A Pesca do Atum e de Outros Peixes na Costa Barlaventina - Almadravas e Acedáres

por José Carlos Vasques

´“Contributos para as Memórias de Lagos”

Com o passar dos anos vai ficando esquecida essa importante actividade que foi a pesca do atum e da sardinha no Barlavento do Algarve, nomeadamente de Lagos até ao Cabo de S. Vicente.

A pescaria dos atunídeos no Algarve foi, sem dúvida, aquela que mais riqueza gerou, tanto para o Estado como para os que directamente a exploraram. Conta a História que em todo o Mediterrâneo o atum era pescado em grandes quantidades e também extraordinariamente apreciado a ponto de lhe atribuírem virtudes como alimento saudável. O certo é, que a importância deste peixe foi tal que os povos da antiguidade cunharam, ou melhor, bateram, moeda com a figura do peixe.

Não é possível esquematizar todos os modos usados na pesca do atum durante a antiguidade. Sabe-se que foram usadas linhas providas de anzóis de bronze, e cercos de correr constituídos por embarcações de vários remadores e equipados com redes que cercavam os atuns quando estes atacavam cardumes de peixes menores; o sinal, para estes barcos actuarem, era dado por atalaias situadas em pontos estratégicos da costa que visualizavam o “borborido” dos peixes durante o ataque para se alimentarem.

As almadravas, compostas por redes fixadas por pedras com furos (poitas), ao fundo marinho, eram redes com um compartimento onde o peixe ficava enclausurado, denominado saco, ou buxo.

Os cercos de correr não deixaram na costa barlaventina grande tradição. De facto, ficaram conhecidos mais por estarem ao serviço da pesca de outras espécies e não, particularmente, do atum. Porém, na eventualidade de alguns destes peixes de maior porte caírem nesse cerco eram então arpoados e embicheirados (a forma tradicional de se conseguirem embarcar).

A importância da pesca do atum foi tal que a aculturação romana deixou profundas marcas e testemunhos atestados pelos inúmeros pios de salga (cetárias) e pelo profuso tráfego de ânforas. Em Lagos, junto ao mar, e nos locais históricos ocupados pelos povos da antiguidade, por todo o lado, vai a arqueologia revelando construções cobertas pela terra e recuperando materiais que isto testemunha.

Antes do Infante D. Henrique estabelecer residência em Lagos e investir nas coisas do mar já outros o tinham feito mas, mais na indústria da salga de peixe. As almadravas da Torre Alta e da Torre Altinha, em Lagos, foram exploradas por várias gerações, incluindo a do Infante D. Henrique. Isto não constitui, hoje, novidade histórica.

No terreno que margina a estrada da Ponta da Piedade, do lado da baía de Lagos, pode-se ver os alicerces das duas torres vigias que deram nome às armações. Sem placa nem legenda, aí dormem esquecidas pelo tempo e pelos homens.

Além destas duas almadravas, outras conhecidas, embora mais antigas, situavam-se em: Beliche; Cabo; Baleeira; Zavial; Almádena e Burgau, e daí recebiam o respectivo topónimo identificativo.

Foi lançada, em data imprecisa, uma armação, ao norte do Cabo de S. Vicente que, pelo que se recolheu da tradição oral, não chegou a pescar pois uma forte corrente de mar arrastou-a, impossibilitando a sua recuperação. Deixou no sítio onde foi lançada o topónimo Armação Nova. É local, hoje, muito frequentado por pescadores desportivos. A razão dessa destruição é bem conhecida e radica nas fortes correntes, de vários rumos e mudanças rápidas e difícil previsão. Exemplo de como a natureza ainda impõe os seus mandos e que veio contrariar as veleidades de quaisquer investimentos nessa área.

As armações do atum, como as da sardinha, careciam de autorização real expressa. Como contrapartida, a coroa retirava fartos proveitos, através dos impostos sobre o pescado, que chegaram a atingir a cota de 60% sobre o atum e de 40% sobre a sardinha. Essas concessões reais incidiam sobre todos os bens do mar, incluindo o sal que era monopólio régio, tendo para este efeito, inclusivamente, sido criadas as Casas do Sal.

No séc. XV a abundância do atum era um facto e o investimento nas armações tornou-se negócio muito lucrativo. Para se lançar uma armação o investimento era avultado pois exigia despesas com matérias e muita mão-de-obra envolvida nos serviços de feitura das redes, cordas, flutuadores de cortiça e barris cintados. A matéria-prima, havia-a na região: linho, esparto, cortiça e madeira. Os metais, por serem mais caros, eram substituídos pela pedra, caso das lajes usadas em vez de âncoras de ferro, nas armações mais antigas, segundo diz a tradição oral. Existiam ainda os barcos que apoiavam as armações, com as suas respectivas tripulações; o pessoal que servia nos trabalhos da copejada, e outros em terra que mantinham a arte operacional. No século XV a armação do Beliche tinha ao seu serviço quarenta homens, número normal para a maioria das armações.

