Os Açorianos e as Pescas, 500 anos de memórias - Corretora - Ilha das Flores

“Sociedade de Conservas Corretora”

Durante as três primeiras décadas da última metade do passado século, (séc XX) o arquipélago dos Açores viveu uma intensa pesca de tunídeos nunca antes registada. As traineiras vinham seguindo os cardumes na sua rota migratória para oeste, até aos mares da ilha de Flores e Corvo.

A partir dos anos 60, em todo o arquipélago laboraram fábricas de conserva, excepto na ilha do Corvo.

A competição, o secretismo e a rivalidade que existia entre as traineiras era enorme. Nenhuma traineira transmitia via rádio quando encontrava um born cardume, nem sequer indicava a quantidade de peixe que havia capturado. Mestre João Alves e o filho, na ilha das Flores, por várias vezes vieram a terra telefonar, para indicarem o carregamento que tinham e a que horas estariam no porto de descarga do peixe. Era no tempo em que não havia telemóveis …

Como os mares do grupo Ocidental se tomaram promissores, a “Sociedade de Conservas Corretora, Lda.”, decidiu instalar uma fábrica de conservas junto ao porto das Lajes das Flores, mandando construir um edifício de raiz, que entrou em laboração no Verão de 1966. Deslocou três pequenas traineiras para o porto das Lajes; “Clara”, “Carlos Norberta” e a “Columbina”, que apelidaram de “Burra Preta” e que eram equipadas com pessoal vindo de São Miguel.

O Mestre Conserveiro, administrativo e gerente, era Mestre Saul Casimiro, homem polivalente e profundo conhecedor da sua missão. A Dª Glória era a Mestra do pessoal feminino, com algumas unidades que tinham trabalhado em S. Jorge. A mão-de-obra feminina foi recrutada nas freguesias da Fazenda, Lomba e Caveira.

Possuíam uma camioneta Bedford, conduzida por Deoclésio Cunha, oriundo de S. Jorge, que transportava o pessoal dos turnos. Chegaram a ter turnos de 30 mulheres.

Possuíam duas caldeiras de vapor para a esterilização, que eram manobradas por Deoclésio Cunha. A Dª Olga, de S. Jorge e o marido Jeremias, que eram pessoas com conhecimentos adquiridos na fábrica da “Corretora” de S. Jorge, colaboraram como pessoal responsável por secções da fábrica.

Com o tempo admitiram alguns elementos da ilha das Flores para a tripulação. Mestre Guilherme Pimentel Ataíde foi Mestre da traineira “Fayas” e da “Columbina”, Manuel Rodrigues Vieira foi maquinista da “Columbina”, já todos falecidos.

Julga-se que toda a produção era destinada a exportação, que era embalada em latas de 1 e 5 Kg. O principal destino do atum enlatado era a Itália, com embalagens destinadas a este mercado, em que as latas levavam etiqueta própria impressa em italiano. O mercado espanhol entrava por Vigo e durante alguns anos vieram técnicos espanhóis, uma jovem senhora de nome “Maruca”, que abria alguns peixes, examinava a espinha e as vísceras com o objectivo de avaliar se tinham ovas e o teor de gordura do peixe. Trabalhava por conta de uma empresa espanhola “Consorcio”, que negociava atum para os mercados de Espanha e Itália.

A acção desta técnica tinha o objectivo de seleccionar os produtos das conservas, pois só importavam o “presunto” e rejeitavam o peixe como menor qualidade, criando sérias dificuldades a toda a indústria de conservas do atum que não conseguiram escapar a estratégia da “Consorcio”.

Estes dois países importavam a conserva em azeite de oliveira.

Para os Estados Unidos a lata era de cor prateada com rotulo próprio e o peixe era conservado em salmoura leve, por regra do importador. Esta fábrica ainda exportou conservas em 1976. Crê-se que tenha encerrado a sua actividade em 1977.

Sociedade de Conservas Corretora

From the 1950s to the 1980s, the Azores experienced unprecedentedly heavy tuna fishing. The trawlers pursued the shoals on their migratory route westwards to the seas of Flores and Corvo.

After the 1960s, there were canneries on all the islands except Corvo.

There was huge competition, secrecy and rivalry among the trawlers. No trawler sent a radio broadcast when it came across a good shoal, or ever revealed how much it had caught. João Alves and his son often landed on Flores to make telephone calls to say what they had caught and when they would be reaching port. There were of course no cell phones in those days.

The seas off the islands of the Western Group held promise, so the Sociedade de Conservas Corretora, Lda. decided to establish a cannery near the port of Lajes das Flores, and built one from scratch. lt started operating in the summer of 1966.

It moved three small trawlers to the port of Lajes: the Clara, the Carlos Norberto and the Columbina (nicknamed the Burra Preta, or ‘black donkey’). Their crews came from São Miguel.

The head conserver, director and manager was Saul Casimiro, a jack of all trades and highly knowledgeable. Dona Glória was in charge of the women, some of whom had worked in Sao Jorge. The female labour force was recruited in the parishes of Fazenda, Lomba and Caveira.

They had a Bedford van, driven by Deoclésio Cunha from Sao Jorge, to transport the shift workers. There were shifts with as many as 30 female workers.

They had two steam boilers for the sterilization, which were operated by Deoclésio Cunha. Dona Olga from São Jorge and her husband Jeremias, who acquired their knowledge from the São Jorge Corretora cannery, supervised the various departments. Men from Flores gradually joined the crew. Guilherme Pimentel Ataíde skippered the trawlers Fayas and Columbina, and Manuel Rodrigues Vieira was the Columbifw’s engineer, all of whom are now dead.

The entire production, in 1 and 5-kilo cans, is thought to have been for export. The main market for canned tuna was Italy, where the cans bore a label printed in Italian.

The port of entry to the Spanish market was Vigo, and for some years there were vi it from Spanish representatives. One of these was a young woman named ‘Maruca’ who opened up fish, and examined the backbone and viscera, to see whether they had a roe and to check the fat content. She worked for a Spanish company called Consorcio, which dealt in tuna in the Spani h and Italian markets. Her job was to select the canned products, since they only imported the best quality fish. This created serious difficulties for all the canneries, which could not escape Consorcio’s strategy.

Spain and Italy imported fish conserved in oil. For the United States the tuna was put in a silver can with its own label, and the fish was conserved in brine, according to the importer’s regulations. This cannery still exported fish in 1976 but is believed to have closed down in 1977.

in, Os Açorianos e as Pescas, 500 anos de memórias – João A. Gomes Vieira

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