O Brinquedo em Portugal - 100 Anos do Brinquedo Português
Reprodução parcial do livro:
O Brinquedo em Portugal – 100 Anos do Brinquedo Português
Autores: João Solano, Carlos Guilherme Teixeira dos Anjos, João António Capucho D`Arbués
Colecções de Carlos Anjos e João D`Arbués Moreira
ISBN 978-989-20-2183-6
Publicação com 1ª edição em 1997 Pela Civilização Editora e em 2010 edição dos autores
Carlos Anjos e João Arbués Moreira são coleccionadores de brinquedos, e foi este gosto comum que fez com que os dois homens, com histórias de vida muito diferentes, passassem a conviver e a influenciar-se mutuamente, partilhando lugares, ideias e aventuras, como esta de organizar um livro dedicado exclusivamente aos brinquedos feitos em Portugal, misturando as colecções de ambos.
E, como não é possível tudo mostrar em livro, tal como não é possível tudo arrecadar, o que intimamente parece ser o ideal de qualquer coleccionador, eles próprios fizeram uma escolha: decidiram-se por uns em vez de outros e, da amálgama aparente, mostraram uma ordem invisível ao olhar dos crédulos. Organizaram os brinquedos cronologicamente, atribuindo-lhes datas, se não precisas pelo menos aproximadas. Segundo a mesma razão histórica, presente em qualquer colecção, estabeleceram-se relações entre os materiais, as formas, as cores, as performances, as técnicas de produção, os propósitos dos brinquedos e os momentos políticos, as atribulações dos mercados, a versatilidade dos artesãos e o gosto e as paixões do momento.
Carlos Anjos
Carlos Anjos foi o maior coleccionador de brinquedos portugueses.
Dedicou a vida a juntar brinquedos e nem ele sabia ao certo quantos tinha, mas são mais de 20 ou 30 mil peças, desde relíquias em madeira ou lata, outros nasceram na era do plástico.
Foi um dos fundadores da Feira do Brinquedo no hotel Roma, em Lisboa.
O Museu do Brinquedo em Ponte de Lima tem 4.000 brinquedos seus, que cobrem um século de evolução do brinquedo português – desde as primeiras peças em madeira ou folha-de-flandres, produzidas ainda no século XIX, até meados dos anos 80.
“Um dia, em 1980, fui a casa de um amigo que morava em Gondomar, o Carlos Magalhães, e ele tinha para lá meia dúzia de brinquedos que me chamaram a atenção porque tinha brincado com alguns iguais àqueles quando era miúdo”. Ao que parece foi assim que tudo começou. E o que começou a brincar tornou-se numa brincadeira feita de história, pois graças ao Carlos Anjos existe um espólio fantástico que de outra forma de teria perdido.
Não é demais dizer que era seguramente a pessoa que mais conhecimento tinha de fabricantes, marcas e modelos do brinquedo português.
Os nossos caminhos cruzam-se devido ao brinquedo de folha de flandres, muitas vezes produzido com restos de chapa provenientes da indústria conserveira.
As técnicas de fabrico eram rudimentares e os fabricantes tinham que improvisar as máquinas a partir de peças usadas, arranjar as matérias – primas recorrendo às aparas e sobras do fabrico de latas de sardinhas.
O Carlos deixou-nos em 4 de dezembro de 2019. Homem generoso deixou, todo o seu espólio ao Museu do Brinquedo Português situado em Ponte de Lima.
Perdemos um incrível coleccionador, uma pessoa fantástica, um amigo.
1878 – Agostinho Oliveira da Costa Carneiro é porventura o 1º fabricante. Fabricava brinquedos de madeira na Maia.
1880 – “A Casa do Militar à Porta” em Lisboa aparece com a 1ª edição de “folhas de cartolina” com soldados para recortar.
1892 – 1ª Fábrica timbrada de brinquedos em madeira de Augusto de Sousa Martins com a de nominação “A Infantil”.
