Os Açorianos e as Pescas, 500 anos de memórias - Tunapesca

Fábrica de Conservas “Tunapesca”

Esta fábrica conserveira de peixe com sede nos Bacelinhos, freguesia de Santo António, concelho de São Roque do Pico, nasceu de uma estratégia dos armadores da pesca de tunídeos da ilha do Pico, para se defenderem da exploração de que estavam a ser alvo pelas demais fábricas de conservas de atum dos Açores.

Constituíram uma sociedade, por convocatória dos sócios fundadores: António Tavares de Melo, José Cristiano de Sousa e Delfim Linhares de Andrade, então deputado da Assembleia Nacional e irmão do Dr. Manuel Linhares de Andrade, ambos naturais do Cais do Pico e figuras de primeiro plano político no ex-Distrito da Horta. O deputado Linhares de Andrade foi o grande impulsionador dessa ideia e pessoalmente, fez diligencias em Lisboa junto do Ministério da Economia e Indústria, para obter os necessários licenciamentos e alvará de laboração.

Eram ainda sócios, com cotas no valor de 300 contos (cerca de 1.500 euros), José Teles, da Agência de Viagens Teles e o Dr. António de Freitas Pimentel, então Governador Civil do Distrito e médico cirurgião de profissão no hospital da Horta. O primeiro sócio administrador foi António Tavares de Melo. Foi também sócio fundador o Eng. Varela, que era armador de pesca de arrasto no continente português, havendo ainda outros sócios minoritários. Em reunião deliberaram dar inicio a construção da nova fábrica, com o lançamento da primeira pedra em 1965. A fábrica entrou em laboração no mês de Maio de 1967. O capital social era de três mil contos (cerca de 15.000 euros).

A sociedade recebia peixe de oito traineiras bem equipadas, com pescadores e mestres dos melhores. Nos primeiros anos tiveram o apoio técnico de Fernando Wallenstein Teixeira (1932-1993), de reconhecida competência e experiência nas pescas e conservas de peixe, figura cimeira da “Sociedade de Conservas Corretora”, de São Miguel e que era também sócio da Tunapesca. Laboravam albacora, bonito e cavala, sendo estas duas ultimas variedades enlatadas em molho picante. Os restos do peixe que laboravam eram transformados em farinha de peixe, que era exportada para Lisboa, destinada a fábricas de rações para animais. Trabalharam bem com bons resultados até 1975. A Revolução de Abril provocou alterações politicas e administrativas, com grandes reflexos nas leis laborais, resultando num manifesto declínio da produção. Eram gerentes Guido Teles e Jaime António T. Tavares de Melo.

Em 1976 a “Tunapesca” encerrou a sua actividade por 3 ou  anos. Findo este “interregno”, surgiu um grupo de armadores e industriais da pesca do bacalhau – a “Empresa de Pesca de Aveiro”, “Testas & Cunha” e a “Empresa de Pescas de São Jacinto”, de Aveiro, que se associaram a “Tunapesca”, aumentando o capital para dez mil contos (cerca de 50.000 euros). A fábrica voltou ao ritmo da plena laboração. Como não tinha sistema de frio, eram obrigados a trabalhar todo o peixe fresco que entrava na fábrica, em sistema de laboração continua, em plena safra, dando ocupação a oitenta homens e duzentas e cinquenta mulheres.

Logo que o peixe entrava era cozido, seguindo-se a limpeza e enlatamento, que pela sua natureza monótona e minuciosa, e por excelência uma tarefa feminina. Todos os industriais de conserva com muitas décadas de experiência, são unanimes em não quererem homens nesta secção, porque para além de não desempenharem devidamente esta missão, desperdiçam muito peixe.

Para dar aproveitamento ao peixe entrado em alturas de “aperto”, faziam turnos de 12, 14 e 16 horas. Ao Mestre João Paiva Branco foi confiado o cargo de Mestre Conserveiro, que e figura de primeiro plano no sucesso de uma fábrica, chegando a passar uma semana inteira sem sair da fábrica, descansando apenas duas ou três horas por noire.

Esta fábrica era considerada uma das mais modernas do país, concebida e estruturada numa linha de transformação sequenciada, os anos de plena laboração transformavam em média mil toneladas anuais de conservas destinadas a exportação. A diminuição dos cardumes de tunídeos, mesmo com as ajudas comunitárias, nã foi suficiente para permitir uma exploração rentável.

Tunapesca cannery

The origins of this cannery, based in Bacelinhos, Santo António, in the council of São Roque do Pico, lay in a strategy by the owners of Pico’s tuna-fishing ships to avoid being targeted by the other tuna canneries in the Azores.

The company was set up by founding partners António Tavares de Melo, José Cristiano de Sousa and Delfim Linhares de Andrade, who was at that time a member of the Portuguese parliament and the brother of Manuel Linhares de Andrade. They were both from Cais do Pico and were prominent politicians in the former district of Horta. Linhares de Andrade was the driving force behind the idea, personally lobbying the Ministry of Economics and Industry in Lisbon to obtain the necessary licenses and permits.

The other partners, with shares worth 300 thousand escudos (around 1,500 euros), were José Teles of Agência de Viagens Teles and Dr. António de Freitas Pimentel, then the civil governor of the district and a surgeon at the hospital in Horta. The first managing director was António Tavares de Melo. Another founding partner was an owner of trawlers from the mainland named Varela, and there were other minority shareholders. Following a meeting at which they decided to build the new factory, work began in 1965.

The cannery came into operation in May 1967. The share capital was three million escudos (around 15,000 euros).

The company’s fish came from eight well-equipped trawlers, crewed by the best fishermen and skippers. In the early years they had the technical support of Fernando Wallenstein Teixeira (1932-1993), a competent and experienced fisherman and canner, and a leading figure in São Miguel’s Sociedade de Conservas Corretora as well as a partner in Tunapesca. They processed albacore, bonito and mackerel, canning the latter two in peppery sauce. The residue was made into fish flour, which was exported to pet food factories in Lisbon. Business went well until 1975, when the April Revolution brought political and administrative changes, with major repercussions on labor legislation leading to a marked decline in production. The cannery’s managers were Guido Teles and Jaime António T. Tavares de Melo.

In 1976 Tunapesca closed down for three or four years.

This ‘interregnum’ came to an end when a group of codfishing shipowners and businessmen from Aveiro, namely Empresa de Pesca de Aveiro, Testas & Cunha and Empresa de Pescas de São Jacinto joined Tunapesca , increasing the share capital to ten million escudos (around 50,000 euros).

The cannery went back to working at full tilt. As it lacked a cooling system, they were forced to process all the fresh fish coming into the factory by working round the clock during the harvest, providing employment to 80 men and 250 women.

As soon as the fish arrived, it was boiled, cleaned and canned, by its nature this was a monotonous and painstaking task that could only be safely entrusted to women.

All cannery-owners, with many decades of experience, are unanimous in not wanting men in this department, because they do not work properly and waste a lot of fish.

ln order to process the fish at peak times, they did 12, 14 and 16-hour shifts. The job of chief conserver was entrusted to João Paiva Branco, a key figure in the cannery’s success who sometimes spent a whole week without leaving the premises, resting for only two or three hours a night.

This cannery was regarded as one of the most modern in the country, designed and structured like an assembly line, in the years when it was working at maximum capacity, it processed an average of a thousand tons of fish for export each year. The decline in the tuna shoals meant that there was not enough fish to make a profit, even with EU subsidies.

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