Artigo "Uma Fábrica de Conservas Moderna"

Revista Conservas de Peixe, ANO I, Setembro 1946 Número 6

ARS Arquitectos - Porto

1 – Átrio;  2 – Público; 3- Telefone; 4- P. B. X.; 5 – Espera; 6 – Gerência; 7- Expediente; 8 – Salão de reuniões; 9- Arquivo; 10- Sanitários; 11- Ponto; 12 – Refeitório; 13 – Cozinha; 14- WC e balneário (homens); 15- WC e balneário (mulheres); 16 – Canais “Masso” de evisceração; 17- Transportador; 18- Túneis de lavagem; 19- Cozedores “Masso”
20- Canal de arrefecimento; 21- Mesas rotativas de enlatamento; 22- Cravação; 23- Esterilizadores; 24- Lavagem; 25- Verificação; 26- Embalagem; 27- Cai de expedição; 28- Depósito de molhos; 29- Depósito de vazio; 30- Oficinas; 31- Central eléctrica; 32- Caldeiras; 33- Alpendre de serviço; 34- Garagem; 35- Recepção de peixe

Até ainda há bem pouco tempo ninguém se preocupava com o desenvolvimento racional das instalações para uma Fábrica de Conservas.

Erguiam-se barracões mais ou menos, amplos semeados de pilares, instalavam-se lá dentro o maquinismos, irremediavelmente condicionados à rigidez, dos apoios intermédios e à indisciplina da construção, desprezando em absoluto as exigências do fabrico.

Grande parle das actuais Fábrica de Conservas ainda é caracterizada por uma certa desordem perturbadora na sucessão natural das diferentes fases da produção.

A disposição desastrada dos edifícios e dos acessos interrompendo a continuidade das operações, só serve de pretexto a incontroláveis passeios do pessoal e a longos percursos, e sem vigilância na circulação das matérias primas e dos produtos, diminuindo o rendimento dos maquinismos e aumentando a fadiga dos, operários.

Uma regra se pode opor a esta desordem coordenando todas as coisas no tempo e no espaço – O FUNCIONAMETO EM CADEIA – como verdadeiro sistema imposto ao fabrico para manter a continuidade e contiguidade das operações e solidarizar toda, as suas fases.

A sequência das operações ordenada segundo uma linha contínua, verdadeira via de transporte em sentido único, desde a entrada das matérias primas passando pelos locais de preparação, onde se ramifica de modo a servir cada máquina, até ao armazém dos produto, terminados e de expedição, reproduz as fases dum circuito sanguíneo num corpo organizado.

Ficamos assim longe da confusão pelo entrecruzamento e sobreposição da circulação dos produtos dos operários e dos quadros. A juntar a esta disposição racional há que ter em consideração o progresso realizado no equipamento industrial nos últimos anos, -no sentido de se obter maior produção por unidade de tempo sem prejuízo da qualidade do produto .

Citaremos em especial os canais de evisceração, os cozedores aero térmicos de funcionamento contínuo e respectivo canal de arrefecimento e secagem, e as mesas rotativas de enlatamento, maquinismos com que estão já equipadas algumas fábricas modernas.

Uma fábrica dotada destes elementos está em condições de fabricar ininterruptamente, sem falhas na sucessão das operações.

Quase que se pode afirmar que a existência destes maquinismos veio revolucionar a indústria de conservas, permitindo a harmonia na coordenação dos movimentos, circuitos e aplicação do trabalho, factor de considerável importância e eficiência na produção. Também a higiene e o aspecto não só dos locais do fabrico como das instalações do pessoal, são hoje objecto de louvável preocupação dos modernos industriais.

Trata-se de cercar o trabalho das condições normais da natureza, de Sol, espaço e limpeza, como meio natural que preside à longa e minuciosa formação do ser humano.

Só assim se conseguem transformar radicalmente as condições de trabalho, d’ando conforto e uma certa alegria a esta parte mais longa e mais dura da vida.

A todos estes factores, ideias e regras se tem de atender na elaboração dum projecto para uma fábrica de conservas moderna para rasgar novos horizontes à produção desprezando os usos rotineiros.

De acordo com estes princípios se elaborou o desenho que a gravura representa, que, como se verifica, não tem a pretensão de ser um projecto, mas sim um esquema, estrictamente funcional da parte mais importante duma Moderna Fábrica de Conservas.

À roda desta zona gravitam todas as secções subsidiárias que não vale a pena enumerar por serem do conhecimento geral.

Adoptá-lo é uma questão de ética, uma decisão de espírito, a aceitação dum ponto de vista.

Os meios estão todos ao alcance e à disposição de quem queira elaborar o plano.

ARS – Arquitectos

PORTO

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