1923 - Livro de Ouro Comemorativo do Centenário da Independência e da Exposição Internacional do Rio de Janeiro1
Publicação que inclui publicidade de empresas conserveiras portuguesas. Procuramos um exemplar.
Exposição de 7 de Setembro 1822 a 7 de setembro 1922.
Data da edição: 7 de Setembro 1923
Edição do Almanak Laemmert
Rio de Janeiro
in AS COMEMORAÇÕES DO SETE DE SETEMBRO EM 1922: UMA RE(LEITURA) DA HISTÓRIA DO BRASIL
Júlia Ribeiro Junqueira
No ano de 1922, uma antiga personagem da história do Brasil — a Independência —voltava a ser o centro das atenções e, certamente, induzia a nação brasileira a se repensar. Tal reflexão se inseria no âmbito das comemorações do centenário da emancipação política do Brasil que, sem dúvida, se constituíram em uma oportunidade ímpar para que houvesse uma reelaboração tanto da memória imperial como daqueles fatos que marcaram a história brasileira. Sob esse prisma, o artigo pretende demonstrar, a partir de alguns dos preparativos para o sete de setembro, como a publicação do Livro de Ouro e o lançamento de uma edição especial pelo Jornal do Commercio, representaram um artifício para uma re(leitura) da história do Brasil.
In 1922, an ancient character of Brazilian history — the Independence — became once again the centre of attention and, indeed, prompted the Brazilian nation to rethink its identity. Such reflection fit within the celebration context of the centennial celebration of independence, which, undoubtedly, provided a unique opportunity for a reformulation of both the imperial memory and those events that marked Brazilian history. Within this framework, this paper seeks to demonstrate, based on some of the arrangements for the 7thSeptember, how the publication of the book Livro de Ouro and the launch of a special edition by Jornal do Commercio represented a means for reassessing Brazilian history.
…Obra bem extensa, o Livro de Ouro foi dividido em cinco partes, nas quais foram expostas, além das diversas temáticas que englobavam os assuntos científicos, literários, históricos, geográficos, de belas artes e econômicos, aquelas referentes ao certame realizado no Distrito Federal….
…Na primeira parte, encontram-se trinta artigos que fazem uma retomada histórica da política, da sociedade, da cultura, da economia e de outros diversos assuntos concernentes ao Brasil…
…Já a segunda é composta de seis temas, a saber: A voz da imprensa, A Exposição Internacional, As grandes festas, Congressos e Conferências, Homenagens estrangeiras,Notas várias e Encerramento das festas…
…A terceira parte do livro dedica-se àqueles denominados “os fundadores do Império e da República”, ilustrada com fotos de José Bonifácio de Andrada e Silva, d. Pedro I, Benjamin Constant, Marechal Deodoro e os demais presidentes.
A quarta desenvolve uma síntese de cada estado brasileiro, incluindo o Distrito Federal.
Por último, arrematando o livro, apresenta-se um resumo sobre a imprensa, no qual se fez uma retomada histórica sobre o Jornal do Brasil, O Paiz, O Correio da Manhã, o Imparcial e o Estado de São Paulo.
Ainda, acrescido de um tópico, com o título Saudações Portuguesas, na qual seapresentaram artigos escritos por Alberto d’Oliveira, Antonio Baião, Lucio d’Azevedo, visconde de Carnaxide, Mendes Corrêa, Alberto Pimentel e João de Castro…
TERRA ENCANTADA – A CIÊNCIA NA EXPOSIÇÃO DO CENTENARIO DA INDEPENDENCIA DO BRASIL
ARACI ALVES SANTOS
3.3. O Livro de Ouro Enquanto Lugar de Memória da Exposição
Para conhecermos o que foi a Exposição uma obra fundamental é o “Livro de Ouro da Exposição do Centenário” publicado em setembro de 1923, pela casa editorial Almanak Laemmert, criada em 1844, pelos irmãos Eduard e Heinrich Laemmert. Essa obra insere-se no que o historiador francês Pierre Nora (1993) chama de lugar de Memória. Pois segundo ele:
Os lugares de memória são, antes de tudo, restos. A forma extrema onde subsiste uma consciência comemorativa numa história que a chama, porque ela a ignora. É a desritualização de nosso mundo que faz aparecer a noção (NORA, 1993, p. 12).
Sendo assim o Livro de Ouro (Figura 21) emerge como a “memória mais viva da Exposição”, ou o que teria sobrado dela, procurando dar uma mostra por inteiro do aconteceu. Ao mesmo tempo reveste-se de um caráter histórico montando uma história do Brasil que dialoga com a Exposição, mostrando o antes, o durante e as possibilidades de um futuro promissor para o Brasil.
