José Fernandes Piloto, José Joaquim Capa, António José Piloto Capa

Resumo biográfico em textos retirados da história da Pilotos & Capa em Memórias & Documentos volume I, José Fernandes Piloto, José Joaquim Capa, António José Piloto Capa, de António Horta Correia

TÍTULO: Memórias & Documentos volume I

SUB TÍTULO: José Fernandes Piloto, José Joaquim Capa, António José Piloto Capa

AUTOR: António Horta Correia

DATA EDIÇÃO:   2017

EDITORA: 1ª ed. – Albufeira, Arandis editora

António José Piloto Capa

José Fernandes Piloto, nasceu em 29 de Abril de 1869, foi batizado em 21 de Junho seguinte, em Vila Real de Santo António, sendo padrinho Valentim Bravo e tocou com a coroa de Nossa Senhora da Encarnação Manuel de Azevedo. Era casado com Maria do Carmo. 

Era despachante da Alfandega em Vila Real de Santo António. Foi armador da pesca da sardinha, socio de diversas sociedades de pesca, sócio e gerente de “Pilotos, Gomes & Capa” e de “Pilotos & Capa”.

Em 22 de Maio de 1907 tinha sociedade com seu irmão Manuel em “Piloto & Irmão”, que nessa data abonam como seu ajudante Júlio do Carmo Padesca.

Em 11 de Janeiro de 1921, ele e a mulher constituem uma sociedade comercial por quotas com Joaquim do Carmo Oeiras, José do Carmo Oeiras e Inácio Fernandes Cardoso. Faleceu em 25 de Outubro de 1941.

José Joaquim Capa

José Joaquim Capa nasceu a 8 de Junho de 1872, na freguesia de São João Batista, de Moura, era filho de António Francisco de Paula Capa e de Maria do Carmo Figueira. Seu pai era oficial de sapateiro, oficio que já fora de seu avô, Francisco de Paula Capa, e do bisavô José Inácio, provavelmente descendentes de cristãos novos espanhóis, dado que existiu um ramo de apelido Capa em Sobral d’ Adiça, Moura, ligados a Paymogo, Huelva, situado junto da fronteira. Em Portugal, alem desse núcleo alentejano, existia um outro em Braga, talvez ligados aos da Galiza, onde são numerosos.

Em documentação antiga, aparece um “Domingos Soajo Capa, judeu”, que era proprietário ou rendeiro do engenho de açúcar Arantangil em Serinha em, Pernambuco, em 1660. Talvez fizesse parte do numeroso grupo de judeus sefarditas refugiados nos Países Baixos, que emigraram para o Recife quando da ocupação holandesa. Na biografia de D. Juan Alfonso de Aragon y Navarra, bispo de Huesca-Jaca, encontram-se várias personagens com o  apelido Capa. O citado bispo, era filho ilegítimo de D. Carlos de Aragon y Navarra, Príncipe de Viana, e de Margarida Capa, nascida em Palermo. Na sua corte estavam os irmãos Pedro Capa, jurista, que foi “infanzon, mayordomo e seu familiar”, o qual recebeu, em 1506, o dote de 15.000 soldos de ouro para casar; Anton Capa que foi arcediago de Anso e cónego da catedral de Jaca; e Juan Capa, jurista. Espanha e, actualmente, o país da Europa com maior número de pessoas com apelido Capa.

Como explicar a presença de José Joaquim Capa, com apenas vinte anos de idade, em 1892, estabelecido em Vila Real de Santo António, em sociedade com o comendador Manuel Francisco Gomes, de Mertola?

Ainda jovem, de doze ou treze anos, teria ido trabalhar para Mértola, na casa comercial de Manuel Francisco Gomes 17, abastado negociante alentejano, proprietário de uma grande empresa que comerciava cereais, têxteis, tabacos, etc., que viria a ter grande participação na “Empresa Portuguesa de Navegação no Algarve e Guadiana”, constituída após o falecimento de Alonso Gomes, concessionaria das carreiras fluviais do Guadiana, a que estaria ligado o seu sogro, Guilherme Allen 18, e tinha considerável património imobiliário em Mértola, nomeadamente a Casa Cor de Rosa, ainda existente.

