Artigo publicado nos CADERNOS BARÃO DE ARÊDE  Outubro-Dezembro 2014

 

O IMPÉRIO JÚDICE FIALHO por Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes

REVISTA DO CENTRO DE ESTUDOS DE GENEALOGIA E HERÁLDICA BARÃO DE ARÊDE COELHO

Introdução

Este artigo tem como objectivo estudar a figura de João António Júdice Fialho (1859- 1934), mostrando em geral, o seu trajecto em termos comercial, empresarial, industrial e agrícola e em particular, descrever o “império” conserveiro que criou entre os anos de 1892 a 1934. Procura-se também, analisar as suas intervenções de carácter cívico, político e social e a sua faceta e actividade de benemérito.

A vida empresarial de Júdice Fialho, inicia-se com seu pai na fabricação de vinhos e importação de produtos como o petróleo, cabos de aço, alcatrão e outros materiais para embarcações de pesca. No entanto, cedo se emancipa de seu pai, fazendo parceria e sociedade com João José da Silva Ferreira Neto (1856-1935), com a edificação duma fábrica de álcool de destilação de alfarroba e figo, denominada S. Cristóvão nos arredores de Faro, em 1881. Em 15-2-1883, os dois sócios da firma Neto & Fialho (João José da Silva Ferreira Neto e João António Júdice Fialho), faziam uma escritura e parceria mercantil com Francisco Constantino Pereira Matos, constituindo uma fábrica de destilação de aguardente, denominada Companhia Portuguesa de Álcoois e Açucares, localizada na freguesia da Sé, Faro.

Contudo na década de 90, Júdice Fialho, vai concentrar os seus esforços e investimentos na indústria conserveira, construindo e montando fábricas em diversos locais do país: Portimão (S. José a 5-7-1892 e S. Francisco, no sítio do Estrumal a 15- 5-1904), Lagoa (Ferragudo a 31-3-1904), Lagos (a 26-11-1904), Funchal (em 1909), Olhão (a 20-3-1913), Peniche (em 1915), Sines (em 1926) e Matosinhos, empregando muitos milhares de trabalhadores.

Alguns anos mais tarde (1896), começa também a investir na indústria da pesca, nomeadamente na pesca da sardinha e atum.

Dedicou-se ainda durante algum tempo nos anos 20, à actividade e indústria da pesca do bacalhau.

A partir de 1899, Júdice Fialho, vai investir numa frota pesqueira e na actividade de armador. Para tal, montou junto à fábrica de S. Francisco, um estaleiro naval onde construía as suas próprias embarcações, que serviam de apoio aos cercos, às armações e a outras actividades pesqueiras (como a pesca do atum e da sardinha), bem como para o tráfego e transporte costeiro, etc.

Paralelamente, procura-se ainda neste trabalho, contextualizar a indústria conserveira na época, nomeadamente, a sua importância no quadro económico português, quer como produtora e exportadora; a regulamentação e organização legislativa do respectivo sector; e finalizando pela descrição pormenorizada das fábricas do industrial portimonense.

Para a elaboração deste artigo, foram fundamentais e essenciais as seguintes monografias: a tese de mestrado de Jorge Miguel Robalo Duarte Serra – O Nascimento de um império conserveiro: “A Casa Fialho” (1892-1939) de 2007; o artigo de Joaquim Manuel Vieira Rodrigues – “O «império» Fialho”, in O Algarve da Antiguidade aos nossos dias: elementos para a sua história de 1999 e a obra de Maria João Raminhos Duarte – Portimão: industriais conserveiros na 1a metade do século XX, de 2003.

O percurso biográfico de João António Júdice Fialho

O algarvio João António Júdice Fialho, nasceu em Portimão a 17-4-1859 e morreu em Lisboa a 17-3-1934, sendo no seu tempo, o maior industrial do Algarve e um dos homens mais ricos do país.1

1cf. Jorge Miguel Robalo Duarte Serra – O Nascimento de um império conserveiro: “A Casa Fialho” (1892- 1939) [Texto Policopiado], tese de Mestrado em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade do Porto, 2007, p. 45.

Era filho de Francisco Alexandre d`Abreu Fialho e de D. Maria da Glória Júdice, que nasceu em Estômbar, Lagoa, Faro em 29-8-1835. Do pai, morador em Portimão herda o «gosto pelo negócio», que se dedicava ao comércio de tabaco, entre outros produtos e pela mãe, o prestígio e nome de família.2

Era neto paterno de João Rozendo de Fialho d’Alvelos, que nasceu em Odeceixe, Aljezur e de D. Maria Doroteia de Abreu Simões, que nasceu em Alvor, Portimão, Faro. Era neto materno de António Joaquim Júdice, Capitão de Milícias 3, abastado comerciante algarvio, que se dedicou à «exportação dos produtos da província algarvia para as províncias do norte e para o estrangeiro», contribuindo muito para o desenvolvimento da sua terra natal, que foi no seu tempo um dos pontos mais importantes procurados pelos navios, que ali iam carregar os frutos da província, que nasceu na Mexilhoeira da Carregação, Lagoa, Faro a 7-9-1784, e morreu aí a 23-10-1862 e de sua mulher D. Rosa Angélica Júdice Biker, que nasceu em Portimão, Faro a 19-1-1806.4

Júdice Fialho, casou na Sé, Faro com D. Maria Antónia Cúmano, que nasceu na Sé, Faro, Sé a 26-12-1861 e morreu em Faro a 17-6-1948, filha de Justino Cúmano, Presidente do Instituto Arqueológico do Algarve (fundado por Estácio da Veiga), médico, que se estabeleceu em Faro, em 1840, onde constituiu família. Possuidor de avultada fortuna, deve-se-lhe a reconstrução do Teatro Lethes, ainda hoje existente naquela cidade. Dedicou-se também à arqueologia e, sobretudo, à numismática, conseguindo reunir uma das mais vastas colecções ao tempo existentes no País, que compreendia 6 a 7000 exemplares, abrangendo a série portuguesa, grega, ibérica, romana, goda, árabe, etc. Foi considerado Benemérito da cidade de Faro, que deu o seu nome a uma das suas ruas, que nasceu em Veneza, Itália a 20-2-1818, e morreu em Faro a 30-3-1885 e de D. Maria Vitória Pereira de Mattos, que nasceu a 12-2-1838, e morreu em Faro a 18-5-1902.

Espírito bastante culto e cosmopolita, visitava regularmente e por largas temporadas, a França e a Inglaterra devido aos seus negócios, e conhecendo de igual modo a Espanha, Itália, Suíça, Alemanha e Áustria, para se inteirar do que mais moderno se fazia e das novidades que surgiam na indústria, adquirindo novas máquinas ou tratando pessoalmente da colocação e venda dos seus produtos, não deixando de se aperceber «de outros mundos e doutras culturas». 5

A primeira vez que encontramos o seu nome, associado a uma actividade pública, é no cortejo do tricentenário de Camões em 10-6-1880, promovido pelo Jornal “A Independência” de Portimão.

Teve ao longo da sua vida, diversas intervenções de carácter cívico, político e social: pede conjuntamente com João José da Silva Ferreira Neto (1856-1935) 6 ao governo, para que fosse estabelecido um comboio semanal entre Faro e as Amoreiras, pedido este deferido em 1889 7; foi eleito, como júri do tribunal do Comércio do distrito de Faro em 1890 8; participa numa comissão de comerciantes de Portimão, encarregue de decorar as ruas em honra dos soberanos portugueses, D. Carlos I e D. Amélia em 1897 9; preside aos trabalhos de uma reunião de alguns comerciantes e indústrias farenses, com o propósito de criar uma Associação Comercial e Industrial de Faro em 14-10-1908 10; pertenceu a uma comissão composta de sete patrões da indústria conserveira, para resolver a questão da resistência dos soldadores à nova tecnologia, estando reunida um mês no gabinete de Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais (1872-1918), Ministro do Fomento (de 3-9-1911 a 12-11-1911) por portaria de 15-10- 1911 11; participa na Conferência Internacional de Madrid em 1915, para as negociações com a Espanha para assinatura dum convénio de pesca, que não chegou a concretizar-se, onde vai ter uma intervenção decisiva «impugnando com sólidos argumentos á aspiração insistente dos nossos vizinhos, que pretendiam a reciprocidade de pesca nas águas jurisdicionais do Algarve e do Minho, com manifesto prejuízo para o nosso país»12; contribuindo com um donativo e importância de 30$000, quando da viagem de Sidónio Pais ao Algarve em Fevereiro de 1918 13; participa no Io Congresso Nacional de Pesca e Conservas, reunido em Setúbal em Dezembro de 1927, fazendo posteriormente parte da comissão nomeada por portaria do governo, para estudar as ideias apresentadas neste evento «prestando os esclarecimentos necessários e propondo as medidas que julgar oportunas para o aperfeiçoamento e desenvolvimento de tão importantes indústrias», sendo esta dissolvida por decreto n.o 17262 de 24-8-1929 14. Nesta comissão, defende as ideias que considera serem as melhores para o desenvolvimento da indústria conserveira. Assim, mostrou- se contra o período tão dilatado do defeso da pesca (quatro meses), pois, tal medida, iria provocar a ruína da indústria e o desemprego de uma parte significativa do operariado urbano algarvio e dos pescadores, já que a indústria conserveira era o grande comprador do peixe 15; foi ainda nomeado como representante do Centro Industrial de Peniche, no conselho de administração do Consórcio Português de Conservas de Sardinha, criado pelo decreto-lei n.o 21622 de 27-8-1932, que tinha como objectivo regular e fiscalizar toda a indústria 16; exerceu ainda o cargo diplomático de Cônsul de Itália em Portimão.17

