BERNARDO MARQUES
Portuguese magazine Panorama 1949 – número 39
Portuguese magazine Panorama 1949 – número 39
Portuguese magazine Panorama Junho 1942 – número 9 – volume 2
Portuguese magazine Panorama Junho 1942 – número 9 – volume 2
Anúncio I.P.C.P. Instituto Portugues de Conservas de Peixe na Revista Panorama
Anúncio I.P.C.P. Instituto Portugues de Conservas de Peixe na Revista Panorama
Portuguese magazine Panorama Abril 1942 – número 8
Portuguese magazine Panorama Abril 1942 – número 8
BERNARDO MARQUES – Apareceu na cena das artes plásticas de Lisboa, nos anos 20. Partilhou as mesmas inquietações e linguagens estéticas da segunda geração modernista. Quem lhe estudou a obra e os caminhos trilhados descreve-o como um homem afável, discreto, atento ao que se passava e profundamente envolvido com o seu trabalho. Se não lhe encontrava “piada” bloqueava ou esgotava-se em esboços rejeitados.
Grande parte da sua obra ficou dispersa pela imprensa periódica – então, um território em expansão acelerada e mais favorável aos novos. Entrou pela porta do humorismo, mas a sua produção mais inovadora desenvolveu-se no campo da ilustração e das artes gráficas. Um percurso que o levou à direção artística de algumas publicações conceituadas. De qualquer forma a obra que Bernardo Marques (BM) realizou ao longo de quarenta anos não ficou limitada ao universo dos jornais e revistas. Também expôs, ainda que nunca o tenha feito individualmente, ilustrou livros e realizou atividade como decorador, figurinista e cenógrafo.
Nesta pequena nótula biográfica, procurou-se, fundamentalmente, refazer o trajeto de BM na imprensa, evocando os periódicos onde colaborou, os projetos em que se empenhou e os artistas que o acompanharam. Um exercício de síntese, mas que não poderia deixar de aludir ao contexto desse percurso.
Nascido em Silves, Algarve, a 21 de Novembro de 1898, BM veio para Lisboa fazer estudos superiores em literaturas românicas, no ano de 1918. Tempo de rescaldo da Grande Guerra, marcado por uma profunda divisão da sociedade portuguesa – com tradução na decomposição partidária, na instabilidade governativa e na agitação social -e por uma crise financeira agravada. A 14 de Dezembro foi assassinado Sidónio Pais, o “Presidente Rei” da República Nova, em torno do qual se reuniam as esperanças de refundação do regime (até ali de base parlamentar) e de renascimento da nação. Do crime resultou um novo herói e consolidou-se a convicção no nacionalismo autoritário como solução para o país. Novos movimentos e novos partidos imediatamente se propuseram para dar continuidade à obra inacabada de Sidónio. A atividade política recrudesceu.
Aluno da Faculdade de Letras, que ao tempo partilhava as instalações da Academia de Ciências, no Convento de Jesus, BM logo contactou com os polos mais dinâmicos da capital: o Bairro Alto, com os seus jornais e tipografias; o Chiado, com os cafés, as livrarias, as salas de espetáculo, as lojas “chics”, a Escola de Belas-Artes; o Rossio e o Terreiro do Paço, etc. O jovem estudante, guiado pela sua personalidade afável e expectante, não teve dificuldade em integrar-se nessa vivência urbana fervilhante, montra de novidades e plataforma incubadora de ideias e movimentos. Em Julho de 1920, já fazia parte do grupo de artistas que pôs de pé, no Teatro de São Carlos, o 3º Salão dos Humoristas Portugueses.
O Salão foi, desde a sua primeira edição em 1912, uma das primeiras manifestações artísticas de inspiração modernista com um acolhimento positivo do público e da crítica. Mas continuava à margem da programação oficial, dominada por um academismo conservador, fiel à estética naturalista e zeloso da “autoridade” que detinha. A organização do Salão dependia, em exclusivo, da capacidade organizativa dos próprios artistas e de alguns, beneméritos. Este desenquadramento institucional será, portanto, um elemento a ter em conta na análise da simbiose registada entre os “dissidentes” do campo cultural e político. De facto, da exigência partilhada de rutura com o instituído e da ideia comum de promover um renascimento da nação, como unidade resultante da síntese de todas as vontades, resultou um momento de reconhecimento mútuo e um campo de possibilidades “cooperativas”, que registaria níveis de concretização variáveis.
