Os Açorianos e as Pescas, 500 anos de memórias - Conservas dos Anjos

Conservas dos Anjos, Lda.

Foi fundada no ano de 1943, pelo então dinâmico empresário mariense José Salvador, que nasceu em Vila do Porto a 30 de Novembro de 1922.

Enquanto cumpria o serviço militar obrigatório em Ponta Delgada, elaborou o projecto para pedir o alvará de laboração industrial que por iniciativa própria e fundos pessoais, entrou em laboração em 1945. Surgiu um contratempo, de resto de pouca monta. A. C. Mendonça, de origem algarvia, que era proprietário de uma fábrica de conservas de peixe em Vila do Porto, apresentou reclamação ao então Ministério do Comércio e Industria, que nada lhe valeu, pois José Salvador estava devidamente licenciado e por isso continuou a sua laboração.

A matéria-prima, albacora, bonito e cavala era pescada pelos madeirenses e alguns locais. Algum tempo depois da fábrica entrar em laboração entrou como sócio, João de Resende Tavares Carreiro, então gerente do Banco Micaelense (actual Banco Comercial dos Açores).

José Salvador, sécio fundador, homem de vistas largas, pretendia modernizar a fábrica com sistema de vapor para esterilização. O quadro de pessoal era de 6 homens e 40 mulheres no período de laboração.

Exportava a produção para Lisboa, onde o importador fazia a distribuição. Como o sócio Tavares Carreiro era avesso a modernização, o empresário José Salvador virou as costas a fábrica, sem receber a sua quota de sociedade a que tinha direito. Ficou assim a indústria entregue ao outro sócio, que laborou ainda cerca de 2 ou 3 anos, acabando por vender a fábrica à Sociedade de Conservas Corretora, Lda., com sede em Ponta Delgada.

As vistas largas de José Salvador, partindo da realidade que a importação anual de sal nos Açores se cifrava em dez mil toneladas, enquanto o mar que rodeava a ilha tinha tanto, ali a “porta de casa”, fez ensaios experimentais que foram bem sucedidos e lançou-se no empreendimento. A sua produção anual era da ordem das catorze toneladas de sal de alta qualidade, pela ausência de poluição do mar dos Açores, particularmente o de Santa Maria, que fica fora da rota dos petroleiros que atravessam o Atlântico e ao reduzido movimento do porto de Vila do Porto, onde ficava situada.

A salina, era composta por um conjunto de tanques de cimento que recebiam a água bombada do mar, onde permanecia a evaporar.

Funcionou até 1982, data em que se iniciaram as obras de construção do porto artificial da ilha, que veio tornar a água imprópria para manter o alto padrão de pureza do sal de mesa, que era exportado para os mercados do norte da Europa, cujo valor por quilograma chegou a ultrapassar uma libra inglesa.

 

Conservas dos Anjos, Lda.

This, company was established in 1943 by the then dynamic Santa Maria entrepreneur José Salvador, who was born in Vila do Porto on 30 November 1922.

While he was doing his compulsory military service in Ponta Delgada, he developed a scheme to apply for a factory license. Work began in 1945, on his own initiative and using his own funds. There was one problem, but it was of little consequence. A. C. Mendonça, who came from the Algarve and owned a fish processing plant in Vila do Porto, lodged a complaint with the then ministry of Trade and Industry.

This came to nothing since José Salvador was properly licensed, so he was able to carry on operating.

The raw material – albacore, bonito and mackerel was caught by the Madeirans and a few locals. Some time after the factory began operating. João de Resende Tavares Carreiro, then manager of the Banco Micaelense (now the Banco Comercial dos Açores), became a partner.

José Salvador, the far-sighted founding partner, planned to modernize the factory by using a steam system for sterilisation. The staff consisted of 6 men and 40 women. It exported its production to Lisbon, where the importer did the distribution.

As Tavares Carreiro, his partner, as opposed to the modernisation plan, José Salvador turned his back on the factory without clamming is rightful share of the company.

The factory was therefore handed over to the other partner, who ran 11 for two or three years before sell ing it to the Ponta Delgada Sociedade de Conservas Corretora, Lda.

José Salvador’s long-term outlook was based on the fact that the Açores imported ten thousand tonnes of salt every year, while there was so much salt ‘on the doorstep’ in the surrounding sea, he carried out some experimental trials, which were successful, and set to work. His annual production was in the region of fourteen tonnes. This was high-quality salt, since the sea around the Azores was unpolluted, particularly around Santa Maria, which was off the route of the transatlantic oil tankers, and there was not much traffic in port of Vila do Porto, where his operation was based. His salt works consisted of a number of cement tanks into which the sea water was pumped and left to evaporate.

This saltworks operated until 1982, when the works on the island’s artificial harbor made the water too impure to produce the high-quality table salt that il exported to the northern European markets, where the salt was worth more than one pound sterling.

in, Os Açorianos e as Pescas, 500 anos de memórias – João A. Gomes Vieira

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