2cf. Maria João Raminhos Duarte – Portimão: industriais conserveiros na 1a metade do século XX, 1a edição, Lisboa: Colibri, 2003, p. 33 e Compilação de elementos estatísticos sobre conservas de peixe, Lisboa: Instituto Português de Conservas de Peixe: 1954, pp. 43-44.
3cf. António Joaquim Júdice, era filho de Joaquim Paulo Júdice, que nasceu em Estômbar, Lagoa, Faro a 2-11-1756 e de D. Ignácia Quitéria da Silva; neto paterno de José Júdice, Bacharel em Leis pela Universidade de Coimbra, juiz de Fora e Órfãos de Sines (desde 1736), que pouco tempo depois de casar, foi viver para Mexilhoeira da Carregação, Lagoa, Faro, estabelecendo ali a sua casa; naturalizou-se português em 1731, que nasceu em S. Pedro de Aveiro e morreu na Mexilhoeirinha, Lagoa, Faro em 1762 (jaz sepultado no convento de S. Francisco em Estômbar) e de Quitéria Marina Tavares (com quem casou em S. Bartolomeu de Messines, Silves, Faro em 1744), que nasceu em S. Bartolomeu de Messines, Silves, Faro, filha de José Tavares e de D. Beatriz dos Santos; bisneto paterno de Paulo André Júdice, que em 1707, partiu de Itália, devido a questões políticas e fixou residência na ilha de S. Miguel, Açores; depois domiciliou-se com sua mulher e filhos em Lisboa, que nasceu em Génova, Itália a 6-4-1675, e morreu em Lisboa entre 1734 e 1744; trineto de João Júdice, Capitão, que nasceu na Córsega, Itália e de Maria Rosalina Marenghi, que nasceu em S. Pedro de Arena, filha de Nicolau Marenghi; 4o neto de Santos Júdice, natural da Córsega, Itália. A família Júdice, é originária da Córsega, que já ali existia no século XI, quando nos fins desse século, Piza, tomou posse da referida ilha. O 1o ascendente conhecido da família que veio para Portugal é o citado Santos Júdice. (cf. Francisco Xavier Ataíde d’ Oliveira – Monografia de Estombar: concelho de Lagoa, Porto: Typ. Universal, 1911, pp. 187, 191, 207-209).
4cf. cf. Francisco Xavier Ataíde d’ Oliveira – Monografia de Estômbar: concelho de Lagoa, Porto: Typ. Universal, 1911, p. 207-209.
5cf. Joaquim António Nunes – “Júdice Fialho e a Evolução Histórica de Portimão”, in Conferência proferida na Casa do Algarve em Lisboa a 25-10-1952, pp. 13, 16, 17 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 46.
6cf. João José da Silva Ferreira Neto (* em Faro 1856, + em 1935), ficou ligado ao período de grande desenvolvimento que a cidade conheceu na transição do século XIX para o século XX, Deputado em várias legislaturas, Vice-presidente e Presidente da Câmara Municipal de Faro (1886, 1890-1891,1892- 1901) e Governador Civil de Faro (de 25-5-1901 a 18-10-1904 e de 23-3-1906 a 17-5-1906), militante no Partido Regenerador, sendo amigo pessoal de Hintze Ribeiro, alcunhado de o «Casaca de Ferro», pela posse sempre hierática que apresentava.
7cf. O Algarve de 5-3-1933, na rubrica à 44 anos e O Distrito de Faro de 7-3-1889.
8cf. O Algarve de 7-1-1934, na rubrica à 44 anos e O Distrito de Faro de 9-1-1890.
9cf. Maria da Graça Maia Marques; Maria da Graça Mateus Ventura – “Portimão”, in Colecção Cidades e Vilas de Portugal, n.o 15, Lisboa: Editorial Presença, 1993, pp. 76-77.
10cf. Luís Filipe Rosa Santos – Faro: um olhar sobre o passado recente: segunda metade do século XIX, Loulé: L. Santos, 1997, p. 110.
11cf. César Oliveira – “O congresso sindicalista de 1911”, in Movimento operário português; 2, Porto: Afrontamento, 1911 e Maria João Raminhos Duarte, op. cit., p. 102.
12cf. Joaquim António Nunes, op. cit., pp. 13-14 e O Algarve de 4-7-1915, p. 1 e Algarve de 25-7-1915, p. 2.
13cf. O Algarve de 21-4-1918, p. 2.
14cf. Revista Indústria Portuguesa, n.o 1, Março de 1928, p. 50 e António Manuel Pinto Barbosa – Sobre a Indústria de Conservas em Portugal, Lisboa: Editorial Império, 1941, p. 24 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 31-32.
15cf. Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 46-47.
16cf. Revista da Indústria Portuguesa, n.o 57, Novembro de 1932, p. 72 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 72 e 84-85.
17cf. Maria João Raminhos Duarte, op. cit., p. 36.
18cf. Diário de Lisboa de 24-6-1931 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 75-76: Esta notícia, insere-se a propósito da pretensão dos pescadores e conserveiros espanhóis, de quererem liberdade de pesca nas águas territoriais portuguesas ou da redução para 3 milhas das mesmas. O ministro da Economia de Espanha, sugeriu mesmo, que esse diferendo fosse decidido num tribunal de arbitragem internacional, o que provocou grande discussão e reacção em Portugal.

Numa entrevista ao Diário de Lisboa de 24-6-1931, Júdice Fialho, mostra-se contra a cartelização da indústria, dizendo «isso é uma coisa que só aos interessados compete resolver: quem queira», e revela a sua visão sobre as questões relacionadas com o futuro da pesca e da indústria conserveira, nomeadamente a questão da medida do defeso, da qual se mostrava contra «é preciso que cada português não pense apenas em si; e assim, os interesses dos pescadores e do povo em geral levam-nos a reprovar absolutamente essa ideia».18

Poucos meses depois, reforça a sua posição, numa outra entrevista ao referido jornal de 27-12-1931, mostrando-se contra a medida do defeso: «Discordo absolutamente do defeso pedido e entendo que depois das circunstâncias desgraçadas das pescas deste ano, que deixaram em ruína a economia dos armadores e sobretudo a das tripulações, é inoportuna e absurda qualquer restrição à liberdade de trabalho. A campanha contra o peixe de Inverno não tem razão de ser, porque há países que consomem especialmente peixe de Inverno e há outros como a Espanha, que  fabricam conservas durante todo o Inverno. Para evitar a confusão entre o peixe de Inverno e o peixe de Verão no fabrico de conservas, bastará assinalar nas latas do último a respectiva designação».19
Mostrando-se um dos maiores opositores à paralisação da pesca e do defeso, acaba por enviar um telegrama a António Oliveira Salazar, Presidente do Conselho em 1933, reforçando os seus argumentos e referindo que: o defeso era apenas defendido por poucos industriais, que assim pretendiam escoar os seus “stocks” com mais lucro; defendeu a fabricação de tipos de conservas diferenciados, como noutros países, de maior ou menor qualidade (peixe de Inverno); e mostrando-se preocupado com os milhares de operários que ficariam periodicamente desempregados. 20

A sua faceta e actividade de benemérito, também merece um papel de destaque, nomeadamente: no inquérito realizado pelo Eng. Francisco de Salles Fernandes Girão quando visitou Portimão em 1905, afirmava «Segundo ali me referiram, o proprietário de uma das fábricas de conservas quis instituir uma caixa de socorros, que dotou com um fundo inicial, mas os operários não quiseram continuar»21; durante uma greve dos operários conserveiros, contra a introdução de máquinas de soldar em Portimão em Outubro de 1908, que duraria 40 dias «mandou distribuir pelos grevistas das suas fábricas os seguintes donativos: aos que estão presos 3$000 reis a cada um; 2$000 a cada um dos soldadores ou trabalhadores, a cada uma das mulheres 1$500 reis e 1$000 reis aos moços», isto no Natal de 1908 22; através de vários donativos ou subscrições para comissões de auxílio aos pobres, ou quando havia epidemias como a da febre tifoide em 1909 e a da gripe pneumónica (a par da filial do Banco Nacional Ultramarino de Faro), que devastou o Algarve em 1918 23; ofereceu à Cruz Vermelha Portuguesa, 100 caixas de lata de conservas de sardinha com destino às tropas portuguesas na frente de combate em França na 1a Guerra Mundial (1914- 1919) em 1917 24; sócio protector do Asilo de S.ta Isabel, para o qual ofereceu 100$00 em 1919 25; aquando da fundação do Corpo Voluntário de Bombeiros de Portimão, «autorizou que nas suas oficinas fosse reparado o material dos incêndios» em 1926 26; colaborou nas obras de construção do edifício da GNR em 1928 27; ofereceu a importância de 100$00 para a Cozinha Económica de Faro no Natal de 1929 28; contribuiu para a sopa dos pobres de Portimão, inscrevendo a importância de 1.000$00, surgindo a grande distanciamento do segundo maior doador, a firma Feu Hermanos com 250$00 em 1932 29; sócio fundador do Asilo de Assistência à Mendicidade em Portimão em 1932. 30

