Os navios de Júdice Fialho, Portimão

info em http://naviosenavegadores.blogspot.pt

João António Júdice Fialho
Portimão 1895 – Lisboa 1934

Apesar das inúmeras referências ligadas ao nome deste ilustre algarvio, em diversas cidades da província, pouco ou quase nada se encontra relativamente às suas facetas como armador e empresário, excepto ter casado com a filha dum abastado médico italiano, radicado localmente e ter sido dono duma belíssima moradia, na cidade de Portimão.

Como empresário o nome Júdice Fialho aparece ocasionalmente associado à indústria conserveira, devido às fábricas postas a laborar próximo a diversos portos piscatórios, com relevo para Faro, Matosinhos e Peniche.

Convém contudo lembrar que Júdice Fialho terá iniciado a sua carreira profissional, através da venda de palamenta e equipamentos para as embarcações de pesca, pelo que ainda jovem estaria já muito familiarizado com essa actividade.

Com a compra de pequenos barcos para a pesca, deu início à criação duma considerável frota pesqueira, ao longo dos anos, que o ligaram à pesca costeira, à pesca do alto, à pesca do bacalhau na Terra Nova, tendo ainda colocado um dos seus lugres no serviço de cabotagem nacional e internacional.

Naturalmente com extrema facilidade adquiriu vantagem em relação aos restantes concorrentes armadores algarvios, que existiam à época em número considerável, pois na eventualidade do peixe não ser comercializado, tinha sempre garantido o escoamento para as fabricas de conserva. E se por acaso houvesse falta de peixe, a situação era normalmente ultrapassada com a conserva de frutas e legumes.

Convém igualmente salientar que o pai Júdice Fialho, por se encontrar referência ao nome a partir de 1906, devia igualmente ter um forte vínculo à pesca, ainda que sem a grandeza e dimensão que se verificaram posteriormente.
Da frota da sua propriedade, até à data do seu falecimento, salientamos as seguintes embarcações:

Navio de cabotagem nacional e internacional

Lugre de 3 mastros “ALGARVE 3”

Nº Oficial : 612 > Iic.: H.A.L.C. > Porto de registo : Portimão
Cttor.: Manuel M. Bolais Mónica, Gafanha da Nazaré, 1921
Tonelagens : Tab 222,00 to > Tal 162,00 to
Comprimentos : Pp 35,11 mt > Boca 9,05 mt > Pontal 3,73 mt
Máquina : Sem motor auxiliar

Navegação de longo curso – pesca do bacalhau

Lugre de 4 mastros “ALGARVE 2”

Nº Oficial : 605 > Iic.: H.A.G.S. > Porto de registo : Portimão
Construtor : J.P. de Sousa, Portimão, 1921
Tonelagens : Tab 459,73 to > Tal 388,31 to
Comprimentos : Pp 39,32 mt > Boca 8,75 mt > Pontal 4,93 mt
Máquina : Sem motor auxiliar

Lugre de 3 mastros “ALGARVE 4”

Nº Oficial : 605 > Iic.: H.A.G.S. > Porto de registo : Portimão
Construtor : Tobias de Lemos, Aveiro, lançado Maio de 1921
ex “Rigel”, Soc. Construção e Pesca Lda., Aveiro, 1921-1922
Tonelagens : Tab 273,20 to > Tal 259,54 to
Comprimentos : Pp 41,60 mt > Boca 9,00 mt > Pontal 4,00 mt
Máquina : Sem motor auxiliar

 

Lugre de 3 mastros “ALGARVE 5”

Nº Oficial : 614 > Iic.: H.A.L.Q. > Porto de registo : Portimão
Construtor : J.P. de Sousa, Portimão, 1923
Tonelagens : Tab 379,55 to > Tal 360,58 to
Comprimentos : Pp 38,75 mt > Boca 9,50 mt > Pontal 3,75 mt
Máquina : Sem motor auxiliar

Navios utilizados na pesca do alto e costeira

Vapor “COLOMBO”
Nº Oficial : 38 > Iic.: H.J.W.Q > Porto de registo : Portimão
Construtor : -?-, Inglaterra, 1889
Tonelagens : Tab 138,55 to > Tal 62,35 to
Comprimentos : Pp 30,65 mt > Boca 6,06 mt > Pontal 3,80 mt
Equipagem : 10 tripulantes
Supostamente comprado a armador de Lisboa entre 1910 a 1913
 
Vapor “ALGARVE 6”

Nº Oficial : 615 > Iic.: H.A.R.V. > Porto de registo : Portimão
Construtor : -?-
Tonelagens : Tab 229,05 to > Tal 167,45 to
Comprimentos : Pp 38,21 mt > Boca 6,40 mt > Pontal 3,35 mt

