiria, Portalegre, Santarem, Vianna do Castello, Villa Real, Vizeu, Angra do Heroismo, Horta, Funchal e Ponta Delgada. – 333 páginas

Inquerito industrial de 1881 - texto sobre indústria conserveira no volume nº3

DISTRICTO ADMINISTRATIVO DE FARO

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Concluídos por esta forma os nossos trabalhos na província do Alentejo, seguimos para o Algarve; Mas prevendo já que encontraríamos no distrito de Faro a mesma impossibilidade, que se dera em todos os outros, de poder ser acompanhados nas inquirições fora da capital, pela comissão ou alguns vogais dela, resolvemos encetar logo em Vila Real de Santo António, auxiliados pela autoridade administrativa, as visitas aos importantes estabelecimentos industriais nela existentes.

Começámos pela fábrica de tecidos de linha, de Sebastião Ramires, que possui dez teares manuais em edifício próprio, suscetível de fácil aumento, porque as propriedades confinantes são do mesmo dono. Principiou em 1879, com um tear, vai sucessivamente aumentando o seu número, mas não lhe convém ainda teares mecânicos. O capital fixo é de 4.000$000 reis, e espera em breve mais dois teares já encomendados. Emprega 8 homens e 8 mulheres. OS tecelões são todos espanhóis, mas residentes na localidade. As mulheres são empregadas: 2, que aprenderam na fábrica, em dois teares; 1 em urdir; 3 em fazer canellas; 2 em passar o fio das meadas para os carrinhos.

O trabalho é por empreitada, equivalendo os jornaes de 450 a 600 reis para os homens e de 160 a 200 reis para as mulheres, por dez horas de trabalho diário, além de três horas de serão.

A matéria prima que emprega é fio de linho e de estopa, da Escócia, de preferência ao fio português, mais caro.

O proprietário tem facilidade em obter operários, bem como aprendizes, mas destes mais facilmente raparigas do que rapazes.

A fábrica tem produzido, desde a fundação até 30 de setembro último, 117 peças de brim cru, 479 de riscados para colchão, 442 de panos de linho, 134 de linhagem, 96 dúzias de toalhas e 75 de guardanapos. Regula cada peça por 40 metros.

O fabricante vende com facilidade os seus produtos no país, por isso não tem grande depósito, mas as amostras que nos foram apresentadas e os tecidos que se estavam manufaturando, são bem fabricados e rivalizam com os similares espanhóis. Declarou que não luta com falta de capital e que não receia a concorrência estrangeira, a não ser a de importação clandestina, e está satisfeito com os atuais direitos pautais com que são onerados os tecidos de linha estrangeiros; mas queixa-se do excessivo direito que sobrecarrega a matéria prima que emprega, e de que tem pago desde a fundação da sua fábrica 1.281$000 reis.

Há em Vila Real três fábricas de conservas de atum, uma intitulada de Santa Maria, outra de S. Francisco e a de que é proprietário Sebastião Migoni.

A exportação de peixe de Portugal para Espanha é de valor anual superior a 4.000.000$000 reis.
O consumo de peixe no reino vizinho é considerável. Portugal pode fornecer peixe a quarta parte da população de Espanha, que não tem quem lho posso oferecer em melhor condições de preço, rapidez e de frescura. É ordinariamente muito elevado o preço do peixe neste país. Ultimamente a preparação de atum em escabeche de azeite, em Vila Real de Santo António, abriu novos mercados em Itália e no Brasil.

O atum tem duas épocas de pesca; o da primeira, quando o peixe vai para o Mediterrâneo, denomina-se de direito, e é pescado nas armações do cabo de Santa Maria, Ramalhete, Forte e Oira; o da segunda, quando volta, chama-se revés, e é pescado nas armações de Abóbora, Medo das Cascas, Três Irmãos e Livramento.