O atum de direito é aquele de maior valor, o que vem do Atlântico entrando no Mediterrâneo. Para o capturar tinham as armações que estar orientadas correctamente, e de modo diferente daquelas adoptadas para a captura do atum de revez, o que sai do Mediterrâneo e que, após a desova, vem magro, com menor valor.

Esta pesca foi tão importante no Algarve que constituía uma honra integrar a hierarquia de uma armação. Eis alguns dos cargos: mandador, escrivão, patrão de lancha, contra-mestre e, no fim da cadeia hierárquica, o copejador e o companheiro. A figura máxima era o Provedor das Almadravas do Reino do Algarve.

Para termos uma ideia da importância económica desta actividade basta-nos a constatação de que os arraiais eram protegidos por fortalezas militares devidamente artilhadas. Aí se escudavam do assalto da pirataria que rondava a costa, sob a alçada dos fortes de Burgau, Zavial, S. Luís de Almádena, S. Inácio (destruído pelo sismo de 1755), Vera-Cruz da Figueira, Sagres, S. António do Beliche, e outros mais.

Os que trabalhavam nesta faina estavam sujeitos a grandes riscos, quer naturais, quer dos piratas e corsários que nessa época infestavam os mares. Com a perda da Independência e a posse das duas coroas no Rei Filipe II de Espanha, caducou o tratado luso-britânico firmado ao tempo de D.João I e ficou a costa portuguesa sob alvo dos corsários ingleses. Francis Drake, ao serviço de Isabel I, e comandando uma frota de vários navios com cerca de três mil homens, saqueou vários pontos do litoral algarvio. Atacou a fortaleza de Sagres em 1587, destruindo as almadravas da Baleeira, Cabo e Beliche. Saqueou Alvor e Faro e fez avultados prejuízos por toda a costa algarvia. Era frequente o ataque da pirataria logo que as armações começavam a sua temporada de pesca, por volta de Abril ou Maio. Estes ataques eram tão violentos que as populações refugiavam-se no interior, abandonando os seus haveres, as casas e o gado. Os piratas rapidamente abatiam e esquartejavam os animais, transportando-os consigo, encontrando assim uma forma fácil de abastecimento de víveres.

Em Maio de 1620 a armação da Baleeira foi atacada por uma força turca que contava cerca de oitocentos homens, e dez embarcações, mas a fortaleza resistiu.

Em 1631 a armação de Almádena era constituída por quarenta homens e oito barcos pequenos. Em consequência dos frequentes ataques dos magrebinos foi pedida, ao Rei Filipe II, a construção duma fortaleza para a defesa dessa armação.

Nenhum monarca abdicou, alguma vez, do rendimento das armações e por outro lado, o pescado era integrado na ementa das tripulações de toda a navegação oceânica. Afonso V, num acto consciente e generoso, passou a ser fornecedor de linho, esparto, cordame, breu e alcatrão, produtos usados na confecção dos apetrechos das armações. Já D. João II negociou as pescarias com o Conde de Travento, um italiano que aqui estabeleceu negócio considerado, à época, bastante rendoso. Ainda durante o seu reinado outras concessões foram feitas a sicilianos, milaneses e outros que, mercê do êxito alcançado, até mandaram erigir a expensas suas, a ermida de S. Roque, no delta da ribeira de Bensafrim. Daí o nome dado à extensão de praia compreendida entre as duas barras da entrada do porto. Também construíram a Igreja de S. Pedro, situada na Ribeira dos Touros. Ambos os templos foram destruídos pelo terramoto de 1755.

A citada praia de S. Roque conheceu ali um grande arraial de armações, bem como os estaleiros navais. Vivia-se, então, neste local, uma intensa actividade, razão pela qual existia o necessário apoio espiritual materializado na edificação desses templos.

Durante muitos anos esteve visível a caldeira onde se alcatroavam os cabos e as redes. Hoje, tudo jaz debaixo do enorme monte de areia aí depositado, retirado pela draga aquando da construção da actual doca-pesca. Havia, no local, um poço de fina água doce para serventia de quem laborava nesse local. Nesta praia de S. Roque se concentrava uma intensa actividade ligada à construção naval e a sua importância é atestada por mais um aspecto: para sua defesa, se olharmos atentamente, perceberemos nos arcos da rua da Barroca, as rampas para a artilharia.
 
O Baluarte da Porta de Portugal foi, infelizmente, arrasado, e no seu local foi, depois, implantado o célebre Jardim dos Amuados. Desse baluarte se defendia um outro estaleiro naval e grande parte do espelho de água onde ancoravam as frotas.
 
Durante as terraplanagens para a construção da estrada para a estação dos caminhos-de-ferro foi encontrado o cais rampeado para o bota-abaixo das embarcações. Hoje, poucos se lembram  da existência de um estaleiro nesse local, e do mestre Pedro calafate. Esquecer estes aspectos da nossa história é uma falta imperdoável, pois assim se esquecem esses heróis do mar, esse “nobre povo” tão ingenuamente cantado por bocas que não lhe conhecem o significado.

