Palais d’Orient brand
Palais d’Orient brand
NOME EMPRESA / COMPANY NAME: Conservas António Alonso
NOME FÁBRICA / FACTORY NAME: Factory name unknown
PROPRIETÁRIO / OWNER: António Alonso Cuenca
FUNDAÇÃO / FOUNDED: Founded 1924
LABOROU EM / WORKED DURING:
ENCERRAMENTO / CLOSURE: Closure 1978
Nº EMPRESA IPCP / IPCP COMPANY Nº: António Alonso – empresa nº 121
ALVARÁ / CHARTER:
MORADA / ADDRESS: Rua Almeida Garret, 54
CIDADE / CITY: Setúbal
NO MESMO LOCAL FUNCIONOU / AT THE SAME LOCATION WORKED:
OUTROS LOCAIS / OTHER PLACES:
TIPO / TYPE: Packers of canned fish in olive oil
FONTES / SOUCES:
– A Industria das conservas de peixe em Setúbal 2015
– Ficha IPCP António Alonso – empresa nº 121
ALONSO
D. Antonio Alonso Santodomingo, pioneiro da indústria conserveira galega, nasceu em Bayona, em 1831.
Quando eu era muito jovem, emigrou para Cuba, onde passou mais de vinte anos no comércio têxtil. Foi lá que ele conheceu sua futura esposa, a Sra. Eloisa Gimenez-Cuenca, com quem teve seis filhos: Pedro, Guillermina, Rodrigo, Antonio, Mauro e Salvador.
Em tempos em que as empresas americanas ofereceram grande prosperidade, D. Antonio Alonso Santodomingo, decide voltar para a Galiza. É em Vigo em 1873, onde fundou a empresa em conserva seu nome, dando forte impulso à vida industrial local no momento em que a indústria conserveira ainda estava em sua infância.
A primeira fábrica foi localizado no bairro do Areal cidade de Vigo, seguido por aqueles que andava em Bueu (Pontevedra), em Cillero (Lugo) e Setúbal (Portugal) Antonio Alonso e filhos, dirigida por Antonio, Rodrigo e Mauro, filhos do fundador, nasceu como uma empresa de exportação para mercados mais experientes então preservadas: França e Bélgica, onde marca o seu primeiro, “Palais d’Orient “, adquiriu grande reputação e prestígio que logo foi alargado a outros mercados internacionais, em busca de garantia de qualidade.
Durante os primeiros 50 anos de existência, a empresa passou de uma capacidade de produção de 6 milhões de latas para 60 milhões de latas por ano. Da mesma forma, enquanto o tempo de sua fundação com moderação empregadas 50 pessoas, em 1937, todos os funcionários de todos os locais de trabalho ultrapassou mil.
Evidência do sucesso nesta indústria encontrou seu caminho para o mercado são a grande recepção que teve na Feira Internacional de Bruxelas, em 1922, ea visita do HM Rei D. Alfonso XIII, em setembro de 1927.
É em 1947, quando ela se torna uma sociedade limitada e sua principal marca se encaixa no mercado de língua castelhana, tornando-se a atual “Palácio de Oriente”.
Além de outras marcas são registradas como “Ardora”, “Albatros”, “Alonso” … para atender a diferentes mercados, tanto nacional como internacionalmente. 30 anos depois, a Antonio Alonso é preservada como uma corporação e começa sua consolidação como uma das primeiras marca nacional no mercado interno.
Los Alonso
Família Alonso em 1902
TEXTO de: Xoán Carmona Badía Universidade de Santiago de Compostela
Tradução, comentários e recolha de imagens: CAN the CAN
O fundador, Antonio Alonso Santodomingo. Autor: Desconocido
Juan Antonio Alonso Santodomingo nasceu em Vigo em 1844.
Era filho de Antonio Alonso y de Rosalía Santodomingo, vizinhos do Areal, y como tantos galegos da época, embarcaram para Havana antes de cumprir os 18 anos.
Nesta ilha das Caraíbas, na qual trabalhou durante 19 anos, casou-se com Eloísa Giménez-Cuenca, que nascida em Matanzas, em 1860, e que era filha de um militar de elevada patente que exercia um cargo de responsabilidade naquela província; tiveram dois filhos, Pedro e Guillermina, nascidos em 1877 e 1879 respectivamente. (1)
1 AMV, PAD/3, Padrón 1901, libro nº1; Mareiro (1954).
Durante aqueles anos exerceria a atividade de comerciante por conta própria e também como representante de vários seus conterrâneos de Vigo em diversos negócios na ilha. Regressa finalmente à sua cidade natal em 1881.
Quando Alonso desembarca em Vigo está mito longe de ser um emigrante que regressa à sua terra natal com grandes fortunas que investem em títulos públicos, escolas e atividade de beneficência. Alonso era apenas um antigo emigrante que adquiriu experiência na atividade comercial e que reuniu algum capital. Em Cuba mantém algumas propriedades, uma quinta em Gumá e dois edifícios na calle Riela, que manterá alugados durante os anos seguintes. (2)
2 ACAA, libros Diario 1894-1897.
Juan Antonio Alonso está, em todo caso, mais perto de ser considerado um Antonio Sanjurjo Badía que um José García Barbón.
Una vez estabelecido em Vigo, e com o capital que havia reunido adquire quatro casas no Areal e uma quinta. Começa a frequentar o escritório de uma pequena fábrica de conservas de um primo, uma das primeiras que se haviam instalado na cidade. A mãe do seu primo Rodolfo Alonso Santodomingo, era Fermina Santodomingo, irmã da mão de Juan Antonio (3) e Rudolfo tinha-se encarregue da gestão da fábrica, após a morte do seu pai, Manuel María Alonso Castro. Foi provavelmente nesta altura que se começou a familiarizar com o sector e onde concebeu a ideia de se tornar industrial de conservas.
3 Esta coincidência de apelidos deu lugar a numerosas confusões, pois tanto os filhos de Manuel María Alonso Castro e Fermina Santodomingo como os de Antonio Alonso e Rosalía Santodomingo tinham o apelido Alonso Santodomingo.
Assim, em 1886 construirá um armazém coberto com chapas de zinco, no qual aloja a fábrica. A quinta tinha ainda uma casa de dois pisos e estava situada na antiga zona de Vigo, denominada Capo da Barxa.
A primeira fábrica de conservas de Juan Antonio Alonso era um estabelecimento modesto, na sua dimensão e pouco mecanizada. A existência de uma caldeira, uma máquina de vapor e um forno para tostar a sardinha, eram quase os únicos elementos fabris modernos nesta fábrica, em que as latas ser fechavam por processos de soldadura manual.