Cada uma das armações de direito tem uma companha com o seguinte pessoal: 1 mandador, 1 escrivão, 2 priguiceiros, e certo número de armadores perfazendo aproximadamente 100 homens.
O mandador vence de 500 a 600 reis, o escrivão 300 a 400 reis, os priguiceiros 200 a 240 reis e a companha 120 reis. Tem a companha 10 por cento e os mestres 2 por cento diário, o que sobe a 12 por cento que tiram do liquido da pesca.

Os trabalhos de almejo ou preparo de aparelhos de cada armação começa a 15 de março, e conclui em fins de abril, e só nessa época é que são lançadas ao mar as armações de direito, conservando-se nele até 15 de julho, em que são recolhidas por estar concluída a pesca.

Nas armações de revés a pesca costuma ser feita de 15 de junho a 15 de setembro, sendo o trabalho de almejo o mesmo que nas de direito.

Os barcos que conduzem o atum aos mercados das armações de direito costumam, na maior parte, ser os mesmos que fazem o serviço da temporada de revés.

Desde tempo imemorial que a pesca do atum tem sido um dos ramos mais importantes na industria piscatória do Algarve.

As empresas outrora estabelecidas na provincia, e que lançavam armações desde a foz do Guadiana até Sagres, não souberam tirar dessas artes de pesca o proveito que era de esperar, e em alguns caos nem mesmo a proteção do Estado pode evitar a sua completa ruina.

A imperfeição dos aparelhos, a deficiência dos processos empregados, o gravame dos excessivos impostos, as guerras internacionais, o monopólio e a má administração, obstaram por muito tempo ao engrandecimento daquelas empresas, que teriam sido uma fonte inesgotável de riqueza para o Algarve.

No começo do terceiro quartel deste século, algumas tentativas prometedoras foram incentivo para novas empresas, que desenvolveram consideravelmente este ramos da indústria.

Nos últimos anos a preparação de atum em escabeche de azeite, iniciada por alguns estrangeiros, tem dados mais subido valor ao produto da pesca das armações; é todavia certo que já antes os espanhóis de Ayamonte e ilha Cristina compravam atum de revés, aqui mesmo preparado, por um processo diferente, que teremos ocasião de descrever, e conhecido pelo nome de moxama.

O preço do atum de direito tem regulado nos últimos tempos de 40$000 a 50$ooo reis por dúzia de peixe, tendo chegado este ano a vender-se algum por 70$000 reis; o atum de revés tem sido vendido a 4$000 a 12$000 reis por dúzia.

As fábricas de preparação de atum de escabeche em Vila Real, e a de Canellas, em Ayamonte, compraram este ano, às quatro armações de direito, peixe no valor de 76.000$00 reis, a maior parte do qual foi depois exportada para a Itália com valor superior a 110.000$00 reis. Tem ainda cada uma das armações agregada a si, para a condução do peixe aos mercados, quarente embarcações, com o pessoal de 5 homens cada uma, e portanto mais 200 indivíduos remunerados com uma percentagem liquida da venda do atum. Pode pois dizer-se que cada armação emprega 300 homens.
Tendo posteriormente ido a Armação de Pêra examinar alguns armazéns de pertences das armações, visto que não podíamos presenciar a pesca, foram-nos feitas as seguintes reclamações, que exaramos aqui tais quais nos foram entregues por escrito.

“Para que as empresas das armações possam atingir a grande prosperidade de que são suscetíveis, é indispensável primeiro libertar essa indústria dos impostos que a avassalam, obtendo especialmente do governo da nação vizinha a modificação dos direitos que o nosso peixe salgado tem de pagar em Espanha, para poder concorrer com a vantagem aos mercados daquele país.

“Com a modificação ou extinção desses direitos, este ramo da indústria piscatória entrará em uma nova fase, abrindo novo campo a outras indústrias, ampliando a esfera das transações comerciais, e alargando o trabalho produtivo, levará também a atividade fecunda ao seio das classes mais necessitadas”.

