Indústria Conserveira: Memórias da Terra e do Mar - 2004

Trabalho realizado por:

Nuno Fernandes Gonçalves – Filipe Alexandre Pinto Silva – Rui Emanuel Neves Figueira dos Santos

Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna

“Um povo que não sabe guardar devidamente a sua memória não é digno da sua história.”

1 – O impulso da industrialização em Portugal no século XIX

Na segunda metade do século XIX o progresso tecnológico e científico da nova vaga de industrialização é traduzido no aparecimento de um novo conceito – fábrica. Em simultâneo verifica-se o desenvolvimento da rede de transportes e vias de comunicação, bem como as reformas político- jurídicas, que impulsionariam a desfeudalização das estruturas económicas e sociais.

Neste século dá-se uma mudança radical de mentalidades, pois passa a produzir-se para o mercado e para realizar dinheiro. Ocorre a substituição do modelo artesanal pela maquinofactura. É a expressão do capitalismo industrial e financeiro, que se desenvolve devido à organização e à exploração do trabalho assalariado, em que os capitais investidos na indústria se tornam rentáveis. No entanto, o total triunfo do industrialismo só se verificou no final do século XIX e princípio do século XX.

A todo este desenvolvimento da tecnologia e da ciência a indústria das conservas não irá ficar indiferente.

2 – A evolução da indústria de conservas de peixe

Desde tempos imemoráveis o homem vem procurando descobrir a maneira de conservar os alimentos por períodos tão longos quanto possível.

Convém nesta altura fazer uma referência à indústria de conservas de peixe pelo sal e à sua antiguidade, que vem desde os tempos em que o pescador reconheceu a necessidade de utilizar o sal para conservar o peixe e comercializá-lo para prover à sua subsistência.

Sabemos que os primeiros processos de conservação utilizados foram a congelação pelo frio, a salga, a secagem e a fumagem. Posteriormente o homem desenvolveu outros processos, como a conservação pelo azeite, vinagre, álcool e açúcar. Mas nenhum destes processos era ainda suficiente, pois, apesar de prolongarem a duração dos alimentos, estes continuavam a perecer porque todos eles se limitam à simples criação de ambientes desfavoráveis ao desenvolvimento dos microrganismos que, mesmo assim, acabam por consumir os alimentos.

O desenvolvimento da pesca fez-se sempre em função de mercados de consumo distantes e externos. Até ao terceiro quartel do século XIX os mercados eram só abastecidos por produtos conservados com base na salga, estiva e seca.

Entretanto, nos finais do século XVIII, e em coexistência com técnicas tradicionais que resistiram até muito recentemente, foi descoberto um processo de conservação capaz de destruir completamente as bactérias, o que, aliado a um acondicionamento hermético, permitia a conservação por muito mais largos períodos de tempo. Ficou conhecido como método Appert.

Em 1823, o inglês Peter Durand aperfeiçoa a técnica de Appert, substituindo os frascos de vidro utilizados até então pelos novos recipientes em folha-de-flandres, conhecidos por todos nós e ainda hoje utilizados.

Foi por volta de 1824 que surgiu, em Nantes, a primeira fábrica de conservas de peixe empregando um processo baseado na cozedura e esterilização. De Nantes irradiou esta técnica industrial para a Noruega e para os Estados Unidos da América.

Foi também um francês que, em virtude de ter rareado a sardinha nas costas da Bretanha, veio estabelecer-se em Setúbal no ano de 1880. Este estabelecimento acabou por provocar o aparecimento de fábricas congéneres em muitos outros centros piscatórios portugueses e espanhóis. Em 1896 contavam-se em Portugal 76 fábricas de conservas de sardinha.

Quanto a Portugal, não existem dados que conduzam a uma conclusão completamente segura. Estudos efectuados por Albérico Afonso C. Alho e Carlos Mouro (em 1996) apontam para a conclusão de que já em 1855 Feliciano António da Rocha e Manuel José Neto tinham montado em Setúbal uma fábrica de conservas de sardinha em azeite. Entre as provas indicadas por estes autores estão os prémios recebidos por Feliciano António da Rocha (já sem a companhia do seu sócio) nas Exposições Universais de Paris, em 1855, e de Londres, em 1862, além de uma tabela de preços de Manuel José Neto, impressa numa tipografia de Setúbal em 1858.

No entanto, outros autores afirmam peremptoriamente que a primeira fábrica de sardinhas em azeite, a Delory, terá sido inaugurada em Setúbal no ano de 1880, enquanto a primeira fábrica de conservas de atum em azeite no nosso país surgiu em 1879, em Vila Real de Santo António.

Portugal foi claramente um pioneiro na indústria das conservas de peixe a nível mundial. Em seguida, vamos analisar quatro cidades portuguesas (Vila Real de Santo António, Olhão, Setúbal e Peniche) com grandes tradições neste ramo. A partir do estudo da realidade dessas quatro cidades, esperamos ser capazes de analisar o panorama actual das indústrias de conservas de peixe em Portugal.

3 - Vila Real de Santo Antónia

3.1 – Recordações de um passado florescente

O surgimento de novas ideias económicas, sociais, políticas e culturais irá ter manifestação directa em Vila Real de Santo António. Novos métodos técnicos, o levantamento dos recursos, a arquitectura e o urbanismo irão delinear o eclodir e o arranque da indústria das conservas de peixe.

Na sequência da vocação e formação de base da indústria conserveira em Vila Real de Santo António e do desenvolvimento da técnica e da ciência, surge nos finais do século XIX, em 1879, a primeira fábrica de conservas de atum em azeite no nosso país, em moldes modernizados e avançados. A referida fábrica foi criada pelo cidadão italiano Ângelo Parodi. Concretizava-se um projecto industrial e iniciava-se um novo ciclo na história desta cidade. Até aí, o atum e a sardinha eram exportados do Algarve para outras regiões estivados em sal, uma actividade que já existia desde o tempo dos cartagineses.

A origem de Vila Real de Santo António como centro de comércio e preparação das conservas de atum e sardinha (predominantes), bem como da indústria moderna, deveu-se à introdução da técnica e métodos por parte de imigrados italianos que se fixaram em Vila Real de Santo António devido à abundância e preço insignificante que tinha a matéria-prima nesta zona.

A dependência de Itália era quase total no que respeita às compras, visto que os italianos eram grandes apreciadores de conservas de atum. Tal dependência levou à organização de transportes específicos, que se tornaram fundamentais em épocas de crise.

Os vapores de Ângelo Parodi carregavam nos cais da fábrica do Guadiana quase toda a produção destinada a Génova. O início do século XX é caracterizado pela gradual expansão das unidades industriais em Vila Real de Santo António. Por volta de 1903, existiam oito fábricas, e na sua maioria eram propriedade de italianos. Surgem também outras actividades afins a este ramo, em número considerável e com uma crescente importância na vida económica local. Entre estas, destaque para a litografia (estampagem da folha-de-flandres), o fabrico de chaves para abrir as latas, carpintaria, salga de peixe e preparação de óleo.