19cf. Diário de Lisboa de 27-12-1931 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 81.
20cf. Diário do Algarve n.o 77 de 2-1-1933, p. 4 «A pesca da sardinha, o defeso e a indústria de conservas» e Maria João Raminhos Duarte, op. cit., pp. 123-124.
21cf. Estatística Industrial. Ia Série. Distritos de Évora, Beja e Faro, 1905, Lisboa: Imprensa Nacional, p. 277.
22cf. O Algarve de 7-1-1934, na rubrica à 25 anos, O Algarve de 3-1-1909, O Algarve de 25-10, de 1-11, de 22-11 e de 29-11-1908; e Carlos Fonseca – História do movimento operário e das ideias socialistas em Portugal, 4o vol. 1a parte: Greves e agitações operárias. – [D.L. 1982], p. 170.
23cf. O Algarve de 22-12-1918, p. 2.
24 cf. O Algarve de 30-9-1917.
25cf. O Algarve de 1-6-1919, p. 2.
26 cf. Maria João Raminhos Duarte, op. cit., p. 165 e O Comércio de Portimão n.o 18 de 7-11-1926, p. 1. 27cf. Maria João Raminhos Duarte, op. cit., p. 166; MMP, Arquivo Histórico, Actas da Vereação, Livro de Termos, caixa 396, doc. 439, livro não numerado 14/15/12/1928.
28cf. O Algarve de 5-1-1930, p. 1, Maria João Raminhos Duarte, op. cit., p. 166 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 48.
29cf. O Comércio de Portimão de 6-3-1932 e 20-3-1932 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 49.
30cf. O Comércio de Portimão n.o 321 de 9-10-1932, p. 1 e n.o 413 de 15-7-1934, p. 1 e Maria João Raminhos Duarte, op. cit., p. 150.
31cf. Henrique Alexandre da Fonseca – A Marinha do Algarve na Ia Grande Guerra, Faro, Separata dos Anais do Município de Faro n.o XXVX, 1995, p. 115, Joaquim António Nunes, op. cit., pp. 11-12, O Algarve de 26-3-1916 e O Algarve de 20-4-1919, p. 3.

Durante a 1a Guerra Mundial (1914-1919), à semelhança de outros armadores algarvios, vê requisitados dois dos seus navios pela armada: um para a vigilância da costa algarvia, o rebocador “Galgo” (em 1916), que «ficou reservado para a fiscalização da costa entre Lagos e o Cabo de S. Vicente (…)», e o vapor “Portugal 3”, no qual seria montado uma canhoneira (ambos registados na capitania do porto de Portimão). Contribuiu ainda «com cabos, rede e pessoal para a defesa da barra de Lisboa».

É durante este período, que se inicia a construção do seu palácio do Alto em Faro, da autoria do arquitecto Manuel Joaquim Norte Júnior (1878-1962) 32, que duraria a edificar dez anos de 1915 a 1925. Na sua construção, Júdice Fialho, utilizou os materiais mais ricos e nobres: madeira vinda do Brasil, enormes quantidades de mármore, «tendo montado em Portimão, propositadamente, uma serração de pedra para nela preparar o mármore a empregar na construção».33 Segundo os relatos da época, o palácio estava ricamente decorado, possuía um monta-cargas (para trazer a comida da cozinha que estava na cave para a sala de jantar) e um elevador (os primeiros que existiram no Algarve) e fábrica de fazer gelo (que durante muitos anos, forneceu gelo também para o Hospital de Faro). A partir 2-5-1925, seria esta a sua residência permanente. Reuniu então uma valiosa colecção de arte, que instalou neste palácio, sobretudo rica em pintura, tapeçarias e louças. 34

Rebocador Galgo

Palácio do Alto em Faro

 
 32cf. José António Pinheiro e Rosa – Monumentos e Edifícios Notáveis do Concelho de Faro, Faro: Edição da Câmara Municipal de Faro, 1984, pp. 26-27. Manuel Joaquim Norte Júnior (* Lisboa a 24-12- 1878, + -12-1962), Diplomou-se pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, foi um dos mais activos arquitectos do princípio do século. Além deste palácio, Manuel Joaquim Norte Júnior, foi autor dos edifícios da Voz do Operário e do Cine Teatro Variedades, em Lisboa; Sociedade Amor da Pátria, no Faial; Palace-Hotel na Cúria; Grande Hotel, no Monte Estoril; Hotel Paris no Estoril; Hospital de Salreu; Cineteatro em Sintra e muitos outros; ganhou cinco prémios Valmor e a medalha de Ouro no Rio de Janeiro, Brasil.
33cf. Joaquim António Nunes, op. cit., p. 12.
34cf. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa-Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, vol. XIV, 1960, p. 350, José António Pinheiro e Rosa, op. cit., pp. 26-27 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 49.
35cf. Francisco I. C. Lameira – Faro: edificações notáveis, Faro: Câmara Municipal, 1995, pp. 65-67. 

Pertenciam-lhe ainda, outros imóveis com interesse arquitectónico: o palácio Doglioni ou «Palacete Cúmano», comprado nos inícios do século XX; o edifício oitocentista situado na rua Infante D. Henrique em Faro 35; e o convento de S. Francisco ou de Nossa Senhora da Esperança, adquirido em 1911, sendo convertido em armazéns destinados à actividade conserveira.
Reunindo uma avultada fortuna, empregou-a, não apenas no desenvolvimento da indústria a que principalmente se dedicava e no melhoramento das condições dos seus operários, mas também, na aquisição de extensos tratos de terreno. Tornou-se assim em poucos anos o maior proprietário agrícola algarvio, com explorações distribuídas pelos concelhos de Loulé, Faro, Olhão, Lagoa, Albufeira e Portimão. Exemplo disso, são as propriedades rústicas que adquiriu: o “Morgado de Boina”, o “Morgado de Agre” e o “Morgado de Reguengo” (todos em 1922) e finalmente em 1929, com a compra do “Morgado da Quinta da Quarteira” (escritura de 30-12-1929), sendo esta propriedade a mais extensa do Algarve, com 1600 hectares (deste morgado é que vai nascer Vilamoura, após a venda efectuada pelos seus herdeiros, por 150.000 contos, ao grupo financeiro de Cupertino de Miranda). 36
No rio Seco, arredores de Faro, possuía a herdade dos Salgados, na qual se destacam, a Casa dos Salgados e os dois silos, construídos nos finais do século XIX, com a finalidade de armazenamento de cereais e forragens.37
Passou então, a interessar-se também pelas culturas do pimenteiro e do marmeleiro e pelas indústrias do pimentão e da marmelada, chegando a rivalizar na primeira com alguns dos mais importantes industriais do país vizinho. No primeiro caso, introduziu a cultura do pimenteiro no Algarve, iniciando o fabrico do colorau. Aproveitando os marmeleiros e gamboeiras das extensas propriedades que adquiriu, criou a indústria de confecção de marmelada, acondicionada em folha, nos anos 30. Com a produção intensiva levada a cabo nas suas vastas propriedades, fornecia os produtos essenciais aos molhos das conservas, como sejam: o azeite, o tomate, a cebola, cheiros e outros, fabricando também, o guano, o óleo de peixe, a polpa de pera, a marmelada, a calda de tomate e o sabão. No distrito de Viana do Castelo, comprou pinhais para a produção de caixas de peixe.38
Nos seus domínios agrícolas, implementou experiências e novas técnicas para com elas melhorar a sua produtividade, como seja: a propriedade dos Salgados, encontrava- se organizada em arrozais; abriu furos numa herdade, para extracção de água por compressão.39

Imagens em cima: Convento São Francisco em Portimão

À esquerda: palacete Doglioni em Faro

36cf. O Algarve de 12-1-1930, p. 3 e J. da Silva Martins – Estruturas agrárias em Portugal continental, 1o vol. Lisboa: Prelo, 1973-, pp. 602-604.
37cf. Francisco I. C. Lameira, op. cit, pp. 95-96.
38cf. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa-Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, vol. XIV, 1960, p. 350; Glória Maria Marreiros – Quem foi quem?: 200 algarvios do séc. XX, ed. Fernando Mão de Ferro, ed., 1a edição, Lisboa: Colibri, 2000, p. 200 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 50 e Maria João Raminhos Duarte, op. cit., p. 30.
39cf. O Algarve de 30-3-1924, p. 1 e O Algarve de 3-1-1932, p. 2. 
40cf. O Algarve de 25-3-1934.
41cf. Joaquim António Nunes, op. cit., p. 10.

 

Após esta breve biografia, passa-se a descrever, o seu percurso comercial, empresarial e industrial.

