Alfredo Magalhães (1894-1959)

Alfredo Sobral Mendes de Magalhães Ramalho

Alfredo Sobral Mendes de Magalhães Ramalho

Alfredo Sobral Mendes de Magalhães Ramalho nasceu no dia 26 de Abril de 1894, em Lamego. Aos 10 anos, entrou para o 1º ano do Colégio Militar, onde fez os estudos secundários com distinção. Em 1911, entrou para a Faculdade de Medicina de Lisboa, cujo curso terminou em 1917. Em 1920, concluiu o doutoramento em Medicina com 20 valores. Entretanto, a partir de 1915 começou a trabalhar como assistente de Celestino da Costa (1884-1956), regente da cadeira de Histologia na Faculdade de Medicina. Desenvolveu então trabalhos de Histologia e Embriologia sobre órgãos de peixes. Começou a trabalhar, enquanto membro da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, como assistente voluntário no Aquário Vasco da Gama. Com Celestino da Costa veio a ser responsável pela adaptação do Aquário como estação de biologia marítima. Quando foi criada a Estação de Biologia Marítima de Lisboa, em 1919, foi nomeado naturalista assistente.

Em 1920 foi enviado para França pelo Ministério da Marinha, a fim de participar numa expedição científica do navio Perche e desse modo aperfeiçoar os seus conhecimentos e técnicas sobre trabalhos oceanográficos. Regressado a Portugal, deu início aos seus estudos biológicos sobre a sardinha, tendo sido nomeado delegado nacional junto do Conselho Internacional para o Estudo do Mar (CIEM).

Em 1924 foi nomeado naturalista director do Aquário Vasco da Gama e da Estação de Biologia Marítima de Lisboa, substituindo no cargo o Professor Celestino da Costa. Foi então encarregado da preparação e equipamento do navio oceanográfico “Albacora”, mandado construir pela Marinha na Noruega. Com este navio realizou diversas viagens oceanográficas, em cooperação com diversas instituições nacionais e estrangeiras. Quando, em 1951, a Estação se separou do Aquário Vasco da Gama e se transformou em Instituto de Biologia Marítima, Magalhães Ramalho tornou-se o seu primeiro director.

Membro da Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais desde 1915, foi admitido como membro correspondente da Zoological Society of London em 1933 e nomeado vogal naturalista da Comissão Central de Pescarias. Tornou-se sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa em 1938 e em 1943 passou a ser sócio da Linnean Society of London.

Aposentou-se em Julho de 1957, depois de 39 anos de trabalho científico no campo da Oceanografia e da Biologia Marinha. Morreu a 6 de Novembro de 1959 em Lisboa

Actividade científica

Participou na actividade desenvolvida nos anos 40 pela Estação de Biologia Marítima de Lisboa, nomeadamente com a publicação de catálogos de várias colecções oceanográficas nacionais, estudos sobre o plâncton, a sardinha, o atum, a amêijoa do Algarve, entre outros. Em 1943 traduziu a obra de E. S. Russell, O problema da sobrepesca, que introduziu em Portugal a análise da questão relativa à gestão dos recursos piscatórios. Desde a fundação da Estação, e posteriormente com a sua transformação em Instituto, que sempre se empenhou no seu apetrechamento e pelo desenvolvimento da sua autonomia no trabalho de investigação que devia realizar.

Entre 1925 e 1940, período de actividade do “Albacora”, participou em diversas expedições científicas para estudo sistemático das condições físico-químicas e dos aspectos biológicos das nossas águas costeiras e em trabalhos de estudo da circulação oceânica no estreito de Gibraltar e da água mediterrânica escoada para o Atlântico (1927-1929). Foi pioneiro na abordagem científica dos problemas das pescas em Portugal, nomeadamente no estudo das flutuações dos populações da sardinha, espécie sobre a qual realizou estudos biométricos e biológicos, tendo introduzido, em 1947, a análise estatística em larga escala das populações, das sua constituição e flutuações. Realizou estudos sobre a variação da produtividade da pesca de arrasto na plataforma continental de Portugal e na costa da Mauritânia, através da análise estatística do tempo de esforço de pesca e da quantidade do pescado registado pelos arrastões entrte 1938 e 1955, tendo concluído pela existência de sinais de sobrepesca.

Quando em 1940 se procedeu ao desarmamento do “Albacora” tinham sido efectuadas 1400 missões oceanográficas em cruzeiros sempre organizados e dirigidos por Magalhães Ramalho com a colaboração, no mar e em terra, nas rotinas de laboratório e elaboração de dados, dos seus comandantes e dos assistentes e preparadores da Estação. Nestes trabalhos teve, entre 1926 e 1934, a colaboração fundamental do comandante do “Alabacora” Luciano Sena Dentinho.

Publicações

Crise da pesca da sardinha, Lisboa, Soc. Ind. de Tipografia, 1945, [Sep. Bol. Pesca, 5].
Russell, E. R. O problema da sobrepesca, Lisboa, Estação de Biologia Marítima, 1943 [tradução].
Pelseneer, Paul, Os primeiros tempos da idea evolucionista Lamarck, Geoffroy Saint-Hilaire e Cuvier, Lisboa, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1922, [tradução].
Carta litológica submarina da costa de Portugal, s. d.

Fernando Reis

 Fotografia do navio Albacora
imagem da CCM – Comissão Cultural de Marinha