Para começar a funcionar com outro negociante local chamado Benito Albela, tendo deixado claro que no caso de dissolução da empresa seria Alonso a ficar com as instalações, o que veio a acontecer em 1890, de forma que este tornou-se no único proprietário da fábrica. A dissolução realizou-se de forma amigável, uma vez que Albela passaria a ser nos anos seguintes o principal financiador da atividade de Alonso. (5)
5 AHPP, Eugenio Domínguez González de 11/121887 y 8/2/1890; RMP, 1/88 y 2/64; ACC, Mayor º1, cuenta Benito Albela.
A fábrica do Areal começou a vender a empresas grossistas francesas de Bordéus, Baiona e Nantes, empresas como Jeune Bouche, Tomás Bona ou Chesnelong e companhia, seguindo e exemplo de outras empresas como Goday ou Massó. Mas Alonso rapidamente ampliaria a sua rede de clientes e sobretudo apostaria na diversificação, de forma a evitar a dependência das grandes empresas francesas que controlavam a fatia maior do mercado internacional das conservas. Assim, poucos meses depois de ter a fábrica a funcionar, começa a enviar conservas para Montevideo, Porto Rico e Cuba.Esta tornar-se-ia o mercado mais importante, fruto das relações que vinha mantendo desde a sua saída desta ilha.
Buenos Aires rivalizará com Havana a partir de 1902, ano em que os primeiros envios de grandes encomendas para uma casa comercial na Cidade da Prata a tornam num importantíssimo ponto de venda. (6)
6 ACAA, Inventário Antonio Alonso, Inventários, libro nº1, 1890-1903.
Alonso trabalha nesta altura fundamentalmente a sardinha, mas o seu segundo produto são as lulas (calamares) assim como pequenas encomendas de feijões e ervilhas em lata. Nas suas encomendas para Havana e Buenos Aires, aproveita para incluir produtos de Espanha, como nozes, castanhas e principalmente cebolas.
O bom desempenho do negocio reflete-se na sua contabilidade e que num exercício de respeito e memória o seu fundador e também ao próprio património cultural do país que o viu nascer, conserva cuidadosamente o nome Conservas António Alonso.
O ativo total da empresa ronda as 400.000 pesetas e quinze anos mais tarde atinge os dois milhões e o balanço de perdas e ganhos ofereceu sempre um saldo positivo até aos anos noventa. Outro indicador da prosperidade da empresa foram as aquisições de empresas no Areal, assim como a tentativa de diversificação das suas atividades marítimas.
Em 1892 e 1893 adquire dois barcos de pesca, cuja manutenção do casco entregará, como quase todos os vapores da época, aos carpinteiros da localidade O Freixo, na Corunha, e que equipará com máquinas inglesas.
As embarcações, Antonio y el Santo Domingo, dedicam-se à pesca do besugo, com o objectivo de enviar este pescado por comboio para ser vendido em Madrid e o restante ser conservado em salmoura, numa fábrica que em Guixar compartilhava com outros armadores locais. (7)
7 AHPP, Protocolos, G-17.453, fol. 2.250 e seguintes. Os seu sócios nesta atividade eram Guillermo Curbera Tapias, Benigno Barreras e Leopoldo Lamberty.
Antonio Alonso continua como o padrão comum da maioria dos fabricantes galegos dessa época, fazendo da exportação a parte mais importante do seu negocio de sardinha em azeite. Distancia-se dos restantes fabricantes devido à sua independência dos grossistas franceses, pois poucos dos industriais conserveiros Galegos da época vendiam na América Latina ou outras partes do mundo. E vendiam sobretudo através das empresas francesas o que não acontecia com Alonso, que também vendia para Bordeaux e Nantes.
Mas no que se diferenciou principalmente Juan Antonio Alonso Santodomingo, dos seus homólogos da indústria conserveira galega, foi a sua estratégia em face à falta de estanho que afectou o sector durante os últimos quinze anos do século XIX e os primeiros do século XX.
Necessário para o fabrico de latas, o estanho, era no entanto, nos anos oitenta, um produto elaborado em pequenas quantidades em Espanha, e de forma industrial quase exclusivamente pela empresa de Bilbao, Goitia e companhia, mas sobretudo com custos muito superiores ao das fábricas britânicas que dominavam o mercado europeu.
Mas a sua importação, a fim de proteger a indústria nascente produto espanhol, estava sobrecarregado com taxas pesadas, de modo que as conserveiras foram forçados a comprar a lata por um preço maior do que os seus concorrentes internacionais, o que condicionava as suas possibilidades de expansão.
Em face deste problema, todos os empresários da industria conserveira, tanto os de pescado como vegetais, forçaram, seguindo o exemplo português, a aprovação de uma lei de isenções temporárias, que permitia a entrada livre de taxas das matérias primas destinadas a serem incorporadas em produtos destinados à exportação.
Estas isenções temporárias permitiam comprar estanho a preços semelhantes aos que compravam as empresas portuguesas e francesas.
Estas leis foram sendo promulgadas, com isenções de impostos, logo em 1888, mas submeter cada produto a um complexo procedimento de classificação, em que todas as partes interessadas podiam opinar, transformou-se numa verdadeira batalha campal, em que as exigências dos conserveiros e as reivindicações das empresas de venda de metais Bascas, que afirmavam que com estas isenções seriam condenados a fechar. (8)
8 Para uma análise mais ampla do tema, ver Carmona (1985) y Abreu (2002).
A controvérsia foi-se saldando a favor destas últimas pois a isenção temporária de taxas para a folha de flandres só foi conseguida em 1909.
A campanha para as isenções temporárias de impostos começa dentro da indústria conserveira de pescado, pouco tempo depois das atividades das fábricas de Vigo, Alonso Santodomingo, a sociedade Alonso e Albela, se juntarem ao grupo de industriais locais que pedem a isenção tanto para a folha de flandres como para o estanho e também o azeite. (9)
9 Gazeta de Madrid, 14/6/1888.
Mas este acordo durará pouco tempo pois em 1889 um importante grupo de industriais Bascos estudam a constituição de uma empresa destinada a instalar em Nasauri uma segunda fábrica de folha de flandres. Estabelecem contacto com algumas empresas conserveiras galegas oferecendo-lhes participação no capital e , Juan Antonio Alonso Santodomingo, Manuel Goday e Félix García Somoza passam a ser acionistas e distribuidores do produto nas suas áreas. (10)
10 Cava Mesa (2000), pp. 62-66.
Antonio Alonso subscreverá 100 ações desta empresa, a Basconia, mas vai reforçando a sua posição de tal forma que, em q903 já era detentor de 1119 ações, no valor de 559.000 pesetas, que lhe permitiram passar a forma parte do conselho de administração. Converte-se no distribuidor exclusivo de folha de flandres em Vigo, que passa a competir neste mercado com a Goitia, que em 1902 se incorporava em Altos Hornos, representada por Juan Buch Carsi e com a empresa inglesa Hickman, que representava Curbera e era dominante no mercado de então em Vigo.
A aposta de Antonio Alonso pela nascente industria de folha de flandres em Vigo parece ter sido acertada do ponto de vista económico, pois a depreciação da Peseta e os desenvolvimentos dos processos de fabrico de estanho, que ocorreram depois da perda dos mercado das Caraíbas, reduziu substancialmente a vantagem dos fabricantes ingleses e ampliaria o mercado.