A vida empresarial de João António Júdice Fialho, começa com seu pai «De seus princípios o Sr. Fialho, juntamente com seu ilustre pai, o Sr. Francisco d’Abreu Fialho, recebia carregamentos importantes com que abastecia em anos de crise a região do barlavento da província. Ocupavam-se também da fabricação de vinhos».40 Joaquim Nunes, afirma que iniciou a sua actividade no comércio, importando produtos, como o «petróleo, cabos de aço, alcatrão e outros materiais para embarcações de pesca».41

A sua primeira actividade comercial-industrial (sem a parceria de seu pai), foi em sociedade com João José da Silva Ferreira Neto (1856-1935), com a edificação duma fábrica de álcool de destilação de alfarroba e figo, denominada S. Cristóvão nos arredores de Faro, que segundo o inquérito industrial de 1881 «Está em construção nos subúrbios de Faro um edifício para uma grande fábrica de destilação de alfarroba e figo, denominada de S. Christovão e propriedade da firma Neto & Fialho, que tem privilégio por quinze anos».42 Na notícia do seu elogio fúnebre, o jornal “O Algarve” de 25-3-1934, referia que a fábrica fora fundada em 1881 e «que chegava a consumir diariamente 15.000 quilos desses frutos, trabalhou durante 20 anos, melhorando muito a situação pecuária e enriquecendo pelos resíduos os terrenos do concelho de Faro e limítrofes, dando trabalho de dia e de noite a muitíssimos operários». Contudo a fábrica, só deverá ter começado a laborar em 1882.43

Em 15-2-1883, os dois sócios da firma Neto & Fialho, João José da Silva Ferreira Neto e João António Júdice Fialho, faziam uma escritura e parceria mercantil com Francisco Constantino Pereira Matos, proprietário, comerciante e morador em Faro, onde ficava estabelecido, que este último entrava para a empresa Netto & Fialho, para a exploração de uma fábrica de destilação de aguardente e mais operações mercantis «que se julgassem convenientes, com o capital de trinta contos de raiz – quantidade esta que neste acto foi apresentada em metal sonante pelo dito segundo outorgante».44 Esta parceria, teria a duração de 12 anos e Francisco Matos, usufruiria durante esse tempo, de 1/3 dos lucros da empresa, conforme o balanço anual da mesma. Esta fábrica, denominou-se Companhia Portuguesa de Álcoois e Açucares, localizada na freguesia da Sé, cidade de Faro.45

Na década de 90 do século XIX, Júdice Fialho, vai concentrar os seus esforços e investimentos na indústria conserveira, principiando por montar fábricas em Portimão (a de S. José a 5-7-1892 e de S. Francisco, no sítio do Estrumal a 15-5-1904), mas também em Lagoa, Faro (Ferragudo a 31-3-1904), Lagos (a 26-11-1904), Funchal, Madeira (em 1909), Olhão (a 20-3-1913), Peniche (em 1915), Sines (em 1926) e Matosinhos, empregando muitos milhares de trabalhadores.46 As suas marcas, sobretudo de conservas de sardinha, eram em breve das mais acreditadas do País e daquelas, que mais altas cotações obtinham nos mercados estrangeiros, sobretudo em Inglaterra, onde angariavam grande fama. Destas, distinguia-se sobretudo a marca “Marie Elisabeth”, com grande prestígio e qualidade até aos anos 70, No entanto, houve outras marcas como a: Falstaff, Desirées, Galleon, Maria, Mulher e Sardinha, J.A.J.F., etc.47

42cf. Inquérito Industrial de 1881: Visita às Fábricas, p. 25 e O Algarve de 25-3-1934.
43cf. O Algarve de 25-3-1934 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 51
44cf. Museu Municipal de Portimão (MMP), Arquivo Júdice Fialho, “Escritura de parceria mercantil em comandita”, documento 5854, caixa 431.
45cf. Joaquim Manuel Vieira Rodrigues – “O «império» Fialho”, in O Algarve da Antiguidade aos nossos dias: elementos para a sua história, coord. de Maria da Graça Maia Marques, Lisboa: Edições Colibri, 1999, p. 405 e Boletim do Trabalho Industrial n.o 18, 1907, Mapa 1.
46cf. Glória Maria Marreiros, op. cit., p. 199.
47cf. Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 109.
48cf. Luiz Mascarenhas – Indústrias do Algarve, Lisboa: Centro Typographico Colonial, 1915, p. 14.
49cf. Carlos da Fonseca, op. cit., p. 117.
50cf. Joaquim Manuel Vieira Rodrigues, op. cit., p. 409 e Ana Rita Silva de Serra Faria – A Organização Contabilística numa empresa da Indústria de Conservas de Peixe entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX, dissertação de Mestrado em Ciências Económicas e Empresariais, apresentada no Instituo Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa, 2001, p. 64.
51cf. A realidade Júdice Fialho: O passado e o Presente, (s/d): Comissão Sindical de Júdice Fialho [D.L. 1978] (Lisboa: Tip. Silvas).
52 cf. Glória Maria Marreiros, op. cit., p. 200 O Comércio de Portimão n.o 602 de 27-2-1938 e Maria João Raminhos Duarte, op, cit., p. 142.
53cf. Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p.52; Certos autores defendem que Júdice Fialho, começou primeiro pela pesca, e que ao verificar as potencialidades da indústria conserveira, é que vai apostar na construção da sua primeira fábrica, embora não exista nenhuma documentação que valide esta teoria.

Nas suas unidades fabris, encontrava-se tudo o que mais de avançado e moderno que existia «em machinismos e instalações, as indústrias modernas têm inventado para reduzir o trabalho manual».48 Em 1910, entre as 47 fábricas de conservas de peixe existentes no país, as de Júdice Fialho e as de Delpeut em Setúbal, eram as únicas que tinham máquinas de soldar automáticas.49

Até 27-11-1939, as conservas eram transportadas em vapor, enquanto a partir de 10-6- 1941 e até ao final da 2a Guerra Mundial (1945), passam a ser conduzidas por caminho-de-ferro. A empresa Júdice Fialho, tinha como principais compradores e destinos os mercados de Inglaterra, Suíça (desde 1904), E.U.A., França, Itália, etc. A empresa tinha agentes espalhados pela Europa, África e América, como: H. & T. Walker de Londres; Eugénio Gheradi de Genebra; Strohmeyer & Arpe C.o de Nova Iorque, Luís Alvelos do Funchal, etc.50

Segundo, a Comissão Sindical de Trabalhadores da Júdice Fialho, afirmava-se, que o industrial em 1930, tinha ao seu serviço mais de 4.000 trabalhadores.51

O desenvolvimento das indústrias conserveiras, veio fortalecer a consciência de uma classe trabalhadora, principalmente nas mulheres, que reivindicaram a criação de creches junto às unidades fabris. As fábricas Júdice Fialho, estiveram assim entre as primeiras a criar creches, salas de aleitamento e refeitórios.52 A empresa, preocupou-se com as condições de vida dos seus operários, e para isso criou uma Caixa de Socorro em 1903, quando os operários estivessem de baixa e através da construção de bairros de operários, junto às fábricas.

Alguns anos mais tarde (9-9-1896, com a concessão da Armação da Senhora da Rocha, para a pesca de atum), Júdice Fialho, começou também a investir na indústria da pesca.53

Dedicou-se ainda durante algum tempo nos anos 20, à actividade e indústria da pesca do bacalhau, apetrechando e «mandando navios à Terra Nova e montando no Algarve as necessárias instalações para a secagem e preparação do peixe», ou seja, a «seca do bacalhau». Possuiu para tal 5 veleiros, denominados todos pelo nome Algarve, dos quais o Algarve I, naufragou em 1923, quando da sua primeira viagem; e o lugre Algarve 3o, que encalharia com um carregamento de bacalhau a 20-10-1923, à entrada da barra de Portimão.54 A descarga do bacalhau era realizada em Portimão, Faro ou Olhão, portos onde havia secas.55 No princípio de 1925, temos conhecimento da partida do porto de Portimão, rumo à Terra Nova, de três barcos da sua empresa.56

Cresce numa fábrica em Portimão

Algarve 5º

 54cf. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, op. cit., p. 350, O Algarve de 28-10-1923, p. 1 e Joaquim Manuel Vieira Rodrigues, op. cit., pp. 405-406.
55cf. Mário Moutinho – História da Pesca do Bacalhau: Por uma antropologia do «Fiel Amigo», Lisboa: Editorial Estampa, 1985, p. 40.
56cf. cf. O Algarve de 14-6-1925, p. 1.
57cf. Joaquim António Nunes – Portimão, Estudos algarvios; 3, Lisboa: Casa do Algarve, 1956, p. 74, Joaquim Manuel Vieira Rodrigues, op. cit., p. 405 e 407 e Ana Rita Silva de Serra Faria, op. cit., p. 54.
58cf. Joaquim Manuel Vieira Rodrigues, op. cit., p. 405, O Algarve de 3-8-1917, p. 2 e O Algarve de 18-8- 1918, p. 2, P.e José Gonçalves Vieira – Memória monographica de Villa Nova de Portimão, Porto: Typ. Universal de Figueirinhas, 1911, pp. 87-89 e Luís Filipe Rosa Santos – A pesca do atum no Algarve, [S.l. : s.n.], 1989 ( Loulé : — Tip. Comercial), pp. 50-51.

Galeão Vapor

Algarve ?

