Établissements F. Delory - Setúbal

NOME EMPRESA / COMPANY NAME: Établissements F. Delory

NOME FÁBRICA / FACTORY NAME:

PROPRIETÁRIO/OWNER: Frederic Delory

FUNDAÇÃO / FOUNDED: 1881

LABOROU EM/WORKED DURING:
De 1893 a 1911 exporta conservas para o Reino de Espanha (in As firmas conserveiras portuguesas exportadoras para o Reino de Espanha (1880-1911) – Prof. Cláudia Rêga Santos – 2021)

ENCERRAMENTO / CLOSURE: 1965

Nº EMPRESA IPCP/ IPCP COMPANY Nº: 97

ALVARÁ / CHARTER: 6217 Conservas em Azeite

MORADA / ADDRESS: Rua dos Trabalhadores do Mar

CIDADE / CITY: Setúbal

NO MESMO LOCAL FUNCIONOU/AT THE SAME LOCATION WORKED:

OUTROS LOCAIS / OTHER PLACES:
Établissements F. Delory – Olhão
Établissements F. Delory – Portimão
Établissements F. Delory – Lagos – Fábrica Palmeira
Établissements F. Delory – Lagos – Fábrica da Ribeira

TIPO / TYPE: Packers of canned fish in olive oil

FONTES / SOUCES:
Inquérito à Indústria de vazio das Fábricas de Conservas de Peixe e à Indústria de Latoaria Mecânica -10 de junho de 1946 – Avelino Poole da Costa
— Boletim do Trabalho Industrial, nº 2, Lisboa, 1906 

– A Industria das conservas de peixe em Setúbal 2015

in SETÚBAL ECONOMIA, SOCIEDADE E CULTURA OPERÁRIA 1880-1930, de Maria da Conceição Quintas.

“Foi também um francês quem, em virtude de terem rareado os cardumes de sardinha na costa bretã, veio estabelecer-se em Setúbal em 1880, o que provocou o aparecimento de fábricas congéneres nos centros piscatórios portugueses e espanhóis, apesar de em Vila Real de Santo António se haver montado, já em 1865, uma fábrica de atum em azeite”.

Esta referência, do Professor Ferreira da Costa da Universidade Técnica de Lisboa, esclarece-nos sobre a preferência dos industriais franceses pela cidade de Setúbal, para a instalação das suas fábricas de conservas de sardinha em Portugal, embora não ignore a existência de empresas nacionais que já se dedicavam à conservação do peixe em azeite; e como exemplo cita o caso da conserva de atum, que já havia tempo se fazia no Algarve.

Acrescente-se, contudo, que em Setúbal, já em 1854, iniciou o seu funcionamento uma fábrica de conservas que enlatava peixe utilizando o método Appert. Esta afirmação foi polémica entre os estudiosos do tema, facto que nos levou a tentar saber, junto dos documentos existentes no Arquivo Distrital de Setúbal e através da análise dos escritos do início do século XX, qual a verdade sobre o advento da indústria de conservas de peixe em Portugal e, mais concretamente, na cidade de Setúbal.

Os principais estudos, sobre o processo relacionado com o nascimento e desenvolvimento da indústria conserveira em Portugal, consideraram como primeiro pólo significativo no nosso país a unidade estabelecida pelo industrial de Lorient F. Deloryno ano de 1880 em Setúbal num terreno junto à doca, pertença de Maria Leonor de Jesus Meneses Barreto que lho arrendou através de contrato realizado, no dia 19 de Novembro de 1880, entre o médico Manuel Francisco de Paula Barreto, filho da proprietária e Armand Houé em representação de F. Delory.

Guilherme Faria diz-nos que este industrial veio estabelecer-se em Setúbal “quando já outros fabricantes franceses o haviam precedido em Espanha”, ao definirem-se os aspectos da crise sardinheira francesa, que se prolongou de 1880 a 1888.

A França possuía então 200 fábricas, reduzidas em 1886, por efeito da crise, a 100.

E considera como ponto assente ter sido F. Delory o pioneiro da indústria de conserva de sardinha em Portugal. Mas tal não corresponde à verdade histórica, como nos foi dado verificar.

in Setúbal e a Indústria de Conservas 1950 Guilherme Faria

Tem-se co1no ponto assente que a primeira fábrica de conservas de sardinhas em azeite existente em Portugal foi instalada em Setúbal, em 1880.

Em 1865 já existia. em Vila Real de Santo António uma fábrica de conserva enlatada, mas esta de atum em azeite.

Em 1880 havia ali, pelo menos, 3 dessas fábricas.

Sem dúvida que a primeira fábrica de sardinhas, de Setúbal, se fundou no referido ano de 1880, celebrando-se a 19 de Novembro, entre D. Maria Leonor de Jesus Meneses Barreto (2), proprietária da velha doca e terrenos adjacentes e representada por seu filho o médico dr. Manuel Francisco de Paula Barreto, o contrato de arrendamento, com o Sr. F. Delory C), industrial de Lorient, aqui representado pelo Sr. Armand Houe, também daquela cidade francesa e residindo acidentalmente no Hotel Escoveiro ( 4 ),do terreno e edificação onde se instalava a referida fabrica.