“Desde que esse facto se dê, todo o atum, tanto de direito, como de revés, pescado nas nossas armações será preparado aqui na província, onde necessariamente hão-de estabelecer-se numerosas fábricas, em cujos trabalhos se empregarão milhares de braços, visto como o atum até ao momento da sua exportação tem de ser descabeçado, ronqueado, alanhado, salgado e envasilhado, ocupando-se nessa ordem de trabalhos indivíduos de ambos os sexos e de diferentes idades.”

“Além disso o extraordinário consumo do sal determinaria o aumento das marinhas, onde ele se produz, devendo esta outra indústria entre nós dar os mais lisonjeiros resultados”.

“Com o aumento das fábricas para a preparação do peixe, e a urgência da sua exportação, vem também a necessidade de aumentar a navegação, que contribuirá eficazmente para o desenvolvimento do comércio entre os portos marítimos das duas nações, e constituirá um valiosíssimo viveiro de bons e experimentados marinheiros.”

“E todos estes factos de ordem económica contribuirão para o aumento dos rendimentos do estado, e da riqueza pública, trazendo-nos esse bem estar que é o supremo de todos os nossos esforços.”

“É esta uma questão da mais alta importância para o Algarve, cujos mares são abundadíssimos de diversas pescarias.”

“Cremos que o futuro mais ou menos prospero desta província depende do mar. Como a Holanda, a Sardenha, e outros povos marítimos onde a indústria piscatória, sob a proteção governativa, tem sido um dos principais elementos da sua prosperidade; o Algarve podia tornar-se florescente e uma das mais ricas províncias de Portugal, se governantes e governados tivessem sabido aproveitar-se dos preciosos dons com que a natureza nos favorece.”

“Como a experiencia nos mostra, o mar oferta-nos todos os anos tesouros incalculáveis, que não sabemos, nem queremos aproveitar. O produto, ainda hoje, da pesca do atum é insignificante em relação ao que dela se poderá obter, se os nossos portos onde existem empresas de pesca, se poder salgar e preparar todo o atum das nossas armações, para depois ser revendido nos mercados estrangeiros.”

“No estado desta indústria, sujeira, como se acha, ao monopólio de estranhos, pouco há a esperar”.

“Amanhã se os espetadores estrangeiros, que comerceiam aqui atum e sardinha, quiserem combinar-se para dividirem entre si os interesses desse comércio das pescarias, havíamos de aceitar o preço ainda o mais ínfimo que eles dessem ao atum e ao mais peixe”.

“Infelizmente não temos meio algum para opor a esse convénio, que seria assaz funesto para nós, porque aniquilaria a nossa indústria piscatória.”

“ É preciso pois que se atenda de vez a este importantíssimo assunto, e que se empreguem todos os meis possíveis para se obter do governo Espanhol a modificação ao menos dos direitos que ali para o nosso peixe salgado, especialmente o atum e a sardinha. O atum salgado, em moira, em escabeche, ou por qualquer outra forma preparado, paga em Espanha doze pesetas por cada 100 quilogramas”.

“É também indispensável estabelecer por meio de acertados regulamentos as bases para o assentamento e lançamento das armações, fixando os lugares, distâncias e extensão das redes e aparelhos, tendo sempre enn atenção os pontos salientes e reentrantes da costa, o fundo para o corpo central das armações, os desvios originados por temporais e correntes, e outras condições que é necessário regular para evitar conflitos, e prejuízos recíprocos entre as diversas empresas, e o próprio Estado”.

Armação de Pera, 13 de outubro de 1881

Pessoal e processo de preparo do atum

Em todas as fábricas de conservas de atum, já citadas, duas das quais visitámos, apesar de não ser esta a época de funcionarem, o pessoal de cada uma, durante a laboração, é organizado da seguinte forma:

Director

Encarregado das oficinas de tanoeiros e funileiros

Cortadores

Cozedores (um para cada duas caldeiras)

Carregadores

Mulheres para estivarem o atum nas latas e barris.

Os cortadores, todos italianos, Á exceção de três que já com estes aprenderam, saõ também tanoeiros e carregadores.