O sucesso do evento também encontrava justificação na popularidade que o humor gráfico detinha, desde o tempo das caricaturas de Rafael Bordalo Pinheiro, e na visibilidade que gozava na imprensa. Esse contacto diário, através dos jornais e revistas, permitiu que o público acompanhasse a evolução da arte, familiarizando-se com a transferência do seu centro de interesses da política para a sociedade e os seus costumes e com as novas linguagens estéticas. (1)
Tal como nos anos anteriores, o Salão foi notícia nos principais jornais e nas revistas ilustradas. A Ilustração Portuguesa, uma das mais populares, dedicou-lhe algumas páginas, ilustradas com fotografias dos artistas e reproduções dos trabalhos expostos, entre os quais figuram duas ilustrações da autoria de BM: «A dança maldita» e «A tia Anica», nas quais já se adivinha o gosto por explorar a figura humana, sobretudo a mulher, definida a partir de texturas, padrões e poses que denunciam estados de alma e sociabilidades. (2)
É surpreendente a velocidade com que a produção artística de BM se desenrola pelas páginas da imprensa daí em diante. Em Setembro, tornou-se colaborador da ABC. Revista Portuguesa, lançada por Rocha Martins (1879- 1952) por altura do Salão. E em Novembro, quando a Ilustração Portuguesa publicou os resultados do seu inquérito sobre «Quem frequenta o café», BM foi um dos artistas convidados a ilustrá-lo. Neste caso, é mais evidente o traço do caricaturista e também já se revela a sua sensibilidade gráfica precoce ou vocacional. O boneco que representa «um tipo conhecido e popular» no universo dos cafés, de cigarro na mão e perfil intelectual, define o eixo vertical da página, como se de um filete se tratasse. Apresenta-se solto na página, sem qualquer moldura.
1 Para um conhecimento mais detalhado sobre os salões humoristas poderá consultar o dossier que foi preparado por ocasião do centenário do 1.o Salão, que se encontra acessível na Hemeroteca Digital, em: http://hemerotecadigital.cm- lisboa.pt/EFEMERIDES/HUMORISTAS1912/GuiaoSalaoHumoristas1912.pdf
2 Cf. n.o 752, de 19/Jul/1920, pp. 41 e 42.
E com o seu corpo excessivamente longo, anguloso e levemente debruçado, modela a disposição do próprio texto. (3) A forma estilizada distingue-o de outras caricaturas do autor, mais burlescas, ostensivamente desconjuntadas, com pés e mãos desmesurados, executando movimentos imponderáveis. Figuras mais comuns nos jornais e, portanto, expressão de um comentário atualizado, vinculado ao presente, mas sempre desfulanizado. Os diferentes estilos coexistem durante os primeiros anos, mas a evolução foi no sentido da estilização.
A 9 de Janeiro do ano seguinte (1921), o Século anunciava na primeira página: «Veja-se, hoje no «Seculo» Edição da Noite a primeira página semanal de crítica dos acontecimentos por João Verdades (texto) e Bernardo Marques (caricaturista).» A parceria não passou de um ensaio, porque a greve dos tipógrafos manteve a edição da noite suspensa até maio. (4) Mas a partir de Junho, a edição matutina inaugura a «Página de Domingo», secção humorística, a cargo de BM. O que não o impede de manter uma colaboração mais ou menos regular com o ABC A RIR, o Diário de Lisboa e A Batalha.
A partir de Outubro, com a entrada de António Ferroi para a direção da revista Ilustração Portuguesa, a presença de BM tornou-se mais assídua e interveniente. Foi um dos artistas convidados a colaborar na modernização da revista, tal como Jorge Barradas, Stuart Carvalhais, Francisco Franco, Diogo Macedo, Almada Negreiros, António Soares, Cottinelli Telmo e Rocha Vieira. Como Ferro explicou em entrevista, nas suas linhas gerais, o “seu” programa era comum ao grupo do Século e tinha por objetivo: «Integrar Portugal na Hora que passa». Propósito que, interpretado à luz das ideias políticas que vinha defendendo publicamente, tinha implícita a instituição de um Estado filiado na matriz nacionalista autoritária, à semelhança dos que se iam esboçando na Europa.
