Páginas ADÃO POLÓNIA - in A indústria Conserveira de Matosinhos, Leça da Palmeira e Perafita, 1899 – 2007

ADÃO POLÓNIA, & Cª LDA.

Texto retirado do livro:
A indústria Conserveira de Matosinhos, Leça da Palmeira e Perafita, 1899 – 2007
Autor: Josué Gomes Fernandes Tato
Edição da Câmara Municipal de Matosinhos

A Fábrica de Conservas Adão Polónia & Cª. Lda. de Adão Pacheco Polónia, situava-se no quarteirão entre as Ruas de Brito Capelo e Roberto Ivens, e a Avenida Menéres n°234 em Matosinhos.

Anteriormente, no mesmo local existiu a Fábrica de Conservas Lopes, Coelho Dias & Cª. Lda.

O Sr. Adão Pacheco Polónia, era filho do Sr. José Pacheco Polónia e da Sra. D. Emília Gomes Polónia. Tinha três irmãs e dois irmãos. O Sr. Adão Pacheco Polónia frequentou um curso naval para a marinha mercante, do qual desistiu, emigrando para os Estados Unidos da América do Norte. Regressado a Portugal, casou com a Sra. D. Maria Amélia de Oliveira Lopes, filha do Sr. António Calvo de Oliveira.

O Sr. Adão Pacheco Polónia, tomou-se Sócio Gerente da Sociedade de Pescas Anjo da Guarda, Lda. transformando-se propriamente, em armador de pesca. Reconhecendo os armadores de pesca da sardinha que ele era talvez a pessoa indicada para presidente da Associação dos Armadores de Pesca do Norte de Portugal, convidaram-no para se candidatar à presidência daquela Associação, facto que se concretizou, conquistando, pela maneira como conduzia os destinos daquela, a simpatia da maioria dos armadores de pesca da sardinha.

Continuando o seu curriculum vital, adquiriu a traineira a vapor Sá da Bandeira e depois mandou construir as traineiras a motor Carlos Alberto e Gonçalves Zarco. Estávamos em 1937 eram, então mestres dessas traineiras, respectivamente, o Sr. Manuel Guerra, o Sr. José Fortunato (Zé da Sé Benta) e o Sr. António Maravalhas (Chinchinha). Dado a boa safra da sardinha, anterior, o Sr. Adão Pacheco Polónia fez, construir mais uma traineira a motor a que deu o nome de Santa Teresinha.

O Sr. Adão Polónia era um homem de instintos profundamente comerciais. Era um homem hábil, inteligente e esperto, também ambicioso e audacioso.

No principio da década de quarenta, fundou a Empresa Nacional de Pescas, Lda. Mandou construir sete traineiras e, registou-as na Capitania do Porto de Leixões, com as seguintes denominações: Arau, Flamingo, Gaivina, Luvanco, Mascato, Painho e Pardela. Foi, também, proprietário dos arrastões Mar Ártico e Mar Antártico, tendo explorado a industria de pesca do arrasto durante vários anos.

Associado a uma firma espanhola, foi também industrial de Conservas de Peixe com a maior unidade fabril do género, a que pertenceu a firma Lopes, Coelho Dias & & Cª. Lda. Esta Fábrica tinha um volume de produção de 100.000 caixas, por vezes ultrapassada, isto em plena II Guerra Mundial que criou uma espécie de Eldorado para os industriais de Conservas de Peixe e da Pesca da Sardinha.

O Sr. Adão Polónia também foi presidente do Grémio dos Armadores da Pesca da Sardinha (1942 – 1945). Era um homem alto, inteligente, polémico, desinibido e frontal, bom zelador dos seus interesses. Politicamente exerceu o cargo de Vice-Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, desempenhou, interinamente, o cargo de Administrador do Concelho, nomeado em Maio de 1936.

Adão Pacheco Polónia nasceu em Matosinhos, no dia 5 de Janeiro 1901, e faleceu, também em Matosinhos, no dia 10 de Setembro de 1964.

 

Considerações sobre o Sistema Massó

Uma Nova Técnica na Fabricação de Conservas

Uma das características importantes que o centro conserveiro de Matosinhos apresentou residia no facto de ter sido o único a aplicar em Portugal o famoso Sistema Massó, uma nova tecnologia desenvolvida por industriais de Vigo, a qual acarretava inúmeras vantagens. Fruto da sua associação com Gaspar Garcia Massó, o então proprietário, da antiga Fábrica Lopes, Coelho Dias & Cª Lda. , o industrial matosinhense Sr. Adão Pacheco Polónia, introduziu nessa Fabrica, em 1948, o Sistema Massó, obtendo uma maior economia de mão-de-obra, uma melhoria da qualidade dos produtos, e uma maior racionalização da produção. Aqueles Sistemas consistiam numa mais racional e eficaz organização da produção, resultantes de uma maior mecanização das tarefas, conseguida através de pequenas alterações introduzidas no circuito de fabrico, que Gaspar Garcia Masso tinha desenvolvido na Fabrica de Vigo, tida então como a mais perfeita organização do mundo.

Estas alterações, iam desde a introdução de canais de descabeço e evisceração com transporte lavagem automática de grelhas, suprimindo todo um conjunto de tarefas destinadas ao carregamento e transporte de peixe, detritos, etc., a inovação no processo de cozedura, com a introdução de fornos contínuos de cozimento por ar quente.