O processo de fabrico desde este período e ao longo da história desta indústria (que, na sua essência, se tem mantido) era o seguinte: o atum entrava na fábrica e seguidamente era esquartejado, tirando-se-lhe a espinha dorsal. Posteriormente era embocado para ser mantido em tinas para ficar a sangrar, sendo posteriormente cozido e enlatado. No início a sardinha era cozida em fornos idênticos aos das padarias, passando mais tarde este procedimento a ser realizado em fornos a vapor. Este era essencialmente o processo deste período de arranque da indústria, que irá sofrendo alterações no decorrer da evolução tecnológica e científica das máquinas e das características das várias matérias-primas.

No âmbito da economia e da sociedade, ou melhor, nas relações entre capital e trabalho, registava-se uma actividade empregadora incerta, isto é, emprego de cariz sazonal e um trabalho acentuadamente nocturno, sobretudo para antecipar a produção e preparação do produto final.

Por esta altura, a indústria das conservas, entre fogueiros, soldadores, estivadores e trabalhadores, já albergava perto de 900 pessoas, número importante numa altura em que ainda não se tinha implantado a República e em que a economia não se encontrava estabilizada. A modernização do equipamento industrial em Portugal, e em Vila Real de Santo António em particular, relativamente ao resto da Europa é tardia. Não obstante, a terceira fase deste processo inicial de implantação das conservas em Vila Real de Santo António é marcada pelo progresso industrial, em termos especiais e também económicos.

3.2 – Progresso e crescimento da actividade conserveira

Em 1927, no 1.º Congresso de Pesca e Conservas, que se realizou em Setúbal, concluiu-se que era necessário renovar e modernizar a indústria de conservas em Portugal. Desta forma, irá assistir-se entre 1930 e 1945 a um progresso e movimento ascensional desta actividade. Em 1939, as conservas entravam em crise: os stocks amontoavam-se nas fábricas e os preços de venda desciam, devido a uma grande concorrência. A recuperação seria feita nos primeiros anos de guerra, o que permitiu estabilizar a situação financeira da indústria conserveira.

Deve-se registar ainda nesta fase de progresso a participação de algumas fábricas, como a Ramirez, a Parodi e a Tenório, em grandes exposições industriais e nacionais (Londres, em 1904; Panamá, em 1905; Rio de Janeiro, em 1922; Lisboa, em 1932), conseguindo vários títulos, o que demonstra claramente todo o valor e potencial desta indústria e dos seus produtos.

Em 1948 as conservas passaram ainda por uma fase difícil, devido à crise da pesca da sardinha e ao aumento da concorrência. A partir da década de 50, com o regresso da sardinha à costa, os acordos comerciais, a propaganda conserveira, a melhoria tecnológica e a modernização dos modelos de higiene e administração, é imprimida uma nova conjuntura nacional e um arranque para o desenvolvimento das conservas em Vila Real de Santo António.

Entre 1943 e 1953, Vila Real de Santo António registou o maior número de fábricas, 19 e 21, respectivamente. Neste mesmo período, sobretudo na década de 40, era o centro conserveiro de atum que apresentava maiores índices de produção. Em 1943 apresentava valores que ultrapassavam várias centenas de toneladas, tanto em atum como em conserva de sardinha pelo sal.

Vila Real de Santo António era denominada a “Bolsa do Atum”, devido ao facto de a safra se apresentar com valores significativos, mas sobretudo devido ao interesse e à disputa na lota vila-realense pela compra do atum a preços elevados, fixando os mesmos a nível mundial. Vila Real de Santo António era então um centro fabril conceituado, o mais importante relativamente à produção e exportação de atum.

3.3 – Atum, a verdadeira carne do mar

De todas as indústrias desenvolvidas no Algarve, a pesca do atum, além de ser a mais antiga, foi durante muitos anos a mais importante do ponto de vista económico, representando uma actividade valiosa para as populações do litoral. Era uma actividade incerta, sujeita a importantes flutuações, mas, mesmo assim, foi sempre de importância capital para a economia da região.

Nos finais do século XVII, pela mão do marquês de Pombal, as pescarias começaram a recuperar progressivamente de um período negativo. Em meados do século seguinte, atingiram os seus momentos áureos. Em 1881, a armação Medo das Cascas, situada na costa de Tavira, capturou durante a temporada o número fantástico de 41 000 atuns.

Até há pouco mais de 150 anos, quando o atum corria pela costa do Algarve em grandes cardumes, as armações eram lançadas a pouca distância da terra e com dimensões reduzidas.

Já no século XX, devido à escassez do atum e à evolução tecnológica, as armações avançaram pelo mar dentro, afastando- se bastante da costa e triplicando, por vezes, a sua dimensão, de tal modo que, nos seus últimos tempos de vida, as empresas chegavam a ter nos seus quadros quase centena e meia de homens aptos a desempenhar e coordenar tarefas que exigiam grande saber e experiência.

Nas manobras de lançamento das estruturas que constituíam a armação e na faina da pesca eram utilizadas, por vezes, mais de vinte embarcações movidas a remos ou à vela.

Tanto no caso da armação do Cabo de Santa Maria, que assentava o arraial na ilha de Faro, como no caso da armação do Medo das Cascas, utilizavam-se tais quantidades de material que se torna difícil fazer uma ideia. Basta dizer que as estruturas destas armações, talvez as maiores que alguma vez se lançaram no Algarve, atingiam no mar uma frente de cerca de 10 a 11 quilómetros. A superfície vertical ocupada pelas redes atingia os 400 000 metros quadrados e, à superfície da água, todo o conjunto da armação ocupava uma área com cerca de 600 hectares.

O espectáculo da pesca do atum, sobretudo o copejo (o atum era arpoado directamente da armação para o barco), interessou a numerosos escritores e artistas, que procuraram descrever todo o envolvimento da cena a seu modo, como aconteceu com Júlio Lourenço Pinto, Raul Brandão, Fialho de Almeida ou Teixeira Gomes. O próprio rei D. Carlos, em 1898, durante a sua permanência na costa do Algarve, executou a bordo do iate D. Amélia um quadro a pastel sobre o copejo do atum, que mais tarde ofereceu ao imperador da Alemanha.

Entre 1930 e 1940, chegaram a ser colocadas ao longo do litoral mais de uma centena de armações, sendo o peixe destinado a prover as cerca de 200 fábricas de conservas então existentes um pouco por todo o Algarve.

3.4 – O fim da “galinha dos ovos de ouro” dos algarvios

As armações de atum, com todos os altos e baixos, tiveram o seu fim na década de 70. Em 1972, lançou-se pela última vez, em Tavira, a única armação então existente, a do Medo das Cascas. Este lançamento foi um fracasso total e durante toda a temporada capturou-se apenas um atum.

A escassez de mão-de-obra, muito mal paga, com o aumento das regalias sociais, o aumento da frota pesqueira na região, assim como a concorrência de Marrocos e a própria escassez de espécimes, devido às capturas intensivas, antes da desova a caminho do Mediterrâneo, contribuíram para o fim desta actividade.