O processo seguido no preparo é muito curioso.

Operários portugueses, antes do peixe entrar nas fábricas, abrem-nos e tiram-lhe a cabeça. Depois é o corpo do atum pendurado no bosque para sangrar. O bosque é um espaço da fábrica com traves de madeira de um lado ao outro, e coberto com rama de pinho. Á proporção que o peixe vai sendo pendurado, é lavado. Carece de abundância de água, tirada por bombas, e todas as fábricas as possuem.

Passa depois o atum para o picadeiro. Este é composto de traves de faia, vindas de Itália. No picadeiro é o peixe cortado, e depois deitado em dornas de madeira para onde corre água constantemente e aí acaba de sangrar.

Lançado depois em canastras, nelas é conduzido às caldeiras em que já está a ferver água com o sal competente.

Tirado das caldeiras, depois de cozido, é posto em padiolas de madeira com fundo de cana, para escorrer e arrefecer.

Depois de frio o atum vão as mulheres estivá-lo, operação que consiste em metê-lo em latas ou barris, depois de lhe tirarem as escamas, espinhas e veios de carne negra. Em seguida deita-se-lhe o azeite, operação simples, ordinariamente feita por menores.

Os barris são fechados primeiro, e deita-se-lhes depois o azeite pelo fundo. As latas são soldadas depois de lançado nelas o azeite, e em seguida vão para as estufas onde se lhes extrai o ar; arrefecidas e limpas, põe-lhes os rótulos, e ficam prontas para exportação.

No ano próximo as latas serão em folha de Flandres, acharoadas com rótulos impressos. Uma resolução do conselho geral das alfandegas, fundada na letra e no espirito da lei, facilitou este melhoramento de que vimos alguns bonitos espécimenes”.

Fábrica Santa Maria, Parodi & Roldan

A primeira fábrica que visitámos, denominada de Santa Maria, e pertencente á firma Parodi & Roldan, foi fundada com capital ilimitado, em 1879. Possui desde 1880 uma máquina a vapor da força de 4 cavalos. Tem dezasseis caldeiras para cozer o atum. Emprega no temo da laboração, de 80 a 100 homens, 50 a 70 mulheres e 8 menores. Aqueles vencem de 450 a 800 reis diários. As mulheres 220 reis e os menores 180 reis. As horas de trabalho diário são dez, além de quatro de serão. Não têm empreitadas.

As matérias primas de se serve para o preparo do peixe, são azeite de Itália, folha de Flandres e madeira para barris, no valor total, neste ano de 14.200$00 reis; e a sua produção foi de 335.604 quilogramas, no valor de 54.000$00 reis.

A sua exportação é toda para a Itália e em boas condições para afrontar a concorrência estrangeira.

O representante dos proprietários, Gomes Sanches, declarou que é indispensável para a continuação desta próspera indústria, que se mantenha o drawback para o azeite importado de Itália, reconhecido como está que o azeite português não agrada, pela sua qualidade, no mercado de consumo.

Reclamou também contra a tabela dos valores médios para exportação, onde se dá o valor de 250 reis por quilograma ao que não vale no mercado mais de 160 reis.

Fábrica S. Francisco, de Francisco Rodrigues Tenório

Visitámos depois a fábrica denominada de S. Francisco, que que é proprietário Francisco Rodrigues Tenório que fundou em 1880, com capital ilimitado.
Possui quatro caldeiras e emprega 15 a 20 homens, 30 a 40 mulheres, e 4 menores, com os salários de 450 a 900 reis os homens, de 220 reis as mulheres, e de 100 a 160 reis os menores. Trabalham dez horas por dia, e tem serões de quatro a seis horas.
As matérias primas que emprega no fabrico das conservas são, além do atum, azeite Espanhol e de Itália, e folha de Flandres, sendo o valor destes artigos, neste ano, de 6.000$00 reis.
Produziu na última temporada de laboração 100.000 quilogramas de latas com atum de escabeche, no valor de 18.000$000 reis. Os seus mercados de consumo são Itália, Portugal e Brasil, onde concorrem vantajosamente com os produtos similares estrangeiros.
Fomos recebidos pelo representante do proprietário, João Barroso, que nos fez reclamações iguais às que nos tinham sido feitas na fábrica de Santa Maria.
Nem uma nem outra fábrica têm falta de capital.