Vapor “PORTUGAL 6”

Nº Oficial : 607 > Iic.: H.P.T.O. > Porto de registo : Portimão
Construtor : -?-
Tonelagens : Tab 91,58 to > Tal 55,37 to
Comprimentos : Pp 25,60 mt > Boca 5,65 mt > Pontal 2,73 mt

Vapor “PORTUGAL 8”

Nº Oficial : 608 > Iic.: H.P.R.O. > Porto de Registo : Portimão
Construtor : -?-
Tonelagens : Tab 96,44 to > Tal 51,72 to
Comprimentos : Pp 26,10 mt > Boca 5,57 mt > Pontal 2,92 mt

Vapor “GALGO”

Nº Oficial : 37 > Iic.: Não tem > Porto de registo : Portimão
Construtor : -?-
Tonelagens : Tab 82,99 to > Tal 61,85 to
Comprimentos : Pp 25,59 mt > Boca 5,28 mt > Pontal 2,78 mt
Equipagem : 10 tripulantes

Tripulação do Galgo

 

http://www.portugal1914.org/portal/pt/historia/a-guerra-1914-1918/item/7057-o-patrulha-auxiliar-galgo

Com a entrada de Portugal na Grande Guerra, e dada a escassez de meios navais para empenhar no conflito, a Armada procede à requisição de navios civis juntos de vários armadores nacionais.

A 28 de Setembro de 1916 é requisitado ao armador João António Júdice Fialho o pequeno rebocador Galgo, registado no porto de Vila Nova de Portimão. Com apenas 25 metros de comprimento e um motor a vapor de 75 cavalos, o Galgo é classificado como Patrulha-Auxiliar. Fica sob o comando do 1º Tenente Carlos dos Santos, que é há data o Comandante da Capitania de Lagos. Durante o período em que está ao serviço da Armada tem como missão a vigilância da costa entre Lagos e Sagres. Em Dezembro do mesmo ano foi artilhado com um canhão-revólver Hotchkiss de 37mm, e é com esta modesta peça que a 24 de Abril de 1917 vai enfrentar o submarino alemão U35, em duelo desigual.

Seguindo o Galgo em patrulha para Sagres, recebe a comunicação que se encontrava na mesma área um submarino inimigo atacando dois vapores. Navega então junto à costa, tentando dissimular-se contra as altas falésias, quando perto da enseada da Baleeira avista o submarino e dois vapores já atacados. Os cargueiros estão a afundar-se, e as respectivas tripulações remam nos escaleres, em direcção a Sagres. O Galgo passa ao ataque e faz fogo cinco vezes contra o submarino, mas os seus disparos não alcançam o alvo. Quando o U35 responde ao fogo com a sua peça de 10,5cm uma granada por pouco não atinge o Galgo, tornando-se evidente o desequilíbrio entre o armamento dos dois oponentes. Esquivando-se ao fogo do U35, cabe agora ao Galgo a missão de socorrer as tripulações dos navios afundados, e tentar ainda alertar para a presença do submarino os outros cargueiros que nessa manhã navegam junto a Sagres. Ao final do dia 24 de Abril de 1917 o Galgo tinha recolhido 70 homens, distribuídos por 10 escaleres. Foram interceptados pelo U35 9 navios, dos quais foram afundados 4.

Este episódio possui várias semelhanças com o célebre combate que a 14 de Outubro de 1918 culminou com o afundamento do Patrulha de Alto Mar Augusto de Castilho: em ambas as situações se opõem um submarino Alemão e um navio da Armada Portuguesa, requisitado a um armador civil, o submarino Alemão tem um armamento muito superior em alcance e calibre ao do seu oponente Português, e o combate dá-se com o submarino navegando à superfície. Por último, o comandante do submarino Alemão é o mesmo em ambas as ocasiões: o Kapitanleutnant Lothar Von Arnauld de la Perière, o às dos ases da Marinha Imperial Alemã.

Apesar de praticamente esquecido pela historiografia da Primeira Grande Guerra, o combate entre o Galgo e o U35 justificou a criação de uma placa alusiva, a usar na fita de suspensão da medalha comemorativa da campanha. Criada pelo decreto nº2870 de 30 de Novembro de 1916, esta medalha destinava-se a ser usada apenas por elementos de qualquer ramo das forças armadas que tivessem participado em operações no terreno. Tendo o patrulha-auxiliar Galgo uma tripulação de pelo menos 15 elementos, presume-se que esta placa tenha tido uma emissão muito pequena, o que a torna uma peça raríssima. Curiosamente, são conhecidas duas versões diferentes da mesma placa. Pertencentes ao espólio do Museu Municipal de Lagos Dr. José Formosinho, onde se encontram em exposição, não se sabe no entanto a que militares pertenceram.