No caso particular da revista, a estratégia passava «por mostrar Portugal aos portugueses», reinventando-o a partir das suas tradições: «… nas nossas danças populares, nos nossos trajes regionais, nos nossos costumes, temos matéria prima para estilizações admiráveis, temos tintas de sobra para um grande cartaz a pôr na Europa, a pôr no mundo». (5)
Do ponto de vista ideológico, revelava-se uma estratégia integradora, no sentido em que procurava integrar o individuo na nação e nas realidades em que se decompunha, como a região, o concelho, o bairro ou a família. Incorporava também outros valores, nomeadamente o da ordem, o da hierarquia ou o do trabalho. E fora delineada a pensar nas classes médias e altas urbanas, onde os valores do individualismo, em estreita articulação com o racionalismo, a democracia, estavam mais enraizados; o seu viver citadino e posição social, também os levava olhar com desdém para as tradições e a adotar as “modas” que vinham do estrangeiro (França, sobretudo).
3 Cf. n.o 770, de 22 de Novembro, p. 324-327. Acessível na Hemeroteca Digital.
4 Concretizou-se uma única vez, na edição de 16 de Janeiro, apresentando o sugestivo título «De ponta e mola».
5 Cf. n.o 816, de 8 de Outubro de 1921, pp. 232-234.
Consciente de que no plano político a indefinição ainda era muita e, simultaneamente, que o seu projeto modernista iria encontrar resistências, António Ferro comprometia-se a orientar a revista para o público em geral, mantendo-a aberta a todas as estéticas. De momento, interessava-lhe sobretudo inculcar valores e, consequentemente, atrair «todos aqueles que dizem mal do que está feito».
O traço elegante e plástico de BM, bem como a sua criatividade gráfica, correspondiam perfeitamente ao projeto de António Ferro. É inegável que o rejuvenescimento que a Ilustração Portuguesa então conheceu se ficou a dever em grande parte ao trabalho do artista gráfico, Bernardo Marques. Foi particularmente feliz e inovador nas paginações que articulam texto-ilustração- fotografia, além de beneficiarem da presença de uma segunda cor, forte. A técnica foi sendo desenvolvida e aplicada a diferentes assuntos. Desde o escândalo político, «O CASO DOS 50 MILHÔES DE DÓLARES», no qual as ilustrações propõem uma narrativa interpretativa da sequência fotográfica (6); ao acontecimento desportivo, «OS DESAFIOS DE FOOT-BALL EM PALHAVû, onde a ilustração cumpre uma função meramente decorativa (7); ou na abordagem da cidade, em que a ilustração serve para caracterizar o tecido social de cada bairro ou zona, como na série «À DESCOBERTA DE LISBOA NO ANO 1921» (8) e na peça autónoma «CHIADO ÀS CINCO» (9). Folheando a revista encontram-se muitas outras composições e também a ilustração “clássica”, isto é, aquela que traduz uma ideia ou imagem sugerida por um texto em prosa ou verso.
A partir do segundo semestre de 1922, o envolvimento de BM com a Ilustração Portuguesa afrouxou, acabando por tornar-se circunstancial. Com a partida de António Ferro para o Brasil, em Julho, a revista optou por retomar a sua antiga linha editorial, numa tentativa de recuperar os leitores que se tinham afastado, desgostados com sua aposta no modernismo literário e artístico. (10)
BM aproveitou esta disponibilidade acrescida para iniciar novos projetos, uns da sua iniciativa, outros em resultado de encomendas e convites. Num país praticamente sem mercado de arte e onde as poucas instituições votadas à cultura se mantinham fechadas num academismo autista e cego aos novos movimentos, um artista novo não podia ficar parado. Centenas de jornais e revistas, com periodicidades e tipologias variadas, eram publicadas em Lisboa e precisavam de caricaturas, ilustrações e trabalho gráfico. A publicidade que se fazia nessas publicações, mas também de forma autónoma (cartazes, folhetos, etc.) e a edição livreira constituam outras bolsas de oportunidade, em franca expansão.
6 Cf. n.o 815, de 1 de Outubro, pp. 220-221.
7 Cf. n.o 818, de 22 de Outubro de 1921, pp 288-289.
8 No total são 7 reportagens. Bernardo Marques foi o único ilustrador participante. Trabalhou os casos da Mouraria (II), do Bairro de São Domingos (III) e da Praça da Figueira (V), nos n.os 818, 820 e 822, respetivamente. As restantes reportagens, só se incluem fotografias e a diferença de resultados é evidente.
9 Cf. n.o 821, de 12 de Novembro de 1921, pp. 360-361.
10 No n.o 855, de 8 de Julho, de 1922, no espaço dedicado ao editorial a direção da publicação apresentou o seu mea culpa pelos excessos cometidos, reconhecendo que a sociedade ainda não estava sintonizada com as «arrojadas concepções» modernistas.