1897 – 1º Catálogo da Casa Grandela & Cª onde, além de brinquedos estrangeiros, aparecem também anunciados brinquedos portugueses.
1900 – Um dos primeiros grandes fabricantes de brinquedos português A. Potier em Lisboa. Fabricou brinquedos em pasta de papel, madeira, chumbo, folha de Flandres, ferro, etc.
1909 – José Serafim de Carvalho fabrica brinquedos em pasta de papel e madeira, no Porto.
1914 – António Lourido Lago, no Porto, constrói brinquedos em folha, unindo as partes com solda de estanho.
1919 – A firma A. J. Almeida, do Porto, edita até 1930 folhas para recortar.
1920 – A firma P&C de Lisboa edita até 1925 um reduzido número de folhas para recortar com soldados das armas de Cavalaria e Infantaria.
– Lopes de Sousa estabelece-se no Porto com oficina própria.
– Coelho de Sousa embora dedicando-se sobretudo ao comércio, criou baldes litografados, muitas peças de reportório feminino, e, mais tarde, uma série de reedições litografadas de alguns modelos de Manuel Moreira da Silva.
1921 – A firma Costa & Silva, da Figueira da Foz, regista a marca Biynkedo, dando inicio a fabricação de brinquedos de pasta de papel com modelos de pequenos cavalos, burros, cabras, corsas e soldadinhos de chumbo.
Firmino Soares dos Reis, um dos iniciadores do brinquedo de folha, torna-se colaborador do fabricante Luciano de Moura.
1921 – Luciano Moura fabrica brinquedos em folha e pasta de papel.
1924 – É criada a empresa “Estabelecimento Industrial do Brinquedo Lda.” em Lisboa. Para além de soldados e outras figuras de chumbo, fabricava artigos para ornamentação de tronos de S. António, S. João e S. Pedro, tais como castiçais , vasos, custódias e sacrários, tudo em chumbo.
1924 – A serralharia Manuel José Soares no Porto fabricava triciclos, trotinetas e automóveis a pedais.
1928 – A firma de José Augusto (JAJ) em Ermesinde, fabrica brinquedos em folha, madeira. Iniciou a sua atividade fabricando apitos e guizos em folha.
1930 – José Augusto Júnior cria nova fábrica em Alfena. Cabe-lhe o mérito de ter sido o fabricante do primeiro brinquedo com corda de fita em Portugal.
– Maria Emília Castelo Branco fabrica bonecas com cabeça de massa na Junqueira em Lisboa, com a marca Artebrinca.
– Vieira, conhecido pelo Judeu, fabrica no Porto máscaras de carnaval em pasta de papel.
1930/31 – Fábrica da Família Moura (L.M .), em Ermesinde, inicia a sua atividade
Anos 30 – Manuel Moreira da Silva, conhecido por NICRO, de Ermesinde, foi o primeiro massificador do sistema de corda de arame no brinquedo de folha.
– Manuel Baltar, na Figueira da Foz, fabrica brinquedos em chapa pintada de grandes dimensões.
1935 – José Alves Pereira fabrica barcos de madeira com remadores, trabalhados ao torno.
1939 – A Majora inicia a sua atividade, primeiro na cartonagem e mais tarde na fabricação de jogos infantis.
– É fundada a Fabrinca em S. João da Madeira, uma das maiores produtoras de brinquedos de sempre em Portugal e que encerra em 1962. Fabrica brinquedos em chapa especialmente automóveis de pedais, triciclos e carrinhos de bebé, mas também utiliza outros materiais como folha de Flandres e madeira pintada e litografada. Utilizou design próprio.
1940 – Armindo Moreira Lopes (AML) , de Valongo, fabrica brinquedos em folha, até hoje.
– António Cardoso da Silva (ANCASIL) fabrica brinquedos em madeira, plástico, e alumínio, especialmente automóveis. Faleceu em 1997. A fábrica continua sob a direção do seu filho, produzindo brinquedos de alumínio.