Foi-nos impossível visitar o estabelecimento de Sebastião Migoni, que estava ausente fora do país.

Não é porém só em conserva que o atum é exportado. Prepara-se também com salmoura, em pipas, não só nas fábricas acima descritas, mas também por conta de outros negociantes e industriais.

O atum para salmoura, depois de amanhado é cortado em quartos e golpeado, operações que se denominam descabeçar, ronquear e alanhar, e em que é empregado quase todo o pessoal operário de Vila Real, e muito de Tavira e outras povoações, conforme as safras.

Em depósitos subterrâneos, abertos a  metros de profundidade, é colocado o peixe e salgado.

Depois de metido nas pipas faz-se-lhe nova salmoura, que se lhe vai deitando pelo batoque. Parte do azeite do peixe tira-se nos depósitos, o resto sai com a segunda salmoura, vindo à superfície do funil.

A exportação do peixe assim preparado é toda para Espanha. A do azeite é para Inglaterra e Hamburgo.

Do atum de revés prepara-se também atum seco, moxama, que é a parte menos gorda do peixe, cortada em tiras de 0m,10 de largura e 0m,50 a 0m,60 de comprimento. É salpicado de sal, lavado cinco ou seis horas depois, e posto a secar ao sol.

A exportação do atum fresco, salgado e seco nos últimos cinco anos, segundo a nota obtida do diretor da alfandega de Faro, foi de 345.464$440 reis.

Inquerito industrial de 1881 - texto sobre indústria de conservas alimentícias no volume nº2

DISTRICTO ADMINISTRATIVO DO PORTO

Conservas alimentícias

Há no distrito apenas 2 fábricas desta espécie.

Primeira – De Santos Cirne & Cª, na rua da Restauração, fundada em 1876, que se denomina Luso-Brazileira, e tem uma sucursal para a preparação de sardinha em azeite na praia de Espinho.

Segunda – De J. A. Figueiredo, no Poço das Patas.

A subcomissão não pode examinar esta segunda fábrica; soube, porém, de informações que tomou, haver ali umas 10 pessoas ocupadas, e conservar-se apenas azeitona destinada ao consumo no Brasil no valor anual de 10.000$00o reis.

Na visita à fábrica Luzo-Brazileira as informações colhidas foram as seguintes:

Instalação – a fábrica está estabelecida numa casa de habitação sem as disposições convenientes para o serviço de oficinas. O estado de limpeza de cozinhas, armazéns e outras dependências deixa bastante a desejar.

As cozinhas são 2, munidas de fornalhas e caldeiras de cobre, com pequenos guindastes fixos. Há uma oficina de funilaria munida de máquinas ferramentas para a construção das latas; contém essa oficina 8 fogareiros para soldar, 4 balancés para vazar as tampas, 2 laminadores, tesouras retilíneas e circulares, juntadeiras, apertadores de junta, etc.

Pessoal – os úmeros variam muito com as estações; no verão durante da colheira das frutas chegam a empregar-se 100 a 120 mulheres. Na ocasião em que a visitámos, o pessoal da fábrica atingira o número de 50, sendo 20 homens e 30 mulheres. Nos homens há 1 cozinheiro, vencendo 1$100 reis e 2 ajudantes a 600 reis; há 14 operários da latoaria com salários de entre 560 e 360 reis, e trabalhadores com 400 a 440 reis. As mulheres vencem a 160 reis.