A partir de 1899, Júdice Fialho, vai investir numa frota pesqueira e na actividade de armador, sendo o primeiro industrial, a utilizar em Portimão um cerco a vapor, o “Cerco Portugal I” (1899). Para tal, montou junto à fábrica de S. Francisco, um estaleiro naval onde construía as suas próprias embarcações. Após o primeiro cerco a vapor, são fabricados uma série de barcos com o nome Cerco Portugal: Cerco Portugal 2o (em 1913), Cerco Portugal 4o e Portimão em (1914), Cerco Portugal 3o (em 1926), Cerco Portugal 5o (em 1918), Cerco Portugal 6o e 7o (em 1920), Cerco Portugal 8o e 9o (em 1927), etc.57

Foi também proprietário de várias embarcações, que serviam de apoio aos cercos, às armações e a outras actividades pesqueiras (como a pesca do atum e da sardinha), bem como para o tráfego e transporte costeiro, etc., como sejam as: Bias, Torre da Barra, Torre Alta, Pedras Negras, Salema, Atalaia, Novas Ferrarias, Josefina, Cajados, Zavial, etc.58

Com os lucros da sua actividade principal, vai progressivamente aumentando o seu património. Segundo Rita Faria: «Em 1919, para além das sete fábricas de conservas de peixe em actividade, da Litografia e da central, contavam-se no seu património quatro Estivas Italianas, localizadas em Lagos, Portimão, Olhão e Peniche, cabeças de Gado, uma Abegoaria e Forragens, uma unidade de Fabricação Mecânica de Lata Vazia (que fabricava as latas para as conservas), uma Serração de Madeira (que fabricava caixas de madeira, aduelas, barris e baldes, tábuas e pranchões, barrotes e vigas, madeira em obra, etc.), uma Serralharia (onde era feita a manutenção dos maquinismos das fábricas e dos barcos, para além de se fazerem motores e novas peças), uma Fábrica de Pregos e Chaves (onde se fabricavam pregos para as caixas de madeira e chaves para as latas), uma Fundição de ferro, uma Cordoaria de linho, oficinas destinadas ao fabrico de redes, um Depósito em Lisboa e Matas situadas em Monchique, Santiago do Cacém e Sines».59

Para Joaquim Manuel Vieira Rodrigues, a empresa Júdice Fialho «constituía uma grande unidade de produção vertical, dispondo de uma frota de transporte e pesqueira, mas, de outras unidades de produção adjacentes, nomeadamente propriedades agrícolas das quais recebia matéria- prima essenciais para a produção de conservas, como azeite, madeiras, ficando assim incólume às oscilações do mercado, segundo um principio de auto-suficiência e procurando ao máximo, não depender de fornecedores e intermediários. A empresa, comprava sobretudo, folha-de-flandres, azeite, sal, carvão e produzindo nas suas herdades, muitos dos produtos necessários para a confecção das conservas produzidas nas suas fábricas».60

Até à sua morte, ocorrida em 1934, geriu pessoalmente e pormenorizadamente, todo o seu património, através de uma meticulosa gestão de toda a actividade empresarial; delegando competências e responsabilizando os seus funcionários; na compra e venda de peixe; na importação de matérias-primas; na exportação de conservas; na análise da qualidade dos produtos e produção, bem como no papel de empresário agrícola.

Durante o Estado Novo (1934-1974), a empresa Júdice Fialho, constituir-se-á como uma das mais importantes do sector conserveiro, graças ao condicionamento industrial. Ainda no início da década de 60, o seu património era bastante vasto, visto que os lucros atingiam os 10.000 contos anuais. Os bens geridos pela empresa no início da década de 60, era composto por: 6 fábricas de conservas e 2 fábricas de guanos; uma frota de pesca costeira com 7 traineiras e 13 acostados, com todo o dispositivo de apoio e manutenção, incluindo um estaleiro; 3 grandes explorações agrícolas: o morgado de Quarteira (com 1500 hectares), o morgado de Agre (com 1500 hectares) e morgado do Reguengo (com 1500 hectares), e outras de menores dimensões: dos Salgados, do Areal Gordo, da Atalaia, do Montenegro, dos Fumeiros, prédios urbanos, das Alagoas em Faro, da rua Lethes em Faro, da Garagem em Faro, palácio da Praia da Rocha, Palácio da Salva em Sines e diversos prédios em Lisboa: na praça Luís de Camões, na avenida Álvares Cabral, na Rua Rodrigo da Fonseca, na rua Rodrigues Sampaio, 2 na rua Joaquim António de Aguiar, na rua dos Navegantes, na rua Camilo Castelo Branco, na rua Rosa Araújo, na avenida João Crisóstomo, na rua de S.to Amaro, o palácio de Alfama, o palácio na avenida Barbosa du Bocage, etc.

Foi a partir dessa década, que o declínio da empresa se intensificou, extinguindo-se após 25-4-1974 e com a compra da mesma, por parte dum grupo empresarial do Norte em 1981.61

Em 17-4-1916, foi o seu retrato inaugurado no salão nobre da Câmara Municipal da sua terra natal, onde tem também uma rua com o seu nome. Ainda na cidade de Portimão, existe na actualidade o agrupamento escolar Júdice Fialho, composto pelas escolas: EB 2 e 3 de Júdice Fialho, EB 1/JI Pedra Mourinha, EB 1 Chão das Donas, Jardim de Infância Pedra Mourinha, Jardim de Infância Chão das Donas e Jardim de Infância da EB1 – Pedra Mourinha. O seu nome consta ainda na toponímia das cidades de Silves e Faro.

59cf. Ana Rita Silva de Serra Faria, op. cit., p. 45 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 50. 
60cf. Joaquim Manuel Vieira Rodrigues, op. cit., pp. 407, 115-116.
61cf. A realidade Júdice Fialho, op. cit. A tudo isso deveu-se também, a empresa divergir da sua actividade principal, desviando parte dos lucros para o sector imobiliário, iniciando-se nos anos 30, a descapitalização da empresa.
62cf. José Manuel Lopes Cordeiro – “Algumas características da indústria portuguesa de conservas nas vésperas do segundo conflito mundial”, Separata dos Cadernos do Noroeste, vol. 8 (1), 1995, pp. 26 e 36.
63cf. António Manuel Pinto Barbosa, op. cit, p. 172; Maria João Raminhos Duarte, op. cit., p. 166.
64cf. Revista Indústria Portuguesa, n.o 37, Março de 1931, pp. 45, 48-58 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 74; Albano de Sousa – Os vinhos do Porto e as conservas na economia nacional, Lisboa: Tipografia da Emp. do Anuário Comercial, 1932, p. 12; Comércio de Portimão n.o 290 de 6-3-1932, p. 1 e Maria João Raminhos Duarte, op. cit., pp. 115 e 117.

A indústria conserveira

Em 1914 /1915, Portugal era o principal produtor mundial de conservas de peixe, posição que não só vai manter, como incrementar durante a 1a Guerra Mundial (de 1914-1919).62 A maioria da produção nacional de conservas de sardinha era proveniente do Algarve. O contra-almirante Filipe de Carvalho, numa visita à cidade de Portimão em 1932, afirmara numa conferência no município portimonense, que o porto dessa cidade, era o 4o do país e o 1o do Algarve. Exemplo disso, é a percentagem das conservas de sardinha no valor total das exportações portuguesas, visto que em 1910, tinha um valor de 3,5%, em 1920 de 18,4%, em 1930 de 18,3%, em 1935 de 15,7%, em 1937 de 15,8%, e em 1938 de 14,5%.63 Albano de Sousa, numa conferência proferida na sede da Associação Industrial e Comercial de Matosinhos a 9-2-1931, afirmava que a exportação de conservas no ano de 1930, ocupava já o segundo lugar, logo após os vinhos: «a exportação de conservas de peixe ocupou no ano de 1930, o segundo lugar das exportações nacionais (nos valores em contos), só sendo suplantada pelo vinho, e, ao contrário do volume total das exportações nacionais que baixou, a das conservas aumentou nesse ano (…)».64

Estes valores mostram a importância desta indústria no quadro económico português. No entanto a partir de 1923, são evidentes os sinais de crise neste sector, pois em apenas dois anos a exportação de conservas de sardinha cai em cerca de 20 toneladas. São diversos os factores para o aparecimento desta crise: a crise de sobreprodução e sobreequipamento, que lentamente se fez sentir desde o início dos anos 20; a política deflacionária e de valorização monetária do escudo, durante o governo de Álvaro de Castro, que encarece as conservas no estrangeiro (1924); a quebra na pesca da sardinha nas costas portuguesas de 1925 a 1930; as repercussões nas exportações como consequência da crise de 1929; o ambiente político-social, que se vivia no final da 1a República (1926) e durante o início da Ditadura Militar (1926-1928), que não permitia ou favorecia a reorganização e legislação, de qualquer sector industrial de Portugal.65

A crise neste sector da pesca e indústria conserveira, vai provocar uma resposta por parte dos principais armadores e indústrias conserveiros, com a realização do Congresso de Pescas e Conservas em Setúbal, em Dezembro de 1927. Neste evento, foram apresentadas diversas teses, que procuraram combater a crise da indústria de conservas, nas quais se destacam: 1o a organização da indústria (da Associação Comercial e Industrial de Olhão de Hermínio Prazeres e Casimiro Luiz de Oliveira); 2o a do crédito industrial (da Associação Comercial e Industrial de Olhão e de J. Leotte, Hermínio Prazeres e Casimiro Luiz de Oliveira); 3o a verificação da qualidade das conservas exportadas (de Mariano Coelho e outros); 4o o defeso do fabrico durante um certo número de meses do ano (de Luiz José Supico); 5o o preço mínimo de venda para as conservas exportadas (da Associação Comercial e Industrial de Olhão).66