No final do século XX, uma empresa luso-japonesa voltou a reactivar a pesca do atum no Algarve, através de uma armação e com assinalável êxito. A referida empresa decidiu apostar numa armação situada a cerca de quatro quilómetros ao largo da Fuzeta, capturando os atuns e fazendo a sua engorda. Depois de atingirem um tamanho aceitável os atuns são transportados para o Japão por via aérea em contentores especiais, para serem consumidos crus, como manda a tradição daquele país asiático.

3.5 – O “canto do cisne” da indústria conserveira em Vila Real de Santo António

No final da década de 50, vários problemas de ordem económica, administrativa e mesmo tecnológica indicavam uma fase de declínio na indústria conserveira. Em Vila Real de Santo António o primeiro sintoma deu-se em 1957, com o encerramento de algumas fábricas (contavam-se agora 16), empregando ainda cerca de 2000 pessoas.

A abundância de pesca, o volume da exportação e a importação seriam, em termos económicos, bastante negativos para o país, e em particular para o Algarve. Os problemas com que se deparavam essencialmente os industriais eram o aumento da concorrência e a exportação inconsequente em termos económicos.

Em suma, os problemas e a consequente decadência da indústria conserveira em Vila Real de Santo António a partir dos anos 60 passavam pelo facto de a matéria-prima não ser nacional, pela concorrência, técnicas de pesca arcaica, escassez de atum de direito (coincidente com o fim das armações) e inexistência de um preço fixo de compra.

As soluções passavam pela modernização da frota pesqueira, actualização do equipamento técnico, criação de linhas de fabrico automático e apoio do Estado. Como isto não veio a acontecer, na década de 70 deu-se um verdadeiro holocausto que varreu como numa enxurrada dezenas de fábricas da localidade. A maior parte das fábricas que laboravam na cidade encerrou nos anos 70 e na década de 80 começaram a vender o material a sucateiros ou a países do Norte de África.

Até aos nossos dias, as poucas fábricas que sobreviveram a essa calamidade foram sendo paulatinamente encerradas ou desactivadas. Em Maio de 2001, a última fábrica de conservas a laborar na cidade pombalina fechou definitivamente as portas. A fábrica Comalpe, do grupo COFACO, lançava no desemprego 135 trabalhadores, na sua maioria mulheres, depois de, dois anos antes, ter acontecido o mesmo com a fábrica da Ramirez, tendo então sido despedidos 50 trabalhadores.

3.6 – Edifícios degradados são sombra de um passado florescente

A maioria das instalações fabris já foi destruída e apenas restam alguns vestígios de um passado industrial glorioso, sendo o seu lugar sistematicamente ocupado por blocos de apartamentos e urbanizações turísticas.

Desconfiados por natureza, na sua grande maioria descendentes de italianos, gregos e espanhóis, os proprietários inviabilizaram até muitas das possibilidades de manter a memória de uma indústria florescente, devido à venda da maior parte do espólio das fábricas a sucateiros.

A recuperação das memórias de outros tempos parece assim problemática. Os anos de prosperidade industrial subsistem apenas nas recordações dos mais velhos. Só as chaminés e os edifícios, muitos em avançado estado de degradação, guardam a memória dos tempos de prosperidade industrial. As novas gerações arriscam-se a não saber nada sobre aquilo em que os seus avós trabalharam.

3.7 – As perspectivas de futuro

A Câmara Municipal de Vila Real de Santo António atribuiu recentemente um lote na zona industrial com vista à instalação de uma unidade de transformação de atum, tentando assim o regresso da actividade conserveira à cidade pombalina.

Apesar de este projecto ter uma grande importância económica, cultural e histórica com vista à preservação desta actividade, em especial numa altura em que a população anteriormente ligada à pesca e indústria conserveira se encontra desempregada, as perspectivas de futuro não são muito animadoras. Os interesses imobiliários com fins turísticos são muito fortes e isso pode entravar o ressurgimento da indústria das conservas de peixe.

3.8 – A competitividade que vem do outro lado da fronteira

Enquanto o sector morreu em Vila Real de Santo António, os nossos vizinhos espanhóis desenvolvem a indústria conserveira à beira do Guadiana. O investimento ascende a 25 milhões de euros e o núcleo conserveiro é já apontado como o maior da Andaluzia e irá localizar-se na futura zona industrial de Aiamonte, mesmo junto à ponte internacional sobre o Rio Guadiana.

A partir de 2005, cinco das mais importantes empresas conserveiras daquela região irão produzir conservas cuja matéria- prima irá ser constituída essencialmente por corvina, cavala, sardinha e biqueirão, prevendo-se também uma forte modernização da maquinaria.

Em Espanha o mercado da indústria conserveira tem registado um grande desenvolvimento, tendo aumentado cerca de 30% em relação à média dos anos 90. Aparentemente, a tão propalada crise não afecta todos com a mesma intensidade.

4 – Olhão

Quando a indústria conserveira, no final do século XIX, se afirmou definitivamente no nosso país, Olhão consolidou- -se como o segundo maior centro de produção de conservas de peixe, somente sendo suplantado pela cidade de Setúbal. É interessante salientar que sempre houve uma salutar rivalidade entre Olhão e Setúbal, pois não era só nas conservas que isso se verificava, era também na pesca da sardinha, quando muitos cercos de Olhão (hoje traineiras) iam todos os anos fazer a temporada da sardinha para Setúbal.

Pode situar-se o surgimento da indústria conserveira na cidade de Olhão no ano de 1893, quando o empresário José António Pacheco fundou a primeira fábrica de conservas em azeite. No princípio do século XX esta indústria daria o salto definitivo para a sua afirmação em Olhão e um pouco por todo o Algarve, nomeadamente em Vila Real de Santo António, como atrás foi referido, e também em Portimão.

No ano de 1934, o Governo legislou e criou o Consórcio Português de Conservas de Peixe, organismo que passou a disciplinar a indústria e a verificar a qualidade da produção das conservas, iniciando a sua actividade em Olhão. Por esta altura eram já 37 as fábricas de conservas que laboravam em Olhão, o que demonstra bem o grande impulso que esta indústria teve no início do século passado.

Estas fábricas, tal como acontecia em Vila Real de Santo António, eram geradoras de muitos postos de trabalho para uma população que não tinha, na generalidade, outra alternativa que não fosse a pesca para a sua subsistência.

É de salientar que, naquela altura, existiam em Portugal 203 fábricas de conservas de peixe, e que Setúbal, com 68, e Olhão, com as mencionadas 37, produziam praticamente tanto como todas as demais existentes no país. As restantes fábricas englobavam, por ordem de grandeza, os centros de Matosinhos, Peniche, Vila Real de Santo António, Lagos e Aveiro.

Até à criação do consórcio, a indústria das conservas sofreu de todos os complexos próprios da sua insipiência, quer nos métodos aplicados na fabricação – sempre em evolução – quer na concorrência que os fabricantes faziam entre si, praticando preços ruinosos.