Esta aposta todavia teria outra consequência, que seria a de afastar-se em 1889, quando começa a participar nas reuniões para a constituição da empresa Basconia e da campanha de isenções temporárias. Na realidade e precisamente por nesta altura a campanha da União de Conservas se encontrar muito comprometida, Alonso não se afasta. Só o faria em 1910, num dos momentos mais críticos da União, em que o número de sócios baixa drasticamente e a Basconia recorre à inclusão do estanho na aprovação da lei do ano anterior. (11)
11 AAC, Atas da Junta Diretiva, livro nº1, sessões de 7/1/1910 e seguintes
Em 1900 foi um dos fundadores da sociedade anónima La Metalúrgica. (12)
12 Abreu (2002), Carmona e Nadal (2005).
A boa conjuntura da procura do exterior e em especial a depreciação da Peseta, que acontece na mudança do século, bem como a segunda crise da sardinha em França, que começou em 1902, animaram Juan Antonio Alonso a ampliar as suas atividades conserveiras.
Entre 1898 e 1901 adquiriu vários lotes adjacentes em Guixar (13), que se tornou então, conjuntamente com a zona de Areal, no distrito industrial da cidade. Neste local, localizado entre a empresa refinaria de petróleo Babé e o antigo rio de Guixar, construirá por sua conta o edifico fábrica, para exploração, com o seu sócios Manuel Pita, um artesão de 42 anos, recém chegado a Vigo . Pita, que fornecerá a maior parte do capital da empresa e ficará encarregado da gestão, será o único proprietário da fábrica para a dissolução da sociedade, cuja duração tinha sido previamente estipulada em oito anos. (14)
14 AHPP, Protocolos, Velo, 1902, vol. 3, nº 577.
Pita, que logo se tornaria o primeiro presidente da União dos Fabricantes de Conservas Ria de Vigo, continua em atividade até à sua morte em 1913. A fábrica seria deixado para seus sucessores e duraria ainda mais vinte anos, até sua falência em 1933.
Na realidade a associação com Pita parece ter sido mais uma forma de valorização e ampliação dos seus conhecimentos industriais, e também de como vender melhor a sua fábrica de Guixar, do que uma autêntica estratégia de crescimento.
Uma atuação definitivamente coerente com os seus planos a longo prazo, tal como tinha sido anteriormente a compra dos vapores de pesca. Porque na realidade, a verdadeira estratégia de crescimento de Alonso estava assente na ampliação da fábrica do Areal e na mecanização dos processos industriais.
Como medida inicial praticamente duplicará a superfície da fábrica e encarregará Jenaro de la Fuente de desenhar esta ampliação. Jenaro que tornará a fábrica um icon da arquitetura industrial modernista de Vigo. (15)
15 AMV, cajas IND/3 e IND/8; Sobrino Manzanares (1985).
Mas Alonso não apenas duplicará área da fábrica, como a converterá numa das mais avançadas em termos mecânicos de fabrico e de fecho das latas. Alonso será um dos cinco fabricantes de Vigo que em 1900 adquirem as Evers, (16) as primeiras máquinas de fecho sem soldadura, percursoras das populares Reinerts. http://www.sommecan.com
16 AHUS, Fondo Curbera, Copiador de Correspondencia nº125, fol. 85, carta de 26/6/1900de J.R. Curbera a E.W.Bliss (Paris).
Será também um os primeiros a utilizar as embutidoras mecânicas e máquina de produzir chaves para abertura de latas. Em 1909 a fábrica do Areal não só disporá de todo o equipamento necessário para produzir conservas, como um também máquina de vácuo e uma oficina mecânica. (17)
17 “Lo que es la industria conservera en Galicia”, Vida Gallega, nº18 (15 de abril de 1910).
De forma proporcional com a sua dimensão e as inovações tecnológicas introduzidas, a empresa dirigida por Juan Antonio Alonso Santodomingo, competia ano após ano, com a quase vizinha fábrica de José R. Curbera, nos primeiros lugares da lista de empresas compradoras de pescado destinado a conservas.
Em 1909 inicia-se o primeiro ciclo de escassez de sardinha nos estuários, desde que se havia formado o sector conserveiro na Galiza.
Já velho, Juan Antonio Alonso, não estava só à frente dos seus negócios. Os seus três filhos nascidos em 1884, 1886 e 1887 respectivamente, frequentavam regularmente a fábrica e foram eles que transmitiram ao jornalista Jaime Solá, durante a sua visita nesse ano, os detalhes do negócio da família, que publicaria um artigo que apareceu na conhecida publicação Galega, Vida Gallega.
Eram remunerados pelo pai, de forma igual entre si, em 15% do lucro anual, mas o mais ativo entre os filhos era sem dúvida Mauro, que tinha estudado no Colégio dos Jesuítas e A Guardia e posteriormente se licenciou em Direito, em Deusto e aprofundado os seus conhecimentos em Inglaterra.
Seria rapidamente encarregado pelo pai de encontrar soluções para o problema da falta se sardinha, que estava a afetar os industriais de conservas galegos, como um quarto de século antes tinha afetado os bretões.
Mauro deslocar-se-ia a Ayamonte, organizando aí as compras da sardinha para a empresa familiar e estabelecendo uma pequena fabriqueta destina-se a cozer e encher latas grandes de peixe para embarque para Vigo, onde seriam embalados em outros formatos mais comerciais, uma operação para a qual vulgarmente é utilizado o nome francês “dépotage”. (18)
18 Archives Nationales, F12, La Corogne, 1907-1917, despacho consular de 28/2(1912).
Relativamente a outras empresas que sofreram dificuldades e que, não em poucos casos, desapareceram nos anos de 1909 a 1912, por não darem resposta adequada ao desaparecimento do principal produto que produziam, os Alonso superaram a crise e prepararam-se de forma sólida para a crise que havia estalado em 1914 com a Primeira Guerra Mundial.
Esta posição era favorável e a intensa atividade comercial de Rodrigo, permitiram aos Alonso converter-se num dos principais fornecedores de conservas aos exércitos aliados. Estabelecem uma sucursal em Bordeaux, que posteriormente transfeririam para Niza. Com a oficina em Bordeaux e com armazéns espalhados ao longo de toda a Franças, venderiam não apenas a sua produção, como também a de outros conserveiros galegos, como Benigno Barreras ou Juan Tapias. (19)
19 ACAA, Grand Livre, nº1 (abril 1916-março 1919).
Juan Antonio Alonso Santodomingo já não assistiria ao final da guerra, nem aos benefícios que a mesma traria à empresa que fundara pois morreria a 10 de Fevereiro de 1917.