Deste congresso, resulta a criação por portaria de 12-3-1928, dum Conselho Consultivo, que se ocuparia da regulamentação e fiscalização da indústria nacional de conservas de peixe. Este organismo tinha como principal objectivo, estudar e apresentar soluções para a crise das pescas e da indústria conserveira. Competia ainda a este órgão, que deveria funcionar junto à Direcção Geral das Indústrias, estabelecer as bases: a) para a criação das bolsas comerciais de conservas; b) a unificação e revisão dos impostos, incluindo os direitos de exportação, que seriam resumidos ao mínimo se não fosse possível aboli-los; c) a limitação do número de fábricas; e d) a proibição da fabricação de conservas de sardinha cozida ou frita, com molhos diversos, durante o período de defeso da pesca nas respectivas áreas em que as fábricas se encontram.67 Esta comissão, seria constituída por João Mendes Cabeçadas, Sebastião Garcia Ramires, Feliciano A. Pereira e João António Júdice Fialho, este último na qualidade de delegado por Peniche, sendo dissolvida por decreto n.o 17262 de 24-8-1929, passando as suas atribuições para o Conselho Superior Técnico das Indústrias.68

Todavia, a tese mais importante e que criou maior divergência entre os “congressistas” foi a do defeso da pesca. Enquanto para uns, esta era a única forma de não aniquilar os recursos pesqueiros e de evitar produzir conserva de má qualidade e durante os meses em que a sardinha está muito magra, sendo que só deveria ser pescada «durante os oito meses do ano em que o peixe é mais gordo»69; para outros, principalmente entre os industriais conserveiros, onde se destaca Júdice Fialho, defendiam que tal medida era muito prejudicial, pois levaria para o desemprego e miséria muitos operários e suas famílias, já que era um período demasiado longo para as fábricas estarem sem laborar. Muitas das sugestões e conclusões apresentadas no Congresso, servirão de base à elaboração dos diplomas que vieram a reorganizar o sector conserveiro com base na criação da organização corporativa, embora as primeiras medidas efectivas só tenham sido promulgadas em 1932, após o inquérito directo sobre a situação do sector, realizado em 1931 por Oliveira Salazar, Ministro das Finanças. Para Salazar, a única solução possível para esta indústria, era a regulamentação e organização do sector, pois só assim, é que a indústria poderia sobreviver, progredir e evoluir, sendo então publicados diversos diplomas, como os decretos-lei n.o 21621, 21622 e 21623 de 27-8- 1932.70

Em 1932, Júdice Fialho, era nomeado como representante do Centro Industrial de Peniche, no concelho de administração do Consórcio Português de Conservas de Sardinha, constituído por um presidente, dois representantes dos exportadores não fabricantes e por um representante de cada centro industrial (Aveiro, Peniche, Lisboa, Lagos, Portimão, Olhão e Vila Real de Santo António) e dois representantes dos centros industriais de Matosinhos e Setúbal. O Consórcio Português de Conservas de Sardinha, criado pelo decreto-lei n.o 21622 de 27-8-1932, tinha como objectivo regular e fiscalizar toda a indústria e tinha as seguintes atribuições: «a) fiscalizar e orientar a produção em ordem a garantir a qualidade do produto e melhorar as condições de fabrico: b) fazer a propaganda nos mercados consumidores das conservas portuguesas e estabelecer organizações de venda privativas onde for julgado conveniente; c) proporcionar aos industriais, por si ou por intermédio de quaisquer instituições bancárias, elementos necessários ao regular exercício da sua indústria; d) assegurar aos operários empregados nesta indústria a devida assistência».71

65cf. Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 30; e Maria João Raminhos Duarte, op. cit., p. 30.
66cf. António Manuel Pinto Barbosa, op. cit, p. 24 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 31-32.
67cf. Indústria Portuguesa, Ano I, n.o 1, Março de 1928, p. 31.
68cf. Decreto-Lei n.o 17262 de 24-8-1929 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 33, 71, 73.
69cf. Charles Lepierre – A química da conserva, in O Livro de Ouro das Conservas Portuguesas de Peixe, Lisboa: Instituto Português de Conservas de Peixe, 1938.
70cf. José Manuel Lopes Cordeiro, op. cit., p. 29 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 33-34 e 76.
71cf. Revista da Indústria Portuguesa, n.o 57, Novembro de 1932, p. 72 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 84-85.

As fábricas de conserva de Júdice Fialho (1892-1934): arranque e desenvolvimento

Segundo o decreto-lei n.o 7989 de 25-1-1918, os industriais, seriam obrigados a fazer o pedido de registo da sua instalação fabril, à circunscrição industrial onde esta estava localizada e teriam de fornecer um conjunto de informações, como seja: quando começara a fábrica a trabalhar, a sua localização e o número de funcionários, operários e das máquinas, para assim contribuírem, para o conhecimento e esclarecimento da descrição desta indústria. De seguida, haveria uma vistoria efectuada pelos serviços da circunscrição, após o que se estivesse tudo legal, seria publicado um edital, num jornal local, dando um prazo de 30 dias para quem quisesse consultar e verificar o processo, e entendesse, apresentar alguma contestação ou reclamação. Findo este processo, era passado um alvará por tempo indeterminado, segundo o estabelecido no decreto n.o 8364 de 25-8-1922, que estabelecia todas as normas de salubridade, segurança, higiene e de poluição relacionadas com as fábricas.72
Posto esta nota introdutória, passa-se a descrever as fábricas de conservas, que eram propriedade de João António Júdice Fialho entre 1892 e 1934:

1º – A fábrica de S. José, na rua de S. José, no local denominado da Esperança em Vila Nova de Portimão, construída de raiz e cuja instalação terminou a 5-7-1892, especializou-se em conservas de sardinha. Segundo a descrição (de 1909) do padre José Vieira na sua obra “Memória Monográfica de Portimão” publicada em 1911, possuía: «Abrange a fábrica de S. José uma área de 18.000 m2 na qual se contêm: escritório, morada do mestre, tinas, adega de azeite, casas de descabeçar e enlatar, oficinas de soldadores, máquina de ebulição, geradores de vapor, armazéns para depósitos de madeiras, oficinas de carpinteiros, estiva e casas de enxugar o peixe. Pessoal do escritório: gerente, caixa e mais 4 empregados com a média de 1$000 reis diários. Pessoal da fábrica: mestre e contra mestre, mestra e contra mestra com a média de 1$500 reis diários; 20 soldadores, média 1$200; 200 mulheres a 30 reis por hora, media 300 reis», acrescentando o referido autor que «N’um compartimento de 5m x 24m da fábrica de S. José está instalada a oficina das latas vazias. Tem no centro uma árvore de 24m, de comprimento movida por dois electromotores de 4 cavalos cada, e outra junto à parede do nascente com 20m de comprimento movida por dois electromotores de 4 1⁄2 cavalos. Estas árvores dão movimento a duas máquinas onde trabalham 70 operários e produzem 10:000 latas por dia. Média dos salários, 290 reis diários».73

A fábrica de S. José, continha as seguintes máquinas e equipamentos, segundo o inventário de 1932 «13 mesas de descabeçar; 4 carros de cozer, 3 carros de estufar; 2 cofres de cozer; 1 cofre estufa, 10 mesas de enlatar de pedra, com 130 lugares; 6 cravadeiras Matador; 1 cravadeira Bliss. Na secção de guano, 2 cozedores (dornas) e 4 prensas Mabile para guano, como máquinas diversas eram contabilizadas, 2 burrinhos para alimentação das caldeiras; 1 bomba de vapor para tirar água; 2 depósitos aéreos para água; 2 depósitos rectangulares para lavar grelhas; 3 cravadeiras para frutos; 1 balancé; 3 caldeiras de vapor todas de 7 kgs; 3 motores de vapor e 1 dínamo accionado por um dos motores a vapor». Esta fábrica, possuía ainda 1 dínamo gerador de 13,5 kw, que fornecia energia eléctrica para iluminação em 1938 de 1682 kw.

A fábrica de S. José, continha as seguintes máquinas e equipamentos, segundo o inventário de 1932 «13 mesas de descabeçar; 4 carros de cozer, 3 carros de estufar; 2 cofres de cozer; 1 cofre estufa, 10 mesas de enlatar de pedra, com 130 lugares; 6 cravadeiras Matador; 1 cravadeira Bliss. Na secção de guano, 2 cozedores (dornas) e 4 prensas Mabile para guano, como máquinas diversas eram contabilizadas, 2 burrinhos para alimentação das caldeiras; 1 bomba de vapor para tirar água; 2 depósitos aéreos para água; 2 depósitos rectangulares para lavar grelhas; 3 cravadeiras para frutos; 1 balancé; 3 caldeiras de vapor todas de 7 kgs; 3 motores de vapor e 1 dínamo accionado por um dos motores a vapor». Esta fábrica, possuía ainda 1 dínamo gerador de 13,5 kw, que fornecia energia eléctrica para iluminação em 1938 de 1682 kw. 74

 72cf. Decreto-lei n.o 7989 de 25-1-1918 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 54-55.
73cf. José Gonçalves Vieira – Memoria Monographica de Vila Nova de Portimão, Porto: Typographia Universal, 1911, pp. 89-90, MMP, Arquivo Histórico, 5a Circunscrição Industrial, Processo n.o 140: S. José (Júdice Fialho), Alvará n.o 4159 de 14-10-1923 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 56.
74cf. Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 92-93 e 96.

