A PRODUÇÃO DA “PARIS DOS TRÓPICOS” E OS MEGAEVENTOS NO RIO DE JANEIRO NO INÍCIO DO SÉCULO XX

1. Exposição Nacional de 1908

Concebida em comemoração ao centenário da abertura dos portos brasileiros nações amigas, a Exposição Nacional de 1908 foi organizada pelo governo federal, pelos estados brasileiros participantes, pelas associa..es comerciais, agrícolas e industriais (Fabian & Rohde, 2007). O intuito maior era o de mostrar ao pa.s e ao mundo um Rio de Janeiro moderno (agora sem grandes resqu.cios da cidade colonial) em função das reformas da cidade e sua europeização e, ao mesmo tempo, um Brasil republicano, em progresso e civilizado. Portanto, as id.ias de civilidade, progresso e modernidade, almejadaspela jovem nação republicana, marcaram a Exposição Nacional de 1908 no Rio de Janeiro.

A realização da Exposição Nacional de 1908 contou com a criação de um espaço para abrigar diversos pavilhões monumentais, cada um representando os estados brasileiros, exceto um pavilhão, o português (fig. A convite do Presidente Afonso Pena, Portugal foi o .nico pa.s participante da Exposição de 1908 e teve, assim, o seu próprio pavilhão, cedido pelo governo brasileiro (Pesavento, 1997).

Fabio Silveira Molina

PORTUGAL NA EXPOSIÇÃO NACIONAL DO RIO DE JANEIRO EM 1908

– SIGNIFICADOS E INTENÇÕES –

DISSERTAÇÃO PARA MESTRADO EM RELAÇÕES HISTÓRICAS PORTUGAL, BRASIL, ÁFRICA E ORIENTE

Regina Maria Seixas dos Santos

FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO  1999

4.4 – O CATÁLOGO

Um catálogo organizado e elaborado por Cincinato da Costa dá-nos a ideia de como a nossa secção foi organizada, os artigos expostos, o endereço dos seus fabricantes e as recompensas por eles obtidas em anteriores exposições. Os Catálogos são importantes meios de divulgação das exposições. Exposições e catálogos traduziam a imagem que cada nação idealizava para si própria e pretendia transmitir. Assim, os nossos produtos foram divididos por sete secções. A primeira delas foi dedicada à agricultura; a segunda às minas; a terceira à indústria; a quarta às belas-artes; a quinta à arte aplicada; a sexta à higiene e assistência, e por fim, a sétima e última secção, mostrava obras científicas, literárias, mapas e colecções de estudo.

Houve desde logo, a preocupação da comissão organizadora de evidenciar aquilo que Portugal na realidade possuía; enfim mostrar-se o país real, aquilo que produzíamos e que fornecíamos com as nossas capacidades e normais condições de trabalho. Queria-se demonstrar aos brasileiros, aos nossos emigrantes e ao mundo inteiro, que em Portugal já se iam produzindo algumas coisas de boa qualidade e que havia perseverança, tenacidade, inteligência, trabalho assíduo, dedicado e orientado por critérios práticos derivados dos progressos da ciência. Pretendia-se fazer crer que tínhamos motivos de sobra para nos orgulharmos, não só do nosso passado histórico, mas sobretudo também agora de um presente, a partir do qual e graças às nossas capacidades de trabalho, tentaríamos conquistar de novo o respeito das outras nações, algo abalado pelo ultimato inglês.

Em todas as secções se procurou fazer uma síntese daquilo que entre nós se produzia. Dizia-se que todas as secções estavam bem representadas, mas que sem dúvida a mais variada e numerosa em termos de produtos e informações expostos seria a da agricultura, o que também não era de espantar, visto ser esta actividade, a mais importante e desenvolvida no país e aquela que empregava a maior parte da população.

Este catálogo, tal como a Exposição, estava dividido por secções; sete ao todo, e, cada uma delas, tinha uma breve notícia descritiva para que o visitante se pudesse interessar e aproximar mais de tudo quanto Portugal produzia, para assim se dar uma ideia das condições em que se trabalhava no nosso país.