Juan Antonio Alonso deixava cinco filhos e uma filha. O mais velho, Pedro, não se dedicaria ao negócio devido a graves problemas de saúde, ao mesmo tempo que Guillermina receberia a sua parte da empresa, mas manter-se-ia afastada. Casada com Eduardo Martínez Vázquez, que seria cônsul uruguaio em Liverpool, receberia a quinta de A Portela (Redondela), que posteriormente o seu filho, o médico Eduardo Martínez, converteria em refúgio de judeus europeus, fugidos do holocausto, aguardando a fuga para a América. Seriam pois os outro quatro irmãos a continuar com a empresa familiar. Desta forma a viúva Jiménez-Cuenca e os seus filhos Rodrigo, Antonio, Mauro e Salvador, formariam em 1918 a sociedade Antonio Alonso. (20)
20 RMP, 11/99.
1919 – D. Antonio Alonso Santodomingo con tres de sus hijos (sentados, de izquierda a derecha: Mauro, Rodrigo y Antonio) y el equipo de administración de nuestra oficina en Burdeos. Autor: Constantino Sarabia. (Vigo)
Seria gerente Mauro Alonso Jiménez-Cuenca. Começava assim, em 1918, uma nova época na história desta empresa familiar, dominada pela figura do advogado de Deusto, que com a colaboração dos seus irmãos, especialmente de Rodrigo, dotado e interessado em dirigir a área comercial, levariam a empresa aos melhores anos da sua história.
Tal como para os Curbera, seus quase vizinhos no Areal, e também para algumas das maiores empresas do sector, que no principio dos anos vinte dispunham de uma boa situação financeira resultante dos anos de guerra, a terceira década do século foi de forte expansão para os Alonso.
Cresceram diversificando a sua atividade até como armadores de navios de pesca e integraram-se verticalmente, ou seja, entraram ou desenvolveram atividades completando a cadeia de valor dos seu produtos.
Ampliaram igualmente as suas fábricas e estabeleceram novas em lugares com especializações pesqueiras diferentes. Mas se para os Curbera os investimentos no sector pesqueiro foram tão importantes como os realizados na indústria de conservas, os Alonso deram-lhe uma dimensão mais limitada.
O verdadeiramente importante na estratégia de Mauro Alonso e seus irmãos durante os anos vinte, foi a expansão da sua atividade conserveira, que se centrou nos seguintes aspectos: a ampliação da fábrica de Vigo e a abertura de outras conserveiras em lugares diferentes. A fábrica de Vigo duplicou o seu tamanho durante estes anos e quase tão importante foi a instalação de uma oficina de maquinaria, que nos anos seguintes serviu para cobrir as necessidades da empresa, mas também para vender a outras conserveiras autoclaves, máquinas de fecho e diverso equipamento que utilizavam.
A instalação de uma oficina de maquinaria havia sido um processo iniciado no final da Grande Guerra. Mauro Alonso tinha entrado em negociações com Eugenio Fadrique, diretor da La Artística, uma importante empresa litográfica local e de construção de latas. (21)
21 Giráldez (2006) y (2010).
O seu objetivo era a formação de uma sociedade conjunta que fabricaria a principal maquinaria utilizada pelas industrias conserveiras. Destas negociações saiu uma nova empresa, a Alonarti (Alon, de Alonso e arti de Artística). Mas pouco depois de chegar à constituição definitiva da empresa os Alonso reconsiderariam a sua participação e decidiram avançar sozinhos com a sua própria empresa.
22 Giráldez (2006).
José Alcántara substituiria Mauro e os seus irmãos no projeto original, de modo que a partir dos anos vinte passaram a existir duas grandes empresas de maquinaria para a industria, que competiriam durante várias décadas, a Alonarti e a empresa dos Alonso. É de salientar que ambas mantiveram entre si uma combinação de competência e colaboração e nunca perderam a boa relação com Eugenio Fadrique, que iria ser a pessoa que mais tarde mediaria a divisão da sociedade Antonio Alonso e filhos, que se viria a verificar mais tarde.
A segunda linha de expansão da Antonio Alonso e filhos, durante os anos vinte assentou no estabelecimento de novas fábricas em lugares como Bueu, locais onde a competição para a compra de pescado era menos forte que em Vigo, ou que poderiam substituir a escassez de sardinha na ria de Vigo.
Por estas razões compraram em 1922, a fábrica de salga de pescado, Pescadoira, de Bueu, que pertencia a Juan Tapias e a transformaram em poucos meses na segunda fábrica de conservas galega. (23)
23 RMP, 17/46
E é nesta altura que se instalam também em Setúbal e Celeiro. O arranque destas fábricas realizado respectivamente em 1924 e 1925 enquadra-se dentro da estratégia de variar as áreas de fornecimento de pescado, para combater a escassez de sardinha, estratégia praticada anteriormente por Mauro Alonso durante a crise de sardinha de 1909-1912, e que agora, aos primeiros sinais de escassez resolveu não correr riscos.
Setúbal era no principio dos anos vinte o principal centro conserveiro português. Alonso não seria a única conserveira galega que aí se instalaria nesses anos, pois também Gándara, Haz, Rábago e companhia e os irmãos López Valeiras, também abriram conserveiras nesta cidade portuguesa.
1928 Praia das Fontainhas – Setúbal – Foto Américo Ribeiro
Celeiro (Lugo) era no entanto um pequeno porto pesqueiro que, dentro dos da sua zona, gozava da vantagem de ter um razoável fornecimento de energia eléctrica. Aí se estabeleceriam procurando um melhor acesso ao fornecimento de Bonito e de “Bocarte del Cantábrico”, as conhecidas anchovas.
Para além dos Alonso, outras duas empresas se estabeleceram neste local, Ribas y Albo. Estas três empresas transformaram-se de imediato nas principais empresas locais, deixando para trás as pequenas fábricas dos empresários locais.
Desta forma, na segunda metade dos anos vinte, Alonso, ao lado de Curbera e Albo, uma das três empresas espanholas que possuem mais complexos fabris, quatro situados em Vigo, Bueu, Setúbal e Celeiro. Esta última foi particularmente importante na história dos Alonso porque para além de fazer parte de uma estratégia para prevenir a escassez de sardinha, era também uma nova aposta por produzir o Bonito, pouco explorado à data. Esta espécie ainda não tinha merecido a atenção dos armadores e conserveiros de Vigo, até que a escassez da sardinha os levou a prestar-lhe. (24)
24 “Parece que ha habido buena costera de bonito y los armadores están encantados, haciendo algunos vapores caladas de 9/10.000 pesetas. En La Artística y La Metalúrgica tienen un trabajo enorme. Aquí el que más toma es Antonio Alonso”, Carta do encarregado de Vigo da J.R.Curbera a J.R. Curbera de 10/7/1924, em AHUS, Fondo Curbera, Copiador rotulado Don Pepe nº1, fol. 298.
Alonso foi um dos primeiros a comprar os primeiros lotes de Atum.
O quadro nº1 compara o valor dos principais lotes de pesca adquirido polas conservas António Alonso em 1913 e 1925, e evidencia o fortíssimo crescimento que o Atum passou a ter nas compras de pescado da empresa.
No primeiro ano a sardinha, acabada de recuperar de quatro anos de ausência, situa-se num destacado primeiro lugar e em segundo lugar, empatados, o tradicional “calamar” e o atum. Em 1925 face a nova crise da sardinha as compras desta espécie caem drasticamente, mas agora com recurso principalmente ao “calamar” e ao atum, que já se compra em Vigo.
