Brandão Gomes & Cª - Espinho

NOME EMPRESA / COMPANY NAME: Brandão Gomes & Cª (Espinho)

NOME FÁBRICA / FACTORY NAME:

PROPRIETÁRIO/OWNER:

FUNDAÇÃO / FOUNDED: 1894

LABOROU EM/WORKED DURING:
De 1908 a 1911 exporta conservas para o Reino de Espanha (in As firmas conserveiras portuguesas exportadoras para o Reino de Espanha (1880-1911) – Prof. Cláudia Rêga Santos – 2021)

ENCERRAMENTO / CLOSURE:

Nº EMPRESA IPCP/ IPCP COMPANY  Nº: 102

ALVARÁ / CHARTER:

MORADA / ADDRESS:

CIDADE / CITY: Espinho

NO MESMO LOCAL FUNCIONOU/AT THE SAME LOCATION WORKED:

OUTROS LOCAIS / OTHER PLACES:
Fábrica de Espinho, em Espinho fundada em 1894 
 
Fábrica de Matosinhos, em Matosinhos fundada em 1903 
 
Fábrica de S. Jacinto, em Aveiro fundada em 1910 
 
Fábrica de Setúbal, em Setúbal fundada em 1913

TIPO / TYPE: Packers of canned fish in olive oil

FONTES / SOUCES:
– Cadastro marcas Brandão Gomes Junho 1966

Em 1894, Alexandre Brandão, Henrique Brandão e Augusto Gomes constituem a sociedade Brandão, Gomes & Cª.

A qualidade, diversidade e apresentação das conservas Brandão Gomes, proporcionada por um bom apetrechamento tecnológico, levaram a uma rápida afirmação nos mercados internacionais e, em particular, no Brasil onde tiveram grande aceitação.

A necessidade de aumentar a capacidade de produção de conservas de peixe e assegurar um acesso mais regular de peixe fresco levou a empresa a estabelecer fábricas filiais nos portos piscatórios de Matosinhos (1904) e Setúbal (1911) ou em mercados abastecedores pouco explorados como era o caso de S. Jacinto (1909).

TRABALHO

Nas épocas de maior movimento trabalhavam na fábrica de Espinho cerca de 400 indivíduos, com particular saliência para raparigas menores e sem qualquer escolaridade. Em 1910, apenas 25 dos seus trabalhadores sabia ler. Tinham na sua maioria uma origem piscatória e, no caso das mulheres e raparigas, a retribuição monetária era destinada a complementar os rendimentos dos respectivos agregados familiares.

PRODUTOS

As conservas de sardinha constituíam a principal produção das unidades fabris Brandão Gomes. Comercializada em latas de diferentes tamanhos e dimensões, a sardinha era apresentada nas mais diversas variedades.

A introdução de novos produtos de acordo com a divisa melhorando sempre, levou a empresa à exploração de todos os segmentos de mercado das conservas alimentícias. A sua actividade produtiva estendia-se a uma grande variedade de peixes, mariscos, carnes, aves, caça, legumes, frutas em calda, geleias, marmelada e queijo da serra.

A ampliação das primitivas instalações permitiu a produção de legumes em mostarda ou vinagre e do môlho d’Espinho. Em 1908 surgia o azeite enlatado e comercializado sob a marca Brandão Gomes.

ARTES

A Arte da Xávega é um sistema de pesca artesanal caracterizado por possuir um aparelho de arrasto demensal que, na nossa costa, é lançado pelo barco de mar. A partir da praia, desloca-se até distâncias consentidas pelo aparelho e à praia regressa, iniciando-se a designada pesca de arrasto ou da xávega, a qual se pratica com o recurso a um grande barco e a uma grande rede (arte grande). Não é o barco, mas sim o aparelho de arrasto que dá o nome à arte.

COMPANHAS

Durante muito tempo, a Arte da Xávega foi um agrupamento de pescadores sujeito a usos e costumes tradicionais sob a chefia de um governo, dedicando-se à faina do mar, e que tomou, no decorrer do tempo, vários nomes: chinchorro, companha e sociedade de pesca. Um processo de pesca artesanal que designava uma agremiação formada por sociedades com capitais realizados ou individuais.

FAMÍLIA

A Arte Grande, assente numa técnica com características peculiares (redes e embarcações), é moldada por um tipo humano original que desenvolveu uma forma particular de organização social. O vareiro, a varina e os filhos, compõem uma família que tinha na pesca a sua principal fonte de sustento.