Viam-se os homens do mar, amiúde, obrigados a enterrar os seus pertences em silos para os poupar aos ataques constantes de corsários e piratas. A esses buracos chamavam “covas de pão”. Foram estes pescadores que povoaram sítios isolados do litoral, foram eles que retiraram do mar a subsistência de comunidades inteiras. Quando a armação desarmava ajudavam nas lides do campo, integrando-se completamente numa sociedade verdadeiramente solidária.

As armações, sendo artes piscatórias, deparavam com grandes adversidades, como os fortes vendavais que surgiam inesperadamente e faziam a armação submergir por acção da forte “aguagem”. Amainando o tempo as bóias voltavam a ficar visíveis e era necessário, então, reparar os estragos. Do mar, tudo era de esperar, alimento e desgraças. Não se podendo, hoje, fazer ideia do que tudo isso terá sido. Apenas os ecos orais dessas histórias perduraram no tempo.

Sabe-se que os governadores da Praça Forte de Lagos terão dispensado auxílios, mandando tropa para suas defesas, e que os próprios reis autorizaram o porte e utilização de armas para defesa dos pescadores. Até mesmo quando alguns inimigos naturais das espécies pescadas as atacavam, como os roazes corvineiros e os de bandeira, os pescadores pediam ao Governador da Praça para mandar fazer alguns tiros de peça para os afugentar da costa.

Sujeitos ao barómetro das políticas mais desastrosas do nosso país, os pescadores foram também vítimas indefesas. Como se disse, a perda da nossa independência, a guerra da sucessão e a luta entre liberais e miguelistas constituíram acentuados períodos de decadência das armações.

No Termo de Lagos, durante a época filipina, operavam oito armações de atum mas grande parte delas desarmaram; só a armação da Torraltinha vigorou durante todo esse período. Há razão lógica para isso. A capacidade defensiva da Praça Militar de Lagos. Durante a vigência dos Filipes assistiu-se, efectivamente, ao acentuado declínio das armações, nomeadamente das que laboravam na área do Cabo de Sagres. Até a hierarquia das armações mudou: provedor das almadravas; recebedor das almadravas; escrivão das almadravas; mandadores (dois em cada almadrava); atalaia; praguiceiros (dois por cada mandador); a companhia (companheiros); capelão e escrivão. O atalaia das armações operava em terra, sendo vigia, com a missão de assinalar a presença do peixe e sinalizando-a ao som de apito.

No início deste período existiam, entre Lagos e Sagres, as seguintes armações de pesca ao atum: Torralta; Torraltinha; Burgau; Almádena; Zavial; Baleeira; Cabo e Beliche. Algumas destas já existiam antes da vinda do Infante D. Henrique para Lagos. Em 1632, e durante alguns anos, não se armou a almadrava da angra da Mareta devido a dificuldades e excessos cometidos pelo Capitão do Castelo de Sagres, um castelhano.

As leis criadas pelos nossos monarcas, anteriores aos Filipes, nunca foram integralmente cumpridas. Uma dessas leis estipulava que todo o peixe vendido em lota o seria com o dinheiro na mão, para evitar a fuga aos impostos e garantir os pagamentos de materiais vários e aos próprios pescadores.

Não eram só os atuns que entravam nas armações, estas capturavam também outras espécies: albacoras, golfinhos (toninhas), corvinas, sarrajão, pargos, e uma grande variedade de peixes brancos (apreciados para alimento dos doentes). Porém, o atum, o mais apreciado e abundante na época migratória, tinha uma classificação destacada das outras espécies. Tratava-se de um peixe corpulento, pesando mais de cem quilos, dando um aproveitamento quase total (o que não se destinasse à alimentação era aproveitado para adubação, especialmente das vinhas). Era utilizado fresco, salgado, curtido pelo sal, fumado, de todas as formas tinha lugar na mesa do rico ou do pobre. Com a introdução da cultura da batata a sua aplicação culinária ganhou maior variedade.

Portanto, as armações de pesca, quer de peixe grado como de peixe miúdo, foram uma enorme fonte de riqueza, tanto para o Estado, como para as comunidades onde mobilizava intensa e variada mão-de-obra na sua faina e em misteres relacionados: cordoeiros, tanoeiros, tecedeiras de linho, redeiras, ofícios rurais (apanha do esparto e cultura do linho).

Para serem colocadas no mar, as armações exigiam avultados investimentos de capital, pessoal especializado na sua faina, e mestres de barcos pois existiam vários tipos de embarcações envolvidos: o batel, com coberta e cabrestante; os barcos das portas e das gachas; e outros para auxiliar na copejada e no transporte para terra. Cada armação podia envolver entre quarenta a setenta homens. Tratavam-se, pois, de empresas de dimensão considerável.

As armações foram artes de pesca de grande produtividade mas, também, muito contingentes à abundância ou à escassez do pescado.