As ampliações dos anos vinte convertem a fábrica do Areal na primeira conserveira de Vigo e ao conjunto da empresa, com as suas fábricas de Bueu, Setúbal e Celeiro, numa das maiores conserveiras espanholas, ao lado de Massó, de Albo e de Curbera. Todas tinham uma fortíssima orientação exportadora no inicio dos anos trinta. A diferença de Alonso para as outras duas, que dispunham de uma forte frota pesqueira, era que Alonso estava mais centrado na transformação.
Alonso, Curbera y Albo foram mais longe na estratégia de combate à escassez da sardinha, primeiro graças à introdução de outras espécies e em segundo lugar pelo estabelecimento de filiais no sul de Espanha, que lhe permitiam o fornecimento de Atum e Cavala, que passaram a constituir importantes linhas na sua carteira de produtos.
Quadro nº2- Caixas produzidas pelas principais fábricas de conservas de Vigo entre 1930 e 1932 FUENTE: AHUS, Fondo Curbera, carpeta “Estadísticas conservas y salazón” NOTA: Sendo estos dados exclusivamente da ria de Vigo deve entender-se que para a casa Massó os dados se referem exclusivamente à fábrica de Salgueirón e para a Curbera a de Areal de Vigo, ficando excluídos respectivamente as fábricas de Bueu e Aldán (Ameixide). É também importante realçar que os anos 1930-1932 são os mais duros pela Grande Depressão de 1929, algo que se refletirá especialmente nos números do último ano.
Família de Mauro Alonso Cuenca
Mauro a sua mulher, Margarita Gil Sequeiros e os11 filhos, em Setembro de 1937.
A crescente importância da Antonio Alonso e filhos no panorama empresarial de Vigo, foi acompanhada por uma também importante presença de Mauro na sociedade e política local. Mauro Alonso foi “concejal” – cargo das administrações municipais em Espanha – e deputado provincial em várias ocasiões, vice- presidente da Câmara de Comércio entre 1921 e 1924, e ainda Alcaide de Vigo, entre Janeiro de 1927 e Abril de 1929. (25)
25 González Martín, Gerardo (2007), pp.171-205.
O seu prestigio como gestor fez com que fosse chamado como árbitro em litígios internos ou como conselheiro de empresas em situações como foi o caso da Vidriera Gallega, uma importante fábrica de garrafas, estabelecida em Rande, no principio dos anos vinte. Foi com Ventura Cerqueira, Braulio Amaro, Joaquín Dávila Román, Santiago Martínez e a própria “Federación Gremial de Patronos” um dos fundadores da sociedade que iniciaram 1927, destinada à exploração do Depósito Franco, em Vigo, que tinha sido concedido em 1918, mas até à data tinha sido mal gerida por falta de iniciativa local. (26)
26 RMP, 22/182; Lebrancón (2008 )
Durante a guerra civil espanhola consegue manter e inclusivamente fazer crescer ligeiramente as conservas de sardinha, atingindo um máximo histórico em 1937. Ganham protagonismos o mexilhão e o berbigão, e aumenta de forma notável bonito e o atum, que em 1938 convertem-se na principal produção do grupo. (27).
27 AAC, Archivadores Nuevos, nº1.
Se a produção das três fábricas galegas da Antonio Alonso Hijos aumenta no seu conjunto de forma ligeira a faturação durante os anos de guerra e os lucros sobrem de forma espetacular. A própria empresa declara ter tido um lucro médio anual de 144.000 pesetas durante os três anos anteriores a 18 de Julho de 1936, que haviam sido 448.000 no primeiro ano de guerra, 827.000 no segundo e 612.000 no terceiro. (28)
28 AHPP, Delegación de Hacienda de Vigo, leg. 11.311.
A cruz de Mauro Alonso neste período foi a morte do seu filho mais velho, no afundamento do cruzeiro Baleares, em que também morreria Humberto Fernández Cervera, filho do conserveiro de Cangas, Francisco Fernández Cervera. (29)
29 Industria Conservera, nº35, marzo 1938.
Antonio Alonso Hijos terminou a guerra com um balanço que duplicara desde o principio da mesma, com as suas quatro fábricas a trabalhar no limite das suas capacidades e como a mais diversificada do conjunto das maiores empresas conserveiras Galegas. Mas, tratando-se de uma empresa familiar e tendo morrido em 1935, Eloísa Giménez Cuenca, a viúva do fundador, tinha um problema entre mãos, o da sucessão.
Cartazes publicitários de autor desconhecido – anos 30
O estalar da guerra civil tinha acalmado a questão da sucessão, mas quando terminou os diferentes estilos empresariais de Mauro e Rodrigo e as divergências típicas das sucessões, conduzem a que em 1940 a empresa se divida em duas.
1940 – Vista parcial de la zona de embalo de sardinha na fábrica de Setúbal (Portugal)
Autor: Baptista. (Setúbal, Portugal)
Mauro Alonso, ficará com a mais importante das fábricas da família, a do Areal, mas desprovida de maquinaria que ficariam para os seus irmãos. Junto com esta fábrica, a que chamavam “fábrica antigua”, ficariam também as marcas: “Conservas Alonso” e “Conservas Antonio Alonso, hijos”.
Os outros três irmãos, Rodrigo, Antonio e Salvador, ficariam com o resto dos edifícios industriais (Setúbal, Celeiro e Bueu), assim como toda a parte da fábrica de Vigo onde estavam as oficinas mecânicas, fábrica de chaves e carpintarias. Ficariam com as marcas “Palacio de Oriente”, “Albatros”, “La Corrida” y “Arosa” (30).
30 AHPP, Delegación de Hacienda de Pontevedra, leg. 11.311 y AAC, Asociados, cajas nº1 y 2
1940 – Control e recepção de peixe na fábrica de Setúbal. Autor: Baptista. (Setúbal, Portugal)
A divisão da herança e da empresa é feita com a intenção de continuarem com a atividade iniciada pelo seu pai. Para este fim, Rodrigo, Antonio e Salvador, constituem uma nova sociedade limitada, com a denominação Conservas Antonio Alonso (31).
31 RMP, 34/150.
Mauro continuará o negócio como empresário individual.
A história reiniciava-se. O período que se abrira com o pós guerra fica caracterizado pela falta de folha de flandres e azeite, e também pela nova escassez de sardinha que causa de novo problemas aos industriais.
Mauro partia com desvantagem. A sua nova empresa estava desintegrada, o que queria dizer que dispunha de uma enorme fábrica, mas apenas dispunha da oficina de madeiras, dependendo do mercado para todos os outros processos produtivos. Isto não era um enorme problema porque em Vigo existiam fornecedores de vácuo, caixas de madeira, ou chaves, de forma que conseguiu rapidamente colocar os seus produtos no mercado. Mas o que era uma desvantagem era o facto da empresa que ficou para os irmãos ser a mais orientada para a produção de sardinha, bonito, anchova e cavala, conhecida por “abisinio” devido à sua enorme exportação para Itália para as tropas destacadas para a guerra colonial, se terem concentrado em Celeiro.