O consórcio passou a exercer a sua acção em tudo o que se relacionava com a produção, vigiando a fabricação de modo que a qualidade das nossas conservas se mantivesse e merecesse a confiança dos mercados. Em 1938, o consórcio passa a Instituto Português de Conservas de Peixe e hoje é a Direcção- Geral das Pescas e Aquacultura.

4.1 – Sardinha, “a fada de prata”

Durante a década de 30, em toda a costa portuguesa, a sardinha era tão abundante que chegava mesmo a ser queimada em Matosinhos. Em Olhão, os cercos (hoje traineiras) faziam grandes lanços de sardinha que mandavam para a lota nos buques e motoras (enviadas).

O espectáculo da venda do peixe era digno de ser visto. As enviadas chegavam à lota e iam-se encostando umas às outras; o vendedor começava a venda pela primeira, passava às seguintes, mas sempre acompanhado pelos compradores das fábricas, pois cada fábrica tinha o seu próprio comprador.

A descarga da sardinha era outro espectáculo e as dificuldades de que se revestia eram tantas que só a muita perícia dos intervenientes a levava a bom termo.

Os buques e as motoras saíam da lota após o peixe que traziam ter sido vendido e vinham para as rampas. Aí os carros de mulas encostavam, esperavam que os cabazes fossem cheios pelos apanhadores, e depois levavam-nos para a fábrica, que antes já tinha feito soar o apito (sirene) para avisar o pessoal de que tinha comprado peixe. Era a sinfonia das fábricas a apitar em todos os tons.

Nos anos 50, Salazar chegou a impor um preço mínimo para a exportação da sardinha, pois a concorrência era tanta que, na opinião do chefe de Estado, a baixa de preços da exportação poderia levar os empresários à falência.

A imposição só resultou porque a sardinha era quase um monopólio português: Marrocos, na altura, não fazia sombra; os outros países em cujas costas havia sardinha não capturavam em número suficiente para atemorizar Portugal, além de que os seus custos de produção eram muito superiores. Em 1935 a França exportava 1521 toneladas, a Espanha 16 624 e Portugal 42 478.

4.2 – A procura de novos mercados

As fábricas trabalhavam em pleno. O aumento da produção era um facto e a constante procura de novos mercados uma necessidade que se impunha satisfazer, uma vez que o consumo não ia além de 5%.

Aparecem a colaborar os exportadores de conservas de peixe, que, aproveitando a conjuntura favorável existente, passaram a exercer a sua actividade, promovendo as nossas conservas directamente nos mercados estrangeiros, especialmente na Europa e nos Estados Unidos da América.

Em 1938, os maiores compradores de conservas portuguesas foram a Inglaterra, a Alemanha e a França, e isto não nos deve causar estranheza, uma vez que as previsões de uma guerra se adensavam já no horizonte.

Com o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, as perspectivas são boas, devido à nossa neutralidade. Efectivamente, isso veio a acontecer, e o período de 1939 a 1945 pode ser considerado um período áureo para a indústria conserveira e para o país.

Em 1940, o número de fábricas era de 33, e em 1945 já eram 40, as quais empregavam 3000 operários. Até ao fim da guerra, e mesmo na década de 50, as perspectivas continuavam sendo boas, a pesca não faltava e a indústria não conhecia dificuldades de maior para a venda das suas conservas.

4.3 – Os primeiros sinais de crise

No entanto, o consumo interno aumentou tremendamente e a sardinha na lota passou a ser valorizada de modo a criar problemas às fábricas, que passaram a ter mais um concorrente. Não souberam, contudo, resolver a situação da melhor maneira. Bastava que comprassem a sardinha a preços que permitissem fazer face às cotações da concorrência estrangeira e resolviam o problema. Não o faziam e continuavam comprando o peixe caro, o que encarecia o custo de fabricação, não lhes permitindo seguir os preços praticados lá fora e impedindo a venda da produção. Iam-se criando problemas de difícil solução e os fabricantes não escondiam as dificuldades económicas que enfrentavam para resolver os seus compromissos.

4.4 – A confirmação do declínio

Em 1961, a revista Conservas de Peixe, no seu n.º 181, do mês de Abril, informa que no centro de Olhão, onde havia 28 fábricas, a safra de 1960-61 se iniciou sob a péssima impressão causada pela paralisação de algumas unidades industriais devido à sua própria crise. Diz também que o pescado apanhado pelas 10 traineiras do porto de Olhão era pouco e que as maiores quantidades de sardinha vinham de Portimão e Vila Real de Santo António, até fins de Setembro, e de Matosinhos, nos meses de Outubro e seguintes. A partir de 1961, as dificuldades já não pararam mais para as fábricas existentes. Era a pesca a reduzir-se cada vez mais e o consumo interno a crescer.

A partir de 1970, a situação tornou- se de tal forma preocupante e de tal modo insuportável, devido à falta de sardinha para as fábricas trabalharem, que fez que o Governo, em 1970, encetasse negociações com os grémios e os sindicatos para o encerramento de algumas unidades industriais. As negociações, apesar de difíceis, foram coroadas de êxito, pois em 1972 ficaram estabelecidas as condições para serem extintas as fábricas que, voluntariamente, o desejassem, mediante a concessão de determinados incentivos.

Assim, foram encerradas em todo o país 48 fábricas: 15 em Matosinhos, 12 em Setúbal, 12 em Olhão, 7 em Portimão/ Lagos, 1 em Tavira e 1 em Vila Real de Santo António.

O Governo, na altura, salientou a conveniência da concentração de empresas, de mais barcos e também de aumentar a frota de barcos congeladores, uma vez que a sardinha bem congelada servia perfeitamente para trabalhar em boas condições. Deveria igualmente ser criada uma rede de frio para armazenamento de sardinha congelada em períodos de abundância.

4.5 – Realidade actual

Hoje, restam apenas três fábricas de conservas de peixe em Olhão. A última fábrica a encerrar portas foi a Marolhão. Esta fábrica, apesar de já estar localizada na nova zona industrial de Olhão e de ter sido financiada pela União Europeia, não resistiu às dificuldades e deixou de laborar em 2003.

As fábricas que ainda laboram são:

Conserveira do Sul, Lda. Fundada em 1954 por António Jacinto Ferreira e filhos, a fábrica continua hoje a pertencer à família, tendo em Maio de 1995 transferido as suas instalações para a zona industrial. A unidade emprega cerca de 80 trabalhadores e produz conservas de sardinha, cavala, carapau, xaputa e atum, sendo 90% da produção destinada ao consumo interno. A fábrica não tem frota própria, embora a tenha tido até há pouco tempo. Agora a fábrica abastece-se essencialmente na lota. O abastecimento não tem trazido grandes dificuldades, mas nos últimos tempos têm surgido alguns problemas relacionados com a diminuição das capturas

J. A. Pacheco. Autêntico prodígio de longevidade, esta fábrica, que foi a primeira fábrica de conservas de peixe que se estabeleceu em Olhão, continua a laborar e sem grandes problemas, apesar de as instalações se encontrarem um pouco envelhecidas e deterioradas. A maior dificuldade que a fábrica sente para continuar a funcionar normalmente é a compra de peixe, devido aos preços e por vezes à escassez do mesmo. Essa compra é feita nas várias lotas do Algarve, em virtude de a empresa também não possuir frota própria. A fábrica emprega 69 trabalhadores e toda a sua produção (só atum e cavala) é exportada para Itália (cerca de 90%) e Espanha.