As dádivas a instituições sempre foram apanágio dos reis. De um documento de 1575 se traduz esta passagem, referente ao pagamento adiantado de um serviço a prestar: “Mandado da rainha D. Catarina para o feitor da armação dos atuns da cidade de Lagos, Francisco Correia, dar ao clérigo de missa Francisco Antunes 10.000 réis de que a mesma senhora lhe faz mercê pelas missas que há-de dizer na capela da armação de Beliche aos seus armadores, a 02/04/1575”.

Infelizmente, as administrações das armações descuraram a constituição do suporte financeiro dando origem a ocorrências, algumas verdadeiramente desastrosas, que contribuíram para a sua decadência.

O terramoto de 1755, e consequente maremoto, desfechou o golpe de misericórdia nas armações. Pouco há, escrito, que nos permita uma avaliação concreta sobre a destruição provocada nas armações do atum e da sardinha do Barlavento algarvio bem como das repercussões negativas para a economia da região. Embora nesse 1 de Novembro a maior parte das armações não se encontrasse em laboração, era nas praias e recantos abrigados do litoral que se encontravam os arraiais e as residências associadas. O violento e rápido maremoto, originado pelo intenso sismo, tudo arrastou. Praias houve que ficaram desprovidas de areia, tornando muito difícil puxar e varar os barcos e outros materiais recuperáveis. Podemos ter uma imagem da violência do acidente ao verificarmos a destruição das sólidas fortalezas que ficaram completamente em ruínas. Até algumas das pesadas peças de artilharia foram parar ao mar. Refira-se, a título de exemplo, a Fortaleza de S. Luís da Ponta de Almádena, e o forte de S. Inácio que foi substituído, mais tarde, pelo novo e pequeno Forte do Zavial. E o pior foram as perdas de vidas humanas.

Havia que tomar medidas, isto é, tentar repor o esplendor desta actividade que fora a grande indústria da pesca e cujo comércio estava a cair na mão de estrangeiros. Foram, então, criadas a Companhia das Reaes Pescarias com constituição de fundos de accionistas, e leis que incrementavam a pesca, dando novo alento a esta actividade.
 
No entanto, outra grave crise atingiu o sector: a guerra entre liberais e miguelistas. A região do Cabo de Sagres foi palco de grandes confrontos, alguns sangrentos, dando origem ao desinteresse por parte dos investidores. Este factor veio acentuar a decadência da actividade.
No período Pombalino foi tomada a medida de atribuir salários, moderados, aos que trabalhavam nas armações. Não obstante todos esses esforços, as agruras iriam subsistir e ensombrar todas as tentativas de relançamento da actividade. Uma vez mais, os conflitos bélicos assumiram-se como o principal revés. Em 1797, as batalhas entre uma esquadra espanhola e outra inglesa, em frente à Praia da Salema, envolvendo cinquenta e um navios com três mil quinhentas e quarenta e oito peças de artilharia tornaram impraticável a pesca mercê dos afundamentos aí ocorridos.
 
Outros conflitos navais entre liberais e miguelistas mantiveram a perturbação social e económica na faixa litoral entre a Salema e Sagres. A Batalha de 1833 foi, segundo alguns historiadores, decisiva para a vitória do liberalismo em Portugal pois ali foi derrotada a esquadra miguelista.

De uma pesquisa subaquática realizada há alguns anos, resultou a recolha de vasto espólio que incluía várias peças de artilharia de inequívoco valor histórico que, como sempre, foi parar a Lisboa. E a Salema nada tem que recorde esse passado e a importância desses acontecimentos. Com o passar do tempo tais factos deixam de fazer parte da memória colectiva do lugar e das suas gentes. Seria conveniente, ao menos, que fosse executada uma lápide ou um memorial a evocar esse acontecimento histórico. Talvez até, juntando-lhe uma dessas peças de artilharia. É que dos dinossauros ainda lá existem pegadas, agora das épocas dos homens é que tudo é delapidado.

Como se sabe, as povoações do litoral barlaventino devem o seu desenvolvimento à actividade piscatória, muito especialmente às armações de pesca que mobilizavam mais mão-de-obra. Segundo um mapa estatístico da Corografia do Reino do Algarve, de Silva Lopes, pode-se constatar a quebra das pescarias de atum e outros peixes, das armações de Lagos, o que se afigura como prenúncio da efectiva decadência das armações em especial, devido à escassez de tunídeos.
 
Obviamente que o facto de algumas das armações não terem armado em vários anos contribui, também, para esse resultado estatístico. Além dos atuns, as armações capturavam ainda outras espécies como: atuarros, bonitos, judeus, sarrajões, pargos, corvinas, enchovas, peixe-espada, cavala e outros, que contavam para aumento da receita. O peixe dito “branco” tinha maior valor comercial e o “azul”, por ser reimoso, menos valor. Da análise do referido estudo estatístico ressalta que entre 1820 e 1835 houve uma quebra acentuada nas capturas de peixe.