Fábrica de Conservas “Brandão, Gomes & Cª Ldª”

Instalada num terreno pantanoso, a sul do novo aglomerado piscatório, a Fábrica de Conservas “Brandão, Gomes & C.a”, foi fundada pelos irmãos Brandão (Henrique e Alexandre) e pelos irmãos Gomes (Augusto e José, que cedo sairia da sociedade), todos oriundos de Ovar e regressados do Brasil, onde angariaram fortunas consideráveis. Introduzindo os processos e a maquinaria mais moderna, com tecnologia importada (França, Holanda e Alemanha), a Fábrica centrou-se na conserva da sardinha (pois a capturada nas águas de Espinho era tida como excepcional, visto não possuir escamas), mas disponibilizava uma oferta diversificada, que incluía outros tipos de peixes, sopas, legumes, carnes, compotas e refeições preparadas. A energia era fornecida por um motor de explosão a gás pobre, por outro com três caldeiras a vapor e por um dínamo para iluminação eléctrica (em 1897, estavam já instaladas cerca de 150 lâmpadas), empregando um contingente de trabalhadores variável conforme o volume de matéria-prima (entre 300 e 500 pessoas, predominantemente do sexo feminino). Nos primeiros seis meses de laboração, foram produzidas 40 toneladas de produtos, pelo que foi celebrado um contrato, com os Caminhos de Ferro, para o transporte mínimo anual de 70.000 quilos, sendo o seu escoamento dirigido, preferencialmente, para a exportação, onde pontificavam os mercados de África e do Brasil. A sua estratégia de penetração apoiou-se na qualidade e numa campanha publicitária intensiva, a partir da divisa “Melhorando Sempre”, pelo que angariou, em pouco tempo, o reconhecimento público. Em 1895, foi nomeada, por alvará de D. Carlos, fornecedora da Casa Real, “tendo em consideração o seu progressivo desenvolvimento industrial”. Em 1897, o Júri da Classe IV da Exposição Industrial do Porto, atribui-lhe a única medalha de ouro para o ramo conserveiro, e o Governo agraciou-a, um mês depois, com o oficialato da Ordem de Mérito Industrial.
A Fábrica de Conservas “Brandão, Gomes & C.ª”, ao atingir proporções relevantes no mercado nacional, teve uma influência determinante no desenvolvimento de Espinho: absorvia grande parte do pescado, assegurando a sobrevivência de centenas de famílias; criou postos de trabalho, atraindo novos residentes e gerando rendimentos que aumentaram o poder de compra e permitiram consolidar o comércio local; gerou um aumento das receitas fiscais cobradas na freguesia, transformando-a numa das mais rentáveis do concelho da Feira; estimulou o progresso tecnológico, arrastando inovações decisivas como a luz eléctrica, o telefone e o telégrafo; promoveu o nome de Espinho, associando-o ao prestígio da sua marca, pelo que funcionava como cartaz de propaganda turística.

O Reino da Sardinha  



O anúncio luminoso que, no princípio do século vinte, se exibia na esquina do Hotel Bragança (o estabelecimento hoteleiro mais representativo da época) tem um valor simbólico muito forte e foi o primeiro anúncio luminoso eléctrico existente em Portugal, reflectindo, pois, a dimensão da Fábrica de Conservas “Brandão Gomes” como empresa dinâmica que apostava na valorização da sua imagem e não hesitava em recorrer a este expediente publicitário, quando a luz eléctrica dava os seus primeiros passos.
Fundada em 1894 por emigrantes regressados do Brasil (os irmãos Brandão e os irmãos Gomes), a fábrica contribuiu, decisivamente, para a evolução acelerada da popular praia de banhos. No processo de constituição do concelho funcionou como um trunfo decisivo, capaz de convencer o pode instituído e de vencer as resistências, passando a assumir-se como uma força política autónoma, conhecida como o Grupo da Fábrica, que influenciaria os destinos locais nas primeiras décadas de existência como entidade autónoma.
Três anos após a sua criação, a “Brandão Gomes” era agraciada com uma medalha de mérito e incluída na honrosa lista dos fornecedores exclusivos da Casa Real.

