“Prova” de tampa de “Atum em Azeite, 1ª Qualidade”, Palmas e Trindade, Ldª
PALMAS & TRIDANDE brand
Atum em Azeite
Palmas e Trindade Ldª
Fábrica de conservas Tavirense
Tavira – Portugal
A razão de tão invulgar associação encontra-se no facto de Joaquim Barrote Trindade, o remetente, sócio gerente da firma “Palmas e Trindade Ldª”, proprietária da fábrica de conservas Tavirense, pedir autorização para incluir “no desenho de algumas das suas marcas de conserva o brazão d´armas desta cidade”.
No contexto da Primeira Grande Guerra e consequente procura de alimentos enlatados, surgem em Tavira pelo menos quatro fábricas conserveiras, sendo que duas são de dimensão familiar, a Gilão e a Santa Maria, ambas fundadas em 1915, conforme informação já avançada no catálogo catálogo da exposição “Tavira, Patrimónios do Mar”, por Marco Lopes (p.52 do artigo a longa vida).
Nos anos seguintes, 1916 e 1917, a paisagem urbana da cidade modifica-se com o aparecimento de duas grandes fábricas apenas divididas pelo Rio Gilão. A primeira é a já referida Companhia de Conservas de Peixe, Tavirense (na margem direita) e a segunda, a Companhia de Conservas de peixe Balsense (na margem esquerda).
Na oficina de Litografia, um espaço que poderia existir na própria fábrica, as imagens que se pretendiam visualizar na lata de conserva eram desenhadas em pedras litográficas, passando posteriormente para um suporte em papel vegetal e daqui para as folhas “provenientes” de Flandres. Estas, depois de envernizadas, eram cortadas nas respetivas formas que iriam constituir a embalagem: tampas e tiras laterais. Os rebordos eram moldados e soldados, sendo que, o fundo da lata, após esta ser preenchida, era cravado -um fio de borracha garantiria a sua vedação de forma eficiente.
A partir de 1923, a firma proprietária da fábrica Tavirense, pretendeu associar o brasão de armas da cidade a vários dos seus produtos. Para tal enviou ao Município uma “prova” de uma tampa de “Atum em azeite, 1ª qualidade”. Nesta, podemos observar uma antiga representação heráldica da cidade: um escudo com uma ponte de um arco tendo duas torres nas extremidades, sainte de um rio com faixas ondadas, por onde navega um navio à vela. Coroa mural de quatro torres. Na década de 30, a Direcção-Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, promove uma reforma da heráldica autárquica, sob a responsabilidade do conhecido heraldista e genealogista Afonso de Dornelas.
Consultando o Diário de Governo, nº52-I Série, de 6 de Março de 1933, pode observar-se a nova representação heráldica de Tavira, apresentando alguns ajustes à realidade como o facto da ponte passar a ter sete arcos. A inclusão das cabeças dos reis cristão e mouro, evocando as antigas armas do Reino do Algarve, apresentou uma justificação de âmbito regional, assim como a colocação da Cruz de Santiago remetendo para o papel desta Ordem na reconquista do sul do pais.
Sabemos, por observação direta, que o uso da heráldica de Tavira, continuou a ser usada no enquadramento gráfico de várias embalagens, quer para consumo interno quer para exportação, mantendo-se a vontade, por parte dos proprietários, de prestigiarem o produto associando-o a um ancestral símbolo da cidade.
Óscar Caeiro Pinto (Arquivo Municipal de Tavira) e Rita Manteigas (Museu Municipal de Tavira).Catálogo da exposição “Tavira, Patrimónios do Mar”, patente no Museu Municipal de Tavira entre 25 de Outubro de 2008 e 27 de Setembro de 2009 (disponível em http://issuu.com/museum_tavira/docs/catalogo_tavira_mar/1)