Algumas armações, posicionadas em bons locais de captura, continuaram a sua actividade, mas agora vocacionadas para outras espécies que não o atum. As salgas de peixe (estivas), começaram a ser montadas por gregos e italianos, com vista ao negócio da exportação, ainda em embalagens de madeira, celhas, barris e outras. O peixe salgado, que aguentava muito tempo em boas condições, supria a escassez de alimentos durante o Inverno, quando a produção do campo e do mar eram reduzidas. Com o aparecimento da folha-de-flandres e a sua aplicação na feitura de embalagens mais leves e resistentes ao transporte, nasceu uma nova era.

A indústria de conservas de peixe em molho de azeite ou óleo vegetal conheceu grande incremento a partir da introdução do processo de esterilização, segundo o método inventado em 1795 pelo francês Nicolas Appert. As fábricas de conservas de peixe, iniciadas em França, rapidamente se espalharam por outros países, sobretudo depois da passagem a domínio público, em 1810, dos direitos dessa invenção de Appert. Sendo Portugal um país rico em peixe, quer em quantidade quer em variedade de espécies, rapidamente se instalaram fábricas de conservas.
 
Também os processos de embalagem conheceram desenvolvimentos que as tornaram mais versáteis, sobretudo no que concerne ao fraccionamento em latas de tamanhos variados: 125gr (1/4 club); 250 gr (1/2 alto), as mais populares; e 500gr (4/4), uma vez mais segundo padrões de dosagem importados de França, e que permitiam a adequação às exigências dos consumidores. O peixe, limpo, cozinhado e condimentado, fechado hermeticamente e esterilizado nessas embalagens, estava à disposição de toda a gente. Era um alimento de grande durabilidade e pronto a comer, aspectos muito vantajosos e, de certa forma revolucionários, para a época.

Os conflitos armados tinham nas conservas de peixe uma fonte de abastecimento rápido e económico pois delas viviam as tropas nos campos de batalha. Por esta razão se assistiu ao enorme crescimento da indústria neste sector que registou grandes volumes de transacções. E tudo se foi modificando na produção, à medida que novas tecnologias eram incorporadas. Para acompanhar esse progresso foi necessário lançar mais armações de pesca por toda a costa, aproveitando a maioria dos locais onde existiam praias próximas de povoações que permitiam o apoio aos arraiais.

As decadentes almadravas (armações de atum), devido à escassez da espécie, foram-se convertendo em acedares (armações de sardinhas), dando início ao reinado deste peixe. O atum, alimento conservado em sal, que até aí estivera no topo da procura, perdeu o seu lugar devido a variadas razões. Por um lado, ter-se-á desviado do seu percurso migratório, talvez devido à poluição, por outro lado devido ao excesso de capturas com consequente redução do stock, entre outras causas que mereceriam estudo atento.

O que importa expor são os aspectos mais importantes da história das armações no Barlavento algarvio, de Lagos até ao Cabo de S. Vicente, e a sua ligação à indústria conserveira, factor que lhes trouxe um novo alento.

Com o desenvolvimento industrial da Europa as novas armações de sardinha implicavam o uso de menos redes – por não terem a rabeira de fora, esse prolongamento da rede que avançava longamente pelo mar fora, para além do copo.

Registaram-se grandes proveitos, mas também grandes crises, sobretudo em consequência da endémica má administração das armações que nunca cuidaram do conveniente suporte financeiro, colocando-se invariavelmente à mercê de onerosos empréstimos e de investidores oportunistas. Com o desenvolvimento da indústria conserveira, tendo por base a sardinha, as armações em actividade entre Lagos e Sagres eram, em 1917, as seguintes:

À do Sol. Algarve, Atalaia I, Barranco da Figueira, Boca do Rio, Cama da Vaca, Cucos, Ferrarias, Ingrina, Leixito do Lobo, Maria Josefina, Mata Porcas, Ponta de almádena, Salema, Santinhas, Sociedade de Pesca Ferrarias Lda., Torre Alta, e Zavial. Laborando ainda uma de atum: Sul da Ponta da Baleeira. Empresários armadores: Beatriz Rosa Nunes, Boulain & Neto, Cassio e Cª, Companhia Neptuno, Empresa Insustrial da Luz, Eugénio Boulain e Cª, Febronia Amália d’Abreu, e João A. Júdice Fialho.

As principais fábricas de conserva, clientes desse pescado eram as seguintes:

A. Afonso Marreiros & Cª,

Balança, Taquelim & Cª,

Cristiano & Cª,

Cooperativa Aliança Lacobrigense,

Empresa de Conservas do Molião,

Empresa industrial da Luz,

Frederico Delory (Viúva de),

João António Júdice Fialho, Jorge & Cª,

Manuel Cassio Tovar & Cª,

Manuel Galvão Rocha & Cª,

Pierre Charles Chancerelle, Silva,

Oliveira & Cª,

Sociedade Mercantil de S. João.

Há ainda a considerar as seguintes salgas de peixe:

Pappeleonardos,

Empresa Industrial da Luz,

Giorge Fandepoulos,

George Novak,

João Maria Parreira Cruz.