A partir de 1944 começariam a trabalhar com Mauros os seus filhos Alejandro e Quintín, Que pouco a pouco iriam assumindo a direção da fábrica. Esta atingiria uma dimensão média, mas que sem chegar aos níveis de faturação anteriores à divisão. Mauro morreria em 1965, deixando dez filhos, dos onze que teve com a sua mulher Margarita Gil Sequeiros. Por essa altura a fábrica situada na rua Serafín Avendaño manteria pouco mais de uma centena de postos de trabalho, um número semelhantes ao que os seus irmãos tinham na fábrica de Guixar. Já na fábrica de Bueu tinham praticamente o triplo de postos de trabalho. (32)
32 Serviço Sindical de Estatística (1962).
Vista panorâmica de Bueu
Nas classificações que se começaram a realizar no final dos anos cinquenta para o pagamento de impostos, pelos denominado sistema de avaliação global, a empresa Mauro Alonso ocupava em 1959 o número doze, com uma base que representava aproximadamente a metade dos seus irmãos, que ocupavam o sétimo lugar. (33)
33 AAC, Arquivo de correspondência da “Delegación Hacienda”.
O mais velho dos filhos de Mauro tinha morrido no naufrágio do Baleares durante a guerra civil e seriam Quintín e Alejandro que se veriam forçados a procurar novas fórmulas para a continuidade da empresa. Com esse objetivo transformariam, em 1967, a empresa em sociedade anónima, com um capital de quinze milhões de pesetas e na qual participariam também Alonso Gil, os cunhados Luis Kaifer Asenjo, José de la Gándara Llanos e Carlos Dotras Lamberti, os dois últimos pertencentes a famílias de conserveiros, mas que nunca vieram a ter funções executivas.
Os graves problemas que o sector atravessa durante os anos sessenta, iniciados com o problema do metanol e da queda das vendas, deram lugar a necessidades de capitalização difíceis de conseguir e também à oportunidade de utilização de instalações, que agora estavam no centro da cidade, levaram ao encerramento da empresa em 1973 (34)
34 AAC, Asociados, Archivador nº1.
A empresa dos outros três irmãos, Rodrigo, Antonio e Salvador, apresentava melhores perspectivas. Tinham três fábrica, oficinas de vácuo, carpintaria, e uma diversidade de produtos mais adequada para enfrentarem a crise da sardinha de 1945 a 1955. E, já antes da Segunda Guerra Mundial tinha tido à sua disposição uma vantagem significativa: a de poder exportar como a maioria das fábrica galegas, para a Alemanha e Itália, a partir de portos espanhóis, ao mesmo tempo que exportava para Inglaterra a partir da fábrica de Setúbal.
O único problema era que tinham ficado sem a fábrica de Vigo e por isso decidiram construir uma grande fábrica em Ríos e no entretanto trabalhar numa outra que tinham comprado no bairro de Guixar, a Roberto Alonso Lamberty no verão de 1941. (35)
35 AAC, Asociados, archivador nº1, carta de Antonio Alonso SL á UFC de 29/8/1941.
Ficha comerical de marcas y patentes. Conservas Nila. Antonio AlonsoHijos
Ficha comerical de marcas y patentes. Conservas El trabajador. Antonio Alonso Hijos
A empresa manteve-se com lucros, emborrem muito mais reduzidos do que no decurso da segunda metade dos anos quarenta e princípios da década de cinquenta. Assim nunca conseguiu, com os recursos obtidos da atividade, financiar a conclusão da nova fábrica de Ríos, que nunca chegaria a laborar. De qualquer modo conseguiu, em anos que as empresas galegas tinham muita dificuldade em exportar, colocar quantidades relativamente importantes no mercado internacional.
Nos exercícios de 1947-48 e 1949-50 vendeu para o exterior os maiores valores da sua produção, em torno dos 37 a 43% da sua faturação, nomeadamente para Cuba, que se mantinha um mercado tradicional importador desde a época do fundador. No mercado interno, durante o final da década de quarenta, Barcelona, Madrid e Valência eram as cidades espanholas que absorviam as maiores quantidade de produtos das Conservas Antonio Alonso e filhos. (36)
36 AHPP, Delegación de Hacienda, leg. 11.311.
1952 Classificação de atuns para venda no mercado de Sesimbra. Autor: Cabecinha. (Sesimbra, Portugal)Mauro Alonso sempre se mantivera à frente da sua nova empresa, mas os seus irmãos Rodrigo e Antonio Salvador dividiam a sua atividade nas Conservas Antonio Alonso com outras iniciativas por sua conta própria, o que fez com que a gestão da empresa passasse a ter maior influência dos gestores externos à família e que faziam parte do conselho executivo. Uma influência que foi crescendo à medida que os três proprietários iam cedendo participações aos seus filhos. Rodrigo, Antonio y Salvador tinham-se casado, respetivamente com Petra Fariña, Elisa Meléndez e Caridad La Rosa, pelo que os três grupos familiares destinados a herdar a propriedade das Conservas Antonio Alonso eram os Alonso Fariña, Alonso Meléndez e Alonso La Rosa. Destes foram os Meléndez que desde o principio se ligaram mais ao negócio conserveiro.
1947, Descarregadores de Peixe, Setúbal, Portugal – Foto Américo Ribeiro
Na realidade, Guillermo Alonso Meléndez tinha-se estabelecido em Setúbal em 1940 para dirigir diretamente a empresa que se tinha convertido na principal fábrica da empresa familiar num momento de grandes perspectivas exportadoras como era a da Segunda Guerra Mundial.
Guillermo Alonso Meléndez
Mas já durante a segunda metade dos anos quarenta, tanto Guillermo como Antonio Alonso Meléndez, dividiam a sua atividade na empresa familiar, como com iniciativas próprias.
Primeiro foi Antonio que fundou uma nova fábrica de conservas em Portosín, logo seguido de Gullermo, que compraria uma em Cambados. Ruben, o terceiro irmão, casado com uma filha de Eugenio Calderón Montero Ríos, presidente da SNIACE e empresário relacionado com a indústria têxtil catalã, iria viver para Barcelona.
A situação de Antonio Alonso Meléndez é representativa dos problemas que os empresários tinham de enfrentar na época para entrar no sector das conservas. Quando Antonio se decide a estabelecer por conta própria toma dois tipos de iniciativa; Primeiro montar a fábrica, o que acontece nos princípios da década e edificaria em Portosín, numa antiga salga da família Roura, uma tarefa que finaliza em 1947 (37)
37 Mariño del Río (1996), p. 126.
Quando a fábrica está finalmente capaz de produzir, tem de empreender um segundo tipo de iniciativas, destinadas a conseguir as quotas de azeite e folha de flandres necessários à produção. Com esta finalidade vê-se forçado a comprar uma empresa em Pobra do Caramiñal (Conservas e Salazones Pialso) e a alugar outra em Marín, propriedade de um médico de Vigo, (Luis Patiño) e que posteriormente passaria a Conservas Gama.
Em ambos os casos Antonio não tinha a mínima intenção de produzir, mas sim a de obter as quotas necessárias para poder entrar na indústria. Finalmente a fábrica Portosín começaria a laborar e a produzir as marcas “Mar del Sin” e “La Gordita Pancha”, até vender em 1960 a fábrica a Daniel Vázquez. Guilhermo tinha tratado do seu regresso a Setúbal e em colaboração com o seu irmão Rubén Alonso de estabelecer uma nova fábrica em Muros.