Matérias primas – Eis aqui o quadro aproximado do consumo em 1880:

Folha de Flandres, 12.500 quilogramas – 12.000$000

Estanho, 4.000 quilogramas – 2.000$000

Rótulos 1.500$000

Lenha e carvão 1.000$000

Açúcar, 35.000 quilogramas – 8.000$000

Azeitona 3.000 alqueires – 3.000$000

Frutas diversas – 5.000$000

Peixe – 2.000$000

Tomates, 45.000 quilogramas – 2.000$000

Carnes ensacadas – 1.700$000

Legumes – 1.000$000

Azeite, 4.500 litros – 1.300$000

O azeite empregado na conserva da sardinha é exclusivamente francês, da Provença; o nacional não é suficientemente purificado. No ano de 1880 a fábrica consumiu 2.000 litros de azeite francês, que lhe custou, com direitos de importação e consumo, a razão de 400 reis, consumindo 2.500 litros de azeite nacional a metade do preço. Outra espécie que tão pouco a agricultura nacional fornece são as ervilhas pequenas e tenras, petit pois dos franceses; algumas amostras obtidas têm-se pago por preços excessivos que suprimem o lucro; as ervilhas conservadas são as comuns. Azeitonas pardas, chamadas de Elvas ou de Sevilha, não se conservam; o mercado brasileiro, consumidor, receber e prefere a azeitona preta, e a preparada na fábrica é toda do Douro.

Produção – o valor das conservas produzidas em 1880 orçou entre 60.000$ 000 e 70.000$ 000 reis, a saber:

Frutas e açúcar, 1.500 caixas – 22,5

Frutas em água – 4

Marmelada e geleias – 8

Azeitonas 100.000 latas – 15

Peixe em azeite – 5

Tomate, em água – 2

Tomate em massa – 5

Espécies diversas – 3,5

O destino principal destes produtos é a exportação, e o mercado consumidor quase exclusivamente o Brasil e as repúblicas do Prata. A venda no país não excede um décimo da produção, e pouco mais representa a exportação para Inglaterra.

O capital com que a sociedade ópera sobe a 70.000$000 reis, sendo 30.000$000 reis fixo e reis 40.000$000 circulante. A casa da fábrica não é própria e custa de renda 900$000 reis ao ano.

Concebe-se facilmente o enorme alcance que a indústria de conservas de exportação pode vir a ter no desenvolvimento da riqueza de um país onde as aptidões naturais produtoras de peixe, frutas e legumes são tantas, tão variadas e tão extensivas. Tudo quando fosse possível fazer para aumentar o valor venal dos produtos de pescarias e da lavoura, traduzir-se-ia em aumento imediato da riqueza. Assim, a subcomissão ouviu com o máximo pesar as queixas do fabricante acerca dos embaraços em que se encontra para obter o drawback das substancias que exporta manipuladas, (folha de açúcar, azeite, estanho).

Já noutro capítulo (II) aludimos à questão do drawback sem nos pronunciarmos por um determinado sistema; aqui achamos os fabricantes de conservas optando francamente pelo sistema inglês, isto é, pela verificação na fábrica antes do envasilhamento e da expedição.

Dá-se nesta indústria também o que em mais de uma temos observado, isto é, criar a pauta um prémio de importação. Se, sob o ponto de vista da exportação, a questão grave para os fabricantes de conservas é o drawback, sob o ponto de vista do consumo interno quase exclusivamente servido ainda pelo estrangeiro, qualquer medida a respeito do drawback seria insuficiente. Pede-se, e pede-se com razão, a elevação do direito de 80 reis em quilograma (direito inferior ao das matérias primas pago pelos fabricantes), a 120 reis, exigindo-se que os mariscos em conserva se submetam à mesma taxa e não à de 2,5 reis, pela qual são importados hoje. Nenhuma razão justifica a exceção à sombra da qual se introduzem conservas de toda a espécies sob o nome de mariscos. Esse direito de 2,5 reis só provavelmente se referiria no espírito da pauta a marisco vivos ou a granel, e não a mariscos em conserva; a reclamação, pois, nesta parte só pede a retificação de uma deficiência pautal.

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