Setúbal 1854 - Almeida Carvalho - Indústria de conservas de peixe

Estabelecimento de fábricas de conserva de peixe em Setúbal.

A pesca, como em outros lugares temos mostrado sempre e em todos os tempos foi exercida nas praias e águas de Setúbal, e principal ramo da indústria e comércio na origem da mesma povoação, acompanhada de menos a mais da indústria do sal, que além de ser aquela indispensável, foi-se tornando progressivamente importante por seu consumo no interior do país e para fora dele, para onde eram exportados muitas das nossas pescarias.

Em 1854, Manuel José Neto, homem de negócio, trabalhador e empreendedor, associou-se com Feliciano António da Rocha, também dedicado ao comércio e ambos estabeleceram em Setúbal, em uma casa na travessa do Postigo da Pedra números 3, 5, 5A e 5B uma fábrica de conservas de sardinha contida em caixas de lata, sendo o género aplicado ao consumo do país, e à exportação para o estrangeiro – América do Sul e África.

A sociedade porém dissolveu-se em fim desse mesmo ano.

Manuel José foi então estabelecer uma sua fábrica em uma casa na rua da praia, próxima à ponte do livramento, do lado do norte, e quase junta ao outeiro do ribeiro, da mesma denominação.

Hoje casa do bilhar do Café Lapido, na Rua da Praia.

Feliciano António da Rocha, estabeleceu a sua fábrica também na Rua da Praia, mas numa casa que faria esquina do lado poente do Largo da Anunciada, tendo frente para este largo, e para a mesma rua da praia.

Trabalhavam pois estas fábricas, fornecendo os seus produtos para o consumo do reino, mas a maior parte para a América, África, sendo o Brasil segundo nos parece o principal consumidor.

A fábrica porém de Feliciano António da Rocha fechou-se por 1876, em resultado de terem escasseado os lucros e aumentados os prejuízos.

A fábrica no entanto de Manuel José Neto continuou funcionando, com mais ou menos dificuldade, e ainda hoje em 1894 funciona, em uma casa nº32 de polícia, na ladeira de São Sebastião, para onde de há tempo se transferiu.

Houve também a fábrica de Gustavo Carlos Herlitz a qual se estabeleceu em uma casa na praça de São Bernardo, hoje de Quebedo, e à esquina da ladeira de São Sebastião, para onde também tinha frente.

Mas por 1880 começaram a estabelecerem-se em Setúbal algumas fábricas de conservas de sardinha, umas dirigidas por franceses e outras por portugueses, que com o correr do tempo foram aumentando em maior número porém aquelas, e até uma italiana que só empregava em preparar sardinha salgada embarricada para exportação.

Em geral e por muito tempo a exportação era para o Brasil e África, e alguma destinada ao consumo interno do país. Mas depois à falta de sardinha na França para ali era enviada muita quantidade de conservas do mesmo peixe. E mais tarde pelos acontecimentos políticos no Brasil, e dificuldades financeiras, fez com que as fábricas exportassem em grandes quantidades não só para França como para Inglaterra, Itália, Alemanha, embora sempre mais ou menos exportassem para o Brasil e África.

Desde 1893 a 1894 a falta de sardinha nos mares de Setúbal, o grande aumento das fábricas e cessão ou diminuição de lucros acarretaram uma agravante, com manifesto dano das casas fabricadoras, e lamentável sofrimento das suas trabalhadoras, que ficaram sem poderem empregar seus braços e assim em precária e triste situação.

Floresceu a indústria, desenvolveu-se a olhos vistos o comércio, ganhou muito dinheiro, mas também se gastava de mais, seguiram-se os dias ruins e sucederam os embaraços e dificuldades com que muitos lutam.

A fábrica de conservas de sardinha, estabelecida em Setúbal por 1871 e 1874 de que era dono Gustavo Herlitz, esteve em uma casa na ladeira de São Sebastião números 7 e 9, se não também 11, casa que tem do lado da praça do Quebedo os nºs 59 e 60.

Principiou a fábrica de conservas alimentícias de Gustavo Carlos Herlitz Lda em janeiro de 1861. Compunha-se esta firma de Gustavo Carlos Herlitz e António Maria Jalles em 1863.

Em 1863 fez Gustavo Carlos Herlitz nova sociedade com João designado de Freitas Júnior e José Maria Lapido, continuando com a mesma firma de Gustavo Carlos Herlitz Lda.

Em 1865 o José Maria Lapido e Gustavo Carlos Herlitz compraram a parte que pertencia a João Sasinando de Freitas parte e continuaram os dois com fábrica com a mesma firma de Gustavo Carlos Herlitz Lda. Vendeu em 1870 José Maria Lapido a sua parte a Gustavo Carlos Herlitz e continuou este com a mesma firma de Gustavo Carlos Herlitz Lda até dezembro de 1872, época em que acabou a fábrica.

Arquivo Distrital de Setúbal

PSS/APAC Arquivo Pessoal de Almeida Carvalho 1550/1912

Fundo Almeida Carvalho PT/ADSTB/PSS/APAC/N/0274

João Carlos de Almeida Carvalho (Setúbal, 15 de Março de 1817 — 29 de março de 1897)
Advogado setubalense, que deixou para a posteridade um valioso arquivo de apontamentos manuscritos com factos, tradições e lendas referentes à história de Setúbal e que estão guardados no Arquivo Distrital de Setúbal, Fundo Almeida Carvalho

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