Quanto ao Patrulha-Auxiliar Galgo, sobreviveu à Grande Guerra e foi devolvido ao seu proprietário.

Motor “FADISTA”
Nº Oficial : 19 > Iic.: Não tem > Porto de registo : Portimão
Construtor : -?-, Pprtimão, 1911
Tonelagens : Tab 10,07 to
Comprimentos : Pp 10,68 mt > Boca 3,60 mt > Pontal 1,10 mt
Equipagem : 2 tripulantes

Motor “FUNCHAL”
Nº Oficial : 46 > Iic.: Não tem > Porto de registo : Portimão
Construtor : -?-, Olhão, 1900
Tonelagens : Tab 15,41 to
Comprimentos : Pp 17,45 mt > Boca 4,46 mt > Pontal 1,15 mt
Equipagem : 5 tripulantes

Motor “FUTURO”
Nº Oficial : Não tem > Iic.: Não tem > Porto de registo : Portimão
Construtor : -?-, Portimão, 1911
Tonelagens : Tab 7,02 to
Comprimentos : Pp 9,70 mt > Boca 3,35 mt > Pontal 0,50 mt
Equipagem : 2 tripulantes

Motor “PORTIMÃO”
Nº Oficial : 45 > Iic.: Não tem > Porto de registo : Portimão
Construtor : -?-, Olhão, 1900
Tonelagens : Tab 16,89 to > Tal 15,90 to
Comprimentos : Pp16,00 mt > Boca 4,00 mt > Pontal 1,10 mt
Equipagem : 4 tripulantes

Motor “PORTUGAL”
Nº Oficial : 43 > Iic.: Não tem > Porto de registo : Portimão
Construtor : -?-, Olhão, 1900
Tonelagens : Tab 20,78 to > Tal 19,87 mt
Comprimentos : Pp 16,30 mt > Boca 4,25 mt > Pontal 1,25 mt
Equipagem : 4 tripulantes

De acordo com os documentos disponíveis, não foi possível descobrir qual o destino dado a todas as embarcações referenciadas, pelo que vão ser consideradas sem rasto.
 


Conclusão

Após o falecimento de Júdice Fialho em 1934, todos os seus bens passaram à propriedade da viúva e herdeiros, que constituíram empresa ainda no decorrer desse mesmo ano. Porque a pesca longínqua se revelou desastrosa nesta época, a que acrescia a necessidade de motorizar os lugres, levou ao divórcio com a pesca do bacalhau, pelo que a nova gerência concentrou-se na pesca costeira e depois na pesca do alto, com igual sentido de oportunidade e promissor desenvolvimento.
Não surpreende portanto que parte dos lugres tenham sido postos à venda. Com esta medida, considerando que os lugres podiam continuar a navegar no serviço de cabotagem costeira, dá-se por extinta a pesca do bacalhau com base a partir dos portos algarvios. Do lugre empregue na cabotagem, mais os 3 lugres empregues durante os anos vinte na pesca, consegui apurar terem todos eles passado à propriedade da viúva e herdeiros, ainda em 1934. Depois viveram destinos diferentes, como segue :
 

O lugre de 3 mastros “ALGARVE 3º”

Nº Oficial : 612 > Iic.: H.A.L.C. > Porto de registo : Portimão
Cttor.: Manuel M. Bolais Mónica, Gafanha da Nazaré, 1921
ex “Águia”, Comp. Aveirense Naveg. e Pesca, Aveiro, 1921-1922
Tonelagens : Tab 222,00 to > Tal 162,00 to
Comprimentos : Pp 35,11 mt > Boca 9,05 mt > Pontal 3,73 mt
Máquina : Sem motor auxiliar
 
Foi vendido a Daniel da Silva, de Portimão, em 1935, alterando o nome para “ALGARVE TERCEIRO”, continuando ligado à cabotagem nacional e internacional.
 
Nº Oficial : 612 > Iic.: C.S.C.F. > Porto de registo : Portimão
Cttor.: Manuel M. Bolais Mónica, Gafanha da Nazaré, 1921
Tonelagens : Tab 222,14 to > Tal 161,70 to
Comprimentos : Pp 35,10 mt > Boca 9,05 mt > Pontal 3,73 mt
Máquina : Sem motor auxiliar
Equipagem : 10 tripulantes
 
Afundou-se em local não especificado ao largo da costa portuguesa, no dia 24.01.1937. A notícia indica que os náufragos foram recolhidos pelo vapor norueguês “Bra-Kar”, da empresa Fred Olsen Lines, de Oslo. Este navio construído na Noruega em 1929, tinha uma Tab de 3.778 to., 111,40 metros de comprimento e 15,80 metros de boca.
 

