Anúncio luminoso Hotel Bragança, Espinho
Fundada em 1894 por emigrantes regressados do Brasil (os irmãos Brandão e os irmãos Gomes), a fábrica Brandão Gomes contribuiu, decisivamente, para a evolução acelerada da popular praia de banhos em Espinho. No processo de constituição do concelho funcionou como um trunfo decisivo, capaz de convencer o poder instituído e de vencer as resistências, passando a assumir-se como uma força política autónoma, conhecida como o Grupo da Fábrica, que influenciaria os destinos locais nas primeiras décadas de existência como entidade autónoma.
Nessa altura, a electricidade não passava de uma novidade reservada aos privilegiados, mas nas suas instalações já trabalhava um dínamo e funcionavam 150 lâmpadas, quando a população ainda vivia com candeeiros a petróleo.
O anúncio luminoso que, no princípio do século vinte, se exibia na esquina do Hotel Bragança – o estabelecimento hoteleiro mais representativo da época – teve um valor simbólico muito forte para Espinho.
Diz-se que foi o primeiro anúncio luminoso eléctrico existente em Portugal, reflectindo a dimensão da Fábrica de Conservas “Brandão Gomes” como empresa dinâmica que apostava na valorização da sua imagem e não hesitava em recorrer a expedientes publicitários inovadores, quando a luz eléctrica dava os seus primeiros passos.
Electricidade
Espinho foi uma das primeiras terras portuguesas a ter electricidade a partir de um gerador instalado no Hotel Bragança, onde um reclame luminoso das conservas Brandão, Gomes & Cª, instalado na fachada, constituiu uma justificada curiosidade para a época.
Em Março de 1901 a rua Bandeira Coelho (actual rua 19) era iluminada electricamente a nascente da via férrea até à 18, por iniciativa de João Baptista Carvalho, proprietário do Teatro Aliança.
Durante a época balnear a baixa espinhense também passou a ser iluminada por iniciativa particular, o que lhe conferiu um atractivo especial naquele tempo.
A partir de 15 de Julho de 1909 já todas as ruas existentes tinham focos eléctricos durante as primeiras horas da noite. Só a partir de 18 de Dezembro de 1911 a iluminação passou a fazer-se toda a noite.
*”Quanto ao Hotel, sabemos que em 1876, quando Ramalho Ortigão escreve as Praias de Portugal, este já existia e encontrámos amiúde o rumor de que fora anteriormente uma abastada habitação. Posterior aos dois “prédios nobres”, o edifício apresenta também uma balaustrada mas que agora limita uma varanda que rodeia o ático em pelo menos duas das suas faces, nobilitada por estatuária no enfiamento dos cunhais. O ático, recuado, é ainda mais imponente que no caso anterior, apresentando quatro claraboias em fila. Esta solução, que poderia iluminar um corredor central, conferia um ar imponente e característico ao edifício, cujos vãos apresentavam verga em arco, que irá, mais tarde, pontuar vários edifícios que ainda chegaram aos nossos dias e que nos parece ser aqui utilizada, sistematicamente e em grande escala, pela primeira vez em Espinho. Deveria ser, à data da sua construção, o edifício mais alto e mais aparatoso da povoação, senhor de uma imagem que fez lamentar a sua demolição para dar lugar ao Palácio Hotel, cujas obras arrancaram em 19349.
A fachada principal do Bragança estava voltada para a Avenida 8, artéria definida pela recente instalação do caminho-de-ferro da Linha do Norte, que conduzia a Gaia.”
*Arquiteturas de Espinho e Matosinhos: o Mar como motor de Progresso e gerador de Identidades
Hugo Daniel da Silva Barreira, FLUP, hugodsbarreira@gmail.com
Patrícia Amorim Cravo da Silva, FLUP, patriciacravo@gmail.com