Fernando Maló Gravanita - Olhão

NOME EMPRESA / COMPANY NAME: Fernando Maló Gravanita

NOME FÁBRICA / FACTORY NAME:

PROPRIETÁRIO / OWNER:

FUNDAÇÃO / FOUNDED: unknown

LABOROU EM / WORKED DURING:

ENCERRAMENTO / CLOSURE: unknown

Nº EMPRESA IPCP / IPCP COMPANY Nº:

ALVARÁ / CHARTER:

MORADA / ADDRESS:

CIDADE / CITY:

NO MESMO LOCAL FUNCIONOU / AT THE SAME LOCATION WORKED:

OUTROS LOCAIS / OTHER PLACES:

TIPO / TYPE:

FONTES / SOUCES:

BRANDS:

ALTEZA,

ARTIGO

Das 200 fábricas de conservas dos anos 40 no Algarve sobrevivem apenas três

Cecília Malheiro (texto) e Luís Forra (fotos), da Agência LUSA
12 Dez, 2004

Das 200 fábricas de conservas de peixe existentes há meio século no Algarve sobrevivem apenas três, que, confrontadas com a concorrência marroquina, investem agora na confecção de patés.

As duas únicas fábricas de conservas algarvias de “boa saúde” e em plena produção são a Conserveira do Sul, com 80 operários, e a Faropeixe, com cerca de 20 pessoas, ambas situadas em Olhão.
Com o apoio de fundos comunitários, foram modernizadas e têm sistemas de qualidade implantados, disse à Lusa o director regional de Pescas da região, Edgar Correia. Uma terceira fábrica de Olhão, a Freitasmar, está praticamente a encerrar as portas, podendo depois reabrir com reajustes, adiantou aquele responsável.
A par das tradicionais conservas de sardinha, atum, cavala, filetes de biqueirão e ovas de sardinha – estas últimas consideradas o caviar português e que chegam aos dez euros a unidade nas grandes superfícies – , as duas conserveiras decidiram apostar nos patés, produtos com paladares mais ao gosto dos novos consumidores.
As fábricas de conservas de Olhão produzem delicados patés de sardinha, atum, marisco, cavala, gambas e salmão fumado.
Um dos responsáveis pela Faropeixe, Miguel Madeira, disse à Lusa que aquelas iguarias são já praticamente o único produto que ali é confeccionado (exceptuando as latas, importadas da Suíça).
“Quase já só fabricamos patés e os destinos são, além do mercado nacional, Espanha, Bélgica, França, México, Índia, Angola e o Japão”, contou Miguel Madeira, observando que, para Japão, tiveram que adaptar o paladar das pastas de peixe, porque o povo japonês “não está habituado a tanto sal nem a tanto picante”.
“Os patés têm de ser quase insonsos, com menos picante e, em vez de flocos de batata, pediram batata fresca”, explicou Miguel Madeira, acrescentando que também preferem latas individuais de 10 gramas (em vez de 21 gramas), por questões de higiene.
É um tipo de conserva que agrada bastante ao consumidor dos países orientais, observou o director regional de Pescas do Algarve, garantindo que estão a decorrer contactos para o Algarve também exportar as pastas de peixe para a China e Coreia.
Os patés representam cerca de 60 por cento da produção das duas indústrias de conservas do Algarve, em grande parte a reboque do crescimento de consumo verificado nos sectores da restauração e hotelaria.

As fábricas de conservas continuam, contudo, a vender as tradicionais latinhas de sardinha com piri-piri em óleo ou azeite, sardinhas com tomate e picante, ovas de sardinha, carapaus em azeite, filetes de cavalas ou cavalas em molho picante, caldeirada de lulas, biqueirão, anchovas, chaputa e atum.
Uma das razões da persistência, segundo Edgar Correia, é o preço daquela conserva, que é “o alimento mais barato do mundo”.
“Com dois papo-secos, uma lata de conserva a (40 cêntimos) e um copo de água, uma pessoa tem uma refeição por menos de um euro, com proteína da melhor qualidade”, observou o director regional das pescas do Algarve.

Nos tempos áureos da indústria conserveira do Algarve, cujos principais centros era Olhão e Portimão, mas também Lagos, Lagoa e Tavira, em cada uma das 200 fábricas da região havia, em média, 150 a 200 operários.

O peixe era limpo, descabeçado e colocado nas latas de conserva – com peso líquido de 125 gramas – para, depois, ser consumido no estrangeiro. Inglaterra, França, e as ex-colónias portuguesas em África durante a guerra colonial eram alguns dos principais mercados.

A decadência do sector começou nos anos 70.

Os salários mínimos e a obrigação de descontos para a segurança social – implementados após o 25 de Abril de 1974 -, a forte concorrência de Marrocos, o “boom” do Turismo e o atraso tecnológico das frotas levaram a indústria conserveira de peixe à crise.

Uma das testemunhas privilegiadas dos tempos áureos e da crise que se lhe seguiu é Fernando Gravanita, reformado, que vendeu conservas com a sua marca registada “Alteza” durante 48 anos, um pouco por todo o País.

“O segredo era a folha de flandres, que naquele tempo vinha de Inglaterra”, explica, adiantando que o azeite puro e as sardinhas cozidas em grelhas, e não directamente nas latas, são dois pormenores a que hoje não se dá valor.

“As sardinhas são cozidas nas latas, são magras, congeladas e retardadas”, desabafa, referindo que actualmente, pura e simplesmente, se recusa a comprar conservas.

“Tenho ainda em stock várias conservas, mas quando acabar vou comer figos torrados e xerém (papas de milho) como quando era criança, diz, orgulhoso por ao longo da sua vida ter vendido milhares de latinhas de conserva de “atum de luxo” e de “ovas de sardinha”.

“Vendi 5.500 latas de ovas de sardinha a 33 escudos, que levavam pimento verde, tomate, cenoura, cebola, salva, cravo de cabecinha e louro”, enumera, observando que agora as ovas de sardinha que se vendem são, em óleo, e cada embalagem custa cerca de 10 euros.

“As únicas conservas feitas ainda manualmente são as dos Açores”, afirma o vendedor, que chegou a deambular pelo Alentejo montado na sua bicicleta, à procura de quem lhe quisesse comprar umas latitas de “Alteza”.

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