Algumas curiosidades relacionadas

A armação da Atalaia tinha a rabeira de terra presa a um argolão na rocha; outras armações de sardinha (os acedares) já existiam muito antes destas; consta que a primeira fábrica de conservas de peixe, no Algarve, foi instalada em Vila Real de Santo António, em 1865, produzindo atum em azeite; em Lagos, foram os franceses que instalaram as primeiras fábricas. Não nos sendo possível determinar qual a primeira, sabemos que em 1886 já laborava a Sociedade Mercantil de S. João. A Companhia Industrial de Conservas – Lda., Frederico Delory, Pierre Charles Chancerelle , e Júdice Fialho, em 1899.

Em 1903, Lagos era considerado um importante centro conserveiro.

Como se referiu, só existia uma armação de atum em 1917. E ao tempo corria esta quadra:

Eram dezanove armações
de Lagos até ao Cabo
para mais escravatura
lançaram uma no rabo.

Referindo-se o poema popular à prática corrente de se aproveitar a rabeira da armação, quando esta era muito extensa, para lhe adicionarem um segundo copo, que é como quem diz “de uma, fazer duas”.

Posicionamento de algumas armações:
Lagos – Torraltinha N/S, a meio da Meia Praia; Torralta NO/SE, a leste da Ponta da Piedade, próximo da Praia Grande.
Luz – Risco, entre o Porto de Mós e a Luz; Rocha Negra, frente à dita rocha; Cucos, frente à actual Vila da Luz; Fontainhas (também denominada Santinhas), no sítio das Fontainhas. A praia da Luz tinha um cabrestante para alar ou varar barcas. O Risco, denominação de empresário de apelido Del Risco.
Burgau – Burgau Velho, em frente à praia; e a Ponta de Almádena, segundo informações recolhidas oriundas da tradição oral esta praia chegou a possuir três cabrestantes, devido aos acidentes rochosos.
Salema – Boca do Rio; Aberta; Armação Nova; e Furnas, algumas destas armações são coincidentes com os locais onde se situavam, todas tinham um cabrestante.
Ingrina (zona de Sagres) – Ingrina (armação de atum de revez); e Zavial.
Sagres – À do Sol; Baleeira (conhecida pela 18); Beliche (conhecida pela 19); Ponta da Atalaia (tinha a rabeira de terra presa a um argolão fixado à rocha).
 
Havia um cabrestante na rampa da Baleeira, para varar os barcos. Não nos foi possível localizar a armação à qual foi adaptado um buxo ao rabo. E com esta se totaliza a vintena de armações referidas na quadra popular.

Em 1920, mantinha-se, com pequenas alterações, o mesmo número de armações, nomeando-se a armação da Ponta da Piedade – aquela que partia da Praia Grande. Neste mesmo ano o número de fábricas de conservas, em Lagos, passou para trinta e três. Nos anos seguintes teria início o declínio desta indústria fabril, em termos de unidades de produção.

As bases económicas de Lagos, do séc. XIX até meados do século XX, alicerçavam-se em dois sectores primários distintos: a agricultura e a pesca, que se financiavam mutuamente. O Figo (as célebres passas do Algarve), e a amêndoa, e o peixe salgado ou em conservas de azeite ou óleo vegetal, produtos maioritariamente destinados à exportação.

As classes laborais repartiam a sua actividade pelas coisas do mar e da terra, em ocupações que garantiam trabalho contínuo ao longo do ano. A dureza da vida do mar adaptava os indivíduos para as mais diversas situações. Fala-se na espectacular copejada do atum ou mesmo da sardinha, mas fica no esquecimento o esforço físico de tais tarefas, sob as piores condições de trabalho, sujeitos ao mar tempestuoso, ao desconforto do frio e a muitos outros perigos.

O trabalho das armações não terminava no acto da copejada. O peixe tinha ainda que ser transportado para as lotas dos centros produtores de conservas, neste caso Lagos e Portimão. As barcas das armações, de vela tipo verga latina, faziam esse transporte, por vezes em condições muito adversas, em mar alteroso ou com fortes ventos adversos ou, ainda, apanhados por calmarias abrasadoras que obrigavam a recorrer aos remos para vencer grandes distâncias.
 
Notável, era a perícia desses marinheiros, sob condições de vento rijo, entrando na baía, rumo a Alvor, vindo à bolina cerrada pela costa até ao cais de Lagos, para descarga do peixe. Na borda do barco, os três tripulantes, esforçadamente, tentam equilibrá-lo pois vem adornado devido à sua arquitectura, abaulada e de curta quilha para permitir varar na praia.

Como foi referido, a agricultura e a pesca foram os pilares da economia da província do Algarve e as indústrias subsidiárias giravam em torno destes sectores, numa experiência consagrada durante séculos.

