A arquitetura industrial conserveira em Setúbal. De1924 - 1994

Maria João Ferreira Santinhos

ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa

Escola de Tecnologias e Arquitetura

Departamento de Arquitetura e Urbanismo

INDCONSERVSETUBALwork,

 

Trabalho teórico submetido como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Arquitetura

Orientador
Professora Doutora Arquiteta Soraya de Fátima Mira Godinho Monteiro Genin

Outubro | 2015

O trabalho que aqui publicamos parcialmente, está disponível no link acima na sua versão original. Trata-se de um trabalho extraordinário de Maria João Ferreira Santinhos porque vem trazer muito mais informação do que outros estudos anteriores e compreender a história da indústria conserveira em Setúbal. Não se pretende reproduzir integralmente o estudo, mas principalmente promover links dentro do espólio do museu, que possibilitem ligar melhor empresas, marcas e histórias.

Introdução

 

Página 2

 

3. O caso de estudo: Setúbal

3.1. A indústria conserveira e o desenvolvimento da cidade

3.2. Inventário das unidades conserveiras

3.2.1. Análise de dados

3.2.1.1. Análise cronológica

3.2.1.2. Obras de requalificação das unidades conserveiras

3.2.1.3. Obras do Porto de Setúbal

3.2.1.4. Os vestígios das fábricas conserveiras

3.2.1.5. As chaminés de tijolo

Considerações finais

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Fontes e Bibliografia

Bibliografia geral

Arquivo Distrital de Setúbal, Fundo do Cartório Notarial de Setúbal (A.D.S., CNSTB)

Notário privativo, Averbamento diário dos atos lavrados nas notas

1º Cartório: Registo Diário de escrituras

2º Cartório: Índice diário de escrituras

Notas para escrituras diversas

Arquivo Distrital de Setúbal, Processos de obra da Câmara Municipal de Setúbal (A.D.S., CMSTB)

Periódicos, indústria conserveira

 

Índice de abreviaturas

Índice de quadros

Índice de cartografia

Índice de Figuras

Índice de documentos

Introdução

O presente trabalho tem por objetivo dar a conhecer o Património industrial de Setúbal, nomeadamente a indústria conserveira em atividade no período de 1924-1994, através de um inventário realizado a partir do fundo notarial do Arquivo Distrital de Setúbal. Esta informação é complementada com documentação gráfica e fotográfica do Arquivo Fotográfico de Américo Ribeiro, com os processos de obras de algumas fábricas, da Câmara Municipal de Setúbal, e com cartografia do Arquivo do Porto de Setúbal.

A escolha do tema tem origem em questões colocadas no desenvolvimento do Projeto: Porque sobrevivem as chaminés se as fábricas são demolidas? O que manter da vasta quantidade de vestígios industriais deixados ao abandono e que proliferam na cidade de Setúbal? E ainda num interesse muito particular sobre a importância do património como gerador de memória na cidade, a relação entre essa memória e a contemporaneidade presente nas cidades, quais são os critérios de salvaguarda do património industrial?

A arquitetura industrial conserveira em Set.bal. De 1924 – 1994, pretende reunir informação e documentação escrita, gráfica e fotográfica existente nos arquivos de Setúbal e confrontar esse levantamento com a situação atual. Não é feita uma análise detalhada de cada imóvel, mas apenas se a construção foi mantida, demolida ou se está em estado de ruína. Serve de base a futuros trabalhos sobre o tema.

O Estado de arte a nível internacional e nacional tem por base diversas monografias, artigos e teses de mestrado e de doutoramento. Foi fundamental para o desenvolvimento deste tema o extraordinário trabalho de Deolinda Folgado, dedicado ao património industrial.

Importou numa primeira fase compreender, num panorama internacional, as razões que levaram ao declínio da indústria que outrora foi defendida como símbolo do progresso. Impôs-se para isso um necessário esclarecimento sobre a implantação da fábrica na cidade retomando o tema da cidade industrial oitocentista exposto por Lewis Mumford na sua obra The City in the History – its transformations, and its prospects. A dissertação de doutoramento A nova ordem industrial. Da fábrica ao território de Lisboa. 1933-1968, da autoria de Deolinda Folgado, constitui um importante estudo sobre a indústria da segunda geração (neotécnica) e o seu enquadramento na cidade.

Apesar de se debruçar com maior incidência no caso de Lisboa, enuncia num primeiro momento o planeamento urbano inerente ao fenómeno da industrialização num contexto internacional que recua ao século XIX.

Após a análise dos fatores que levaram ao abandono da fábrica no século XX, houve a necessidade de compreender o conceito de património industrial assim como os valores atribuídos a estes edifícios mais recentes. A recente valorização do património industrial, da segunda metade do século XX, é ainda de difícil aceitação e reconhecimento, não integrando, por isso a grande maioria dos inventários realizados.

