A. Leão & Cª - Almada

NOME EMPRESA / COMPANY NAME: A. Leão & Cª

NOME FÁBRICA / FACTORY NAME: Galego Moreira (nickname)

PROPRIETÁRIO / OWNER: Fernando Moreira García

FUNDAÇÃO / FOUNDED: circa 1880

LABOROU EM / WORKED DURING:
De 1901 a 1906, com morada de LIsboa em Rua do Poço dos Negros, exporta conservas para o Reino de Espanha.

De 1907 a 1911 exporta com fábrica no Ginjal (in As firmas conserveiras portuguesas exportadoras para o Reino de Espanha (1880-1911) – Prof. Cláudia Rêga Santos – 2021)

ENCERRAMENTO / CLOSURE: Unknown

Nº EMPRESA IPCP / IPCP COMPANY Nº:

ALVARÁ / CHARTER:

MORADA / ADDRESS: Cais do Ginjal

CIDADE / CITY: Almada

NO MESMO LOCAL FUNCIONOU / AT THE SAME LOCATION WORKED:

OUTROS LOCAIS / OTHER PLACES:
Até 1906 – Rua do Poço dos Negros, 103 – Lisboa

TIPO / TYPE: Fábrica de conservas alimentícias – Canned food factory and packers of canned fish in olive oil 

FONTES / SOUCES:

 

MARCAS / BRANDS:

SARDINHAS LINO,

Galego Moreira, da fábrica de conservas A. Leão & Cia.

Fernando Moreira García era efetivamente galego, nascido em 1855 em Mañufe (Gondomar, Espanha), de família humilde, tendo que estudar para emigrar e conseguir trabalho em Portugal, como fazia grande parte dos jovens galegos da sua época.

Passaram-se muitos anos até que chegasse, por volta dos finais da década de 1880, a ser um dos donos da fábrica A. Leão & Cia., Sucessores de Lino & Cia., a princípio localizada na Rua do Poço dos Negros e depois trasladada ao Ginjal.

Tinha dois sócios, sendo pelo menos um deles português, já que um estrangeiro não podia, como tal, ser dono de uma empresa naquele país. Vivia ao lado da fábrica. 

Logo que começou a ter mais dinheiro, Fernando Moreira investiu em terras na sua aldeia natal, comprando em 1890 ou 92 e em nome de seus pais a quinta Seidones, com mais de 40.000m2, onde anos mais tarde seu único genro, Francisco Casás Fajo, casado com sua filha Rosa Moreira Pérez, construiu sua casa, ainda hoje na família. 

Entre as antiguidades que se encontravam ali haviam dois calendários de papel, tridimensionais, da primeira década do século XX, época áurea da Fábrica, e um álbum onde estão coladas as belíssimas etiquetas dos seus produtos, muitas com impressão especial dourada e em relevo, que eram exportados ao Brasil e à Inglaterra, embarcados no cais da própria fábrica.

No final e antes de morrer, no período conturbado entre uma revolta que houve em Portugal e a guerra civil Espanhola, Fernando Moreira García já tinha vários sócios na fábrica, de onde um deles chegou a roubar documentos da caixa-forte. 

Depois, na ausência dos herdeiros, um barco atracou no cais particular dos Moreira, levando móveis e outros bens da residência e da própria fábrica.

Dolores Pérez Misa, casada com Fernando Moreira García, um dos donos da Fábrica, teve uma única filha, Rosa Moreira Pérez, à que deu uma educação esmerada, tendo ela completado seus estudos em um internato de Vigo. Era dona de uma conversa variada e interessante, tocando piano, falando um pouco de inglês e de francês. Com muita personalidade, sabia se impor sendo carinhosa e não se deixando esmorecer pelos embates da vida, mesmo depois de perder o grosso de seu capital e, à causa das incertezas políticas, ter que abandonar Lisboa para viver no interior da Galícia.

Rosa Moreira Pérez, teve três filhas Maria Rosa Dolores, Fernanda del Cármen e Matilde que faleceu em 2017. 

Mina Marx, Novembro de 2017

Bisneto de Fernando Moreira Garcia

Domingo Estarque é bisneto de Fernando Moreira Garcia, “o Galego Moreira “.

A sua mãe, neta de Fernando Moreira Garcia e fala do avô com ternura e admiração, ao seu perfil de homem generoso com os mais necessitados.

Contava como gostava de Lisboa e sempre nos relatava como o seu avô desde bem pequena a nomeou sua secretaria, o que a envaidecia demais,
Na realidade ela realmente o auxiliava diretamente na área de administração contabilística.

E descrevia ainda as chegadas dos barcos com a pesca, o fabrico, as marés do Tejo, e muitas mais histórias ricas sobre essa época.