Mas não me parece tão seguro poder-se afirmar que esta tenha sido a primeira fábrica da especialidade que se estabeleceu no nosso País, porquanto a firma Delory possuiu durante muito tempo, em Portugal, 5 fábricas, dando o número 1 à de Olhão, o número 2 a uma das de Setúbal e o nº5 a outra desta cidade, que é a actual. É esta a ordem por que as fábricas daquela, firma se foram instalando? Eis urn ponto acerca do qual nem a própria casa Delory, segundo parece, se acha habilitada a pronunciar-se. Fica, pois, de pé esta duvida: a primeira fábrica de sardinhas em azeite instalou-se em Setúbal ou em Olhão? Iria jurar que já vi escrito, não posso recordaronde, que a primeira fábrica se instalou na vila cubista do Algarve …

O Sr. F. Delory veio estabelecer-se em Setúbal, quando já outros fabricantes franceses o haviam precedido em Espanha,ao definirem-se os aspectos da crise sardinheira francesa, que se prolonga de 1880 a 1888.

in LINHAS DE EVOLUÇÃO DA INDÚSTRIA CONSERVEIRA EM SETÚBAL

Albérico Afonso e Carlos Mouro

3º PERÍODO: 1880 a finais de 1920

Esta terceira etapa da implantação da indústria conserveira é inicialmente marcada por fatores exteriores ao normal processo de desenvolvimento e afirmação desta actividade industrial em Setúbal.
É a primeira grande crise da indústria conserveira em França (1880), provocada por uma conjuntura de enorme escassez de peixe nas suas águas que vai atrair inúmeros industriais franceses a fixarem-se em Portugal.

De facto em 1877 os bancos de pesca começaram a afastar-se das costas da Bretanha, um dos centros de concentração da indústria conserveira francesa. A falta de matéria prima no local onde haviam instalado as suas unidades fabris. Leva estes investidores a procurarem no litoral português e espanhol o peixe que faltava nas suas águas.

Não é de estranhar que Setúbal com as suas tradições já firmadas nesta actividade tenha sido um dos centros de atração para estes industriais.

Assim, a 19 de novembro de 1880 celebra-se entre D. Maria Leonor de Jesus Meneses Barreto, “proprietária da velha doca e terrenos adjacentes, representada por seu filho o médico Dr. Francisco de Paula Barreto, o contrato de arrendamento com o Sr. F. Delory, industrial de Lorient, aqui representado pelo Sr. Armand Houé”, do terreno e edificações onde seria instalada a sua fábrica. (50)

Se é verdade que a introdução da indústria conserveira, segundo os métodos modernos, não se deveu aos industriais franceses, temos, porém, que reconhecer terem sido eles os responsáveis entre nós, pela organização da indústria, no decurso da crise sardinheira francesa 1877-1881). (51)

A vinda destes empreendedores franceses marca, assim, uma nova etapa na implantação e no desenvolvimento da indústria conserveira em Setúbal e assegura-lhes uma permanência entre nós que se prolonga por mais de um século, desde a chegada do senhor Delory em 1880 até à despedida do grupo Saupiquet em 1987 é uma presença activa e constante que é necessário conhecer melhor e sobretudo estudar o papel que desempenhou nos diversos momentos da industrialização em Setúbal.

Este terceiro período iniciado em 1880 com a fixação dos capitais franceses e que se prolonga até finais dos anos vinte, distingue-se dos outros por três ordens de razões fundamentais: A primeira diz respeito ao crescimento progressivo e espetacular do número de fábricas que não para de aumentar desde 1880 (salvo períodos de crise pontual) e que atinge os números impressionantes de mais de cento e quarenta unidades fabris nos anos vinte deste século. (ver gráfico)

De salientar principalmente o crescimento que ocorre entre 1914 e 1920; Durante este período instalam-se mais de cem novas fábricas.

Este desmesurado crescimento do número de fábricas prende-se à necessidade dos produtores setubalenses darem resposta à enorme procura provocada pela guerra de 1914/18.

Como se sabe, desde o século XIX, a maneira mais prática e eficaz de alimentar os exércitos beligerantes era o recurso às conservas, não só pelo seu valor alimentício como também pela facilidade de transporte que estes produtos permitiam.

Para concluir será necessário observação de novo o gráfico sobre a implantação das fábricas e tentarmos perceber algumas das crises mais significativas.

A indústria conserveira será sempre uma actividade dependente em primeiro lugar e fundamentalmente, da pesca que lhe fornece a matéria prima. Não é de estranhar, assim, que os longos invernos e as dificuldades na obtenção de peixe motivassem frequentes crises pontuais que ao ocorrerem lançavam em sérias dificuldades a esmagadora maioria das classes trabalhadoras setubalenses, como a imprensa local documenta abundantemente.

No entanto, a significativa baixa no número de unidades conserveiras que se verifica entre 1888 e 1890 espelha a primeira grande crise de crescimento atravessada por esta indústria. Curiosamente são também factores externos que a determinam. A crise sardinheira francesa que motivara a vinda para Setúbal de capitais estrangeiros com as consequências que se conhecem, dissipa-se por volta de 1888 levando, logicamente, os industriais a reinvestir no seu país, tanto mais que mesmo operando em Setúbal nunca haviam abandonado as suas marcas de fabrico, nem os industriais portugueses haviam afirmado no estrangeiro marcas nacionais com as quais pudesse sem competir. Aliás, essa concorrência ter-se-á feito sentir a nível nacional. (52)

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