Interessou particularmente para o trabalho compreender o processo de salvaguarda, qual o seu propósito e em que situações é aplicado. Neste sentido, registaram-se os valores consensualmente defendidos nos diferentes documentos e cartas patrimoniais. O enquadramento em que foram redigidas e publicadas, por ordem cronológica, tornou-se fundamental para compreender a evolução dos modelos do património, desde as primeiras preocupações de salvaguarda dos monumentos até ao reconhecimento de um património mais recente. A apreensão das múltiplas transformações que foram decorrendo nas cartas foi auxiliada pelo trabalho de Maria João Neto. Memória, Propaganda e Poder: o restauro dos Monumentos Nacionais (1929-1960), consiste num importante documento para o entendimento da ação do Estado Novo e de organismos como a DGEMN no que diz respeito à preservação de monumentos nacionais, onde se apresentam as iniciativas e os critérios regentes na atuação com base na historiografia e cronologia. Apesar de se centrar no panorama nacional, concretamente entre o período de 1929 até 1960, é feito um enquadramento internacional com o propósito de compreender a forma como a Europa resolvia as questões de salvaguarda de monumentos históricos e quais as diretrizes aí espelhadas. Os artigos do periódico Estudos/ Património, A propósito da carta de Veneza (1964-2004). Um olhar sobre o património arquitetónico nos últimos cinquenta anos e Carta de Cracóvia 2000. Os princípios de restauro para uma nova Europa estabelecem para além do contexto em que a carta de Atenas, a carta de Veneza e a carta de Cracóvia aparecem, as suas respetivas alterações, analisando a importância destas cartas nas ações de preservação dos edifícios históricos.

Surgiram questões que suscitaram reflexões nos capítulos seguintes, A memória como valor afetivo e Acumulação de bens patrimoniais, do presente trabalho. A alegoria do património de Françoise Choay, A salvaguarda dos bens culturais e o ordenamento do território: um passivo e um futuro de Maria Filomena Barato ou Património industrial. Que memória? de Deolinda Folgado foram os estudos de referencia. Estas reflexões pretendem compreender as razões que levam à salvaguarda de edifícios de outras épocas, assim como o processo de seleção de bens patrimoniais.

A análise do panorama português, aborda as razões do reconhecimento tardio da indústria como bem patrimonial. Importou contextualizar a ação das organizações patrimoniais num enquadramento politico-histórico, percecionando os valores defendidos durante o Estado Novo. Nesse sentido e de acordo com Memória, Propaganda e Poder: o restauro dos Monumentos Nacionais (1929-1960) da autoria de Maria João Neto define-se o processo de salvaguarda patrimonial nacional, bem como os modelos nacionais de reconhecimento do património industrial. Por último, apresenta-se neste capítulo os Critérios de classificação de casos industriais, fundamentado, mais uma vez no trabalho de Deolinda Folgado em Património Industrial. Que memória? e ‘Memória ao Negro’ ou a salvaguarda como reduto da memória.

Por ser de impossível cumprimento defender como património aquilo que se desconhece, tornou-se imprescindível uma procura metódica de informação relativa às unidades conserveiras de Setúbal.

A falta de informação sobre esta matéria, bem como a falta de uma conveniente conservação dos edifícios e documentos de arquivo, conduziu a um exaustivo processo de investigação que teve inicio coma identificação das sociedades industriais que em Setúbal estabeleceram fábricas.

Foram consultados no centro de documentação do Museu do Trabalho, jornais e revistas de épocas referentes aos seus períodos de laboração assim como uma tabela baseada no espólio do sindicato nacional, onde se encontram catalogadas as fábricas e empresas de conservas em Setúbal, entre os anos de 1952 a 1977. Numa segunda fase da investigação, foi efetuada uma extensa e criteriosa pesquisa no Arquivo Distrital de Setúbal de forma a elaborar uma base de dados relativa às unidades fabris que exerceram atividade entre 1924 e 1994. Foi consultado o fundo notarial de Setúbal, compreendido nesse período, e constituído por dois cartórios públicos e um privativo.

A tabela produzida através desta pesquisa, baseada no trabalho desenvolvido por Ana Alcântara em A Indústria conserveira e a evolução urbana de Setúbal (1854-1914), contempla os anos de fundação e dissolução das sociedades, identifica as suas unidades fabris, a sua localização e o tipo de conservas produzido. Sempre que alguma informação escasseava, foi feita uma pesquisa suplementar através do cruzamento de informação retirada a partir de documentos, como por exemplo, a revista periódica Conservas de Peixe ou o jornal O século – Os Produtos Portugueses no Mundo.

Ainda no Arquivo Distrital de Setúbal, foram consultados e posteriormente digitalizados os processos de obra relativos a alterações realizadas em algumas das unidades conserveiras. De forma a completar este processo de investigação foi ainda feita uma pesquisa no Arquivo Fotográfico Américo Ribeiro da Casa Bocage e reunida cartografia do museu do Porto de Setúbal, consolidando-se assim toda a pesquisa através destes elementos gráficos e fotográficos que permitem uma mais adequada análise dos vestígios industriais.

Procedeu-se ainda a uma breve contextualização do material apresentado em anexo, evidenciando o período do Estado Novo, momento a partir do qual se faz sentir uma mudança na leitura da fábrica, a nível social, económico, arquitetónico e territorial. De forma a concluir esta análise refletiu-se sobre a forma como estes vestígios caracterizam a cidade e seu o valor, não querendo com isto ditar uma opinião sobre o seu destino.

“O património industrial compreende os vestígios da cultura Industrial que possuem valor histórico, tecnológico, social, arquitetónico ou científico. Estes vestígios englobam edifícios e maquinaria, oficinas, fábricas, minas e locais de processamento e de refinaçãoo, entrepostos e armazéns, centros de produção, transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas as suas estruturas e infra-estruturas, assim como os locais onde se desenvolveram actividades sociais relacionadas com a indústria, tais como habitações, locais de culto ou de educação”(TICCIH, 2003, p. 3).