Romeu Correia, Sábado sem sol. Contos, 2.ª edição (refundida), Cacilhas, edição de autor, (1975).

TÍTULO: Sábado sem sol

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AUTOR: Romeu Correia

DATA 1ª EDIÇÃO: 1947

EDITORA: edição de autor

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DESCRIÇÃO: O “Sábado sem Sol” é a primeira obra de Romeu Correia. Trata-se de um livro de contos, com dez pequenas narrativas, que retratam parte da sua vivência no burgo de Almada.

 

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(1.ª edição – 1947)

Rumo

“Ás vezes, de manhã, no largo de Cacilhas, o Ernesto e os companheiros fazem rapina nas camionetas de peixe, vindas de Sesimbra. A Guarda-Fiscal anda sempre em cima deles, mas o rapazio tem pé leve e olho vivo. Também no cais do Ginjal, junto às fábricas de conservas, quando chegam os buques prenhes de sardinha, os catraios estão presentes. Surgem sorrateiros, à formiga, muito sossegadinhos.

Abrem-se os porões do buque. Dois estivadores descem lá para baixo, alojam-se, mergulhando as pernas nuas na salmoira, pejada de peixe; e vá de encher cestos que são arremessados para o camarada do tombadilho. Este, por sua vez, passa-os a um terceiro, que, no cais, os vaza nas canastras das varinas. As mulheres não param mais no cá-e-lá, de canastra à cabeça e quadris bailões. É a vez da malta; recurvam os arames – as inseparáveis ganchetas – e vá de tirar das canastras, à sucapa, três, quatro sardinhas de uma puxadela. As varinas praguejam, ciosas do peixe que não lhes pertence, e o guarda-fiscal, sempre bem presenteado, corre a distribuir puxões de orelhas, pontapés e dolorosos cachações. Mas, ao fim da tarde, juntou-se, quase sempre, uma ou outra mão de peixe que, em casa, faz um arranjão. Se os vícios apertam, surge um acordo entre o grupo delinquente: reunir a sardinha para ser vendida na vila; o lucro apurado transforma-se em cigarros, vinho e cinema.” p. 65

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