O resultado do desenvolvimento espelhou-se de várias formas, nomeadamente na arquitectura através, por exemplo, da adopção da arquitectura do ferro. Passaram a integrar nas construções, janelas de sacada, com minuciosos trabalhos em ferro, que denotavam sinais exteriores de algum desafogo financeiro, e isto foi moda após o terramoto de 1755. No tempo em que as armações atingiram o seu apogeu, as povoações ribeirinhas onde se situavam os arraiais, alcançaram também o seu auge, quer em termos demográficos quer nos recursos existentes. Não faltavam, então, investidores, nesse período de expansão da novel indústria. Ocorreram, como se sabe, épocas de crise e muitas das armações, que nunca cuidaram adequadamente do seu suporte financeiro, não resistiram.
 
A grande empresa da época, António Júdice Fialho, com fábrica em Lagos montada no ano de 1899, detinha algumas armações no Barlavento. Esta era uma empresa polivalente pois não só estava presente nas pescas e na indústria das conservas como também no ramo agrícola.
 
Os apoios em terra, às suas armações, eram os mais eficientes e apetrechados e, em Lagos, possuíam um estaleiro naval, na Praia de S. Roque onde construíam, também, os arraiais das armações da Torralta e da Torraltinha, em local já longamente utilizado para essa finalidade, desde 1490, altura da construção da ermida a esse orago.
 
A empresa Fialho possuiu os primeiros barcos a vapor para rebocar as suas barcas das armações para conduzir o peixe às lotas de vendagem. O primeiro barco chamou-se “Atalaia”, nome de uma armação de Sagres (Ponta da Atalaia). O segundo chamou-se “Galgo”, e foi mobilizado para a 1ª Grande Guerra, para fiscalizar a costa, sendo armado com um canhão. As barcas das outras armações utilizavam as velas ou os remos para transportar o pescado até às lotas, tinham três tripulantes, sendo um deles o mestre da embarcação. Depois de vendido o peixe, as tripulações retiravam de bordo os objectos pessoais e iam alojar-se no estabelecimento habitual, onde estavam afreguesados. Estas casas tinham longa tradição, talvez secular, e nelas se confeccionam e serviam as refeições e proporcionavam a dormida, até rumarem para as armações, logo que soprasse o vento da tarde. Muitos destes estabelecimentos estabeleciam vínculos de solidariedade disponibilizando ajudas, a náufragos p. ex. (roupas, comida e dormida), muitas vezes, a troco de um simples agradecimento verbal.

Antes do barcos chegarem com o peixe já havia um aviso prévio do número de barcos, da quantidade de peixe e da sua variedade pois, um vigia e estafeta colocado na Ponta da Piedade, visionando com binóculo os sinais emitidos pelas armações, vindo depois dar essa informação aos compradores na lota.

O peixe, depois de vendido, e destinado às fábricas, era previamente “salmonado”. Operação que tinha por finalidade evitar a descamação e que consistia em ir vertendo a água do mar sobre uma canastra cheia de sal formando uma ligeira salmoura, procedimento útil à sua conservação.

A remoção do peixe, dos barcos para os carros, com destino às fábricas era um trabalho moroso e de alguma perícia ganha ao longo de muitos anos de experiência. Consistia em encher uma pequena canastra de cana com peixe e atirá-la para outra pessoa colocada no cais. Era normal estar vários barcos à descarga e igual número de carros à carga. A azáfama no cais era um autêntico espectáculo que mobilizava muita gente e todo o trabalho era feito em ritmo apressado pois a fábrica não admitia demoras. Bem entendido, a fabricação das conservas estava intimamente ligada à qualidade, boa conservação e tratamento correcto do pescado.
 
O enlatamento do peixe com escama, mais concretamente a sardinha, dava uma boa aparência ou apresentação do produto quando se abria uma dessas latas. Razão pela qual o peixe tinha mais valor quando enlatado com boa escama. A lota e os arraiais eram o ponto de encontro e de reunião da vida comunitária ligada à pesca. A lota, além de ser o local de concentração do resultado de todo o labor da arte piscatória, era também fonte de receitas para o Estado que através do imposto do pescado recolhia uma gorda fatia do seu rendimento.
 
Estas comunidades auto-organizavam-se, procurando a sua defesa e sobrevivência. Dessa riqueza proveniente da sua actividade nunca foram os principais beneficiários, como em todas as actividades laborais, de resto. Sempre existiu gente alheia à actividade retirando dela grandes proveitos.

A origem das armações quase se perde no tempo. No Algarve remontarão à  antiguidade clássica mas o seu início em termos de rentabilidade operacional, mercê de evoluções técnicas, deve-se à adaptação de uma arte de pesca mediterrânea, a armação da Sardenha. O buxo, ou parte principal da clausura do peixe, é comum em todas as outras artes e o seu uso já estava consagrado por longa experiência.

As armações, uma vez desarmadas, eram alvo de manutenção: remendavam-se ou substituíam-se redes; envernizavam-se âncoras para evitar a sua corrosão; e alcatroavam-se muitos materiais como forma de os proteger. É uma arte dispendiosa, entre outros custos onerosos há o das inúmeras âncoras de ferro, a verdadeira segurança de toda a armação.

