Páginas José Rodrigues Serrano & Filhos - in A indústria Conserveira de Matosinhos
JOSÉ RODRIGUES SERRANO & FILHOS, LDA.
Factory name: FÁBRICA A BOA NOVA
Texto retirado do livro:
A indústria Conserveira de Matosinhos, Leça da Palmeira e Perafita, 1899 – 2007
Autor: Josué Gomes Fernandes Tato
Edição da Câmara Municipal de Matosinhos
A A Boa Nova, Fábrica de Conservas Alimentícias, de José Rodrigues Serrano & Filhos, Lda. situava-se na Rua Conselheiro Costa Braga, 237/299, Matosinhos.
Ainda hoje, Maio de 2007, existem as ruínas daquele que outrora fora um grande prédio.
Fundada em 1920 por um homem que foi um admirável exemplo de labor e tenacidade – José Rodrigues Serrano – A Boa Nova, conseguiu em pouco tempo equiparar-se as principais Fábricas do Norte. Sob a direção firme e sensata do seu Fundador, a A Boa Nova conquistou uma reputação muito prestigiada em todos os mercados, e, os seus produtos tiveram na época em que laborava uma clientela segura e satisfeita.
José Rodrigues Serrano, era o mais idoso dos industriais do Centro Conserveiro de Matosinhos e, quiçá o mais estremo batalhador de todos.
A sua indomável coragem, a sua incansável pertinácia, a sua inquebrantável tenacidade, tornaram-no um exemplo digno de ser citado na escola da vida comercial e, melhor ainda, de ser copiado por todos os negociantes.
Porque é no exemplo do venerando Serrano que as virtudes se temperam e que as energias se retemperam para a luta tenaz que hoje e necessária empreender para não perecer no prélio. E no limitado ciclo de lutadores que se formaram em Matosinhos, José Rodrigues Serrano foi um triunfador, um lutador que venceu porque era dotado de raras qualidades de pugnador. Tinha a serenidade do homem valente, e coragem do homem leal e a fé dos bem intencionados.
O edifício fabril que construiu pouco antes da sua morte foi e ainda, apesar de em ruínas, como um Pantheon que fica a atestar a sua obra de vulto.
José Rodrigues Serrano nasceu em Espinho em 1859. Era filho de gente humilde mas de escrúpulos e honestidade. Dotado de grande energia e indomável força de vontade, partiu para o Brasil aos vinte anos, regressando a Portugal, quatro anos depois com algumas economias que ali conseguiu amealhar a custa de muitos sacrifícios.
Quando casou, um ano depois do seu regresso, dispunha-se a voltar ao Brasil para ali por em pratica projectos mais arrojado , mas sua esposa a dissuadiu-o da viagem resolvendo, em troca, estabelecer-se em Espinho com um negócio de mercearia e padaria. Este estabelecimento tornou- muito conhecido em Espinho e arredores pela qualidade especial de uma broa que granjeou fama pelo seu agradável paladar e cuidado fabrico.
Ao mesmo tempo, a sua incansável actividade converteu-o em gerente e armador de algumas artes de pesca do arrasto naquela praia, passando pouco depois a ocupar-se da exportação de vinhos de consumo para o Brasil, sem de curar o negócios que por cá tinha criado.
Foi porém ao negócio de exportação de vinhos que José Rodrigues Serrano dedicou nesse período a sua maior atenção , conseguindo em pouco tempo enfileirar a lado dos maiores exportadores da época e, reunir uma pequena fortuna.
Como este negócio exigia a sua maior atenção, o Sr. Serrano abandonou as atividades de gerente e armador de pesca e entregou-se todo a exportação de vinhos até que, em 1900 sobreveio um desastre que o forçou a dar novo rumo a sua actividade sempre febril. Grassou nesse ano uma terrível epidemia no Porto – a peste bubónica – que obrigou as autoridades a por um cerco a cidade, cerco esse, que havia de ficar na história trágica do burgo como nome de cordão sanitário.
Por esse motivo uma grande encomenda de vinhos ficou retida largo tempo no cais de Gaia, e foi tempo depois embarcada sem o conhecimento do Sr. José Rodrigues Serrano. E, assim, sucedeu que ao chegar ao seu destino, o vinho estava impróprio para consumo ocasionando- lhe um gravíssimo prejuízo.
Parecia que a adversidade se comprazia em inutilizar os esforços deste grande trabalhador. Ao mesmo tempo que este golpe lhe destruiu um negócio em que tanta esperanças havia posto, por seu lado o Mar ia destruindo algumas casas que o Sr. Serrano possuía em Espinho.
Longe de lhe quebrar o animo, estes contratempos exacerbavam-lhe o espírito combativo e, sem abandonar completamente o estabelecimento de mercearia e padaria, empreendeu um novo negócio de exportação de peixe salgado.
Entretanto a indústria de pesca em Matosinhos começou a tomar certo incremento, e o Sr. José e Rodrigues Serrano veio aqui montar uma filial da sua padaria mercearia com uma pequena indústria anexa de peixe conservado pelo sal. Este desdobramento foi-lhe então possível porque já seus filhos estavam aptos a prestar-lhe a sua colaboração.
Mas o Mar inclemente continuava a sua acção devoradora, e o edifício onde o Sr. Serrano tinha o seu negócio de padaria e mercearia desapareceu com a voragem.
Foi então que o Sr. Rodrigues Serrano terminou de vez como negócios em Espinho e se instalou definitivamente em Matosinhos. Além do que então possuía, o Sr. Serrano fundou então nessa ocasião uma empresa de pesca, denominada Cerco Americano que tempo depois, vendeu com prejuízo por os resultados não serem compensadores .
Ao mesmo tempo um incêndio devorava-lhe um prédio acabado de construir do qual só conseguiu recuperar 10% do valor.
Por insistência de alguns clientes de peixe salgado, no Brasil, o Sr. José Rodrigues Serrano resolveu dedicar-se também ao fabrico de Conservas de Peixe em azeite tomate. Como produto da venda das ultimas propriedades que lhe restavam em Espinho, montou esse extraordinário homem em 1920 uma Fábrica de Conservas com fabrico normal de latoaria, a qual pouco depois era devidamente mecanizada.
Seus filhos Sr. António Rodrigues Serrano e Sr. Henrique Rodrigues Serrano sucederam-lhe como Sócios da fábrica A Boa Nova.
O Sr. José Rodrigues Serrano foi casado com a Sr. a D. Ana Gomes Ferreirinha Serrano, nasceu em Espinho em 30 de Março de 1859 e faleceu em Matosinhos, a 5 de Janeiro de 1938, o decano dos conserveiros do Norte José Rodrigues Serrano foi o mais idoso dos industriais deste Centro.
A numerosa família Serrano, cujos membros participaram na Indústria Conserveira, teve papel preponderante, com interesses em numerosas Fábricas, nomeadamente na Boa Nova e na Oceano de Lopes da Cruz & Cª Lda., da qual foi competente administrador o Sr. Eng. Manuel Lopes Amorim.