Viúva de Joaquim Gomes Covas & Filhos Ldª.

NOME EMPRESA / COMPANY NAME: Viúva de Joaquim Gomes Covas & Filhos Ldª.

NOME FÁBRICA / FACTORY NAME: Fábrica do Gelo

PROPRIETÁRIO / OWNER:

FUNDAÇÃO / FOUNDED: 26 June 1927

LABOROU EM / WORKED DURING:

ENCERRAMENTO / CLOSURE: Unknown closing date

Nº EMPRESA IPCP / IPCP COMPANY Nº:

ALVARÁ / CHARTER:

MORADA / ADDRESS:

CIDADE / CITY: Sesimbra

NO MESMO LOCAL FUNCIONOU / AT THE SAME LOCATION WORKED:

OUTROS LOCAIS / OTHER PLACES:

TIPO / TYPE: Packers of canned fish in olive oil

FONTES / SOUCES:
– A INDÚSTRIA CONSERVEIRA DE SESIMBRA NOS PRIMÓRDIOS DO ESTADO NOVO
(1933-1945) Andreia da Silva Almeida

MARCAS / BRANDS:

Viúva de Joaquim Gomes Covas & Filhos Ldª. 

Foi em 1927 que Sesimbra assistiu ao nascimento de uma inovação tecnológica.

A 26 de Junho, era inaugurada a fábrica de geloda firma Viúva de Joaquim Gomes Covas & Filhos, uma fábrica que viria a beneficiar nomeadamente a classe piscatória, que poderia conservar o seu peixe durante mais tempo. Esta empresa, conhecida, desde a sua fundação, em 1874, até então, pela fabricação de cabos e cordame diverso em cairo, esparto e linho, archotes e linhas de pesca, sendo também um armazém de alcatrão, breu, cairo, cotons para velas, cabos de aço e Manila, anzóis, arames e outros artigos para armações e embarcações de pesca, aventurou-se num novo negócio. Os seus sócios gerentes eram os irmãos Abel e António Gomes Covas, filhos de Maria Margarida Gomes Covas. No dia da inauguração, os dois irmãos mostraram as instalações e o funcionamento do motor e a formação dos blocos de gelo. O dia da inauguração foi um dia de grandes festejos, acompanhados de grandes brindes e, à noite, teve lugar um encantador baile em casa de António Gomes Covas 77.

Em virtude dessa grande evolução tecnológica observada na vila de Sesimbra – a luz eléctrica– em 1938, é inaugurado um novo melhoramento. A firma Joaquim Gomes Covas & Filhos iria ampliar, em 1938, a sua fábrica de gelo, introduzindo-lhe câmaras de congelação e conservação de peixes. Estes melhoramentos iriam beneficiar o desenvolvimento da indústria local, como acreditava o autor do grande artigo da primeira página do dia 4 de Setembro de 1938, publicado por O Cezimbrense. Direccionada para a indústria pesqueira, esta fábrica era modelar no que dizia respeito à higiene com que se efectuava o fabrico do gelo. Para produzir o frio artificialmente era utilizado um compressor, existindo um resfriador e um sub-aquecedor. Esta tecnologia funcionava com amoníaco, que impulsionado com forte pressão, produzia o frio, fabricava o gelo e arrefecia as câmaras onde se congelava e conservava o peixe 78.

77 Cf. «Fábrica de Gelo», O Cezimbrense, nº. 50, 10 Julho 1927, p. 3.

78 Cf. «Importante Melhoramento», O Cezimbrense, nº. 633, 4 Setembro 1938, p. 1, 5. 

A execução das câmaras frigoríficas da fábrica do gelo havia sido efectuada por trabalhadores de Sesimbra, nomeadamente o operário pedreiro José David, como relata O Cezimbrense, um exemplo de como os operários daquela vila eram competentes para executar trabalhos incomuns. Para além das câmaras de congelação, este operário ainda executaria o revestimento de toda a tubagem e do aparelho sub-aquecedor, sob a orientação de Loubet da Costa. Outra das preocupações constantes neste empreendimento fora a segurança dos visitantes e dos trabalhadores, como afirmariam os proprietários, Abel e António Gomes Covas, grandes benfeitores da Misericórdia de Sesimbra, ao contribuírem com gelo gratuitamente para esta instituição, desde o início do seu fabrico.

Em 1945, os sócios da empresa encetaram novos melhoramentos, julgando insuficientes as suas instalações e possuindo para tal recursos, pelo que requereram uma autorização ao Instituto Português de Conservas de Peixe. Estes pretendiam ampliar as suas instalações frigoríficas, que passariam a ser compostas por: 3 compressores de amoníaco com a capacidade total de cerca de 100.000 frigorias/hora, com condensadores, tubagens de ligação aos evaporadores e bombas de água; 1 tanque de fabricação de 3.000 quilos de gelo em 14 horas; 1 britador de gelo; 1 tanque de salmoura para congelação rápida de peixe pelo sistema de imersão; 5 câmaras frigoríficas com a capacidade total de 250 m3, sendo uma para conservação de gelo, outra para conservação de peixe, outra para conservação de carne e outros produtos alimentícios, outra para congelação lenta de peixe e outra para conservação de peixe congelado; 1 máquina para fabricação de creme gelado; 1 armário frigorífico para a conservação do creme; vários motores eléctricos com potência total de cerca de 80 HP 79.

O gelo fabricado destinava-se a ser consumido em Sesimbra, principalmente para conservação durante o transporte de peixe destinado a várias regiões do país.

A câmara frigorífica destinava-se à conservação de peixe em períodos em que a pesca era abundante, que seria vendido em épocas de escassez de pescado, o que contribuía para a estabilização dos preços, peixes que se destinavam a várias regiões do país.

A carne e os outros produtos alimentares que lá fossem conservados destinavam-se ao consumo da população local.

O peixe e os moluscos congelados dirigiam-se à exportação, nomeadamente para o continente americano e para as nossas colónias africanas. O transporte era feito em camionetas isoladas ou frigoríficas 80.

79 Cf. ADGPA, Fundo IPCP, IPCP22.02/325, Memória Descritiva e Justificativa.

80 Idem, ibidem.

O pessoal requerido para fazer funcionar toda esta dinâmica era: um maquinista; um ajudante de maquinista; um encarregado do movimento de mercadorias; um mestre de frigorífico e de preparação de peixe e zelador do trabalho do pessoal permanente e sazonal; dois operários frigoríficos. A ampliação seria autorizada a 26 de Fevereiro de 1946.

Inscrita no Grémio dos Industriais de Conservas de Peixe do Centro com o nº. 983, esta empresa teve um período de vida de mais de um século, tendo sido vendida em 1983 a uma firma que pretendia alienar as suas instalações para a construção de apartamentos turísticos. Contudo, até à sua dissolução, ainda na década de 1980, se dedicava à fabricação de gelo e à sua comercialização, fornecendo a frota pesqueira e alugando a câmara frigorífica para a conservação do isco.

Em 1983 tinha 7 operários do sexo masculino, de entre eles, 3 motoristas e 1 encarregado de fabrico. Como pessoal administrativo possuía 3 funcionários, um deles o gerente e sócio da empresa. Contudo, a especulação imobiliária ganharia, nos anos 1980, à permanência de uma indústria centenária.

in, A INDÚSTRIA CONSERVEIRA DE SESIMBRA NOS PRIMÓRDIOS DO ESTADO NOVO 
(1933-1945)

Andreia da Silva Almeida

 

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