Os Açorianos e as Pescas, 500 anos de memórias - António Caetano Serpa & Filhos

Na ilha das Flores nascem as primeiras tentativas de conservas de peixe para exportação, do séc. XX. É na década de 30 que a firma “António Caetano de Serpa e Filhos” manda construir uma dezena de tanques de lavagem e salga de peixe, no seu armazém da antiga Rua do Porto, actual Rua Senador André de Freitas, no r/c do actual edifício da Delegação da Assembleia Legislativa dos Açores, que era então designado por “Pesqueira” e que funcionou por conta de pescadores até cerca de 1970. Os tanques foram demolidos em 1992, para receber obras de adaptação para a Delegação do Parlamento Açoriano na ilha das Flores.

A grande maioria do “peixe de salga” era cavala e bonito, embora tenham salgado pargos, gorazes, abroteas, vejas e congros. As duas primeiras variedades de peixe, que eram destinadas ao mercado da Madeira e do continente português, eram tratados ou escalades com a cabeça, porque sem esta, o produto perdia valor. O peixe seco do sol era embalado em barricas de cimento que eram reaproveitadas, em fardos ou em caixas de madeira. O peixe que era exportado em salmoura era acondicionado em barris de vinho que haviam sido importados, com a capacidade de 100 ou 200 litros. Depois do peixe arrumado as camadas, quando o barril estava cheio, cobriam- no com salmoura, era levantado o arco da boca, colocada a tampa e estava pronto a seguir o seu destino.

Esta firma, comprava o peixe aos pescadores, que eram os mesmos que o escalavam e salgavam, sendo auxiliados pelos familiares. A numerosa família Fraga, que morava nas redondezas do porto, era quem mais se ocupava desta tarefa da seca e acondicionamento para a exportação. Trabalhavam homens e mulheres, chegando a exportar anualmente mais de duas duzias de barris.

Esta “Pesqueira”, ao longo dos anos foi utilizada por vários pescadores de Santa Cruz que fizeram salga para exportação, um dos quais foi Mestre João Medeiros da Silva.

Luís Hipólito, comerciante da restauração e apanha de algas submarinas, foi o ultimo utilizador. Possuia um barco de pesca e comprou bonitos que mandou salgar, por volta de 1975. Veio à ilha um negociante de gado e peixe que era madeirense, a quem vendeu cerca de dúzia e meia de barris no valor de 650 contos e até hoje espera pelo pagamento …

António Caetano de Serpa e Filhos, na década de 40 também possuiu uma fabrica artesanal de conserva de peixe em salmoura: bonito e albacora, que eram enlatados em embalagens de 1 kg., 5 kg. e 10 kg. e que funcionava junto da praça do Município, nas traseiras da residência do Sr. Abílio Carlos Flores, nas instalações de uma antiga fábrica de lacticínio que havia iniciado a sua laboração no início do séc. XX.

•••••

The first attempts to can fish for export began on the land of Flores in the 20th century. The firm of António Caetano de Serpa e Filhos built a dozen tanks for washing and salting fish in its warehouse in the former Rua do Porto (now Rua Senador André de Freitas) on the ground floor of what is now the Delegation of the National Assembly of the Azores. It was then called the Pesqueira, and it worked on behalf of fishermen until about 1970.

The tanks were demolished in 1992 to make way for conversion work on the building of the Flores Delegation of the Azorean Parliament.

The great majority of the salted fish was mackerel and bonito, although common sea bream, blackspot sea bream, forkbeard, parrotfish and conger eel were also salted. The first two species, destined for Madeira and mainland Portugal, were gutted or split with the head on, because without this the product would be worth less. The sun-dried fish was stored in reusable cement barrels, bales or wooden crates. The fish that was exported in brine was packed into 100 or 200-litre wine casks that had been imported. After arranging the fish in layers, when the barrel was full they covered the fish with brine, raised the hoop and shut the lid. It was then ready to proceed to its destination. This firm bought the fish from the fishermen, who, helped by their families, also did the splitting and salting.

Most of the drying and packing for export was done by the large Fraga family, who lived in the surroundings of the port. Both men and women did the work. exporting more than two dozen barrels a year. Over the years this Pesqueira was used by several Santa Cruz fishermen, who sailed fish for export. One of them was Mestre João Medeiros da Silva.

The last to use it was Luis Hipólito, who was in the restaurant business and gathered underwater algae. He had a fishing boat and bought bonito which he sent to be salted. This was in around 1975. He sold about a dozen and a half barrels for 650,000 escudos to a cattle and fish trader from Madeira who had come to the island, and even today he is still waiting to be paid…

In the 1940s, António Caetano had a small factory for canning fish in brine. Bonito and albacore (yellowfin tuna) were canned in packages of 1 k., 5 kg and 10 kg. This was situated near the Praça do Município, behind the house of Abílio Carlos Flores, on the premises of a former dairy that had started up in the early 20th century.

in, Os Açorianos e as Pescas, 500 anos de memórias – João A. Gomes Vieira

Scroll to Top