O lançamento ao mar requer muita experiência e conhecimento dos fundos onde a arte vai ser colocada. As âncoras devem ficar, se possível, sobre fundo rochoso. À rede são presas pesadas correntes de ferro para manter a verticalidade, as bóias e os barris cintados devidamente atados. Enfim, tudo tem que ser feito com muito saber, e respeitando várias regras de segurança.
 
A tecnologia utilizada parece ter sido comum em todas as armações do nosso litoral. Descrevem-se, por vezes, algumas diferenças nas embarcações, consoante o local onde operavam. No Barlavento, a barca de apoio e transporte do peixe diferia da de Sotavento por ter o fundo abaulado e de pouca quilha, para facilitar varar na praia ou em locais pouco fundos ou até, rochosos (devido a estas características houve que recorrer a lastros constituídos por pesadas lajes de pedra, e adoptar um leme colocado muito abaixo da linha de quilha – este leme era removido em fundos baixos ou no acto de vara, deixando aos remos o governo da embarcação).

As armações da sardinha, tal como as fábricas de conservas, tiveram o seu melhor período até ao final da I Grande Guerra, iniciando-se pouco depois a sua decadência. As fábricas conserveiras reanimam a sua actividade durante a II Guerra Mundial mas irão desaparecer após o advento do Turismo.

A última armação, dos Cucos, situada em frente à Praia da Luz, terá desarmado em 1941 (?). As causas principais para a decadência das armações da sardinha radicam na adopção de novo métodos de pesca, artes móveis motorizadas, os cercos a vapor, do tipo americano e a proliferação dos motores de explosão a combustível mineral líquido. Estas unidades motorizadas perseguiam os cardumes, muitas vezes junto das armações, o que gerou prejuízos, conflitos e, finalmente, o desinteresse dos investidores.
 
Um argumento esgrimido a seu desfavor foi o de que as armações tinham redes muito extensas que constituíam obstáculos à circulação da navegação.

Diz-se que tudo tem princípio e fim, e tal é verdade no que toca às armações, que encontraram o seu fim, vítimas do progresso.

Foi notável como industrial das conservas e armador António Júdice Fialho, que chegou a possuir entre outras, as seguintes armações: Torralta; Pedras Negras; Salema (2); Atalaia; Novas Ferrarias; Josefina; Cajado, e Zavial. Este armador construiu, nos estaleiros da sua firma, um cerco a vapor a que deu o nome de Portugal 1º, destinado à pesca da sardinha.

Não há, verdadeiramente, informação acerca das retribuições usufruídas, nas diferentes épocas, pelo pessoal das armações. Em dada altura, aí pelos anos vinte, recebiam um escudo por dia, além daquilo a que teriam direito na partilha final que dependia do rendimento da pescaria, bem como o peixe destinado à caldeirada, para consumo próprio.

Como já foi referido, sobre algumas causas da decadência das armações, estas foram sendo desarmadas pouco a pouco e ficando votados ao abandono os seus apetrechos, juntamente com o esquecimento por esse importante serviço prestado ao País e em especial ao Algarve.
 
As povoações que tinham sido sede de armações acusaram os efeitos entrando em crise, vivendo o pessoal até então nelas empregado, das pequenas artes de pesca ditas artesanais, de reduzido rendimento. Essas populações decresceram porque muitos partiram em busca de melhores condições de vida noutras paragens.
 
E assim se fechou o capítulo de uma das artes de pesca mais racionais, e menos poluente, que alguma vez existiu.
 
 
 
 
José Carlos Vasques
 

José Carlos Vasques nasceu em 1920, na Freguesia de Santa Maria, numa zona da cidade que hoje integra o centro histórico de Lagos. Filho de pai militar, frequentou a instrução nos Pupilos do Exército. De regresso ao Algarve, desempenhou a sua profissão de Guarda-livros em Portimão, no Grémio da Lavoura, depois na sua terra natal, na Adega Cooperativa de Lagos.

Mercê do profundo interesse que sempre dedicou às coisas e à história de Lagos, tem sido alvo constante de solicitações de estudantes e investigadores que dele procuram uma indicação de pesquisa ou aquela informação que não consta em compêndios escolares, monografias e restante corpus do saber publicado.

Membro de colectividades lacobrigenses, como a Filarmónica 1º de Maio, entre outras, tem vindo a publicar, na qualidade de membro do CEMAL – Centro de Estudos Marítimos e Arqueológicos de Lagos (associação fundada em 1979), vários artigos versando sobre temáticas ambientais e da história local. Integrou também, durante vários anos, a Comissão Municipal de Toponímia. Tem representado o CEMAL em fóruns locais relacionados com as questões ambientais.

Contrário a honrarias, distinções e protagonismos pessoais não considera fundamental a apresentação de uma biografia mais detalhada pelo que se remete para o conteúdo dos seus textos, o aprofundamento da personalidade do autor.

in CENTRO DE ESTUDOS MARITÍMOS DE LAGOS

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