O lugre de 4 mastros “ALGARVE 2º”

Nº Oficial : 605 > Iic.: H.A.G.S. > Porto de registo : Portimão
Construtor : Joaquim Pedro de Sousa, Portimão, 1921
Tonelagens : Tab 459,73 to > Tal 388,31 to
Comprimentos : Pp 39,32 mt > Boca 8,75 mt > Pontal 4,93 mt
Máquina : Sem motor auxiliar
 
Manteve-se na propriedade da viúva e herdeiros de Júdice Fialho até 1941, desaparecendo dos registos a partir de 1942. Sem rasto.
 

O lugre de 3 mastros “ALGARVE 4º”

Nº Oficial : 605 > Iic.: H.A.G.S. > Porto de registo : Portimão
Construtor : Tobias de Lemos, Aveiro, lançado Maio de 1921
ex “Rigel”, Soc. Construção e Pesca Lda., Aveiro, 1921-1922
Tonelagens : Tab 273,20 to > Tal 259,54 to
Comprimentos : Pp 41,60 mt > Boca 9,00 mt > Pontal 4,00 mt
Máquina : Sem motor auxiliar
 
Foi vendido a Joaquim dos Santos Pité, Lda., de Faro, em 1937, tendo alterado o nome para “AMIZADE SEGUNDO”, passando ao serviço de cabotagem nacional e internacional. Navega desde então com os seguintes detalhes :
 
Nº Oficial : 700 > Iic.: C.S.C.G. > Porto de registo : Faro
Construtor : Tobias de Lemos, Aveiro, lançado Maio de 1921
ex “Rigel”, Soc. Construção e Pesca Lda., Aveiro, 1921-1922
Tonelagens : Tab 296,21 to > Tal 224,02 to
Cpmts.: Ff 46,36 mt > Pp 40,08 mt > Boca 9,09 mt > Ptl 3,83 mt
Máquina : Skandia, Suécia, 1937 > 1:Sd > 260 Bhp > Veloc. 9 m/h
Equipagem : 11 tripulantes
 
Não aparece no registo de navios naufragados. Desaparece da lista de navios nacionais em 1941. Sem rasto.
 

O lugre de 3 mastros “ALGARVE 5º”

Nº Oficial : 614 > Iic.: H.A.L.Q. > Porto de registo : Portimão
Construtor : Joaquim Pedro de Sousa, Portimão, 1923
Tonelagens : Tab 379,55 to > Tal 360,58 to
Comprimentos : Pp 38,75 mt > Boca 9,50 mt > Pontal 3,75 mt
Máquina : Sem motor auxiliar
 
Foi vendido a José Braz Alves, de Faro, em 1935, tendo alterado o nome para “VAGABUNDUS”, passando ao serviço de cabotagem nacional e internacional. Muda os detalhes para :
 
Nº Oficial : 696 > Iic.: C.S.C.H. > Porto de registo : Faro
Construtor : Joaquim Pedro de Sousa, Portimão, 1923
Tonelagens : Tab 331,01 to > Tal 251,78 to
Comprimentos : Pp 41,36 mt > Boca 9,91 mt > Pontal 3,53 mt
Máq.: Volund, Dinamarca, 1935 > 1:Sd > 220 Bhp > Veloc. 8 m/h
Equipagem : 12 tripulantes
 
 
Foi novamente vendido, desta feita à Empresa de Pesca Figueirense, em 1938, tendo alterado o nome para “PESCADOR”, regressando à pesca do bacalhau, serviço intercalado com viagens de cabotagem. Fica desde esse ano com o seguinte registo :
 
Nº Oficial : B-269 > Iic.: C.S.C.H. > Porto de registo : F. da Foz
Construtor : Joaquim Pedro de Sousa, Portimão, 1923
Tonelagens : Tab 332,36 to > Tal 232,80 to
Cpmts.: Ff 48,14 mt > Pp 41,36 mt > Boca 9,91 mt > Pontal 3,53 mt
Máq.: Volund, Dinamarca, 1935 > 1:Sd > 220 Bhp > Veloc. 8 m/h
Equipagem : 12 tripulantes
 
Não aparece no registo de navios naufragados. Desaparece da lista de navios nacionais em 1944. Sem rasto.
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