Faropeixe, Lda. Sobre os escombros de uma indústria em decadência ainda há quem tenha coragem para avançar. É o caso de Emanuele Bettili, que chegou ao Algarve em meados dos anos 80. Este empresário italiano decidiu apostar nas pastas de peixe, para venda essencialmente em restaurantes, e começou a laborar em 1987. Hoje, nas suas modernas instalações (financiadas pela União Europeia), a Faropeixe produz por dia 80 a 100 mil embalagens de vários patês: sardinha, atum, cavala, salmão, gamba e marisco. Produtos que se juntam às conservas de peixe tradicionais.

A matéria-prima para o funcionamento desta fábrica é adquirida, quase na sua totalidade, em Olhão, apesar de não possuir frota própria.

Em virtude de Olhão ser uma cidade que vive de braço dado com o mar, onde se estima que 60 % da população viva do mar, existe também toda uma série de empresas ligadas ao comércio de marisco e seis empresas de preparação e congelação de pescado.

Um sinal inequívoco da mudança dos tempos, na nossa sociedade, ocorre com uma outra fábrica em Olhão. Trata-se da Fábrica de Conservas Bela Olhão, propriedade de um grupo estrangeiro.

Esta fábrica, que em 1998 tinha uma frota própria de seis traineiras e contratos com outras embarcações e se dedicava à produção de conservas de sardinha, na actualidade dedica-se em exclusivo à produção de rações para animais (cães e gatos). Desde o ano de 2002 que os seus 120 trabalhadores se dedicam à preparação desde género de produto, elaborado à base de carne, contribuindo desta forma para o declínio ainda maior das pescas.

Infelizmente, tal como em Vila Real de Santo António e noutras cidades do nosso país, muitas das antigas fábricas são agora edifícios abandonados e degradados, permitindo que as memórias de um tempo glorioso da nossa indústria se percam irremediavelmente. Essas fábricas esperam o golpe de misericórdia da construção civil.

5 – Notas finais sobre a indústria conserveira no Algarve

Como vimos anteriormente, a indústria conserveira algarvia chegou a viver momentos verdadeiramente gloriosos durante o século XIX. Nos anos 40, chegaram a existir em todo o Algarve cerca de 200 fábricas. A pesca e a indústria das conservas ocupavam quase metade da população activa algarvia, já então numericamente bem próxima da actual.

A concorrência marroquina foi o principal factor de quebra da produção. A decadência da indústria começou a fazer sentir-se a partir do início dos anos 60. Os marroquinos investiram fortemente na indústria conserveira baseada na sardinha, graças à exploração de uma mão-de-obra quase escrava, a custos baixíssimos, ocupando posições na exportação outrora ocupadas por Portugal.

Em Portugal, o aumento do custo da mão-de-obra e a obrigatoriedade de regalias sociais para os trabalhadores representaram a machadada final. Para o fim das conservas algarvias contribuiu também o fim das capturas do atum, no início dos anos 70.

A crise acentuou-se ainda mais após a Revolução dos Cravos. As indústrias não “digeriram” as nacionalizações, o crescimento dos custos de produção, a evolução tecnológica e a necessidade de dar mais regalias e melhores salários aos seus operários.

A precariedade do trabalho também era muito alta e estima- se que somente 25% dos trabalhadores eram assalariados fixos. O resto era pessoal eventual, chamado por uma sirene quando havia trabalho e mandado para casa quando não havia, às vezes depois de ter trabalhado apenas duas horas. Era muito comum a existência de mulheres nas fábricas, as avisadeiras, que noite dentro, enquanto as fábricas fumavam, corriam pelas ruas das cidades algarvias, com um grito único: “Meninas, começa amanhã às sete, a fábrica está cheia de peixe.”

Fica assim retratado aquilo que foi e aquilo que é actualmente a indústria conserveira em Olhão e Vila Real de Santo António. E em Setúbal e Peniche, o que terá acontecido? É isso que vamos verificar já a seguir.

6 – Setúbal

6.1 – A preferência pela sardinha, por Portugal e Setúbal

Inicialmente, no segundo e terceiro quartéis do século XIX, a moderna indústria de conservas desenvolveu-se essencialmente em França, contando-se por muito poucas as fábricas existentes no exterior daquele país que utilizavam a técnica de Appert.

Como sabemos, esta indústria sempre foi muito dependente da qualidade e quantidade do pescado existente. Em Setúbal havia uma tradição secular na pesca de sardinha, pois o estuário do rio Sado e a costa atlântica de Setúbal sempre foram visitados por extensos cardumes daquele peixe. Talvez tenha sido esse o principal motivo que levou Delory a escolher Setúbal para fugir à crise sardinheira francesa (1880-1888), em detrimento do mercado espanhol, onde já teriam entrado outros seus compatriotas, reduzindo para metade (de 200 para 100) as fábricas em França.

Outro factor importante para a escolha da sardinha foi o facto de ser um peixe bastante pequeno e saboroso, ideal para o armazenamento em recipientes que se queriam pequenos para assegurar o seu transporte sem que se tivesse que fraccionar o peixe.

6.2 – Os primeiros tempos: desde 1855 até à Primeira Guerra Mundial

Dentro deste período temos que definir dois tempos distintos, sendo o ponto de viragem a chegada dos industriais franceses a Portugal, em 1880, facto devido à grave crise do pescado das sardinhas naquele país.

Seguindo a tese mais recente de Albérico Afonso C. Alho e Carlos Mouro (em 1996), sustentada pelos estudos de Almeida Carvalho, chegamos à conclusão de que a primeira fábrica de sardinha em conserva de azeite se localizava em Setúbal e pertencia a Feliciano António da Rocha e Manuel José Neto. Estes sócios muito cedo se separaram, ficando o primeiro com esta unidade e tendo o segundo aberto uma outra, no mesmo ano de 1855.

Uma terceira fábrica foi aberta também em Setúbal em 1860 e pertencia a Gustavo Carlos Herlitz & C.ª, havendo ainda referências a uma quarta, pertencente à sociedade J. A. Andorinha & F. A. dos Reis.

Estas fábricas são como que pequenas experiências, em comparação à revolução que estava a caminho com a chegada e a nível internacional, estas fábricas nunca tiveram uma dinâmica capaz de garantir a sua expansão, por vários motivos, como a falta de condições para instruir os trabalhadores ou a falta dos meios técnicos já existentes desde o início nas fábricas francesas.

A segunda fase deste período inicia-se com a abertura em Setúbal da fábrica Delory, em 1880. Juntamente com ela vêm as inovações tecnológicas, como os fornos a vapor e a mecanização de variadas tarefas como o fecho da lata através da máquina cravadeira.