Enlatamento de sardinha na fábrica São José, em Portimão

2º – A fábrica de S. Francisco, no sítio do Estrumal, freguesia e concelho de Vila Nova de Portimão, inicia a sua actividade em 15-5-1904, estando destinada principalmente à preparação de conservas de atum, mas que «também prepara sardinha em conserva e sardinha estivada em barris nos meses em que já não há pesca d’atum». Também nesta empresa fabril, temos a exposição do padre José Vieira: «A fabrica do Estrumal mede 20.000 m2 d’área e contêm casas para soldadores, enlatar, ebulição, máquinas, geradores de vapor, telheiros de resíduos para guano, adega de azeite, armazém de materiais, uma bateria de 20 caldeiras para cozer o atum, quatro hangares para enxugar o peixe, pátio central, três prédios para morada dos empregados. Pessoal: mestre e contra mestre, mestra e contra mestra, 50 homens (soldadores e trabalhadores). Salários iguais aos da fabrica de S. José».75 A fábrica de S. Francisco ou do Estrumal, era assim chamada pois situava-se ao sul da vila, na Quinta Foz do Arade, sendo propriedade de Francisco Bivar Weinholtz, que a arrendara e depois vendera a João António Júdice Fialho.76
A fábrica de S. Francisco, detinha num inventário datado de 1932, os seguintes equipamentos fabris: «18 mesas de descabeçar, de 12 lugares cada; 4 carros de cozer; 3 carros de estufar; 1 cofre estufa para três carros; 2 cofres de 40 grelhas; 6 mesas de enlatar para 150 lugares; 1 cravadeira Sudry n.o 1; 5 cravadeiras Matador; 1 cravadeira “Carnaud”; 1 cravadeira de lata redonda G.H.N. Na secção de guano existiam 1 cozedor (dorna) e 2 prensas “Mabile”. Como máquinas diversas estavam instaladas 3 burrinhos para alimentação de caldeiras; 2 bombas para tirar água do poço; 2 depósitos rectangulares para lavagem de grelhas; 3 caldeiras a vapor; 1 motor de vapor e 1 dínamo».
Nos terrenos desta fábrica, estava implantado um grande estaleiro, onde a empresa construía ou reparava os barcos da sua frota. Esta entidade fabril, podia produzir 35 caixas por hora com as cravadeiras que tinha.77

Em 1931, produzia 50000 caixas, em 1933, 117 78 caixas e em 1934, 25955 caixas. A fábrica de S. Francisco, possuía 1 dínamo gerador de 20 kw, que fornecia energia eléctrica para iluminação em 1938 de 1426 kw.78

75cf. José Gonçalves Vieira, op. cit., p. 90.
76cf. MMP, Arquivo Júdice Fialho, «Documentos Oficiais»: “Escritura de arrendamento da Quinta da Foz do Arade”, caixa 431, A 37, documento n.o 5859 de 29-12-1903 e MMP, Arquivo Histórico, 5a Circunscrição Industrial, Processo n.o 183: S. Francisco (Júdice Fialho), Alvará n.o 4172 de 15-10-1923 e Luiz Mascarenhas, op. cit., p. 15 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 57-58.
77cf. Cada caixa levava 100 latas de conservas de peixe.
78cf. Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 93-94 e 96 e MMP, Arquivo Histórico, 5a Circunscrição Industrial, Processo n.o 183: S. Francisco (Júdice Fialho), Alvará n.o 4172.

Fábrica de conservas de Portimão.

À esquerda: lavagem da sardinha descabeçada em S. Francisco 

 

3º – A fábrica de Ferragudo, na freguesia e concelho da Lagoa, distrito de Faro, pertencera a António Joaquim Júdice e irmãs e começara a funcionar em 1883, sob a firma de Patrício Eugénio Júdice. Depois de comprada por Júdice Fialho e após algumas obras de modernização, começou a ser explorada a partir de 31-3-1904. De referir ainda, que o número de operários e máquinas nesta fábrica, era superior à das outras duas fábricas e a proporção da produção de conservas de sardinha nesta fábrica atingia 800.000 quilos e de 820.000 quilos para as outras duas unidades fabris.79 Esta unidade fabril, destinava-se à exploração da indústria de conserva de sardinha. Em 1922, verifica-se que a fábrica possuía: 1 motor a vapor, 6 máquinas cravadeiras, 3 geradores de vapor, 1 fabricante e 150 operários, 20 serventuários, embora os números para estes dois grupos de operários sejam variáveis, conforme o trabalho derivado da captura ou não de peixe.80 Em relação à fábrica de Ferragudo, não existem dados concretos sobre as máquinas e equipamentos nos anos 30, mas apenas a capacidade de produção: em 1933 produzia 8903 caixas, em 1934, 22690 caixas e em 1935, 40000 caixas (produzindo neste ano 35 caixas por hora).

Depreende-se ainda pelo seguro desta unidade fabril feito a 18-1-1935, que a soldagem das latas era feita de forma mecânica. A fábrica de Ferragudo, possuía 1 dínamo gerador de 10 kw, que fornecia energia eléctrica para iluminação em 1938 de 1705 kw.81

79cf. Boletim do Trabalho Industrial, n.o 108, 1917, p. 22.
80cf. MMP, Arquivo Histórico, 5a Circunscrição Industrial, Processo n.o 189: Fábrica de Ferragudo (Júdice Fialho), Alvará n.o 11289 de 21-10-1927 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 59-60
81cf. MMP, Arquivo Júdice Fialho, caixa 484, documento 7442 e caixa 432, documento 5950 e MMP, Arquivo Histórico, «5a Circunscrição Industrial», Processo n.o 189: Ferragudo (Júdice Fialho), Alvará 11289 de 21-10-1927 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 94 e 96.

4º – A litografia no sítio da cruz da Pedra, na rua do Moinho, a norte da Vila Nova de Portimão, destinada à estampagem das latas em conserva, inicia-se em 1904 e tinha «7 motores de potência de 110 cavalos, com 124 operários, que estão anexas a algumas das fábricas mais importantes de conserva» e «ocupa uma área de 25m de fachada e 60 m de comprimento o que perfaz uma superfície de 1.500 m2».82

A litografia era constituída em 1911, por vestíbulo, escritório, oficina de transportadores, oficina de moer tintas, casa dos geradores a vapor, três prensas litográficas de mão, uma máquina de redução, uma de granear pedras, movida por um electromotor de 2 1⁄2 cavalos, 2 geradores de vapor de 30 e 50 cavalos, a oficina das máquinas tinha três estufas e existiam ainda 5 máquinas de impressão litográfica «sendo 2 de Jesus e 3 Colombier, um torno mecânico e uma bomba aspirante completam a montagem d’esta fabrica cujo maquinismo é todo movido por electromotores (…)». A fábrica, fazia a impressão de 10000 folhas de Flandres por ano e era «iluminada por 4 arcos voltaicos de 400 velas e 220 lâmpadas de 10 velas». Tinha ainda um horário laboral de 10 horas, com hora e meia de intervalo para almoço, com um total de 39 pessoas: 2 empregados de escritório, 1 desenhador litográfico, mais 3 operários, 1 graneador e 1 aprendiz na oficina dos transportadores, 1 mestre e 30 operários nas outras oficinas, com uma média de salários de 460 réis diários.83

Refira-se ainda, que a maior parte desta unidade era alimentada por electricidade, uma modernidade para a época. Em 1913, Júdice Fialho, amplia a central eléctrica que fornecia a fábrica, que era bastante elogiada pelo seu equipamento e tecnologia e pela qualidade final dos seus produtos.84

A litografia, afamada em todo o país, estava dividida por uma série de sectores (o mais importante era o da lata vazia, cujas máquinas eram todas accionadas a electricidade, e estavam em instalações anexas à fábrica de S. José), a maior parte deles com tarefas complementares em relação à indústria conserveira ou com actividades necessárias ao desempenho do grupo empresarial, com o fabrico de algumas máquinas e equipamentos, como é o caso das máquinas de azeitar, que vão ser instaladas em todas as empresas do grupo em 1935. Além disso, funcionava como a oficina da empresa, a par da sua principal função de litografar a folha-de-flandres e as latas, desenhava as marcas e as figuras das latas e fornecia toda a lata vazia para as diferentes fábricas.

Num inventário realizado a 3-3-1938, descrevem-se os electromotores (motores eléctricos) existentes nas diversas secções: «Litografia 15, com 38,40 C.V.; Lata Vazia 9, com 69,00 C.V.; Fabricação de Caoutchouc 4, com 48,95 C.V.; Frutos ou Sirop 2, com 6,5 C.V.; Serração de madeira 3, com 128,5 C.V.; Moenda do Pimentão 6, com 216 C.V.; Depósito do Pimentão 1, com 4,5 C.V.; Serralharia 4, com 31,25 C.V.; Fundição 2, com 8 C.V.; Garagem 3, com 14,25 C.V.; Fabricação de Caoutchouc 4, com 48,95 C.V.; Frutos ou Sirop 2, com 6,5 C.V.; Serração de madeira 3, com 128,5 C.V.; Moenda do Pimentão 6, com 216 C.V.; Depósito do Pimentão 1, com 4,5 C.V.; Serralharia 4, com 31,25 C.V.; Fundição 2, com 8 C.V.; Garagem 3, com 14,25 C.V».

84cf. cf. Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 60-61.
85cf. MMP, Arquivo Júdice Fialho, caixa 484, documento 7438 e caixa 432, documento 5549 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 102-103.