José Joaquim Capa começou a ter possibilidade de fazer aplicações de capital fora do seu negócio:

Em 1898, juntamente com o seu sócio, comendador Manuel Francisco Gomes, associou-se a José Fernandes Piloto e a José Fernandes Piloto Júnior, no projecto de exploração de uma fábrica de conservas de peixe, concretizado em 13 de Janeiro de 1898, com a construção do edifício, e, a seguir, com a sociedade comercial em nome colectivo “Pilotos, Gomes & Capa”, com o capital de 11 :000$000 reis, repartido igualmente por cada sócio. Como se disse no Capítulo I, após o falecimento de Manuel Francisco Gomes, José Joaquim Capa continuou com os dois sócios sobrevivos na sociedade “Pilotos & Capa”.

António José Piloto Capa

António José Piloto Capa, nasceu em 11 de Setembro de 1901, foi batizado em 1 de Janeiro de 1902 em Vila Real de Santo António, sendo padrinhos José Fernandes Piloto, viúvo, e Felicidade Fernandes Piloto, solteira. Casou em 11 de Agosto de 1926, em Vila Real de Santo António, com Clara Abecasis Fernandes Vargas, filha de Bartolomeu Fernandes Vargas e de Clara Abecasis. Faleceu em 16 de Novembro de 1938.

Enquadramento histórico

O eclodir da guerra civil em Espanha fez aumentar a instabilidade em Portugal. A 8 de Setembro de 1836 ocorre a revolta dos marinheiros dos navios de guerra “Afonso de Albuquerque” e “Dão”, e cria-se a clandestina “Frente Popular Portuguesa”, com o Plano Lusitânia, que previa estender a luta armada a Portugal caso a facção republicana fosse vitoriosa em Espanha. Ainda em 1936, e criada a Legião Portuguesa, milícia paramilitar, com o objectivo de “defender o património espiritual da Nação e combater a ameaça comunista e o anarquismo”. A 20 de Janeiro de 1937 rebentam bombas em Lisboa, na Casa de Espanha, no Ministério da Educação, no Rádio Clube Português, na fábrica de Pólvora de Barcarena, nos depósitos da Vacuum Oil da Avenida da India, e no dia seguinte, no Ministério da Guerra. Em 4 de Julho de 1937 explode uma potente bomba que visava o Presidente do Concelho.

No Algarve, também se viveu um período de crise e agitação. Em Dezembro de 1931, em Vila Real de Santo António, o despedimento de vários trabalhadores das obras do porto comercial, veio agravar a crise de trabalho que esta vila atravessava, e conjuntamente com o acréscimo do preço do pão, em Abril seguinte, vieram aumentar o descontentamento. Em 1934, no 1º de Maio, foram presos alguns rapazes que içaram bandeiras vermelhas na Junta de Freguesia e na Associação de Classe dos Operários. Ainda nesse ano, as fábricas corticeiras de Silves estavam paralisadas, com cerca de mil operários inativos. Em Portimão foram encontradas três bombas de dinamite, enquanto em Vila Real de Santo António esteve criado um Comité Revolucionário formado por comunistas, anarquistas e sindicalistas, orientados por Lisboa, donde vieram duas malas com bombas que não chegaram a deflagrar.

Paredes meias com a vizinha Ayamonte, a esta vila chegava os ventos da grande agitação dos anos 1934 e 1935, e depois os efeitos da terrível confrontação em Espanha.

Na indústria conserveira algarvia, o ano de 1932 foi iniciado com a contestação à instalação de máquinas destinadas ao fabrico de lata vazia, organizada pela classe dos soldadores, em vias de perderem os seus postos de trabalho.

Em 29 de Abril desse ano, os soldadores das fábricas de Olhão expõem a sua situação ao Governador Civil de Faro, pedindo que fosse recusado o pedido apresentado pela empresa fabricante de latas “Ramirez, Perez, Cumbrera & Cª” para a sua instalação.

Porém, o Ministro do Comércio, Indústria e Agricultura, autorizara o pedido dessa firma por despacho de 26 de Maio, publicado a 7 de Julho, o que os operários consideraram ilegal por contrariar o Decreto n° 20.984, publicado em 7 de Março, no qual o Governo, preocupado com o crescente aumento do desemprego, impedia temporariamente a instalação de máquinas que substituam o trabalho manual, e, entre outras medidas, a criação da Caixa de Auxilio aos Desempregados, cuja delegação em Faro começou a funcionar a 6 de Junho, presidida por Bento Viegas Louro. Os trabalhadores conserveiros de Portimão protestaram no mesmo sentido em 8 de Agosto.