Para este efeito tinham solicitado autorizações em Novembro de 1945, mas a avalanche de reclamações típicas destes casos fez com que a secção de “Nuevas Industrias de la Dirección General de Industria” se tenha decidido pelo adiamento sine dia das autorizações. (38)
38 AGA, Nuevas Industrias, caja 5.672.
Guilhermo decidiu-se então pelo aluguer da fábrica de Cambados, detida por Amador Mouriño, na qual trabalharia durante nove anos, até que em 1959 a vende às Conservas Galbán. (39)
39 AAC, Asociados, Archivador nº5.
Precisamente nesse ano Guilhermo assumiria a presidência da “Unión de Fabricantes de Conservas”, que manteria durante seis anos, até 1961. Guillermo Alonso Meléndez também participou em 1953 na fundação da “Sociedad Anónima Pesquera Industrial Gallega (S.A.P.I.G.), em que o protagonismo executivo correspondia a José Barreras Puente (40.)
40 RMP, 61/52.
O Sai Sempre que apregoava cada cor seu paladar – foto Américo Ribeiro
Fábrica Alonso 1952 – Setúbal
Descarregador de peixe 1952
Fotos de Américo Augusto Ribeiro (1906 – 1992)
As dificuldades para a renovação de equipamento fundamental que sofreram todas as empresas do sector durante os anos de “la autarquia” – Franco inaugurou uma era política económica durante os anos quarenta, 1939-1959, que ficou conhecida pelos “anos da autarquia” – haviam afetado não só a manutenção de um elevado grau de mecanização relativamente inferior aos países concorrentes nas tarefas de manipulação, envase, e fecho das latas, como também na produção das mesmas, circunstância que se traduzia numa elevada percentagem de quebras, que se designavam normalmente como “envase defeituoso”.
Por estes motivos, quando finalmente se produz a relativa abertura da economia espanhola, nos finais dos anos cinquenta, os conserveiros que tinham oficinas de vácuo viram-se obrigados a modernizá-los ou a fechá-los.
Com a situação económica que o sector atravessava poucas empresas espanholas tinham os meios e a vontade de realizar investimentos, por essa razão a maioria das empresas de Vigo mostraram-se favoráveis a um acordo com a empresa francesa, Carnaud, para estabelecer uma grande fábrica de embalar em Vigo, com maquinaria moderna, uma produtividade muito superior às fábricas existentes e uma percentagem de quebras muito menor. As Conservas Antonio Alonso foram uma das primeiras empresas que apoiaram o novo projecto, no qual também entraram a Curbera, Alfageme, Gándara e Haz, Thenaisie, Daniel Vázquez, Cerqueira, Figueroa, López Valcárcel, Pita, e, depois de algumas dúvidas, Massó e La Guía. Carnaud Galicia, S.A.
Constitui-se finalmente no Outono de 1961, absorvendo assim as principais oficinas de vácuo que existiam em Vigo, o que significou que inclui o pessoal das Conservas Antonio Alonso e José R. Curbera. (41)
41 Dirección General de Industria, Consejo Superior de Industria, Informes Anuales, nº57 (1960), pp. 158-9.
Prisão de bacalhoeiros em greve – Setúbal 1962 – foto de Américo Augusto Ribeiro (1906 – 1992)
As vantagens consequentes da política de cooperação para a sub contratação do envase, que tinha implicado a constituição da Carnaud, animou o grupo de conserveiros de Vigo que haviam apoiado este projeto a desenvolver novas estratégias de colaboração que permitiram benefícios mútuos e criar economias de escala que a sua pequena dimensão antes não lhes permitia.
Em relação aos fornecedores verificou-se uma economia significativa em termos de azeite e nos ingredientes para os molhos. Num momento de crise, como foram os anos sessenta, em que se estava à procura de produtos de substituição de uma pesca tradicional em crise, era fundamental a colaboração. Desta forma se, por exemplo, era necessário importar atum, era difícil que um pequeno fabricante pudesse sozinho ficar com a carga de um barco completo.
Também neste aspeto a colaboração se impunha. Para este efeito, centralizar as compras, o grupo de industriais de Vigo constituíram, em 1965, a Facore (Fabricantes de Conservas Reunidos). Mas mesmo com as iniciativas de racionalização a situação geral do sector conserveiro em meados dos anos sessenta era extremamente complicada para a o outro ramo familiar dos descendentes de Mauro Alonso. E, à semelhança das Conservas Antonio Alonso, teve de se confrontar com o problema da transição geracional. Em 1965 morre Rodrigo Alonso Jiménez Cuenca (42) , numa altura em que os seus dois irmão, Antonio e Salvador tinham 79 e 70 anos.
42 Industria Conserveira, Outubro de1965.
A passagem de poderes não podia esperar, apesar de parte da direção estivesse contratada a gestores não familiares.
Dois Alonso Mendélez, Antonio e Gullermo (43) morreriam também nos anos 1965 e 66 respectivamente. Dos seis sócios que detinham a empresa, os três da segunda geração e um de cada ramo da terceira, tinham morrido dois e os outros tinham mais de 70 anos.
43 Industria Conserveira, nº325 (1966).
Desde 1965 que a fábrica de Guixar, que tinha aberto com caráter provisório, mantinha o mesmo estatuto um quarto de século mais tarde. A sua organização interna, tal como acontecia em Bueu, tinha sido pensada para uma industria que havia mudado drasticamente e sem serem realizados os investimentos necessários mantinha uma produtividade baixa.
A fábrica de Celeiro, havia-se instalado ali nos anos vinte, para produzir principalmente a anchova e o bonito, mas na segunda metade dos anos sessenta as anchovas raramente passavam em Estaca de Bares e o bonito escasseava inclusivamente no Cantábrico.
Apenas a fábrica de Setúbal, que se havia tornado naquela altura a mais importante do grupo, mantinha uma produção aceitável. Até aproximadamente 1964 o seu principal mercado tinha sido a Venezuela, para onde exportava principalmente conservas de atuns, aproveitando o forte prestígio que tinha a marca Palacio de Oriente.
As dificuldades de importação que a Venezuela estabeleceu a partir da desvalorização da moeda, o bolívar, em 1964, limitaram as exportações para este mercado, o que fez com que as Conservas Antonio Alonso tivessem de procurar nos forma de rentabilizar a marca, Para este fim estabeleceram um acordo com o grupo venezuelano Productos del Mar, que tinha uma fábrica de conservas em Cumaná, e à qual a empresa espanhola cedia a utilização da marca em troca de royalty, o que aconteceria quase até aos anos oitenta.
A perda do mercado venezuelano para a fábrica de Setúbal obrigou os Alonso a procurar outros mercados que o substituíssem e também a aumentar a sua quota no mercado interno português. Para esse fim realizaram um acordo com a empresa conserveira portuguesa Cofaco, que era detentora da prestigiada marca Bom Petisco e com a Empresa de Pesca de Aveiro, que tinha barcos nos Açores e Angola. Este último acordo representava uma excelente aposta tanto para a o fornecimento do tradicional atum branco, como para novas espécies tropicais dos atuns, que estavam a ocupar lugar nas conservas espanholas e portuguesas.