Nessa altura, a electricidade não passava de uma novidade reservada aos privilegiados, mas nas suas instalações já trabalhava um dínamo e funcionavam 150 lâmpadas, quando a população se contentava com os candeeiros a petróleo.
Aproveitando a vaga de inovação que se registou em Portugal, quando as rodas hidráulicas foram substituídas pela máquina a vapor, a fábrica contribuiu para alcandorar a lata de sardinha aos lugares cimeiros das exportações, ainda que alargasse a sua oferta para outros alimentos, desde as sopas e os legumes às carnes, aos peixes, aos “pickles”, aos molhos e às compotas. A sua produção diária rondava ao 30 mil latas, a tecnologia era importada da França e da Alemanha, os mercados do Brasil e de África constituíam o destino principal, empregava mais de 300 pessoas e dava-se ao luxo de manter em laboração filiais noutros pontos do litoral (Matosinhos, S. Jacinto e Setúbal).
Como absorvia grande parte do pescado e dava emprego a muita gente, a Fábrica de Conservas contribuía para a sustentação da Vila e ajudava a divulgar o seu nome um pouco por todo o Mundo. Na década de vinte, a chama foi-se apagando e o seu lugar passou a ser ocupado por outro tipo de actividades. Ficou, contudo, presente uma memória tão exuberante como o anúncio que brilhava na frontaria do “Bragança”…
(Hotel Bragança onde hoje é o Aparthotel Solverde)



1870: Por este tempo existia na rua das Estrela, que era uma rua semi-paralela à rua do Areal e ficava a cerca de 200 metros do centro da actual esplanada, uma fábrica de conservas, fundada por um indivíduo de apelido Coelho, que veio a fazer parte mais tarde, da firma «Lopes, Coelho, Dias & C.ª» que montou uma fábrica de Conservas em Matosinhos.

1894: Foi inaugurada por Alexandre e Henrique Brandão, e Augusto José Gomes e dedicou-se não só a conserva de peixe mas também de carnes, sojas, hortaliças, frutas, pickles, azeitonas, azeites, mariscos, etc…

1895: A 20 de Julho o rei D. Carlos assina um alvará nomeando a Fábrica Brandão Gomes & C.ª fornecedora da sua casa Real e dando-lhe o título de «Real Fábrica de Conservas Alimentícias».

Eis o teor do alvará:

«Eu El-Rei faço saber a vós Francisco de Mello, Conde de Ficalho, Par do Reino, Conselheiro d’Estado e effectivo gran Cruz da Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo e de outros estrangeiros, gentil Homem de Minha Real Comarca e meu mordomo Mor: que atentas as circunstâncias que concorreu em Brandão Gomes & C.ª, proprietários da Fábrica a Vapor de conservas alimentícias em Espinho. Conselho da Feira, distrito d’Aveiro, hei por bem e em apaz fazer-lhes mercê de os nomear fornecedores da minha Real Casa dos produtos do seu fabrico, sem vencimento algum pela Fazenda Real e tendo em consideração o progressivo desenvolvimento industrial do referido estabelecimento, sou servido nomeá-la com o título de Real Fábrica de Conservas Alimentícias, gozando de todas as honras e distinções que direitamente lhe pertencem com estes títulos poderão os agraciados colocar as Armas Reais Portuguesas no frontespício da dita fábrica. Em firmeza do que, mandei passar este alvará por mim assinado, que será cumprido como n’elle se contem, sendo registado nas repartições competentes. Paço em 20 de Julho de mil oitocentos e noventa e cinco.»

1901: A «Gazeta de Espinho» na sua edição de 19 de Maio dizia que «tem sido importante a conserva de ervilha naquele estabelecimento industrial» e que já subiam a umas dezenas de contos de reis as importações realizadas daquele género.

1912: Na sessão da Câmara de 10 de Fevereiro foi presente um ofício da Firma «Brandão Gomes & C.ª Lda.», pedindo licença para construir nova fábrica no terreno fronteiro à sua fábrica destinado ao leito das ruas 16, 18, 20 e 22.
Na sessão da Câmara de 21 de Fevereiro foi deliberado não ceder os terrenos pedidos pela firma «Brandão Gomes & C.ª Lda.» para construção de uma nova fábrica, pois tais terrenos destinavam-se às ruas da Vila e prejudicaria «o progresso e aumento da povoação».
Na sessão da Câmara de 16 de Março foi presente um ofício da firma «Brandão Gomes & C.ª Lda.», no qual participava a sua desistência da construção de uma nova fábrica.