Muitos industriais se iniciaram neste período no negócio das conservas, aproveitando a mão-de-obra não qualificada e, portanto, barata existente na cidade, sobre a qual podiam exercer variados tipos de pressões e represálias em nome do aumento da produção, bem como manter muito baixo o nível higiénico e as condições de trabalho nas fábricas. Era uma altura em que famílias inteiras e bairros inteiros iam trabalhar para as conservas, inclusivamente crianças a partir dos 8 anos, que tinham de ser colocadas em cima de caixotes para trabalhar.

6.3 – Arranque definitivo

Em 1882 já a indústria de conservas de peixe tinha ultrapassado a produção de sal como principal fonte de riqueza da cidade. Em 1884 já existiam em Portugal 18 fábricas de conservas e dois anos depois 66. Até 1890 houve um decréscimo para as 54 unidades, voltando a crescer em 1896 para as 76. Nesta altura a massa laboral desta indústria era de 4653 operários. De Setúbal, concretamente, só encontramos novos dados a partir de 1897, altura em que já existiam 26 fábricas.

Em 1912 existiam em todo o país 106 fábricas, sendo 42 delas em Setúbal. Em Setúbal empregavam-se 3720 operários, dos quais mais de 2000 eram do sexo masculino, o que atestava o carácter ainda muito duro de certas tarefas tais como soldar, preparar as latas em vazio, lidar com toda a maquinaria, um panorama que viria muito mais tarde a mudar com a mecanização dessas mesmas tarefas.

A produção anual de muitas das fábricas de Setúbal chegava às 50 000 caixas de 100 latas, enquanto em França já não se ultrapassava as 9000 caixas, o que atesta a enorme capacidade pesqueira da cidade, bem como a sua capacidade produtiva. Até ao início da Primeira Grande Guerra o número de fábricas subiu para 46 e a meio deste conflito era de 55.

A grande explosão deu-se entre 1916 e 1920, ano em que Setúbal contava com 130 fábricas, o seu máximo de sempre. Eram tantas as fábricas que algumas estavam instaladas em barcos no estuário do rio Sado. Na década de 20, chegaram a trabalhar para esta indústria em Setúbal cerca de 10 000 operários fabris e 4600 pescadores. Houve uma procura tal da cidade para encontrar trabalho nesta indústria que só se pode comparar com a corrida ao Oeste americano, isto devido aos salários praticados, que eram superiores aos praticados noutras indústrias.

Este desenvolvimento quase exponencial da indústria conserveira, cujas exportações chegaram a ultrapassar as da cortiça, deveu-se às enormes necessidades de abastecimento dos exércitos na guerra e, depois de esta terminar, à falta de produção e de redes de transporte de víveres frescos na Europa destruída.

Como resultado de toda esta euforia e da abundância de peixe na doca, facto do qual dependia a produção, em 1925 Setúbal atingiu o máximo de exportações, com um milhão de caixas, transformando-se no maior centro produtor do país, com 50,1% do total de exportações de conservas nacionais.

6.4 – O fim da prosperidade e o início da decadência

Nos anos 30 inverteu-se drasticamente a tendência da década anterior, primeiro porque começou a faltar peixe na cidade, depois porque muitas indústrias não aproveitaram os rendimentos excepcionais para modernizar as suas fábricas. Além disso instalam-se nesta época várias indústrias de grande dimensão, como a SECIL e a SAPEC, na cidade, mudando a sua face social.

Logo no início da década Setúbal perdeu a posição de primeiro porto pesqueiro do país para Matosinhos, para onde acabaram por se mudar muitas das fábricas. No final da década já não ocupava o lugar cimeiro ao nível da produção, apesar de ter ainda mais unidades fabris que os outros centros.

As políticas implementadas por Salazar para esta indústria não conseguem, no entanto, salvá-la da decadência, com gravíssimos reflexos na população, que, apesar da instalação de outras indústrias na cidade, passa por um período de miséria e fome.

Houve mudanças ao nível da posição social dos trabalhadores, que passaram a usufruir de alguma protecção, como o contrato colectivo de trabalho, o que não impediu a saída de muitos homens para procurarem trabalho não sazonal, ficando as mulheres e crianças com o grosso dos postos de trabalho na indústria conserveira.

A Segunda Grande Guerra não trouxe nada de novo para Setúbal ao nível das dificuldades, se bem que, na generalidade, esta indústria se tenha desenvolvido em Portugal nessa fase devido à nossa posição de neutralidade, o que nos permitiu aumentar as exportações para os vários países em guerra, que pouco produziam, e à implementação dos contratos colectivos, em que era o Instituto Português de Conservas de Peixe que negociava por todos os industriais junto dos importadores.

Mas continuava a crise da pesca no porto de Setúbal e a mudança da realidade fabril no distrito de Setúbal, que seduziam os trabalhadores para outras indústrias, de rendimentos contínuos, o que forçava à transferência dos industriais das conservas para o Algarve e, principalmente, para Matosinhos, que passou definitivamente a ser o principal centro pesqueiro e conserveiro do país. Depois da guerra, em 1948, já Matosinhos tinha 85 fábricas, contra apenas 43 em Setúbal, e entrava no seu porto cerca de sete vezes mais peixe que em Setúbal.

Também a concorrência externa motivada pelo ressurgir em força da indústria nos países da Europa depois da reconstrução e a teimosia dos nossos industriais em não modernizar as suas unidades foram motivos que não permitiram a recuperação.

6.5 Decandência

Vinte anos depois de terminar a Segunda Grande Guerra (1965-66), e apesar de todas as dificuldades já enumeradas, além de novas dificuldades provocadas pela constituição da CEE, ainda sem Portugal, o nosso volume de exportações rondava as 80 000 toneladas, cerca de 4 milhões de caixas com 100 latas cada.

Quanto à produção, Setúbal apresentava apenas 13% do total de pescado e 15% da produção de conservas. Desde essa altura, a produção e o número de fábricas têm vindo a reduzir-se, não da forma abrupta de outros tempos, mas de modo regular.

Com a Revolução de 25 de Abril de 1974 e os seus ideais fixou-se um tipo de contrato com horário permanente, algo que até aí nunca tinha acontecido, pois nos meses do defeso (Janeiro, Fevereiro e Março) nunca se trabalhava e, consequentemente, não se recebia, ao contrário de hoje. Termina aqui de vez a precariedade do trabalho nesta indústria.

No final da década de 80 já só existiam em Setúbal 4 fábricas de conservas de peixe: A Regina, a Marques Neves, a Vasco da Gama e a Viegas e Lopes, Lda., empregando cerca de 400 trabalhadores, número que nos tempos áureos empregaria uma só fábrica.

Hoje em dia já não existe nenhuma, tendo-se virado a última página da fase mais importante da história da cidade com o encerramento da Fábrica Vasco da Gama, em 1995, 140 anos após a abertura da primeira fábrica utilizando o método de Appert.

Desde então, muito se tem lutado com vista à reabertura de pelo menos uma unidade fabril na cidade para que não se perca a referência de um século tão importante para o desenvolvimento de Setúbal. Encontram-se no terreno a Cooperativa de Pesca de Setúbal, a Câmara Municipal e outras entidades, públicas ou particulares, como a Região de Turismo da Costa Azul e a recém-criada Confraria do Peixe de Setúbal, que aguardam a evolução da situação.