Era preciso estar atento ao que se passava, dar largas à imaginação e ao lápis e levar o resultado desses exercícios às redações, às editoras e empresas, alimentar uma infinidade de contactos e, simultaneamente, manter uma disponibilidade total e o bico afiado e pronto para dar rápida resposta a qualquer desafio que emergisse no horizonte. Daí a colaboração de BM com um número significativo de publicações, de natureza muita diversa, até do ponto de vista ideológico e político.
O ritmo de trabalho era marcado pela inconstância, hoje hilariante, quase inerte amanhã. No final de 1922, talvez BM se sentisse irmão de fortuna d’ «OS MALTEZES» (11), que tão expressivamente retratou e a Contemporânea publicou, em Dezembro. (12) Esta sua presença na revista dirigida por José Pacheko, em volta da qual os novos se reuniam e congeminavam as suas performances, não teve outros episódios, mas dá testemunho das suas cumplicidades artísticas e humanas. Igualmente residual foi a sua presença naRevista Portuguesa (em 1923) e no Sempre Fixe (em 1927).
A partir de 1925 o panorama animou-se, a julgar pelo que chegava às páginas de jornais e revistas. Nesse ano, começou a assegurar uma crónica gráfica no Diário de Notícias, os «Domingos de Lisboa», que se manteve até 1929. Também colaborou com o Notícias Ilustrado (entre 1929 e 1931). Para a revista Civilização (entre 1928 e 1929) ilustrou muitas capas, cheias de movimento e cores fortes, como aquela decorada com uma dançaria de folclore, sofisticada, envolta na agitação das saias sobrepostas.(13) Para a mesma publicação ilustrou textos, fez humor e concebeu páginas publicitárias para a «Toddy» (14) e para o «Calçado Elite»(15). Outros artistas que intervieram na Civilização foram: Emmerico Nunes, Humberto Guerreiro, Jorge Barradas, José Pacheko, José Tagarro, Lino António, Maria Adelaide Lima Cruz, Marimília, Roberto Nobre, Sara Afonso e Stuart Carvalhais.
A sua colaboração com a revista Ilustração remonta a 1926, quando desenhou ao “pontes transoceânicas” idealizadas por Reinaldo Ferreira (16). Mas foi em 1931, durante os meses em que a direção da publicação esteve nas mãos de António Ferro, que se tornou mais regular. No final dos anos 20, a sua produção para a imprensa especializada em cinema, que se ia tornando um fenómeno de massas, também atingiu alguma expressão, nomeadamente nas revistas Imagem (1.a e 2.a edições, de 1928 e 1930-31), Kino (1930-1931) e Girassol (1930-1931).(17)
Na década de 30, a relação de BM com a imprensa quase se extinguiu. António Ferro, quando assumiu a direção do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), em 1933, não dispensou a sua colaboração. Além da amizade que os unia, BM era um dos artistas plásticos em que mais confiava para conciliar a tradição com a modernidade. A atividade de BM esteve então mais centrada na área das exposições. Em equipa com Fred Kradolfer, Botelho, TOM, Paulo Ferreira, José Rocha, Emmerico Nunes e outros, BM encarregou-se da decoração dos pavilhões portugueses presentes nas exposições internacionais de Paris (1937), de Nova Iorque (1939), de S. Francisco (1939) e na Exposição do Mundo Português, em Lisboa (1940).
11 Maltês era o nome dado aos trabalhadores agrícolas temporários, que deambulavam de terra em terra em busca de sustento; por força dessa espécie de nomadismo o nome maltez adquiriu o significado pejorativo de vadio e ocioso.
