Ramirez: memórias de cinco gerações

TÍTULO: Ramirez

SUB TÍTULO: Memórias de cinco gerações

AUTOR:  sociedade Ramirez

DATA EDIÇÃO: 2011

EDIÇÃO:  Ramirez & Companhia

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OWNER OF COLLECTION: Museu Digital Conservas de Portugal
CREDIT:
IMAGES: Museu Digital Conservas de Portugal

Livro editado pela empresa Ramirez, detida há cinco gerações pela mesma família, que relata a sua história, embora sem conteúdo histórico totalmente correto e assim com algumas incorreções, principalmente quanto ao facto de ter sido a primeira empresa de conservas portuguesa, da indústria conserveira ter nascido em Vila Real de Santo António e ter sido pioneira do método Appert em 1865.

Escreve António Horta Correia no seu livro Memórias & Documentos volume III, cuja leitura recomendamos:
Tem havido alguma confusão ao se interpretar a expressão “Casa fundada em 1853” usada pelos seus sucessores. Certos autores, seguindo o caminho mais simples, adoptaram que seria esse o ano de início da sua fábrica de conservas. Até uma empresa com a responsabilidade dos CTT alinhou nesse erro, quando da sua emissão filatélica de Outubro de 2016.
Apoiados na documentação acima apresentada, podemos afirmar que a expressão “Casa fundada em 1853” quer dizer, apenas, que foi o ano em que Sebastian Ramirez iniciou a sua bem-sucedida carreira empresarial, com a primeira sociedade “Mora, Ramires & Pego”. E não mais do que isso. Em finais do seculo XIX e princípios do século XX, era usual a utilização de expressões similares,devido ao facto de nessa época as empresas industriais serem uma novidade no conjunto nacional e muitas delas tinham uma existência muito curta, por falência ou dissolução.

O grande pioneiro desta importante empresa foi Sebastian Ramirez, que segundo o António Horta Correia: “Sebastian Ramirez documenta-se em Vila Real como caixeiro, deduz-se, porém, que anteriormente terá sido marçano, como todos os outros emigrantes andaluzes que escolheram o comércio como profissão. De caixeiro passou a comerciante em sociedade, em 1853. Esta data marcou o início da sua casa comercial, que existiu em seu nome até ao seu falecimento.
Nesses tempos não existia em VRSA comércio diferenciado. Se o principal produto seria os têxteis, acresciam tantos outros quantos a sua intuição lhes pedia como factor de aumento de vendas, e as referências em documentos a alguns produtos são apenas exemplificativas. Foi, portanto, no seu comércio que Sebastian Ramirez, mercê do seu trabalho e inteligência, foi fazendo a sua fortuna, que logicamente iria ter aplicações, com a salga da sardinha que era corrente, e já antes da sua fundação faziam os catalães e venezianos na praia de Monte Gordo.
A primeira indústria que existiu na vila foi a de têxteis, e a seguir a das conservas. Tudo está já escrito, e o inquérito industrial de 1881 tira as dúvidas, não menciona Sebastian Ramirez nas conservas porque nessa data ainda não existia..
Foi em seu nome próprio que Sebastian Ramirez se tornou industrial e armador etc, eram aplicações da sua casa comercial.”

Em Portugal, a indústria de conservas de peixe, não nasceu em Vila Real de Santo António, mas sim em Setúbal. Tal facto é documentado nos estudos de  trabalhos de investigação de Albérico Afonso com Carlos Mouro , Maria da Conceição Quintas e Ana Alcântara que podem ser lidos aqui.

Assim não existe qualquer prova de que foi a Ramirez a instalar a primeira fábrica de conservas em VRSA. Antes de Ramirez existiam já três fábricas, como refere o Inquérito Industrial de 1881.

O Inquérito Industrial de 1881 no Distrito de Faro, identifica assim as primeiras fábricas de conserva de peixe em Vila Real de Santo António: “Há em Vila Real três fabricas de conservas de atum, uma intitulada de Santa Maria, outra de S. Francisco e a de que é proprietário Sebastião Migoni…A primeira fábrica que visitamos, denominada Santa Maria e pertencente a “Parodi & Roldan“, foi fundada em 1879 …. Visitámos depois a fábrica denominada S. Francisco, de que e proprietário Francisco Rodrigues Tenório, que a fundou em 1880 … Não pudemos visitar a fábrica de Sebastião Migoni por este estar ausente … “

1879 Parodi & Roldan“, fábrica Santa Maria
1880 – Francisco Rodrigues Tenório, fábrica S. Francisco
1881 Sebastião Migoni, fábrica Santa Maria

É em 1883 que “Sebastian Ramirez, em 15 de Março de 1883, a tempo de trabalhar na época da pesca de atum desse ano, comprou a Francisco Rodriguez Tenório a sua fábrica de conservas, que tinha sido fundada em 1880. “armazém com quatro portas e três janelas para a rua do Príncipe ..”, com toda a maquinaria, utensílios e instrumentos que continha, por 2.150$000 reis” (in Sebastian Ramírez (1828-1900), Subsídio documental para uma biografia de António Horta Correia

Em 1853 Sebastian Ramirez constituiu uma sociedade comercial com José Mora Gomez  e Silvestre Garcia-Pêgo, “Mora, Ramires & Pêgo” e não S. Ramirez.

Sebastian Ramirez e seus sócios, negociaram os mais variados produtos, de diversas origens, como tecidos, fazendas, imobiliário, cereais, mas não foi montada nenhuma fábrica de “preparo de atum em salmoura”.

O 1º cadastro realizado em Portugal pelo Consórcio Português de Conservas de Peixe em 1934, refere a fundação da fábrica de conservas de peixe da Ramirez em 1853, mas não a pode certificar uma vez que a informação é incorreta.

A sociedade “Ramirez, Perez, Cumbrera & Cª resulta da aquisição por parte de “Gavino Rodriguez Perez, Simão Vazquez Velasco, Esteban Rodriguez y Rodriguez, e Sebastian Ramirez Júnior, comerciantes, Manuel Francisco de Abreu, serralheiro mecânico e José Bento Domingues, … “uma litografia montada em um armazém na Rua da Princesa … com todas as máquinas, utensílios e drogas, a saber … por três contos de reis e com obrigação de pagar a dívida da máquina de litografar”… sociedade que era inicialmente de Gavino Rodrigues Peres e Manuel Francisco de Abreu”, denominada de Jutta & Machiavello.

Poucos dias depois, estes compradores da litografia constituíram uma sociedade denominada “Fábrica Litográfica União Vila-Realense”.

Só em 1903 foi remodelado o contrato social, passando a denominação para “Ramirez, Perez, Cumbrera & Cª”.
(in Sebastian Ramírez (1828-1900), Subsídio documental para uma biografia, de António Horta Correia

Para uma melhor compreensão da história de Sebastian Ramírez, um magnifico industrial, comerciante, armador, recomendamos a leitura dos livros Sebastian Ramírez (1828-1900), Subsídio documental para uma biografia e também os volumes II e III de Memórias & Documentos, de António Horta Correia.

 

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