7 – Peniche

Peniche assenta sobre uma península com cerca de 10 km de perímetro, constituindo o seu extremo ocidental o cabo Carvoeiro. A costa é formada por imponentes rochedos e por magníficas praias de banhos de grande extensão. Fronteiro a Peniche, à vista sobre o Atlântico, para o lado ocidental, fica o arquipélago das Berlengas, que um tremendo cataclismo em tempos remotos teria separado da terra firme.

O concelho de Peniche viu desde tempos remotos o seu território ocupado por populações que, explorando os recursos naturais disponíveis, viram na pesca e na agricultura as suas principais actividades económicas.

A Natureza parece ter funcionado como elemento condicionante da ocupação humana, moldando uma vivência assente na dicotomia latente entre uma realidade marítima e piscatória, apanágio da península de Peniche, e o mundo eminentemente agrícola, tradicionalmente associado às freguesias rurais do concelho.

7.1 – Os primeiros vestígios de fábricas conserveiras de peixe

Desde há muito que são conhecidos no mundo mediterrâneo os estabelecimentos ou fábricas conserveiras de peixe. Estas oficinas ou fábricas, de que restam abundantes, maltratadas e mal exploradas ruínas, tiveram um papel muito importante na indústria e no comércio da Antiguidade. Tal influência veio agora a ser comprovado ter existido na cidade de Peniche, com a recente descoberta de um forno de cerâmica, aquando de trabalhos de terraplenagem para a construção de campos de ténis, confirmando pela primeira vez a existência de estruturas da época romana naquela povoação.

Ao longo dos séculos, com o natural aumento da pesca, foi também aumentando o número daqueles que se dedicavam à compra e à distribuição do peixe, no que, de princípio, tomou lugar preponderante o almocreve, profissão centenária, que remonta, possivelmente, ao século XVII. Já Carvalho Figueira afirma que, “além do que se consome em Peniche, exporta-se muito peixe para Lisboa e portos do Norte do reino, bem como para o interior do mesmo”.

7.2 – O desenvolvimento da indústria conserveira no século XX

Como referido, a principal actividade económica do concelho de Peniche, a pesca, foi alvo de um longo processo evolutivo, sofrendo especial transformação durante o primeiro quarto do século XX, período em que o advento da traineira e da actual pesca de cerco substituiu uma ampla variedade de técnicas de captura de matriz tradicional, como as armações à valenciana, as sacadas, os cercos volantes, as caçadas de sardinheiras ou as redes de lagosta, métodos até então utilizados de acordo com as espécies a capturar e a altura do ano em que se processava a faina.

Como resultado do referido processo evolutivo, durante a primeira metade do século XX assistiu-se também ao desenvolvimento de várias actividades industriais associadas à pesca, tais como a congelação, a produção de farinhas animais ou a produção de conservas, esta última com especial significado económico no concelho de Peniche.

Com efeito, a indústria conserveira de Peniche, que, como já referimos, parece remontar à época romana, conheceu neste período um grande incremento, traduzido na laboração, na zona de Peniche de Cima, de perto de uma vintena de fábricas especializadas na transformação e conservação de sardinha.

7.3 – Primeiras fábricas

Em 1910 surgiu em Peniche a primeira fábrica de conservas em molhos. O desenvolvimento da pesca deveu-se essencialmente à melhoria nos meios de comunicação e posteriormente à Primeira Grande Guerra.

Ao terminar a guerra, as fábricas conserveiras no nosso país ultrapassavam as 300. Neste número estão incluídas as 13 que existiram em Peniche. Deste modo, compreende-se o grande desenvolvimento vivido por Peniche entre os anos de 1915 e 1925. A população aumentava de dia para dia, com a chegada de pessoal especializado, sendo, na verdade, a maior imigração proveniente da província do Algarve. Todos estes estabelecimentos fabris tiveram o cuidado de instalar o seu pessoal o mais próximo possível dos seus locais de trabalho, construindo bairros para alojamento de quem os servia, até porque Peniche não tinha condições para acomodar tanta gente.

7.4 – Processo de fabrico das conservas de sardinha

As 13 fábricas de conservas sediadas em Peniche eram todas baseadas na sardinha. Vamos em seguida, em linhas gerais, descrever como se efectuava a laboração nestas fábricas:

– A sardinha era apanhada durante cerca de oito meses (Maio a Dezembro), ou seja, quando a sardinha é mais rica em gordura. Nos outros meses o fabrico não se efectuava, em consequência do defeso;

– O peixe, ao sair do mar, era salgado, procedendo-se depois ao corte da cabeça e extracção das tripas;

– O peixe, descabeçado, eviscerado e lavado, era lançado em tanques com salmoura durante um tempo variável; daí as sardinhas eram dispostas, uma por uma, sobre suportes de arame de ferro estanhado (grelhas);

– As grelhas com as sardinhas eram introduzidas em estufas de ferro, onde penetrava vapor de água, que por sua vez cozia o peixe;

– Deixava-se secar um pouco o produto e procedia-se ao enlatamento, em latas bem limpas, isto depois de se eliminar a cauda e o que não cabia na lata. Seguia-se o azeitamento ou cobertura do peixe com óleos (azeite ou óleo de amendoim);

– Colocava-se a tampa da lata, sendo os soldadores a fazer o resto do trabalho.

7.5 – Cronologia do declínio das fábricas de conservas em Peniche

Em 1923, depois de ultrapassada a euforia do pós-guerra, o número de fábricas sofria uma redução drástica para 8.

Em documento datado de 30 de Dezembro de 1954, e a pedido da Câmara Municipal de Peniche, o Sindicato Nacional dos Operários da Indústria de Conservas do Distrito de Leiria informava que nessas mesmas 8 fábricas, o número de operários, de ambos os sexos, era, respectivamente, de 548 em 1950, 527 em 1951, 513 em 1952 e 525 em 1953. Já em 1961, houve uma nova redução do número de fábricas. De 8 passaram para 5, acompanhando assim a crise que se fazia sentir por todo o país.

Depois de 1974 a indústria de conservas caiu por falta de matéria-prima. Não era permitido o fabrico de sardinha congelada e, depois de revogada essa determinação, a indústria de congelação não estava preparada para dar o devido apoio, estando a indústria de conservas limitada, mesmo em dias de abundância de pescado, a adquirir somente o que a sua capacidade de produção diária permitia; passou-se então à importação de sardinha congelada.

Contudo, alguns anos antes de 1974 já se conheciam em Espanha fábricas de conservas com um sector de congelação, para poder aproveitar os dias de abundância de pescado. Havia alguns anos em que abundava mão-de-obra barata, em que o tratamento da sardinha era exclusivamente manual e se fazia uma escolha meticulosa dos peixes. Fabricando só sardinha- -escamuda, com poucas horas de captura e imersa no conhecido azeite de oliveira de Peniche, garantia-se a ausência de quem, na concorrência estrangeira, apresentasse produto de melhor qualidade.

