(5&6) A indústria conserveira em Setúbal - Memória e Identidades Profissionais - Categorias e carreiras

Categorias e carreiras

Trajectórias profissionais e mobilidade inter-fábricas

As operárias e operários não especializados constituíam um rancho de mão-de-obra disponível que circulava pelas fábricas de conserva ao sabor da melhor oferta salarial em cada dia de trabalho. Por meia dúzia de tostões calcorreavam a cidade para oferecer os seus braços a quem melhor pagasse. Poucas eram as fábricas que tinham um quadro fixos de operárias, conhecem-se em Setúbal apenas 2 casos: a Giselle e a Perienes. Havia mesmo casos em que as mulheres e moços eram contratados a empreitada.

«… Nessa altura a primeira fábrica que eu fui trabalhar foi para a Setubalense era uma fábrica que ficava ali em baixo e foi onde aprendi, depois como era muito longe e só davam 1 hora, fui para a lota para o Lavradio, como  o Lavradio era muito longe eu saí e vim para o pé da vila Maria, depois fechou e como eu nessa altura já tinha a minha filha, vim para aqui para o Zé Maria, essa também fechou, os patrões morreram, nessa altura já não fui trabalhar mais» Mariana Silva ex-operária conserveira.

«As mulheres casadas, por 5 tostões a hora mudavam de fábrica. A Giselle tinha sempre trabalho todo o ano, com o biqueirão e o choco, não havia defeso.» Ana Bela ex-operária conserveira.

Os efectivos, os auxiliares e os aprendizes

A vida profissional na fábrica de conservas iniciava-se normalmente por volta do 8 ou 9 anos. As aprendizes e moços de fábrica começavam por desenvolver tarefas indiferenciadas que por vezes se confundiam com a serventia. Faziam “mandados” aos mais velhos, levavam e traziam almoços, limpavam o local de trabalho, entregavam materiais, etc. Nesta fase a criança ou jovem interiorizava de forma solitária, noções de obediência e hierarquia. Mais tarde, quando era integrado ou integrada no acto produtivo propriamente dito, tendia a assumir as regras de sociedade e o comportamento do grupo profissional que integra. Se era uma menina ou uma jovem juntava-se ao grupo das mulheres nos trabalhos de mesa. Se era rapaz juntava-se aos homens nas tarefas com máquinas. Na indústria de conservas de peixe existia uma forte divisão sexual do trabalho, eram claras e distintas as funções cometidas a mulheres e homens. A diferenciação destas funções em relação ao género do indivíduo que as desempenha, baseava-se em critérios de ordem social e cultural, pois tecnicamente tal não se justificaria. Nos testemunhos de ex-operárias e operários esta divisão de trabalho, para a maioria obvia e inquestionável, justifica-se pelo facto de algumas funções exigirem habilidade e perfeição, atributo das mulheres e outras requerem força física atributo dos homens.

Facilmente se compreende que na base desta diferença estão motivações económicas e sócio culturais. Os homens auferiam salários muito mais altos que as mulheres, para além do que seria impensável, entrar numa  fábrica e ver homens a descabeçar, engrelhar e enlatar, funções que estão conotadas com actividades domésticas nomeadamente o cozinhar.

Para além da divisão entre tarefas de mulheres e homens podemos distinguir os operários com carácter permanente e os assalariados que se movimentam de fábrica em fábrica em demanda de melhores condições salariais.

Com carácter permanente eram normalmente as visitadeiras, as azeitadeiras, as batedoras de lata, os transportadores de mouras, os transportadores de carros para os autoclaves, os cravadores, os fogueiros e os encaixotadores.

Com carácter assalariado e portanto móvel (por vezes contratados à empreitada) eram as descabeçadoras ou cortadoras de peixe, engrelhadoras, enlatadoras e transportadoras de lata para azeitamento.

Relativamente às funções que os operários e operárias conserveiras executaram podem-se agrupar da seguinte forma:

Manipuladores de peixe, enlatado ou não

Transportadores e manobradores

Condutores de máquinas, ferramentas

Direcção e controle de pessoal: Mestras I Mestres e encarregados

Os mestres/as e encarregados não ascendem da carreira profissional são captados pelos patrões pelas suas qualidades, experiência e confiança.

O trabalho na fábrica - Representações e práticas

Cravar latas

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