5º – A fábrica de conservas de Lagos, na rua da Estalagem, freguesia de S. Sebastião, concelho de Lagos, distrito de Faro, foi instalada e construída em 1904, sendo destinada à exploração da indústria de conservas de peixe em azeite. A licença de exploração foi concedida a 26-11-1904. Segunda a sua descrição de 1922, esta entidade fabril possuía: 3 caldeiras de vapor; 1 estufa; 2 cofres para cozer peixe; 1 motor; 6 cravadeiras; 1 fabricante; 1 contramestre; 3 empregados de escritório, nacionais; 1 empregado estrangeiro da secção de salga de peixe e 200 operários.86

Esta empresa, tinha os seguintes equipamentos e máquinas no ano de 1939: «Recebia energia para iluminação dos serviços municipais da câmara de Lagos; tinha 3 geradores de vapor; 1 motor de vapor de 6 CV; 1 motor de combustão interna de 7/9 CV; 1 dínamo de 8 KW. Máquinas operatórias para fabricação de conservas: 6 cravadeiras matador; 1 cravadeira para lata redonda; 1 máquina de azeitar; 2 cofres para cozimento de peixe; 1 cofre para estufagem de peixe. Na secção de fabricação de Guano existiam 2 prensas Mabille e 2 comedores de desperdício de peixe. Finalmente em utensílios diversos, eram assinaladas 2 bombas de vapor sobre o poço; 2 caldeiras para banho-maria; 1 tanque para lavar grelhas; 3 burricos de alimentação de caldeiras e 1 burrico».

Esta fábrica produzia em 1933 e 1934, 2088 e 8234 caixas respectivamente (em 1935 produzia 30 caixas por hora, com as cravadeiras existentes) e conseguira em 1924 gerar 30000 caixas.87

86cf. Arquivo Distrital de Faro (ADF), Cota: 5a CIProc. 583: Processo n.o 7 Unif., alvará n.o 188, documento 2 de 16-3-1922 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 62-63.
 

 

6º – A fábrica de Olhão, estava localizada no local do Costado, freguesia e concelho de Olhão, distrito de Faro, e destinava-se a conservas de peixe em azeite, terminando a sua instalação a 20-3-1913 e através de um pedido de alvará de licença para exploração da fábrica passado pela Câmara Municipal de Olhão a 10-9-1917, estando «montado e explorado nas condições seguintes: 3 geradores de vapor; 1 motor a vapor; 5 máquinas cravadeiras; 2 aparelhos de iluminação “F P”; 3 bombas de alimentação; 2 (…) de puxar água; 2 cofres de ferro para cozer peixe; 1 estufa para ebulição. Pessoal todos nacionais: 1 mestre fabricante de conservas; 3 empregados de escritório; 25 trabalhadores; mulheres, conforme o peixe que houver».88

Nesta fábrica, existiam os seguintes equipamentos, máquinas e produção de energia em 1939: «Recebia energia para iluminação, da Empresa de Electricidade Olhanense Limitada, possuía 3 geradores de vapor e 1 motor de vapor de 18 CV. Em relação às máquinas para fabricação de conservas existiam 5 cravadeiras Matador, 1 cravadeira para lata redonda, 2 cofres simples, 1 bateria de duas caldeiras de fogo directo, 5 carros para cozedura, 6 carros para estufagem, 1 filtro de pressão normal para azeite, 1 máquina de azeitar. Para fabricar guano havia 2 prensas manuais para aperto de desperdício e 2 dornas para os cozer. Como utensílios diversos eram discriminados, 2 caldeiras de lavagem de grelhas, 1 caldeira para estranhar grelhas, 1 caldeira para fazer solda, 1 engenho de furar, 1 forja de fole e 2 bombas de vapor horizontais para tirar água».89

A fábrica de Olhão, produzia em 1933, 299 caixas, em 1934, 6588 caixas, e o seu melhor ano de produção foi o de 1927 com 20000 caixas, conseguindo produzir 25 caixas com as cravadeiras existentes na fábrica.90

 
87cf. ADF, Cota: 5a CIProc. 583: Processo n.o 7 Unif. – Alvará n.o 188, documento 24 v.o, de 10-2-1939 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 99.
88cf. ADF, Cota: 5a CIProc. 1037: Processo n.o 42 Unif. – Alvará n.o 939, documento 1, de 10-9-1917 e documento s/n de 18-5-1950: Relatório do agente fiscal da 5a Circunscrição Industrial e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 65-66.
89cf. ADF, Cota: 5a, CIProc. 1037: Processo No 42 Unif. – alvará n.o 939, documento 6 v.o, de 10-2-1939. 
90cf. ADF, Cota: 5a CIProc. 1037: Processo No 42 Unif. – Alvará n.o 939, documento s/n de 21-2-1935 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 100.
 

 

7º – A fábrica do Funchal, Madeira, edificada em 1909, seria um estabelecimento muito grande «para a fabricação de conserva do atum, que n’aqueles mares é pescado à linha e tem um sabor mais apreciado dos consumidores».91

91cf. Luiz Mascarenhas, op. cit., pp. 15-16 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., p. 67. 

8º – A fábrica de Peniche, no sítio de Peniche de Cima, construída num terreno com 30.000 m2, foi inaugurada em 1915. Esta fábrica, seria eventualmente a maior unidade fabril de conservas do grupo empresarial, pois tinha os edifícios, máquinas e todas as habitações anexas (como as casas dos operários), fixadas pelo seguro efectuado a 18-1- 1935 e de 14-8-1937.92

9º – A fábrica de conservas de peixe de Sines, situada no sítio das Índias na freguesia e concelho de Sines, foi adquirida em 1926. Esta fábrica, consistia segundo, o seguro de 27-5-1931, numa fábrica de conservas de peixe existente num edifício de pedra e cal, coberto de telhas, composta por casas de um andar e diversos barracões.93

Assim, segundo Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, entre 1892-1915, o industrial João António Júdice Fialho, criou um grande império conserveiro, construindo seis fábricas de conservas de peixe e comprou uma, tinha uma oficina de vazio (na fábrica de S. Francisco), que fornecia todas as outras fábricas; montou uma Litografia, com o equipamento mais moderno que havia para a altura e a fábrica era alimentada a partir de uma central eléctrica construída para o efeito. Armou uma frota pesqueira, instalando um estaleiro na fábrica de São Francisco «onde construía as embarcações de madeira: as canoas para transporte do peixe, as lanchas a gasolina para as rebocar e os próprios cercos, dos quais chegou a possuir 10, em 1927», assegurando assim os seus barcos, toda a matéria-prima necessária para as fábricas.94

Maria João Duarte Raminhos, resumia a sua estratégia e política empresarial da seguinte forma: «A empresa Júdice Fialho constituiu, numa estratégia de auto-suficiência, uma grande unidade de produção vertical, dispondo de uma frota de transporte e pesqueira e de outras unidades de produção suplementares, nomeadamente estaleiros, litografia e propriedades agrícolas, tentando subsistir numa autonomia total relativamente às oscilações de mercado». A própria autora, refere que a sua actividade na organização da indústria, fora extraordinária, assumindo-se como interlocutor perante as entidades governativas republicanas e negociando directamente com Afonso Costa e Brito Camacho, Sidónio Pais e Oliveira Salazar. Júdice Fialho, tornar-se-á o maior industrial algarvio, nacional e ibérico da indústria conserveira nos finais do século XIX e nas três primeiras décadas do século XX.95

92cf. MMP, Arquivo Júdice Fialho, caixa 484, documento 7443 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 67 e 101.
93cf. MMP, Arquivo Júdice Fialho, caixa 484, doc. 7437, Ana Rita Silva de Serra Faria, op. cit., pp. 44-45 e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 67 e 101.
94cf. MMP, Arquivo Júdice Fialho, caixa 432, documento 5927 e Joaquim António Nunes, op. cit., p. 11.
95cf. Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 67-68, Boletim de Pesca n.o 10, Lisboa, Março de 1946, p. 46, e Edmundo Correia Lopes “A indústria de conservas de peixe” in Indústria Portuguesa n.o 224, Outubro de 1946, p. 718 e Maria João Raminhos Duarte, op. cit., p. 22 e 36.

BIBLIOGRAFIA

1 – MANUSCRITAS E NÃO PUBLICADAS
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– Decreto-lei n.o 7989 de 25-1-1918
– Decreto-Lei n.o 17262 de 24-8-1929
1.2 – Arquivo Distrital de Faro (ADF):
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– Cota: 5a, CIProc. 1037: Processo n.o 42 Unif. – alvará n.o 939, documento 1, de 10-9-1917 e documento s/n de 18- 5-1950: Relatório do agente fiscal da 5a Circunscrição Industrial
– Cota: 5a, CIProc. 1037: Processo No 42 Unif. – alvará n.o 939, documento s/n de 21-2-1935 e documento 6 v.o, de 10-2-1939
1.3 – Museu Municipal de Portimão (MMP):
– Arquivo Júdice Fialho:
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– caixa 484, documento 7437 e 7443 – caixa 432, documento 5927
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– 5a Circunscrição Industrial, Processo n.o 183: S. Francisco (Júdice Fialho), Alvará n.o 4172
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– O Comércio de Portimão (1926, 1932 e 1938): de 7-11-1926, de 6-3- 1932, de 20-3-1932 e de 15-7-1934, de 27-2-1938
– Diário de Lisboa (1931): de 24-6- 1931 e de 27-12-1931
– O Distrito de Faro (1889-1890): de 7-3-1889 e de 9-1-1890
– Diário do Algarve (1933): de 2-1- 1933
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