Em Peniche, aquando da nossa visita, foram várias as pessoas com forte ligação ao mar e às conservas que nos contaram um caso que consideramos capaz de retratar a excelente qualidade das conservas de Peniche em relação aos produtos estrangeiros.

Conta-se que um conhecido industrial de Peniche, Júdice Fialho, recebeu um dia uma reclamação de um seu cliente, em Inglaterra, pedindo que fosse feito um desconto numa remessa de conservas, por a qualidade não corresponder ao exigido, com a ameaça de não ser desembarcada a referida remessa se o pedido de desconto não fosse satisfeito. O industrial respondeu: “com o desconto, a qualidade não melhoraria, por isso mande deitar ao mar toda a mercadoria”. Acredita-se que, desta forma, com este escrúpulo industrial, a sua marca Marie Elisabeth teria chegado a ser a preferida em Inglaterra.

Em 1990 contavam-se em Peniche 5 fábricas de conservas. Todavia, em 1992 e 1993, a abundância de pesca em Espanha e uma grande concorrência de Marrocos provocaram a paralisação da indústria de conservas em Peniche e na generalidade do país.

Actualmente, existem em Peniche as seguintes fábricas:

Indústrias de Alimentação Ideal, Lda. Fábrica de conservas em molhos.

Ramirez & C.ª (Filhos), Lda. A Ramirez possui na actualidade uma fábrica a laborar em Peniche, na qual produz mais de 40 produtos diferentes, dos quais se destacam as sardinhas, o atum, a cavala, o polvo e as lulas. A Ramirez é uma das marcas mais conceituadas no mercado, cujas origens remontam a 1853, instalando-se em Vila Real de Santo António, Olhão, Albufeira e Setúbal. É actualmente a mais antiga produtora e exportadora de conservas em Portugal, na Europa e uma das mais antigas do mundo. Além da fábrica de Peniche, a Ramirez possui ainda uma unidade em Matosinhos.

Como podemos constatar, a indústria conserveira ainda não desapareceu por completo em Peniche, mas encontra-se limitada ao mínimo. Esperemos que a crise não varra definitivamente esta bela localidade do mapa das cidades produtoras de conservas de peixe.

8 – Notas finais

Neste nosso pequeno estudo sobre a indústria das conservas de peixe em Portugal, gostaríamos evidentemente de ter alargado o âmbito deste trabalho a todo o território nacional, nomeadamente a todas as localidades com tradições na produção de conservas de peixe. No entanto, essa tarefa revelou-se de todo impossível de concretizar devido a questões de logística.

Esperamos, contudo, através destas cidades que escolhemos, ter conseguido traçar um perfil aproximado da actual situação desta actividade no nosso país. Em suma, buscámos concentrar o passado, o presente e o futuro num trabalho que pretende servir de memória viva e dinâmica da indústria de conservas no nosso país.

Depois de analisadas as realidades vividas nestas quatro cidades ao longo dos últimos três séculos, pudemos concluir que a indústria conserveira em Portugal chegou a viver momentos de verdadeira euforia. Em 1924 o nosso país chegou a alcançar o número fantástico de 400 fábricas, o número mais alto que em qualquer tempo se verificou.

Ultrapassados mais de cem anos desde a fundação da indústria de conservas no nosso país, pode-se agrupar a sua história em duas fases:

1.ª) O período do seu nascimento e progresso (finais do século XIX até 1960). Surgimento das primeiras fábricas e actividades afins (litografia, serralharia, etc.), aparecimento da primeira maquinaria industrial, novos processos técnicos e científicos, novos sistemas de organização fabril e de higiene. A evolução desta indústria deveu-se também à abundância de matéria-prima e ao aumento da qualidade do produto. Assumidamente uma actividade industrial de guerra e do pós-guerra (abastecimento e rações), esta indústria beneficiou claramente com a existência das duas grandes guerras durante o século XX. Apesar de ter vivido algumas épocas de crise, principalmente devido ao decréscimo de capturas, a indústria conserveira viveu o seu período de maior esplendor na primeira metade do século passado.

2.ª) O período do declínio (desde 1960 até aos nossos dias). Tudo nasce e tudo morre. Estas quatro décadas representam a decadência e o encerrar de um ciclo da história industrial portuguesa, motivado pela concorrência e exportação inconsequente em termos económicos. Talvez a seguinte frase ajude a explicar um pouco aquilo que se passou: “Produz-se muito, produz-se caro; vende-se muito, vende-se barato.”

Como principais causas para esta situação podem-se apontar:

– Forte concorrência vinda do Norte de África, beneficiando claramente da mão-de-obra barata e de grandes recursos piscatórios;
– Precariedade do trabalho;
– Falta de matéria-prima;
– Decréscimo da frota pesqueira portuguesa, por imposição comunitária;
– Aumento dos custos de produção;
– Falta de preparação das empresas para as nacionalizações;
– Necessidade de dar mais regalias e melhores salários aos operários;
– Unidades mal equipadas por insuficiente renovação da sua maquinaria.

Basicamente, a nossa indústria demonstrou uma grande falta de competitividade face ao estrangeiro. A qualidade das nossas conservas não chegava para contrariar os preços da concorrência estrangeira, que cada vez mais se esforçava pela melhoria da apresentação do seu produto, introduzindo inovações técnicas na abertura das latas e também no seu fabrico, utilizando o alumínio em vez da folha-de-flandres. Conta-se até que nos Estados Unidos alguém disse que era mais fácil abrir um cofre do que uma lata de sardinhas portuguesas.

Apesar de o panorama actual da indústria conserveira portuguesa ser bastante negro, esta actividade teima em sobreviver, apesar da forte concorrência que vem do estrangeiro. Esperemos que o futuro seja bem mais risonho para esta tão nobre indústria.

8.1 – Será possível esta indústria ter um novo impulso em Portugal?

Reanimar esta indústria é tudo menos fácil. Um dos problemas prende-se com a cada vez maior depredação dos recursos pesqueiros. Em Portugal, mesmo que a situação dos recursos melhorasse, surgiria um outro problema: a frota pesqueira foi tão profundamente abatida que seria impossível assegurar capturas para um grande número de fábricas.

Noutros tempos quase todas as fábricas tinham barcos e havia outras medidas para proteger os recursos. A sardinha tinha um defeso de três meses e era o biqueirão que assegurava a laboração durante este tempo.

Problemas destes não têm os espanhóis, com uma frota pesqueira numerosa, que corre mundo em busca de pescado. Como vimos anteriormente, ao contrário de Portugal, as suas fábricas acompanharam o progresso tecnológico. Apesar de a sua mão-de-obra ser mais cara do que em Portugal, os espanhóis racionalizaram a produção, apostando num reduzido número de embalagens e na automatização, com muito pouca intervenção humana.

Como era possível a sobrevivência de uma indústria forte e modelar no mundo quando oferecia aos seus trabalhadores três dias de trabalho por semana e três latas de conserva como subsídio de Natal?

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