Nessas descrições a que mais toca a Domingo Estarque e o faz admira o bisavô é a descrição do Galego Moreira num texto da Gazeta de Almada 18/09/1921 pp2-3

“Nas entrevistas efectuadas encontram-se ainda referencias à estiva do Mota e à fábrica do Moreira – “antes houve uma fábrica de conservas de alimentos de um galego chamado Moreira. Eu lembro-me quando era miúdo, o meu pai às vezes trazia uns alimentos para casa que ele lhe dava. (…) Era ervilhas, carnes, tudo o que é bom, em lata. (A.M.C.).”

“Como àquela época, havia muita fome, muitos pobres, ele tinha por hábito todo dia separar uma porção fosse de azeitonas, sardinhas,  carnes e outras  mais,  e ao final do dia, as distribuía na porta da fábrica àqueles se postavam o aguardando.”

Segundo a sua mãe ele distribuía comida e dizia: ” tragam pão,  pois isso não produzimos, e vão pra vossas casas e não se envolvam em confusões.”

Essa recomendação era, porque devido à fome, havia muitas assaltos, roubos e a repressão levava muitos à cadeia, quando algumas destas pessoas não desapareciam mesmo.

Informação obtida partir de conversas com Domingo Estarque

As Fábricas de Conserva

Atraídas pela facilidade de acesso fluvial, instalaram-se no Ginjal algumas fábricas de conservas. Em 1906, há registo da fábrica de conservas, a A. Leão e Cª. que preparava frutas, aves, caça, peixe, marisco, doces, hortaliças e legumes.

Em 1939 registam-se outras duas unidades conserveiras no cais, a Gonzalez & Nascimento e a La Paloma . A primeira, de menor dimensão, era onde se preparava o biqueirão, ou seja, a anchova. 

No entanto, neste campo, a unidade que mais marcou o quotidiano do Ginjal foi, sem dúvida, a La Paloma, “Junto à fábrica La Paloma, o buque, que viera da Ribeira de Lisboa descarregava sardinha. As varinas, de canastra à cabeça, mão na ilharga, andavam cá e lá no transporte do peixe”16. A fábrica produzia conservas de peixe e empregava muitas mulheres de Almada, a tempo inteiro ou sazonalmente. A sua contratação começou por ser feita no Algarve ou por transferência de outra fábrica que o mesmo proprietário detinha em Peniche. A fábrica exportava conservas para a Alemanha, país que durante a Segunda Grande Guerra, conseguiu furar o bloqueio aliado fornecendo ferro, aço e produtos químicos em troca do abastecimento de volfrâmio e conservas.

15 António Madeira Calado entrevistado por Elisabete Gonçalves – Memórias do Ginjal, op.cit., p.33.

16 António Madeira Calado entrevistado por Elisabete Gonçalves – Memórias do Ginjal, op.cit., p.33.

in:
PROJECTAR COM O LUGAR – Indústrias Criativas: Escola de Artes Cénicas do Ginjal
Author: Gil, Ana Filipa da Costa
Advisor: Afonso, Luís Filipe Ferreira
Publisher: Faculdade de Arquitectura de Lisboa

1906

Instala-se a fábrica conserveira A. Leão e Cª no Cais do Ginjal

Na mesma época, mas sem data precisa, a “Moreira” (conservas variadas de frutas, aves, caça, peixe e marisco);

Luís Bayó Veiga. Crónicas D’Agora sobre Cacilhas D’Outrora. Almada: Junta de Freguesia de Cacilhas, 2011 [p41 relação das fábricas instaladas ao longo do Cais do Ginjal].

NOTA: este texto de Luís Bayó Veiga poderá estar errado uma vez que “Moreira” era como apelidavam o proprietário da A.Leão, empresa que mais tarde e em conjunto com a Lino & C.ia fazem a Sociedade Mercantil Luzo-Brazileira (Victor Vicente – Can the Can)

4 Maio 1916

(CMA_Arquivo Municipal de Almada, Cx_88_1916_Conserveira A_ Leão)

“A firma A. Leão & Cª com escriptorio na Rua do Poço dos Negros n. 13 em Lisboa, desejando preparar peixe em salmoura na sua fabrica de conservas no Ginjal, freguesia e Concelho d´Almada, e estando este fabrico incluído na Classe 3ª da Tabela anexa ao decreto de 21 d´outubro de 1863, precisando por isso do respectivo alvará de licença, vem perante V. Exª requerer o processo preliminar para essa concessão.”

1910 

O Anuário Comercial de 1910 assinala os estabelecimentos industriais mais significativos do concelho de Almada, entre elas a Fábrica de Conservas Leão & C.ª.

(Joana Dias Pereira, “A formação da classe operária portuguesa e o caso de estudo almadense”, in Anais de Almada, 13-14, 2010-2011, p. 146)

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