Em 27 de Agosto, o mesmo Governador Civil expõe ao Ministro do Interior a situação criada, e lamenta a falta de oportunidade de tal autorização. No ano de 1934, trinta e quatro fábricas de conservas algarvias cessam o trabalho.

Em Janeiro de 1936, os operários conserveiros de Vila Real de Santo António fizeram uma manifestação hostil reclamando o pagamento do subsidio de defeso, aliás já aprovado em anos anteriores, a pagar pelo Consórcio Português de Conservas de Sardinha. O atraso no pagamento deste subsidio tinha ocasionado graves distúrbios em Setúbal, em 1934, causando um morto e vários feridos.

Actuação de António José Piloto Capa

Sabemos que António José Piloto Capa teve notável actuação neste período de crise social, não apenas com ajudas a carenciados, mas como empresário.

João Reis Honrado, filho de um industrial conserveiro de Olhão dessa época, por várias vezes me revelou que preparava um artigo, que, infelizmente, não chegou a publicar, sobre as intervenções de seu sogro na proteção ao operariado. Teria, de facto, actuado assim, tendo em conta a demonstração de pesar mostrada pelo Sindicato dos Conserveiros, cuja bandeira acompanhou o funeral de António Capa, como se fosse um dos seus.

Da actividade de António José Piloto Capa na casa comercial de seu pai, e em “Pilotos & Capa“, que teria sido intensa, pouca documentação se conhece. Tive ocasião de ler alguma da muita correspondência que manteve com seu primo Carlos Garcia Barroso, a residir em Lisboa, colaborador na grande actividade da casa de câmbios, em que também trabalhava um outro seu primo, Manuel Vasques Azevedo, e Ismael Rafael Pacheco, também pessoa de sua confiança há algum tempo.

O oficio confidencial de 4 de Junho de 1936, do Governador Civil de Faro, dirigido ao Chefe de Gabinete do Ministério do Interior, vem confirmar algumas das dificuldades que António Capa teve de enfrentar nesse período. Nele se denunciava a actuação política do Cônsul de Espanha em Vila Real de Santo António:

“( … ) continua a salientar-se contra as pessoas afectas à situação, atacando-as directamente nos seus interesses dependentes de relações com Espanha, e favorecendo ostensivamente os nossos adversários. Assim, sabe-se que várias pessoas residentes em Vila Real de Santo António, que tem interesses no país vizinho e que são dedicados servidores da Revolução Nacional foram prevenidos por amigos seus, de Espanha, que não transpusessem a fronteira, pois seriam imediatamente presos sob o pretexto de facilitarem a saída de capitais espanhóis. Ao antigo chefe democrático daquela vila, são pelo contrario dadas todas as facilidades, servindo até de empenho para os inimigos da situação que ali tem assuntos a tratar.”

Sem os nomear, este interessante documento referia-se certamente a António Capa, oficial da Legião Portuguesa, cujo encarregado do seu escritório de Ayamonte, Manuel Vasques Azevedo, tinha sido preso nessa cidade, e a Manuel Cumbrera, seu concorrente local no negócio de câmbios, que tinha ocupado vários cargos políticos durante a I República.

Documenta-se a sua deslocação a Itália, para visitar o principal cliente, Igino Mazzola, de Genova, e a sua presença na 1ª Exposição Colonial Portuguesa, no Palácio de Cristal do Porto, em 1934, onde se deixa fotografar com Manuel Garcia Ramirez, seu colega conserveiro. E ainda a sua integração numa representação das “forças vivas” locais, em 10 de Janeiro de 1936, para apresentar ao Ministro do Comércio, Eng. Sebastião Garcia Ramirez, algumas pretensões de Vila Real de Santo António.

Dr. Nobre Sobrinho, José Ernesto Rocha da Conceição, José Rodrigues Marques, João Cumbrera Ramirez, Matias Gomez Sanchez, Eng Sebastião Ramirez, Mateus de Oliveira Batista, Mário Garcia Ramirez, Cândido Augusto Marrecas e António José Piloto Capa.

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