12 Cf. n.o 6, de Dezembro de 1922.
13 Cf. n.o 14, de Agosto de 1929.
14 Aparece pela primeira vez no n.o 3, de Setembro de 1928.
15 Aparece no n.o 6, de Dezembro de 1928.
16 Cf. n.o 22, de 16 de Dezembro, p. 28-29.
17 A primeira está disponível na Hemeroteca, a partir da 2ª série.
Em 1941, quando o SPN lançou a revista Panorama (1ª série, 1941-1949), BM assumiu a sua direção artística. Trabalharam com ele: Ofélia Marques, Paulo Ferreira, Sara Afonso, Almada, Botelho, Emmerico, Dórdio Gomes, Maria Keil, TOM e outros. A sua intervenção é reconhecível no equilíbrio da mancha gráfica de cada número, página a página, articulando ilustrações (pictóricas e gráficas), fotografias, textos e cor. Um exercício ensaiado, anos antes, na Ilustração Portuguesa, agora mais apurado ainda. Pontualmente, ao dobrar uma página vislumbra-se o seu traço de ilustrador, que vai ganhando em suavidade, em poesia, o que perde em exuberância. A varina elegante, colorida a vermelho e azul, que fez a capa do primeiro número, é da sua autoria. Também desenhou publicidade para as «lâmpadas Philipps» (no 5/6), a pastelaria «Bernard» (n.o 3), as «Conservas I.P.C.P.» (nº 8), a «Fotografia Nacional Lda» (nº 11) e os «Perfumes Piver» (nº 13). Posteriormente, ocupou funções idênticas na revista Litoral (1944-1945) e na Colóquio (de 1959 até à sua morte).
Por fim, não podemos deixar de referir a sua colaboração com a Revista Municipal, da Câmara Municipal de Lisboa, a partir de 1943. Embora esparsa e de alguma forma redundante (BM concebeu a linha gráfica de duas secções presentes em todos os números), essa produção indicia o sentido da evolução que marcou a fase final da sua obra: a transferência do interesse pela figura humana para a paisagem. A imagem de Lisboa que BM recria na Revista Municipal e em outras publicações já referidas é a de uma cidade que vive num presente adiado ou num passado ressuscitado, que se projeta nos trajes e nas poses dos raros personagens que vagueiam por miradouros, praças e jardins. Provavelmente, por esta altura, BM já se desiludira sobre a bondade e a modernidade da “hora oficial”.
Rita Correia
Lisboa, 3 de Setembro de 2012
BIBLIOGRAFIA:
FRANÇA, José-Augusto, «A Arte e a Sociedade Portuguesa no Século XX.
Lisboa: Livros Horizonte, s.d.FRANÇA, José-Augusto, Os Anos Vinte em Portugal. Lisboa: Editorial Presença, 1992.
LEAL, Ernesto Castro Leal – «António Ferro. Espaço Politico e Imaginário Social (1918-32)». Lisboa: Edições Cosmos, 1984. ISBN 972-8081-33-2.
MENDES, Manuel, «Bernardo Marques – O Ilustrador», in Colóquio, n.o 23, Abril de 1963, pp. 33-40.
«Bernardo Marques, 1898-1998. Obra Gráfica», catálogo da exposição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, Novembro de 1998-Janeiro 1999, ISBN 972- 635-114-6.
«Bernardo Marques: desenho e ilustração, anos 20 e 30», catálogo da exposição. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Junho de 1982
António Ferro (1895-1956) – Nasceu em Lisboa. Foi escritor, jornalista, diretor de alguns periódicos e dirigente do Estado Novo. Como escritor ficou ligado às primeiras manifestações do movimento modernista em Portugal, e às revistas Orpheu e Portugal Futurista. A sua intervenção na imprensa é indissociável da atividade política, no momento em que se formulam varias propostas assentes no princípio do nacionalismo autoritário, como alternativa ao modelo demo-liberal adotado pela República. Colaborou com os principais jornais (Século, Diário de Lisboa, Diário de Notícias, etc.) e revistas (Ilustração Portuguesa, Atlântico, Panorama…) de maior implantação à época e, através deles, divulgou as soluções autoritárias que se iam concretizando na Europa, Itália, Espanha e Alemanha. A partir do nacionalismo revigorado que marcou a época, desafiou os artistas e intelectuais das novas gerações a criarem novos modelos estéticos e culturais que harmonizassem a modernidade com a tradição portuguesa. A partir do 28 de Maio de 1926, conheceu uma rápida aproximação ao poder. Em 1932, realizou as entrevistas que projetaram a figura de Oliveira Salazar como o líder certo para instituir a ordem necessária ao progresso do país. Um ano depois, assume a direção do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), organismo encarregado da política de informação, (interna/externa) do Estado Novo. Um poderoso aparelho de dominação ideológica. Do choque entre a sua paixão modernista com o conservadorismo “chefe” do governo, terá resultado o seu afastamento do Secretariado Nacional de Informação (SNI), em 1949. Ainda ao serviço do regime, foi orientado para atividade diplomática. Dedicou-se também à poesia. Morreu em Lisboa, no ano de 1956.