Mas, antes de nos pronunciarmos com maior ou menor detalhe sobre cada uma dessas secções, aludiremos mais uma vez, que, a tudo convinha dedicar atenção, para nos aproximarmos cada vez mais do Brasil e estreitarmos as nossas relações, no intuito de concretizarmos os nossos desígnios. Neste mesmo catálogo eram bem visíveis tais desejos, ao congratu-larmo-nos com tudo o que de bom iria acontecer a esta nação, a partir do dia da inauguração da sua Exposição. Mencionava-se que ela traria consigo, muitos triunfos e glórias para os nossos irmãos brasileiros e Portugal vibraria intensamente com tudo isto, comungando de todas estas vitórias, rejubilando com elas.

«Associando-se á sua festa nacional, comemoração de uma era notável para o desenvolvimento e grandeza commercial do Brazil, Portugal presta a sua mais rendida homenagem á grande e florescente Nação Sul-Americana, agradecendo-lhe o cordeal acolhimento que quiz dar-lhe, o qual estreitará, por certo, ainda mais, os laços de velho parentesco e de amistosas relações, que de há muito unem, entre si os dois povos.»

Tal como todos os discursos de amizade e fraternidade entre países, também este visava muito para além destes desideratos, como muito bem sabemos e já demonstrámos.

Voltando às secções e à primeira delas, divisa-se que servia desde logo para propagandearmos os nossos produtos, no caso os nossos famosos vinhos, conhecidos em todo o mundo, mencionados, apreciados, louvados e ganhadores de prémios em anteriores exposições a que concorriam. Apontavam-se também as treze regiões vinícolas do continente e ilhas: Entre Douro e Minho, Trás-os-Montes, Douro, Beira Litoral, Bairrada, Beira Alta, Dão, Beira Baixa, Estremadura, Bacia e Litoral do Tejo, Alentejo, Algarve, Açores e Madeira. Nomeavam-se as cinco principais classes em que os vinhos se dividiam: vinhos generosos e licorosos; vinhos comuns, genuínos, de pasto ou de consumo directo; vinhos de lote; vinhos espumosos; vinhos de caldeira, de queima ou próprios para destilação. Salientava-se o aumento das plantações e da produção, já que a preferência pelos nossos vinhos em todos os mercados de consumo era um facto. E esta ia indubitavelmente para o nosso vinho do Porto. Também os vinhos da Madeira eram mundialmente famosos e faziam parte da primeira categoria. Cincinato da Costa realçava que todos eles tinham um alto valor oenologico, não havendo por isso o receio de serem postos em confronto com os mais célebres vinhos do mundo, porque nenhum os excedia em aroma, sabor, virtuosidade e flavor. Os Moscatéis também eram muito saborosos.

Aproveitava-se para publicitar outros tipos de vinho, como os vinhos verdes do Minho ou os vinhos de Colares, Bucelas, Torres Vedras, entre outros, que eram considerados excelentes vinhos de mesa. Promoviam-se os vinhos de lote, referindo-se que vinham merecendo as melhores referências, servindo para a preparação de outros, destacando-se a sua harmonia, dado o equilíbrio de todas as substâncias que os compunham. Mais uma vez, daqui se volta a inferir da importância dos trabalhos a nível científico e dos aturados esforços para conseguir atingir estes níveis de superior qualidade. Era o triunfo do trabalho, da Ciência, para o bem da humanidade. Era a tal fé nas possibilidades destes, enfim nas capacidades do Homem, para a prosperidade universal, tudo aquilo em que os positivistas acreditavam

Os vinhos espumosos também não fugiam à regra, mencionando-se que eles atingiam já uma certa cotação nos mercados de consumo. Voltavam a frisar-se recompensas obtidas por estes vinhos em anteriores exposições e que eram muito vendidos no Brasil e também na Inglaterra, dada a perfeição do seu fabrico, a sua pureza e o preço acessível a que era posto à venda, o que constituía um convite a uma maior exportação.

Mesmo aqueles vinhos que praticamente não tinham qualquer cotação, não passavam despercebidos nesta Exposição, pois serviam para outras finalidades, como por exemplo fazer uma boa aguardente.

