Senhor da luz e das sombras, Manuel Lapa (Lisboa, 1914-1979) traçou caminho próprio por entre uma geração dourada de artistas gráficos que serviram a Política do Espírito de António Ferro e do seu Secretariado Nacional de Informação, SNI, arriscando o paradoxo de conferir à ditadura do Estado Novo um rosto moderno na propaganda de temas tão caros ao regime como os costumes populares, o turismo e a gesta histórica, alicerçada na afirmação da nacionalidade na belicosa Idade Média e na saga aventurosa das Descobertas.
Lapa foi artífice destacado do corolário da propaganda oficial, a exposição do Mundo Português, em que também dirigiu o catálogo, e projetos caros a António Ferro, como a coleção de livros «Contemporâneos» ou a revista Atlântico. Enfileirado na segunda geração modernista, Lapa foi exímio nos revivalismos da iconografia medieval, que muitas vezes copiava e outras tantas transfigurava em síntese gráfica e cromática assente no profundo entendimento das tecnologias de impressão contemporâneas.
Contaminado, parcimoniosamente, pela sucessão de correntes estéticas que agitaram uma boa parte do século XX, foi um ousado mas escasso ilustrador para livros infantis. Feiticeiro da Cabana Azul e História de Portugal para Meninos Preguiçosos, revelam um desenho intemporal, com a frescura inalterada com que se revelou naqueles já longínquos anos quarenta.
Em todos os registos Lapa modela esculturas gráficas a luz e sombra, atingindo o máximo esplendor na descrição de banais arquiteturas, profanas ou religiosas, ou no portentoso animalário continental e ultramarino que traçou para a revista Diana, ao longo da década de cinquenta.
Humanista praticante, artífice erudito, professor generoso, Manuel Lapa moldou uma boa parte da nossa história visual contemporânea.