A Alonso, Cofaco e Empresa de Pesca de Aveiro constituíram a Coresa (Conserveros Reunidos) para a distribuição das marcas de todos os parceiros. O acordo duraria quase 20 anos, ou seja até aos anos oitenta.Em termos de exportação a fábrica de Setúbal não conseguiu alcançar os valores da época de exportação para a Venezuela, mas reforçou outros mercados, como o Suíço, de maneira que as exportações representavam cerca de 30% da sua produção nos anos setenta.
Em 1969 entraria como CEO da empresa Guillermo Alonso Jáudenes, filho do prematuramente falecido Guillermo Alonso Meléndez e de Amelia Jáudenes Sarmiento, ligada aos banqueiros Jáudenes Bárcena.
Tinha estudado direito em Madrid e regressado a Vigo quando da morte do seu pai, começando nessa altura a estudar contabilidade e gestão, ao mesmo tempo que começava a trabalhar na SAPIG (Pesquera Industrial Gallega, S.A.), empresa pesqueira a que presidia José Barreras Puente, que tinha sido sócio do seu pai.
Ligado ao sector conserveiro não apenas pela herança paterna, mas também pelo casamento com uma filha de José Curbera Alonso, assumiria a direção da empresa após alcançar um amplo consenso entre os outros membros da empresa familiar.
As Conservas Antonio Alonso atravessavam na época uma situaçãoambivalente. Por um lado estavam bem integrados em Portugal, frutos dos acordos realizados, mas a produção das suas fábricas galegas estavam nos mínimos. Sem a resolução dos problemas que afetavam as fábricas de Vigo, Bueu e Celeiro, a três não representavam nem metade da produção da fábrica de Setúbal.
Nesta situação Guillermo Alonso propôs-se a devolver o pulso ao negócio da família, através de uma reestruturação e modernização de todas as suas fábricas e uma maior especialização de cada uma.
Uma das primeiras medidas tomadas pelo novo gerente foi fechar em 1971 a fábrica de Guixar, que tinha trabalhado temporariamente por quase trinta anos. Em Celeiro decidiu especializar-se na produção de atum, passando Bueu a lidar com o resto das produções, estabelecendo-se a direção em Vigo.
Mas a racionalização da estrutura da empresa não constituía mais do que um primeiro passo num sector que atravessava uma situação critica desde o inicio dos anos sessenta.
Assim a gestão do mix de produtos e a sua origem começou a ser uma questão chave para a sobrevivência. Algumas empresas tinham começado a apostar numa estratégia baseada na especialização em atum tropical e na importação de pescado, outras apostam em comprar embarcações.
Alonso optará por orientar a sua estratégia sobre dois pilares fundamentais.
O primeiro, manter uma certa primazia na produção de atuns, cuja transformação tinham sido pioneiros na Galícia. Mas com duas nuances, a de não basear toda a sua produção apenas nesta espécie e a de manter um lugar importante nas restantes espécies mais tradicionais, com o bonito e o atum voador, fazendo frente à invasão das espécies tropicais.
No Gráfico nº1, entre 1971 e 1982 a produção da empresa aumentou quase 50%, apesar da forte quebra em 1975. Seria precisamente nesta altura que a produção de atuns superou todos o conjunto das restantes espécies.
Este aumento deveu-se à entrada em fábrica do atum claro, de origem tropical, acompanhando assim a empresa a tendência geral do sector, mas sem que isso significasse, como ocorreu em outras companhias, o abandono da produção de atum branco e bonito, cuja produção cresceria inclusivamente nos anos seguintes. Não apenas cresceria a produção como se acentuaria a presença das Conservas Antonio Alonso nos mercados exteriores.
A empresa representava um pouco mais de 2% do total das exportações galegas de conservas em 1966 e em 1973 passa para 8,5%. Um êxito que se apoiaria no mercado Suíço, onde o seu principal cliente era a cadeia Migros, nos EUA onde através de um antigo representante anteriormente em Cuba tinha passado a vender aos três maiores distribuidores hispânicos em Chicago, Miami e NY.
O segundo pilar da estratégia seria a aposta no mercado de fornecimento de matéria prima.
A Alonso, tal com Albo, não optaria pela integração vertical no mexilhão, continuando a comprar aos pescadores, sem adquirir meios próprios. E também não o faria no caso do atum. Decidira comprar a empresas especializadas, o que faria num primeiro momento através da Facore.
A quarta geração do negocio de família mantinha assim fidelidade à política que tinha seguido a segunda geração, quando nos anos vinte se diferenciaram do modelo Curbera e apostaram em centrar-se exclusivamente na atividade transformadora e recusando a entrada em outras fase do ciclo de produção.
Descarga de atum a bordo (foto baptista)
Com a morte em 1973 de Antonio Alonso Giménez-Cuenca, ficava apenas Salvador como membro da segunda geração, que se apressou a converter a antiga sociedade limitada em anónima, o que seria realizado em 1977. Nessa altura a empresa tinha 22 sócios, cuja maior participação pertencia a Salvador, distribuindo-se o resto entre o membros da terceira e quarta geração da família. Jorge Alonso La Rosa e Guillermo Alonso Jáudenes assumiriam a direção da nova companhia.
Nos anos seguintes segue-se um esforço para prestigiar a marca própria, fundamentalmente a marca Palacio de Oriente, mas ao mesmo tempo, numa época de um desenvolvimento brutal da grandes distribuição, não deixam de produzir para marcas do distribuidor e na segunda metade dos anos setenta começa a vender debaixo das marcas de Simago, depois Continente e seguem-se outros grandes distribuidores.
Nos anos 1992 e 1993 a empresa aborda uma profunda modernização das suas linhas de mexilhão, moluscos e atuns, assim como os processo de embalagem (44) e no final da década encerra a sua octogenária fábrica de Bueu e abre uma nova no polígono industrial Castiñeiras.
44 Alimarket, Informe anual de alimentación no perecedera, 1993.
Entretanto tanto os filhos de Guillermo Alonso Meléndez, e os Alonso Jáudenes, iam adquirindo participações aos membros dos restantes ramos familiares, até chegarem à situação actual em que detêm 90% do capital.
Na atualidade as Conservas Antonio Alonso situam-se como uma empresa de tamanho médio dentro do sector, com uma boa posição no mercado, em que à frente se encontra Guillermo Alonso Jáudenes, que integrou na sua direção membros da quinta geração da família fundadora.
Trata-se de uma típica empresa familiar, em que a propriedade pertence aos irmãos Alonso Jáudenes e a gerência a um dos seus ramos.
Retomou assim a tradição da época da segunda geração, tendo Guillermo Alonso tido uma importante presença pública na economia de Vigo, pois foi presidente da Confederación de Empresarios durante 16 anos e presidente da Caixanova durante oito.
As Conservas Antonio Alonso têm hoje o orgulho de ser, entre as empresas conserveiras nascidas na Galiza, a mais antiga de todas.
Capa de catálogo de 1915
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