O TOPÓNIMO DA ZONA DO "VISCONDE" E A SUA ORIGEM - 2000
Por: Fernando Engenheiro
Já se tinha dado a implantação da República, quando industriais de diversos pontos do país descobriram Peniche para exploração da Indústria conserveira. Em 1916 chegou a esta Vila, Emílio José Ló Ferreira, que veio de Matosinhos. Natural de freguesia de Trevões, do concelho e comarca de S. João da Pesqueira, distrito de Viseu, diocese de Lamego. Pessoa nobre, Comendador da Ordem de Cristo, foi-lhe concedido o título de Visconde de Trevões pelo Rei D. Manuel II, por Decreto de 29/4/1909.
Usava como Armas: escudo partido: 1, de Ferreiras; 2, de azul, rocha de sua cor, brotando água. Coroa de Visconde. Suportes: dois leões de ouro (concessão de mercê nova por alvará de 12 e carta de 26/8/1909).
Comprou em Peniche um terreno de cultivo, onde estavam implantados 2 moinhos de vento, que confrontava pelo poente com a zona do Porto de Areia, do nascente com caminho do Alto dos Moinhos, do norte com a rua de S. Marcos e do sul com rochas. Ali edificou sua fábrica, com todos os requisites modernos, com residência para o pessoal maior e proprietário, bem como para a classe operária.
Teve começo a sua laboração após ter terminado a 1ª Grande Guerra (1914/1918). Na sequência de vistorias periódicas, pelo engenheiro chefe da 3 Circunscrição Industrial, Inspector do Trabalho e Delegado da Câmara Municipal de Peniche ao abrigo do decreto nº 8.364. de 25/8/1922, foi feita uma em 23/3/1923, com bastante rigor. Tudo estava nas melhores condições e ao abrigo da lei. Em 31/10/1929, foi-lhe concedido Alvará com nº1081, passado com a designação de Fábrica de Santa Cruz. Em 1933 já estava encerrada, por falência.
Acabou por ser vendido todo o seu recheio, bem como o edifício a particulares de Peniche, designadamente: Luís Correia Peixoto – Valeriano Gomes Moreno – Acelino do Jesus Avelino – João Mendes Madeiro Sobrinho. Porque a compra visava o negócio, logo lodo o património conheceu novos proprietários.
APONTAMENTOS DIVERSOS:
A compra foi arrematada pelo leiloeiro por 100.000$00 (fora a percentagem da lei) excepto a parte dos escritórios que já linha sido vendida no primeiro lanço. Todo este espaço, ao longo dos anos, teve depois as mais diversas utilizações.
Quem. da minha idade, não se lembra dos célebres bailes de Santa Cruz e dos exercícios da Legião Portuguesa?
A 17/11/1967, uma Sexta-feira, Peniche sobressaltou-se com um grande incêndio. Era no antigo edifício de 1º andar onde em tempos tinham existido os escritórios e as residências. Na época da ocorrência era conhecido por “bairro dos esganados”. Ali viviam famílias humildes de pescadores, que em poucas horas viram os seus poucos haveres a desfazerem-se com as labaredas. O Município tentou ajudar com o que lhe foi possível, nomeadamente com os realojamentos no Bairro Senhor do Calvário.
Era então proprietário do imóvel o Ministério das Finanças, que o adquiriu por falta de pagamento de impostos. O terreno foi depois vendido, após prolongadas negociações, ao proprietário confinante com as ruínas.
Hoje faz parte da ampliação da fábrica de congelação ali em laboração.
2000Peniche
in A VOZ DO MAR, de 22 de Agosto de 2000
Por: Fernando Engenheiro