Se em alguns anos, a exportação de vinhos para os mercados do Brasil e da Inglaterra, os nossos principais mercados de consumo vinícolas, era menor, havia sempre uma justificação a dar, como o facto dos nossos vinhos terem sido preteridos por imitações estrangeiras dos nossos vinhos do Porto e da Madeira, para prejuízo não só dos nossos produtores, mas também dos consumidores, já que estavam a comprar vinhos de inferior qualidade. E, como no capítulo precedente tivemos ocasião de mencionar, isto (as imitações) ocorria com muita facilidade e a principal causa para que tal acontecesse, estava no facto de não possuirmos uma linha de navegação nacional para o Brasil, que levasse os nossos produtos, no caso os nossos vinhos, praticamente directos ao consumidor. Recorrendo à navegação estrangeira para o transporte nacional, estávamos sujeitos a todo o tipo de falsificações.

Sabemos que uma das razões que levava o nosso rei ao Brasil, era o interesse de negociar uma linha de navegação entre os dois países. Mas, talvez os próprios «brasileiros» mais ricos, ao corrente da situação, pudessem interessar-se em investir na criação duma companhia nacional de navegação.

Outro facto que contribuía para algum decréscimo das nossas exportações de vinho, era a França ter replantado os seus vinhedos dizimados pela filoxera. Encontrando-se agora com produções elevadíssimas, não só deixou de nos vir comprar os vinhos, como se transformou numa potencial concorrente nos mercados mundiais.

No catálogo, também se referem as companhias vinícolas, as sociedades e casas comerciais que faziam o grosso das exportações e as principais companhias de navegação que faziam carreira regular dos nossos portos para o Brasil.

No final do capítulo desta secção há uma extensa lista com a relação de todos os expositores, das qualidades e quantidades de vinho disponíveis, das recompensas que tinham obtido em anteriores certames, desde diplomas com menções de honra, medalhas de ouro e de prata, os mercados para onde exportavam, entre outras informações.

Estas recompensas que determinados expositores obtinham nas exposições, eram excelentes, porque tornavam de facto os nossos produtos e o nome das casas em que eram fabricados mundialmente conhecidos; evidentemente de acordo com o prestígio da exposição. Poderiam assim, contribuir para o enriquecimento e prosperidade dos primeiros. Mas, estes prémios ainda tinham outra vantagem: contribuíam para que mais uma vez, todos os nossos expositores envidassem esforços, no sentido de todos os que expunham se sentissem estimulados a dar o seu melhor, isto é, a aumentar a produção, a qualidade e variedade de produtos, tentando ao mesmo tempo reduzir os preços, no sentido de os tornar concorrenciais, de aumentar as suas vendas, no intuito de conseguir também a almejada recompensa.

Um segundo capítulo desta primeira secção era dedicado aos vinagres e às suas características, nomeando-se que se tratava de uma indústria secundária e complementar da vinícola. Dizia-se que o vinagre era produzido a partir do nosso vinho que possuía qualidade inferior e, que, os processos de produção ainda eram antiquados e rotineiros. Contudo, procurávamos transformar este defeito em virtude, salientando que só desta forma os vinagres poderiam ser genuínos, já que não eram verdadeiramente produtos industriais, mas sim fruto da laboração em pequenas quantidades, em casas de pequenos lavradores, conseguindo-se assim, a pureza que produtos similares estrangeiros, mais industrializados, não possuíam.

Como produzíamos em pequena quantidade, também exportávamos na mesma medida, sobretudo para o Brasil e para as nossas colónias.

Ao longo do catálogo, verificamos constantemente, o enfoque dado ao nosso mercado colonial, para onde exportávamos grande parte dos nossos produtos. Se por um lado, Portugal pretendia demonstrar ao Brasil e ao mundo que ainda era detentor de um importante Império em África, procurando desta forma atrair o primeiro, para que este se sentisse tentado a estabelecer relações comerciais com as nossas colónias, por outro lado, poderia ser também, uma forma de tentar canalizar alguma da emigração que se dirigia ao Brasil, para Africa.