1914: A «Gazeta de Espinho» de 9 de Agosto anunciava que tinham suspendido a sua laboração as fábricas de conservas «Brandão Gomes & C.ª» e a Serração de Madeira de Gomes & C.ª

1917: Em sede própria, na rua 19 esquina da rua 18 abriu no dia 24 de Janeiro a nova Cooperativa dos Empregados da Fábrica «Brandão Gomes & C.ª Lda.», sob a gerência de António Gonçalves Rodrigues.

1925: Foi visitada no dia 4 de Setembro pelos ministros do comércio e da Instrução Pública, que se acompanhava duma grande parte da imprensa diária do país.

http://restosdecoleccao.blogspot.it/2012/02/fabrica-brandao-gomes-c.html

Fábrica Brandão, Gomes & Cª

A indústria conserveira em 1917 é dominada pelas duas maiores empresas conserveiras do país: a “João António Júdice Fialho” de Portimão com oito fábricas no Algarve, em Peniche e na ilha da Madeira, e a “Brandão, Gomes & Cª”.

A “Brandão, Gomes & Cª, foi fundada em 1894 por  Alexandre e Henrique Brandão, e Augusto José Gomes, todos regressados do Brasil . A 20 de Julho de 1895 o rei D. Carlos assina um alvará nomeando a “Fábrica Brandão Gomes & C.ª” fornecedora da sua casa Real e dando-lhe o título de «Real Fábrica de Conservas Alimentícias». Nas décadas seguintes esta sociedade, à semelhança da outra grande empresa conserveira a “João António Júdice Fialho” de Portimão, criou outras novas unidades produtivas situadas em localidades com porto de pesca.

Fábrica de conservas “Brandão, Gomes & Cª”

No início da I Guerra Mundial o universo da “Brandão, Gomes & Cª”, contava com as seguintes unidades fabris:

Fábrica de Espinho, em Espinho fundada em 1894 
 

Fábrica de Matosinhos, em Matosinhos fundada em 1903 
 

Fábrica de S. Jacinto, em Aveiro fundada em 1910 
 

Fábrica de Setúbal, em Setúbal fundada em 1913

A “Brandão, Gomes & Cª”, também dispunha do seu próprio fabrico de latas e embalagens, integrado numa secção da fábrica de Espinho, a qual fornecia as outras unidades fabris da empresa. A sua produção diária rondava ao 30 mil latas, a tecnologia era importada da França e da Alemanha, os mercados do Brasil e de África constituíam o destino principal, empregava mais de 300 pessoas e dava-se ao luxo de manter em laboração filiais noutros pontos do litoral (Matosinhos, S. Jacinto e Setúbal).

Com o aparecimento da folha-de-flandres, passaram a fabricar-se embalagens nesse material, muito mais leve e versátil do que aqueles até aí utilizados.

Na fábrica, as operárias procediam às operações de descabeçar e esviscerar o peixe que seguia depois para os pios da salmoira onde ficava o tempo necessário. Seguidamente o peixe era frito em azeite ou óleo, enxugado, e embalado em latas cujo tampo era soldado.

Uma evolução importante na indústria das conservas consistiu na alteração do processo de fritura para o da cozedura em que o peixe passou a ser literalmente cozido no vapor. Depois de amanhado seguia em grelhas para os cozedores ou cofres onde era submetido ao vapor. No fim da linha de produção, após o enlatamento, as conservas eram esterilizadas a uma temperatura superior a 100ºC, em autoclaves de vapor alimentados por enormes caldeiras com fornalha de lenha.

A introdução da máquina de cravar tampas nas latas, a cravadeira, veio aumentar a capacidade produtiva embora tenha gerado grande perturbação e o desaparecimento dos soldadores, até então a profissão melhor remunerada desta indústria.

Nas épocas de maior movimento trabalhavam na fábrica de Espinho cerca de 400 operários, com particular saliência para raparigas menores e sem qualquer escolaridade. Em 1910, apenas 25 dos seus trabalhadores sabia ler. Tinham na sua maioria uma origem piscatória e, no caso das mulheres e raparigas, a retribuição monetária era destinada a complementar os rendimentos dos respectivos agregados familiares

O processo de fabricação da conserva cumpre as seguintes fases: recepção do peixe; descabeço/evisceração; lavagem, salmoura; engrelhamento; secagem; cozedura; enlatamento; azeitamento; cravação; lavagem; verificação; embalagem; armazenamento.

A antiga fábrica de conservas “Brandão, Gomes & Cª.” deu lugar ao Fórum de Arte e Cultura de Espinho, onde em parte das antigas instalações da fábrica está alojado o Museu Municipal de Espinho.

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