Nora (1993) ainda chama atenção que para ser considerado lugar de memória é preciso também que três aspectos coexistam, são eles: material, simbólico e funcional.
O Livro de Ouro com suas 518 páginas, incluindo textos e propagandas, além de um anexo apenas com anúncios de bancos e lojas, foi feito para ser um monumento à Exposição e efetivamente reúne essas três características, sendo um documento, um símbolo e ao mesmo tempo um verdadeiro almanaque não apenas da Exposição, mas também da História do Brasil.
Segundo os editores a idéia inicial era fazer apenas uma calorosa homenagem ao Brasil. No entanto a série de comemorações e o caráter de Internacionalidade que tomou a Exposição, isto fez com que eles ampliassem o plano de trabalho de forma a abranger todas as festas, solenidades e homenagens recebidas. Foram reunidos textos de intelectuais e políticos brasileiros, notícias de jornais, resumos das festas, homenagens e congressos, constituindo um panorama geral da exposição. Além de artigos de autores portugueses sendo eles: Alberto D Oliveira, Antonio Baião, Luvi d’Azevedo, Visconde de Carnaxide, A. A. Mendes Correa, Alberto Pimentel, D. João de Castro.
A obra faz uma compilação sobre o evento: congressos realizados, expositores, propagandas, campanhas profilaxias do governo, etc. Além disso, o livro é um verdadeiro catálogo das propagandas de vários produtos da nossa indústria como, por exemplos: o cartaz da fábrica Chapéu Mangueira que funcionava à Rua Oito de Dezembro número 28 no bairro de Vila Isabel, do Ministério da Saúde e também de inúmeros laboratórios químicos, biológicos e farmacêuticos.
Pretendendo situar o leitor historicamente o livro é iniciado com a reprodução da tela de Francisco Aurélio de Figueiredo “O Primeiro Capítulo da História da Pátria”, onde há a imagem da leitura da carta de Pero Vaz de Caminha anunciando ao Rei D. Manuel a descoberta do Brasil. Completando a representação temos o texto “Vaz de Caminha e sua carta” do historiador Capistrano de Abreu, publicado anteriormente em 1908, em que ele faz uma narrativa sobre a carta e sobre o escrivão Pero Vaz de Caminha.
O livro é dividido em cinco partes sendo elas:
Parte I – ocupa-se da História do Brasil com textos de diversos intelectuais brasileiros dentre eles: o historiador e jornalista José Francisco da Rocha Pombo (Notícia Histórica), do professor Heitor Lyra (Como o Brasil entrou para o Concerto das nações), Ricardo Severo (Da Arquitetura Colonial no Brasil), Barbosa Lima Sobrinho (A Imprensa na Independência), A. Austregésilo (A Escola Médica Brasileira), do arquiteto A. Morales do los Rios (Evolução da Arquitetura no Brasil), Afrânio Peixoto (O Ensino Público no Brasil), do caricaturista Raul Pederneiras (A Caricatura no Brasil), Gustavo Barroso (O Padre Cícero e o Folclore) e do Conde de Afonso Celso (Noventa e Cinco anos de Cursos Jurídicos).
Parte II – destinada aos textos jornalísticos sobre a Exposição. Compondo-se dos seguintes itens: A Voz da Imprensa; A Exposição Internacional, em que é feita uma descrição da Exposição; As Grandes Festas (relatando as homenagens internacionais). Ainda nessa parte temos uma síntese dos Congressos e Conferências, homenagens estrangeiras, incluindo as visitas de chefes de Estados e as inaugurações de monumentos. No item Notas Variadas são relatados fatos sobre algumas mostras, monumentos e sobre a futura capital do país que seria construída no Planalto Central .
Parte III – retoma-se a História do Brasil, com ilustrações de personagens do Império (José Bonifácio e D. Pedro I), da Republica (Benjamin Constant, dos presidentes da República até 1922 e Ruy Barbosa) e ainda um artigo exaltando a cidade do Rio de Janeiro. No entanto, o artigo divide a cidade em dois momentos antes e após as transformações que a tornaram uma metrópole.
Parte IV – nessa parte temos textos sobre os estados do Brasil, o Distrito Federal e o território do Acre. Os textos foram escritos por deputados dos respectivos estados, com exceção do artigo “Brasil um só” sem menção de autoria.
Parte V – textos dos escritores portugueses e propagandas de alguns jornais e bancos.