No término deste segundo capítulo, está também a relação dos expositores, os mercados para onde exportavam e, entre outras informações, as recompensas obtidas em anteriores exposições. Mais uma forma de se tentar provar, que o nosso vinagre era de superior qualidade.

Um terceiro capítulo reportava-se às aguardentes, licores e xaropes. As nossas aguardentes, segundo o catálogo, possuíam qualidades preciosas, sempre que bem destiladas em aparelhos de destilação aperfeiçoados, podendo por isso comparar-se às melhores aguardentes que por esse mundo se fabricavam.

Referia-se que a indústria de destilação de aguardente proveniente do vinho, vinha-se desenvolvendo cada vez mais nos últimos anos, devido ao aumento da produção do nosso vinho e à consequente incapacidade de o exportarmos por preços mais rentáveis. Estas dificuldades também advinham de motivos que já referimos, como o aumento da concorrência e a falta de uma carreira portuguesa de navegação para o Brasil.

«Na preparação de licores e xaropes entram as boas aguardentes de me-za, originando productos muito agradáveis, que se preparam pelos melhores processos em fabricos especiaes, e que no extrangeiro teem sido muito apreciados, como o attestam as elevadas recompensas que sempre teem obtido nas Exposições Internacionaes a que teem concorrido.»

Os principais mercados de destino eram o Brasil e as nossas possessões ultramarinas. Igualmente nos aparece no final do capítulo, a relação dos expositores, os preços das aguardentes, licores e xaropes, as quantidades disponíveis em anos de produção regular, os mercados para onde exportavam, as recompensas obtidas.

No quarto capítulo referenciavam-se os azeites, dizendo-se desde logo que eram muito apreciados e vendidos a bom preço nos mercados de consumo, dadas as suas grandes qualidades de gosto e aroma, a sua cor de ouro, a sua leveza e fluidez, sendo os mais conhecidos, os de Mirandela, os do Douro, da Beira Baixa, entre outros.

Mencionava-se que tudo isto se ficava devendo, ao facto da oliveira encontrar em Portugal, terrenos e clima propícios para o seu desenvolvimento e produção. Era mesmo referido que as nossas oliveiras se comparavam com as melhores de França e de Itália.

Outras informações relacionavam-se com as variedades de oliveiras, as dimensões dos seus frutos, o seu peso médio e o seu rendimento em azeite.

«Modernamente, a industria do fabrico do azeite, em Portugal, tem feito enormes progressos. Devido a uma propaganda intelligente e continuada, feita pelos nossos agrónomos e professores das escolas de agricultura, em publicações différentes, se em congressos, tendo sido sobretudo notável a obra technica produzida pelo ultimo congresso de Leitaria, Olivicultura e Industria do Azeite, promovido pela Real Associação Central da Agricultura Portugueza, e realizada em 1905, a industria oleicola tem-se transformado por completo, ha-vendo-se substituído quasi, em todo o paiz, os processos rotineiros e antigos, pelos systemas mais racionaes e aperfeiçoados aconselhados pala sciencia.»

Um mapa indicava os lagares de azeite de sistema aperfeiçoado ou em vias de transformação, existentes no nosso país em 1907.

De relevar a importância dos congressos que se estavam realizando por toda a parte, inclusive em Portugal, onde se trocavam estudos e experiências realizadas em vários domínios da Ciência. Estas reciprocidades muito contribuíam para o progresso e prosperidade da humanidade e, segundo os positivistas, constituíam outra das formas de prestar culto à mesma, elo-giando-se o trabalho, o esforço dos homens e aplicando-se na prática todas as novidades aí conhecidas, para o bem-estar de todos, da comunidade em geral.

E era graças a estes novos conhecimentos e novas técnicas, que algo à nossa volta ia  progredindo.

Eram exactamente destes congressos, que saíam as novas práticas que permitiram a  melhoria da qualidade do azeite.

Por isso mesmo é que Portugal exportava anualmente grandes quantidades deste produto, nomeadamente para o Brasil, Inglaterra, Rússia, Estados Unidos da América do Norte, Alemanha, Holanda, Bélgica e para as nossas colónias.