A primeira inovação introduzida pelo Sistema Massó incidia nas secções de descabeço e engrelhamento do peixe. Após a sua entrada na Fábrica, a sardinha era agora descarregada directamente nos canais, onde se procedia a evisceração. Estes canais, com cerca de 35m de comprimento, eram separados a meio por uma divisão e as operárias, á medida que tratavam a sardinha, lançavam-na para uma divisória situada à sua frente. Os detritos resultantes daquela operação, eram lançados para um caleiro, onde um jacto de água permanente os impelia para um depósito, central, donde eram permanentemente retirados. Evitava-se, deste modo, a morosa e fatigante tarefa de condução dos detritos por meio de vasilhas. Terminada a operação de descabeço, a sardinha encontrava-se já na totalidade na outra divisória, onde era salmorada, sendo apenas necessário abrir uma torneira por onde passava a salmoura. Daqui resultava uma grande economia de tempo e de pessoal. Decorrido o tempo necessário a impregnação da sardinha, procedia-se à retirada da moura através da abertura de urna válvula automática, afim de permitir o seu escoamento.

Após o engrelhamento, as operárias colocavam a grelha num transportador sem fim, o qual se encontrava colocado paralelamente ao canal e passava, numa das suas extremidades, por uma câmara envidraçada onde a sardinha era lavada por intermedio de chuveiros colocados na parte superior e inferior da câmara.

O processo de cozedura era agora efectuado num forno de cozer por ar quente, que substituía as tradicionais estufas, utilizadas em todas as outras Fábricas. Este forno, era constituído por quatro túneis independentes, dentro de cada um dos quais circulava um transportador sem-fim, onde as grelhas eram colocadas, em vez de serem metidas nos habituais carros que levavam a sardinha a cozer nas estufas. Tanto a cozedura como a fritura exigiam até então trabalhadores experimentados, pois a sua duração óptima variava com a espécie de peixe, tamanho e respectivo estado de conservação. Agora, cada transportador possuía um sistema independente de caixa de velocidades, permitindo regular de modo a que o peixe, consoante as suas características, fosse submetido mais ou menos tempo à operação de cozedura. Resultava daqui uma primeira vantagem, pois agora havia a possibilidade de se cozer ao mesmo tempo peixe de quatro tamanhos diferentes, aplicando a cada um deles o tempo necessário. O tratamento habitual da sardinha elaborada em conserva consistia essencialmente na eliminação do excesso de água contida no peixe para que este se mantivesse em boas condições físicas requeridas, e ser em seguida conservado em latas sem se deteriorar.

O processo utilizado para desidratar convenientemente o peixe não deveria subtrair, com a água de substituição, uma parte demasiadamente grande da sua própria substância, de maneira a não diminuir assim o valor nutritivo do produto acabado.

Portanto qualquer processo que, após a operação de salga (a qual lhe assegura a eliminação do sangue e uma igual repartição do sal do peixe) permita a subtração da água contida em excesso nos tecidos do peixe, poderá ser considerado o melhor.

Este problemas foram resolvidos de uma forma satisfatória através de uma nova técnica industrial – cocção por ar quente – desenvolvida nos anos trinta do século passado pelo norte-americano Harry Beard, e que o Sistema Massó vai aproveitar. A utilização de ar quente na cozedura e ainda o facto de esta se efectuar gradualmente (pois a temperatura dos canais do forno não era a mesma em toda a sua extensão, aumentando progressivamente até atingir o seu máximo no final), fazia com que a sardinha não se tornasse quebradiça, nem perdesse as suas melhores propriedades como resultava do antigo sistema de cozedura pelo vapor, em estufas.

Terminada esta operação, as grelhas carregadas de peixe passavam para o arrefecedor, onde uma corrente de ar as arrefecia rapidamente. A secagem, a cozedura e o arrefecimento podiam portanto realizar-se na mesma máquina, de forma contínua.

Também no enlatamento os Sistemas Massó proporcionavam consideráveis benefícios. O anterior sistema necessitava de inúmeras mesas onde as grelhas eram depositadas e retiradas por uma multidão de auxiliares, que tinham também de conduzir as latas vazias, proceder à limpeza dos detritos, etc. A instalação de mesas mecânicas e de transportadores circulares, sem fim, colocados em dois planos, permitiam agora as operárias, sentadas nos respectivos lugares, utilizar os transportadores para realizar todas as suas tarefas. As grelhas com o peixe e as latas vazias chegavam aos seus postos de trabalho por um dos transportadores e, após a operação de enlatamento, seguiam pelo mesmo transportador as grelhas vazias e as latas cheias. Os detritos resultantes desta operação eram empurrados para o outro transportados, que se conservava sempre em movimento, conduzindo-os e descarregando-os numa das extremidades da mesa.

O abastecimento de grelhas com peixe e de tabuleiros com latas vazias era efectuado numa das extremidades da mesa, fazendo-se a retirada das latas já cheias na outra, donde seguiam para o azeitamento e cravação.

A aplicação do Sistema Massó traduzia-se por uma maior mecanização da produção, aumentando a rapidez da manipulação, economizando mão-de-obra e melhorando a qualidade do fabrico, tornando-o mais higiénico, dado que agora se evitava a aglomeração de grelhas e detritos, pois o escoamento era permanentemente mantido pelos transportadores. A utilização destas novas técnicas de fabrico resultava numa economia de 15% de mão de obra e de 40% de sal.

Conseguia-se igualmente uma melhoria da qualidade e no sabor do peixe, suprimindo inteiramente a sardinha mole, gretada ou partida como sucedia com o cozimento pelo vapor em estufas. A possibilidade de enlatamento rápido também era agora possível, pois o peixe saía da cozedura seco, rijo, facilitando a manipulação.

Além da Fábrica do Sr. Adão Polónia, onde estes sistemas foram experimentados pela primeira vez, temos apenas conhecimento de terem sido introduzidos noutra fábrica no centro de Matosinhos, mas cujas instalações se localizavam na Afurada, em Vila Nova de Gaia. Esta fábrica era a Benito Garcia, Lda.

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