– O “Caretas” fabrica carrinhos de bois.
Eduardo Lopes Brazão começa a fabricar miniaturas de automóveis a escala 1/43 que comercializa nos bazares do Porto.
– A firma Rubia de João Ruano, com sede em Lisboa, fabrica bonecos em celuloide, cujos moldes serão a partir de 1952 utilizados para o plástico nas novas instalações na Marinha Grande.
– O Sr. Carvalho fabrica através de moldes de gesso figuras numa massa a base de papel e um cimento aglutinador a pedido da loja de brinquedos Kermesse de Paris copiados de alguns modelos de soldados fabricados em massa na Alemanha pelas casas Lineal & Elastolin.
– A firma ARLO de Arnaldo LR Brito, no Porto, constrói comboios, carros militares, Kits de casa, Kits de jogos e puzzles em cartão para montar.
1944 – Primeiras fábricas de brinquedos em plástico: Hércules e Osul, em Espinho. Radar, na Maia; Santo António, SIMALA, em Leiria; UPLA e RUANO na Marinha Grande; Ribeirinho, Pátria, Patriota em Guimarães, e Baquelite Liz.
1942 – A firma Carlos & Correia, em Lisboa, fabrica soldados de chumbo e brinquedos em madeira (fortes, castelos e mobílias)
1944 – Pacífico Soares, filho de Manuel Soares, funda a firma Soarfil e fabrica máquinas movidas a vapor verticais e horizontais.
1945 – Patriota, Pátria, Ribeirinho começam neste ano, em Guimarães, a fabricar brinquedos de plástico.
1946 – Manuel Teixeira, em Ribeirão, Famalicão fabrica com a marca SEDIL automóveis em pasta de papel gessado com design próprio. É o único a faze-lo em Portugal.
– SOINCA – fábrica veio da Vicentina. Os seus fundadores foram Agostinho Lopes da Costa, José Gomes Correia e José Pacheco Simões. Cucujães, Oliveira de Azeméis.
1947 – RADAR Começa por fabricar em celuloide, passando logo para o plástico. Inicialmente começa por fabricar comboios e carros de corrida e aviões com instalações na Maia.
1949 – Francisco Ferreira, de Palmilheira, Ermesinde, fabrica grandes carros-eléctricos, navios e couraçados de guerra em madeira.
1952 – Aníbal Moura (filho de Luciano Moura) estabelece-se com fábrica própria.
1955 – José Augusto Júnior arranja novas instalações em Ermesinde, onde inicia o fabrico de brinquedos de plástico e folha com a marca JATO.
Anos 60 – Alberto Cutileiro fabrica soldados de chumbo com a marca Diorama.
1970 – Aparecem novas normas de segurança no fabrico de brinquedos.
1972 – Manuel Rocha Ferreira, antigo empregado de JAJ estabelece-se para fabricar brinquedos de madeira, como pombas, ciclistas, etc.
1977 – Os filhos de José Augusto Júnior dedicam-se exclusivamente ao plástico com a marca PEPE.
– Virgínio Moutinho, arquiteto, inicia-se como construtor de brinquedos de madeira, folha e materiais reciclados. Os seus brinquedos constituem uma nova atitude na construção do brinquedo pela temática e humor associados ao movimento cinético que caracterizam as suas produções.
1982 – Herberto Pratas de Carvalho (filho do Sr. Carvalho) recomeça o fabrico das figuras do pai usando novas moldes e uma escala diferente.
– É fundada a empresa Vitesse, hoje multinacional, que se dedica a produzir em escala industrial miniaturas de coleção fieis aos originais.
1986 – António Pratas de Carvalho começa a fabricar em exclusivo para o Museu do Brinquedo de Sintra, figuras baseadas nas formas originais do seu pai o Sr. Carvalho. Faleceu em 1996 e com ele termina a produção de soldados de massa.