Mencionava-se ainda, que era de esperar dentro de pouco tempo, um aumento considerável da sua exportação, já que os processos de fabrico tendiam a desenvolver-se cada vez mais, designadamente com a transformação dos antigos lagares, pelas novas técnicas adquiridas pela ciência e graças aos óptimos terrenos que possuíamos para a prática da olivicultura.

Finalmente, o capítulo encerra tal como os outros, com uma relação de expositores, os preços por litro, a quantidade disponível, os mercados para onde exportavam e as recompensas obtidas.

No quinto capítulo, o enfoque ia para os cereais, farinhas e legumes, fazendo-se referência aos vários tipos de cereais cultivados, à qualidade superior do nosso trigo, quando comparado com o francês, italiano, australiano ou da América do Norte, salientando-se no entanto que, na maior parte dos anos, a nossa produção era escassa, recorrendo-se quase sempre à sua importação. Todavia, e numa situação que não se alterou ainda nos dias de hoje, aludia-se que podia ser a breve trecho modificada, graças às técnicas que se iam desenvolvendo, sobretudo no Alentejo, onde se ia fazendo a aplicação racional de adubos químicos, onde se escolhiam e seleccionavam sementes, se introduziam máquinas adequadas para o cultivo e colheita dos cereais. Iam-se igualmente arroteando novas terras para esta cultura.

Das plantas leguminosas, somente a fava atingia uma produção aceitável, mas mesmo assim com uma exportação pouco significativa para o Brasil e para as nossas colónias. Contudo, até neste sector uma sugestão era dada (querendo demonstrar-se que as ideias para uma maior prosperidade e riqueza não escasseavam entre nós), para que ele se desenvolvesse, nomeadamente começando pelo aumento da sua produção e transportando depois os legumes frescos em câmaras frigoríficas, devidamente apropriadas, até aos locais de consumo.

No final, temos a lista de expositores, a que já várias vezes nos referimos, só que desta vez relacionada com estes produtos, como é evidente.

No sexto capítulo tratavam-se as nossas cortiças, ocupando Portugal o primeiro lugar em termos mundiais na sua produção, já que possuía, sobretudo a sul do Tejo, condições propícias para que o sobreiro se desenvolvesse.

Realçavam-se as excelentes qualidades das nossas cortiças, para o fabrico de rolhas, sendo muito procurada por países como a Alemanha, a Inglaterra, a França e até a Espanha, que vinham aperfeiçoando as suas indústrias de produção deste material.

A exploração dos sobreiros era por este motivo altamente rentável para nós. Encerra-se mais uma vez, com o mesmo tipo de informações que os outros. O sétimo capítulo do catálogo reportava-se aos produtos de origem animal, como os lacticínios, as lãs, as sedas, o mel e a cera. Destes, os primeiros eram os mais importantes, dado o grande incremento da produção de gado leiteiro, sobretudo no norte de Portugal. A acompanhar o aumento da produção, verificava-se, dizia Cincinato Costa88, um grande desenvolvimento da nossa indústria leiteira, utilizando todos os aparelhos apropriados, criados pelas ciências, principalmente no fabrico do queijo e da manteiga. Continuava-se dizendo que as nossas manteigas possuíam uma qualidade superior, tanto pelo seu paladar como pelo seu aroma, não devendo nós por isso recearmos o confronto das nossas manteigas com outras de renome mundial.

Do fabrico do queijo, realçavam-se os grandes progressos.

Quanto às lãs, aludia-se que as brancas eram as mais procuradas e as que tinham melhor preço no mercado. Era outra forma de procurarmos incentivar as nossas exportações, falando de preços acessíveis, para vencer a concorrência de outros países.

No que respeita à indústria da seda, Cincinato Costa dizia, que depois do seu apogeu, no tempo do Marquês de Pombal, acabou por decair com a doença que atacou as sirganias.

No entanto, nos últimos anos, a sericicultura tinha voltado a prosperar, principalmente com a plantação de muitas amoreiras e com a criação de uma Estação especial de fomento agrícola em Mirandela, para seleccionar e apurar da semente do bicho da seda e ensinar os lavradores a melhor rentabilizarem esta cultura. Numa época positivista, mais uma vez se procurava revelar que os conhecimentos científicos eram aplicados nas práticas agrícolas.

Mencionava-se ainda, que a seda portuguesa era de excelente qualidade, sendo muito conhecida internacionalmente.

A produção de mel e cera era muito diminuta, mas salientava-se que nos últimos anos a apicultura vinha a progredir a olhos vistos, substituindo-se processos antigos, por outros cada vez mais aperfeiçoados que eram as colmeias móveis.

O oitavo capítulo desta secção agrícola promovia os frutos secos e preparados, todo o trabalho que envolvia a sua preparação, as frutas mais utilizadas e as principais localidades onde este labor se desenvolvia.

Falava-se das conservas alimentícias, ramo de exploração agrícola e industrial a desenvolver-se bastante, fazendo-se por isso largo comércio, sobretudo com as conservas de peixe (sardinha e atum), muito apreciadas principalmente na França, na Inglaterra, na América do Norte e no Brasil, para onde se exportavam largamente. Referenci-avam-se os mais importantes centros de preparação, as principais operações desta indústria, desde que o peixe era pescado, até à conserva final.

O nono e último capítulo desta secção agrícola, referia-se a diversos, onde podemos encontrar desde fotografias, quadros a óleo, alfaias agrícolas, adubos, etc.

Dando esta visão da nossa agricultura, pretendia-se evidenciar, que o Estado português se preocupava com algumas situações deficitárias aqui apresentadas, procurando animar e estimular os nossos agricultores, por forma a não esmorecerem no seu trabalho, enfatizando ainda alguns progressos já efectuados e outros que se poderiam vir a concretizar. Para que tal desiderato se verificasse, esperava-se a injecção não só de capitais estatais, mas essencialmente e com toda esta publicidade feita em redor do nosso sector primário, de capitais dos «brasileiros» e até de estrangeiros que por cá desejassem investir.

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NÚMERO DE EXPOSITORES POR CADA SECÇÃO E POR CADA CONJUNTO DE PRODUTOS REPRESENTADO

FRUTAS SECAS OU PREPARADAS E CONSERVAS ALIMENTÍCIAS 30

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… Quanto às pescas e às salinas, um artigo de Vicente M. C. Almeida de Eça , Deputado da Nação, capitão do mar e guerra, Lente da Escola Naval, Vogal da Comissão Central de Pescarias, salienta a importância de factores naturais, como a situação geográfica privilegiada e a grande riqueza piscícola, para a fama que a pesca granjeou em Portugal desde tempos muito longínquos. Aproveitava-se para se relevar que Portugal tinha mais quantidade e variedade de peixe de que qualquer outro país da Europa banhado pelo Atlântico. O produto anual da pesca vinha sempre a aumentar, reflexo da utilização de cada vez maior número de aparelhos aperfeiçoados, pese embora também se dissesse, que ainda era necessário muito mais, designadamente, mais aparelhos para a captura das espécies, barcos para a sua aplicação e transporte de pescado, e, portos de pesca, bem apetrechados de armazéns, cais, abrigos, entre outras coisas, para um melhor desenvolvimento da indústria de pesca. Ao apresentarem-se soluções para os maiores problemas, procurava-se fazer crer que Portugal era um país moderno, preocupado em estudar as carências que mais afectavam determinados sectores, para o bem comum e felicidade da nação.

Quanto à indústria de conservas de peixe introduzida em Vila Real de Santo António,  dizia-se estar muito desenvolvida e o seu consumo em termos mundiais ser já notável. Em  1905, o peixe ocupava um dos lugares cimeiros na nossa exportação, sendo só precedido pelo  vinho, em primeiro lugar, cortiça e rolhas, em segundo lugar e produtos agrícolas em terceiro.

No que respeita à indústria do sal, referia-se que ela era já antiquíssima no nosso país. «Há documentos do séc. IX relativos ás salinas de Aveiro.»

Indicavam-se as várias salinas existentes no país e destacava-se que as mais importantes eram as de Alcácer do Sal e de Aveiro.

Declarava-se também que, desde há muito, o sal português adquirira a fama de ser o melhor do mundo ( a publicidade estava sempre presente) sendo por isso muito procurado pelos países estrangeiros, embora ultimamente a sua exportação viesse a diminuir com o incremento do sal-gema, sobretudo nos países do norte da Europa.

Mesmo quando se referenciava, que determinada actividade não acompanhava em termos de desenvolvimento o que lá por fora se fazia, havia sempre uma justificação airosa para a situação. No caso da aquicultura, mencionava-se que os seus serviços, de facto, não atingiam o nível de outros países, mas igualmente se dizia que não devíamos esquecer que estes trabalhos ainda não tinham atingido tal desiderato, porque eram de fundação recente.

Desenvolveram-se sobretudo no norte do país, onde espécies como o salmão, a truta, pontificavam. Outros géneros também importantes eram o sável, a solha, as tainhas, a enguia, a lampreia. Procurava-se mostrar que vários estudos e repovoamento de espécies, se iam fazendo nesta matéria, nomeadamente na Estação Aquícola do Ave, não se esquecendo de frisar que se seguiam sistemas utilizados por países bem mais avançados que o nosso.

O estudo sobre a aquicultura foi realizado por Augusto Nobre , e também ele tentava demonstrar, que nesta área acompanhávamos o que de melhor se fazia lá por fora.

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No entanto, pese embora todas estas vicissitudes, dizia-se que em finais do séc. XIX, algumas das nossas indústrias, como a do fabrico da borracha, a da refinaria do açúcar, a do fabrico dos alfinetes, a dos lápis de escrever, concorriam com as melhores do estrangeiro. Uma das mais prósperas e de maior qualidade era a das conservas, sendo um dos nossos produtos de maior exportação, logo a seguir aos vinhos, às cortiças e aos minérios. Mencionava-se também que as nossas fábricas já iam dispondo de alguns técnicos especializados e que se vinham a modernizar cada vez mais, nomeadamente com a introdução de novas técnicas, onde se começava a utilizar a electricidade.

Enfim, mais uma vez a Exposição era aproveitada para enaltecer as nossas qualidades e assim melhorarmos a nossa imagem aos olhos do mundo inteiro.

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Também a Real Fábrica de Conservas de Matosinhos vinha recebendo muitos prémios em várias exposições internacionais. Intentava-se assim demonstrar e consagrar os méritos das nossas indústrias.

8 – RELAÇÃO DE EXPOSITORES DE FRUTAS SECAS OU PREPARADAS, E CONSERVAS ALIMENTÍCIAS E DISTRITOS DE ONDE PROVINHAM

EXPOSITORES – DISTRITOS

Alcobia – Lisboa

Azevedo – Porto

Barata – Castelo Branco

Barrosa – Porto

Bastos – Lisboa  (Araújo Bastos, Lisboa?)

Brandão Gomes & Cª – Porto • PACKERS OF CANNED FISH IN OLIVE OIL

Caeiro – Beja

Capeto – Lisboa

Chorão – Castelo Branco

Colónia Agricola Correccional de Villa Fernando – Portalegre

Comissão Organisadora da Secção Portugueza – Lisboa

Conceição – Portalegre

Correia – Beja

Cruz – Portalegre

Cruz, José Francisco -Portalegre

Gomes – Lisboa
Gomes & Severino Lda • Lisboa ?
Eduardo Silva Gomes • Lisboa ?
Domingos Martins Gomes • Lisboa ?
António Gomes Moleiro • Lisboa ?

Gonçalves & Carvalho – Portalegre

Guerra & Irmão – Portalegre

Mascarenhas Pereira & Ramalho – Faro ????

Mendes – Portalegre

Natividade & C – Leiria

Moreira – Porto

Cavalleri & Cª, Sucessores – Lisboa

Peixe – Faro

Pereira Roza, Filhos – Évora

Ramirez & Cª, Sucessores de A. Ramirez • Faro • PACKERS OF CANNED FISH IN OLIVE OIL

Salvação – Braga

Sousa, Filho – Porto

Victor Guedes & Cª • Lisboa • EXPORTERS OF CANNED FISH IN OLIVE OIL

Visconde de Alter – Portalegre

…conservas de Brandão Gomes &C.aque occupam uma importante secção…

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